O MENINO MARROM
Era uma vez
um menino marrom. Ele era um menino muito bonito. Acho que dá para se ter uma
ideia pelo desenho (que está logo aí, na virada da página). Caprichei no
desenho do menino, mas acho que ele era muito mais bonito pessoalmente. Vou ter
até que ajudar com algumas informações, que é para a descrição do menino marrom
ficar mais completa.
Sua pele era
cor de chocolate. Chocolate puro, não aqueles misturados com leite (não gosto
de chocolate com leite, daí achar a cor do chocolate puro mais bonita).
Os olhos dele
eram muito vivos, grandes. As bolinhas dos olhos pareciam duas jabuticabas: pretinhas.
Aliás, pretinhas, não, Jabuticabas não são pretas. Para falar a verdade, tem
muita pouca coisa, realmente preta na Natureza.
Se você for examinar bem a jabuticaba,
descobrira que ela é roxa muito preta. Preta mesmo, não é. Mas deve ter coisas
pretas muito pretas na Natureza. Que tal cabelo de gente? Olha, dizem os
estudiosos e especialistas que não existe cabelo humano absolutamente preto.
Você sabia?
Ah tem pelo
de animal! A pantera é preta, as manchas do couro de boi são pretas, o gato
preto é preto. E pretas são as asas da graúna, como são as do urubu, as do anum, as do condor e as do assum preto.
E no Reino
Vegetal, o que é que tem que é preto mesmo, absoluto? Aquele olhinho do fruto do guaraná, acho que é preto de
verdade. E tem o azeviche. Vocês conhecem aquela canção que diz “Boneca de
Piche, da jabuticaba, cor do
azeviche..?"
Pois é,
azeviche deve ser preto mesmo pois o Lamartine Babo — autor da música — não
iria mentir pra gente. Mas... espera aí: azeviche não é vegetal. Ou é: Bom: o
que parece preto mesmo, preto definitiva na Natureza, é o carvão. Fica assim: o
carvão é o preto absoluto, pronto.
E vamos deixar
de ficar falando neste negócio de preto, pois a nossa história é do menino
marrom.
Entrei nessa
do preto, de repente, porque este assunto vai rolar daqui a pouco. Só que é um
assunto do menino marrom e não meu.
p.3
Como diria o
riacho imitando o espelho: "Que menino é esse aí?' Pois é o menino marrom.
E vamos tratar de terminar sua descrição para que vocês o conheçam melhor. Já
falei dos seus dentes? Ihhh, vai começar outra longa conversa para explicar que
não existem dentes absolutamente brancos. E realmente, não existem. Se você
ficasse com a boca cheia de dentes brancos como a neve, você iria ficar
ridículo, parecendo um vampiro sem presas.
Quando os
dentes são o mais próximo do branco, a gente diz que eles são clarinhos. Aliás,
até repete: "Clarinhos, clarinhos!"
Pois o menino
marrom tinha os dentes claros, certinhos, certinhos. Pareciam as teclas de um
piano, sem as cáries (vocês sabem: os bemóis e os sustenidos são as cáries do
piano).
Quando o
menino ria, era aquela luz no meio do seu rosto marrom. O branco dos olhos
diminuía, ficavam aqueles dois tracinhos assim, no lugar dos olhos: um traço de
cada lado do nariz. Mas o brilho das duas jabuticabas permanecia.
Os cabelos
eram enroladinhos e fofos. Pareciam uma esponja. Logo depois do banho, quando
seus cabelos secavam, era um prazer ficar fazendo assim, com os dedos em
gancho, fofando a cabecinha do menino marrom. Sempre achei que seus cabelos eram
pretíssimos. Mas, um dia, um amigo, especialista em identificação do Instituto
Félix Pacheco, me disse "Não existem cabelos humanos absolutamente pretos, você
sabia?"
Falta
descrever as bochechas do menino marrom, seu queixinho pontudo, sua testa alta,
bem redonda, tudo harmoniosamente organizado no seu rosto. E, finalmente, falta
descrever seu nariz. Nariz de menino marrom nunca é pontudinho. Ele cresce mais
para os lados do que para a frente. O do menino marrom era feito de três
bolinhas surgidas assim, de repente, no meio do rosto. Uma bolinha maiorzinha
no meio e duas menorzinhas, uma de cada lado, em volta das narinas. Um desenho
perfeito.
Deixei o nariz
para o final porque o nariz do menino
marrom tinha uma qualidade especial. Tem gente que exprime suas emoções através
dos olhos. Outros se revelam nos movimentos dos lábios. Tem pessoas até que
ficam mexendo com a boca, sem perceber, fazendo todos os movimentos dos lábios
de quem está contando um caso emocionante para elas; se espantam, sorriem,
xingam, choram, sem fazer qualquer barulhinho. Tem outras que se emocionam só
com os músculos do rosto. Vocês já notaram? O olho fica parado, a boca também,
tudo no seu lugar, imóvel, só os músculos da face é que se movem, o maxilar
fica se mexendo Como água de piscina, comprimido pelos dentes (morro de medo de
gente assim). E tem ás pessoas que se, emocionam com o nariz. Levam um susto,
prestam atenção ou ficam ansiosas e só movimentam as abichas das ventas. Se
ficam muito alegres, as narinas se dilatam sem a pessoa perceber, como se
pedissem mais ar, mais alegria.
Pois é: o
menino marrom tinha um nariz muito expressivo.
No mais, ele
era magrinho, de joelhos redondos e perninhas finas – as perninhas dele
pareciam aquelas pilastras antigas, o peito era quadradinho
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p.5 imagem
e os ombros, também: um corpo muito bonito de atleta futuro;
os pés eram grandes grandes mesmo! — para o tamanho dele. E viviam metidos num
velho par de sandálias de dedo. O menino marrom estava tão acostumado com
aquelas sandálias que era capaz de jogar futebol com elas, apostar corridas,
saltar obstáculos sem que as sandálias desgrudassem de seus pés. Vai ver, elas
já faziam parte dele...
Agora, falta
falar se ele era alegre ou se era triste, se era um boa praça ou se era um chatinho. Não, chatinho ele não era. Era,
isto sim, muito curioso (e se existe gente grande que não tem paciência com
menino perguntador, não é o menino que é o chatinho).
Confesso que,
às vezes, ele exagerava.
Um dia, na
beira da praia, olhou o mar — longamente... — pensou um pouquinho, olhou para a
tia que o havia levado à praia e perguntou: "Tia, quando você nasceu já
tinha mar?" Esta a tia respondeu na hora, bem zangada. Afinal, ela estava
levando o sobrinho à praia porque não tinha filhos nem marido, mas também não
era tão velha assim que tivesse visto Deus fazer o mar ou não pudesse mais se
casar.
Todo mundo
sabe a hora a em que a criança vira um perguntador permanente. Dizem que ela
chegou à idade do por que. Por que a água escorrega? Por que o fogo é quente?
Por que eu tenho que ir dormir? Por que eu não tenho irmão? Mãe, por que a sua
barriga ficou grande? Pois todas essas perguntas, o menino marrom fez ou fazia.
E fazia outras mais complicadas ainda. Um dia ele se chegou para o pai e
perguntou: "Pai, quem nasceu primeiro o ovo ou o índio?"
Se as
perguntas do menino marrom eram complicadas, precisava ver as respostas.
"Por que você quebrou todas as coisas da mamãe?" E ele: 'E que a
senhora deixou o tio tomando conta de mim e ele não tomou direito."
O menino
marrom morria de medo de cachorro. Certa vez, ele vinha passeando na pracinha
pela mão de uma prima mais velha, quando viu um cachorrinho vindo em sua
direção. Ele segurou a mão da prima e gritou: "Me protege, que eu estou
com um medo!!! "Assim mesmo: "Me protege! " Era destamaninho e
já falava essas palavras difíceis. A prima, muito pacientemente, explicou para
ele que não tinha perigo, que era apenas um cachorrinho indefeso. Aí, apareceu
outro cachorro na história. E mais que depressa o menino gritou para a prima:
"Socorro, porque agora eu estou com dois medos!"
E o que o
menino marrom inventava em casa? Nem sabia ler ainda e já jogava damas com o
pai, às vezes comia quatro pedras em carreirinha.
Além disso, ele
inventava seus próprios jogos, cada um mais maluco do que o outro. E nos jogos
que ele inventava, só quem ganhava era ele. Não que os jogos fossem uma grande
invenção, nada disso. É que, qualquer resultado que desse, a vitória era dele,
pois a regra dos jogos mudavam, sempre, de acordo com a vontade do inventor.
Era um prazer prestar atenção nas invenções do menino marrom. Sabe? Eu acho que
ele era um menino muito inteligente.
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Não fique
triste aí não, você que está me lendo, achando que o menino marrom era mais
inteligente e mais vivo do que você. Não era.
Sabe como é:
vai ver, eu estou exagerando.
Os autores
têm mania de ficar valorizando os seus personagens, falando que eles são os
mais valentes, os mais brilhantes, os mais inteligentes, os mais corajosos, os
mais nobres e leais.
Personagens levam muita vantagem sobre as
pessoas da vida real. É que o autor pode inventar sempre mil mentiras sobre
eles, só para valorizar.
Todo menino da
idade do menino marrom é assim: se ele é feliz, se as pessoas gostam dele e se
têm paciência para ouvir suas histórias, ele solta toda a sua vivacidade.
Menino é mais
criativo do que adulto, sabe por quê? Porque adulto já viveu muito e já
aprendeu dos outros. Menino tem que inventar, enquanto não aprende.
Lembro-me de
uma vez que minha, filha mais velha tinha assim a idade do menino marrom —ainda
não sabia ler, mas já frequentava o jardim — e eu estava passeando com da e a
irmãzinha mais nova pela Zona Sul do Rio de janeiro. Aí, ela ia explicando para
a irmãzinha — que tinha uns dois anos — tudo o que via. Passamos pela praia e
ficamos olhando o mar agitado, com suas ondas quebrando na areia. E a minha
filha mais velha explicou: "Isto é mar." A pequenininha entendeu e
ficou repetindo: "Mar, mar, mar..."
Saímos da
praia e fomos em direção à Lagoa. Quando a irmãzinha viu a lagoa serena ali na
sua frente, disse para a mais velha: "Olha: mais mar! " E ela
explicou: "Isto não ê mar. Isto é lagoa. '
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Fiquei
surpreso por ela saber a diferença e perguntei: "Qual é a diferença entre
mar e lagoa?" E ela explicou para mim e para a irmã: "E que mar pula
e lagoa não pula. "
Viu? Algum
adulto seria capaz de inventar uma diferença dessas?
Só criança é
capaz de observar as coisas com os olhos de primeira vez.
Você, por
exemplo, que já aprendeu muitas coisas, tem que ficar atento: mesmo aprendendo
muitas coisas, a gente não deve esquecer nossa capacidade de inventar. Quanto
mais a gente sabe, menos moda a gente inventa. O menino marrom ainda estava na
idade de inventar muita moda.
E ninguém
inventa moda sozinho.
É preciso
sempre ter um parceiro. O Tom Jobim fez uma canção linda onde ele fala que
"é impossível ser feliz sozinho" . Tipo da descoberta de quem
aprendeu tudo e manteve ainda a capacidade de descobrir coisas novas, não é? A
gente leva um susto quando ouve uma pessoa dizer assim uma coisa que parece que
todo mundo sabe mas que ninguém diz. São as pessoas que fazem essas descobertas
— das coisas que estão na nossa cara — que a gente chama de poetas. Como o Tom
Jobim.
Pois é: ele
sabia — e sabia dizer — que para inventar moda é preciso um parceiro, alguém
para soltar aquele riso frouxo, quando só os dois sabem exatamente de que
segredo estão falando.
O menino
marrom tinha um parceiro.
Como diria o
riacho, tão festeiro, tão brincante, tão espelho: 'Que menino é este
aqui?" Este é um menino cor-de-rosa. Bem, as crianças não são exatamente
cor-de-rosa. Elas só têm essa cor em desenhos e em livros infantis. O problema
dos poetas é que a cor da pele não tem um nome exato. Quando, por exemplo, faço
uma ilustração para um livro e faço o desenho com traços pretos sobre papel
branco, eu indico as cores que quero para cada detalhe. E aí, anoto a lápis, do
lado, para o técnico da gráfica colorir meu desenho com seu sistema de filmes
coloridos.
Um dia,
mandei o desenho de um personagem para ele e marquei do lado as indicações das
cores que eu queria: "Quero amarelo na camisa, verde-escuro na calça e cor
de pele no menino. " a técnico da gráfica me ligou de volta: "Escuta,
o senhor quer cor de pele branca ou cor de pele marrom?
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p.9 imagem
Como este
menino que entra agora na história era muito clarinho — o mesmo clarinho que
serve para indicar dentes brancos serve também para indicar cor de pele — todo
mundo achava que ele era cor-de-rosa. Principalmente porque ele tinha o rosto
muito coradinho. Que ele era um menino muito bonito, acho que dá para ver pelo
desenho, não dá? Tem algumas diferenças do menino marrom. Aliás, tem algumas
muitas.
O cabelo dele
era amarelado —mais para amarelo do que para castanho — lisinho como rabo de
cavalo, só que muito, muito fino. Caía na testa e dançava com o vento, de tão
leve. Os lábios eram fininhos, como um risco debaixo do nariz. O nariz era
pontudinho e os olhos eram meio azuis, meio verdes, meio castanhos, dependia do
dia. Sua cor mudava da luz da manhã para a tarde, mudava se ele estava na
serra, no meio do mato ou na beira da praia, se era dia de chuva ou se era
noite de lua. Toda a expressão do menino cor-de-rosa estava nos olhos. Que
brilhavam de alegria, quando ele via chegar o menino marrom com as ventinhas do
seu nariz se movimentando também, pedindo mais ar.
Depois da
escola — eles estavam numa escola pública, no pré-primário ou no Jardim, não
sei bem — os dois voltavam para casa e brincavam o dia inteiro.
E como
inventavam moda!
Vou contar uma
história dos dois, de quando eles ainda estavam aprendendo as primeiras letras.
Uma história ótima! Eles já sabiam que A era a, que B era b, que C era c e
assim por D, ou melhor, por diante. Nas páginas do livro dos dois tinha lá os
desenhos das letras grandes com as pequenininhas do lado. Um dia, o menino
cor-de-rosa viu o menino marrom chegar seguro pela mão do pai e, vendo-o assim
ao lado dele, disse: "Ei, você é o minúsculo do seu pai!"
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Quando as mães dos dois contavam as
gracinhas dos seus filhos para as vizinhas, a gente nem sabia qual a história
que era de um, qual a história que era do outro. Também, não faria diferença:
os dois eram parceiros e, numa boa parceirada, tudo é feito junto.
Aí vocês vão
me perguntar: "Mas eles não brigavam nunca?"
Ah, isto,
brigavam. Claro! Imagina os dois juntos o dia inteiro, a cabecinha de cada um
funcionando por conta própria, vê se era possível concordarem em tudo?
Grandes brigas!
Muito olho
roxo, muita unhada, muito soco no peito. E muito cabelo puxado (modalidade em
que só o menino marrom levava vantagem).
A briga mais
famosa dos dois — que os deixou separados e de mal por um tempo enorme — foi a
histórica briga do "sou mais eu". Toda a. dupla briga esta briga, um
dia. Tem sempre a hora da disputa e esta hora pinta assim, sem nenhuma
explicação.
Pois, os dois
estavam ali, numa boa, destruindo as peças de um jogo de armar, quando se desentenderam.
Acho que isto foi antes de os dois entrarem para o jardim. Deixa ver... Foi,
sim. Eles eram bem pequenininhos. De repente, um deles já meio zangado, falou:
"Minha camiseta é vermelha e a sua não é!"
Ah, pra que?
Foi um desafio inaceitável. O outro respondeu, na bucha:
"Meu
short é azul, o seu não é. Aí, o caldo entornou:
"Minha
mãe usa óculos, a sua não usa!"
"Eu tenho
um irmãozinho, você não tem!"
"Eu tenho
duas primas, você não tem! "
"Minha tia
é velha, a sua não é!"
"Eu tenho
uma bicicleta, você não tem!"
"Eu sei
assoviar, você não sabe"
Vocês vêem: a
coisa foi ficando da maior gravidade, quase insuportável. A cada provocação, a
resposta do outro vinha mais perigosa. Até que um deles bradou a vantagem
maior, insuperável:
"Minha
avó morreu, a sua não morreu!"
Ah, meus
filhos, depois desta, só a agressão física! Quando as mães entraram no quarto,
os dois rolavam pelo chão, aos berros, fazendo mais barulho que gatos em noite
de lua. Pelo menos, os mesmos sons.
Foram
separados, aos prantos, e afastados definitivamente um do outro.
Foi urna longa
separação. Longa e dolorosa. Durou toda uma noite de cansaço dos dois e mais
seis horas. No dia seguinte, um apareceu na frente do outro e ficaram só
olhando, paradinhos, sem saber o que dizer para a vida recomeçar. Até que o que
tinha perdido a parada no dia anterior, se explicou:
"Mamãe me
falou que a minha avó tá: muito doente...”
E tudo voltou ao que era antes.
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Eis que estava
contando a história desta parceirada para um menino amigo meu, _ antes de
completar o livro —, e ele estranhou uma coisa: se a história é dos dois
meninos, por que o livro se chama só "O Menino Marrom?"
Aí,
embatuquei. Não tinha percebido que estava contando a história de dois meninos
e colocado um só no título do livro.
Então, pensei:
deve ter sido por causa do telefonema do técnico da gráfica. A gente escreve
cor-de-pele na indicação e quer que as pessoas adivinhem que cor de pele que é.
Como se todos os meninos do mundo, de todas as histórias, tivessem uma cor só.
Quando me
sentei à máquina para contar essa história, tinha decidido que ia escrever a
história de um menino marrom. Depois é que o menino cor-de-rosa entrou.
Vou contar um
segredo de autor para vocês. Quando se começa a contar uma história, não fiquem
achando que a história vai acabar igualzinho a gente quer. Não vai. Por mais
que você invente, de repente, um personagem entra pela página adentro toma o
seu lugar e, ó, cadê que você tira de da história?
Mesmo
inventada, a história é que dirige o autor.
Vê? Agora a
história ficou sendo dos dois. Como, porém, a intenção inicial era contar só o
lado do menino marrom, deixa o título como está.
Estava
pensando: acho que queria mesmo era contar a história de um menino que fosse
muito feliz.
Não acho graça
em infelicidade, embora seja com ela que se faz a melhor literatura. Azar, vou
ter que tentar com meninos felizes mesmo!
Vocês se
lembram que citei o verso do Tom Jobim — não é? — quando ele diz que é
impossível ser feliz sozinho. Então? O menino cor-de-rosa entra nesta história
com a maior naturalidade.
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Os dois
brincavam juntos o dia inteiro, já contei. Muito mais do que brigavam, é claro.
Inventavam os brinquedos mais malucos do mundo, as indagações mais
inquietantes. Epa!
Você sabe o
que é uma indagação* inquietante?
Pois é: eles
ficavam inventando essas coisas difíceis de explicar. E outras menos
complicadas, se bem que muito interessantes.
Um dia, os
dois resolveram descobrir como é que os personagens entravam dentro do vídeo de
televisão. Pensam que eles desmontaram o aparelho para descobrir? Tinha graça!
Essa seria uma história muito antiga, tipo Wilhelm Busch, um famoso contador de
histórias infantis da Alemanha do século
passado. Nada disso. Os dois foram ao Manual de Instruções e à Enciclopédia
para entender o problema da transmissão da imagem: a captação pela câmera e a
recepção feita pela amplificação da frequência super-heteródina.
Vocês
aguentam?
É isso:
ouvindo conversa de adulto, vendo televisão todo dia, participando da guerra
nas estrelas, os meninos de hoje estão sabendo mais do que todo mundo. Para a
geração do autor desta história aqui, por exemplo, vocês já estão para lá do
Flash Gordon.
Querem ver?
Outro dia mesmo, os dois amigos estavam vendo um filme inter-planetário e
apareceu um desses heróis intergaláctico aí, descendo com sua nave num planeta
qualquer. O menino marrom então, perguntou iro menino cor-de-rosa: "O
homem vai, de verdade, à Lua?"
E o menino
cor-de-rosa respondeu: "Atualmente, não! "
Assim mesmo:
"atualmente, não." E completou: "Eles iam, antigamente."
E é verdade:
antigamente!
P.13
Foi em 1969 — olha quanto tempo faz! — que os homens foram à
Lua pela primeira vez e nunca mais ninguém voltou lá.
Eles — os
meninos — viam velozes naves cruzando o espaço sideral, viam brigas
intermináveis de gato e rato, viam super-heróis voadores e cheios de
superpoderes, viam beijos, abraços e muita paixão na mágica tela da televisão
ligada o dia inteiro. Mas, mesmo assim, e por um mistério qualquer/achavam
tempo para ficar, horas e horas, folheando os livros de história que ganhavam e
mesmo os velhos livros que seus pais tinham — esquecidos — na estante.
As vezes,
quando fazia muito silêncio no quarto, mamãe ia ver, olha os dois deitados no
chão entretidos e silenciosos, lendo até mesmo livro sem figuras, só com emoção.
Como a história do Robinson Crusoé, por exemplo, comprida história que não
acabava mais. E a história ficava mais comprida ainda pois o Sexta-Feira
custava a aparecer e eles não podiam imaginar coma é que o Robinson Crusoé
aguentava ficar tanto tempo sem um amigo.
Não sei se
eles liam muito porque prestavam atenção em tudo ou se prestavam atenção em
tudo porque liam muito...
Neste tempo aí
das leituras, o menino cor-de-rosa já não tinha mais babá, estava crescidinho e
ninguém precisa a ficar tornando conta dele. A velha mulher que vivia em sua
casa desde os ternpos da mamãe menina tinha 'ido embora e, no lugar dela, havia
deixado uma sobrinha que não tinha muito o que fazer. Ela ficava o dia inteiro
lendo os velhos livros da coleção "Menina e Moça" e suspirando.
O namorado
dela era o carteiro e este tinha outra mania: a de colecionar o folhetos
coloridos do "Círculo do Livro".
Na casa do
menino cor-de-rasa, logo depois da cozinha nos fundos, tinha urna, varanda que
dava para um pequeno quintal. Ali, havia uma grande mesa de fórmica, onde os
dois amigos passavam boa parte da tarde, lendo, jogando ou fazendo os deveres.
De vez em quando os dois soltavam uma ,gargalhada, explodida de repente, como
se um maestro dirigisse um afinado coral de apenas dois cantores. E que, na
verdade, eles nem sempre estavam prestando atenção nos deveres. Estavam era ouvindo,
caladinhos, a conversa pedante e rebuscada da babá com a cozinheira, as duas
sentadas na cozinha, naquelas tardes compridas.
A mocinha, talvez por suas românticas
leituras, adorava falar palavras difíceis. E, muitas- vezes, palavras
completamente desajeitadas no meio das frases. Os dois, muito debochados, caíam
na gargalhada.
Paravam de
rir, fazia-se o maior silêncio na varanda e na cozinha, a conversa das moças
recomeçava. Aí, na hora certa, outra risada.
Aquilo era
toda t: um verdadeiro ritual.
Teve um dia
que os dois não riram, quando a moça falou a palavra difícil. Ela estava
doidinha pra se casar com o carteiro e, muito pedantezinha, explicou para a
cozinheira: "Ele tem todos os ingredientes para ser um bom marido! "
p.14
Não dá para
esquecer a palavra ingredientes no plural, quando se ouve esta palavra pela
primeira vez. Ingrediente: grande mistério!
Os dois
largaram o que estavam fazendo — com a gargalhada parada no ar — e correram
para o quarto, atrás do dicionário.
Abrem o
dicionário, que aflição! Letra A, não é aqui não, passa, passa, passa o B; não
passa esse tanto não, letra M, já passou. L é antes, muito antes; M, L, j, I:
aqui. LI, IM, IN, Incêndio, incendioso, é mais pra frente, Incenso, Indagador,
o que será? o que será que este noivo tem? Inocência, já passou, volta, volta,
é nesta página, inglesia, vira outra, Inglesice, Ingremidade, aqui está:
INGREDIENTE.
Leram o
verbete.
Leram várias
vezes.
E o mistério
continuou. Voltaram para a varanda sem saber — e por muito, muito tempo — qual
era o mistério do carteiro-noivo da sobrinha da babá. Eles ainda teriam pela
frente muitos mistérios pra poder desvendar.
Agora, preciso
saber quando é que foi essa história...
Não é difícil
descobrir. Pelo tipo de coisa que aconteceu aquele dia tia escola, eles já
estavam no primeiro grau. Sem dúvida: estavam. Foi uma tarde, os dois brincavam
com suas cores, quando o menino marrom misturou todas as tintas que tinha na
caixinha de aquarela, todas as cores do arco-íris.
E ai, sabe o
resultado que deu?
A mistura das
cores todas deu um marrom. Um marrom forte como o do chocolate puro. O menino
marrom olhou para aquela cor que ele tinha inventado e falou: "Olha aí, é
a minha cor!"
p.15
Os olhinhos do
menino cor-de-rosa brilharam como eles brilha suas descobertas. E ele disse:
"Sua cor é a soma de todas as cores!"
O menino
marrom ficou todo feliz. Criou sua cor e achou que era bom.
Justo no dia
seguinte, na escola, a tia levou toda a turma para o laboratório do colégio
para dar algumas explicações sobre cores. Quando os dois souberam que o assunto
era cor, ficaram muito excitados. E que eles iam revelar aos coleguinhas sua
grande descoberta.
"Eu chego
e conto?" perguntou o menino cor-de-rosa.
"Não'
disse o menino marrom. "Deixa a professora falar primeiro, depois nós
damos o nosso show."
Eles estavam
convencidos de que iriam brilhar na visita ao laboratório da escola. E,
enquanto todo mundo ria, falava, mexia nas cores, acendia luzes, desligava
projetores, eles estavam caladinhos num canto para fazer a grande revelação na
hora exata.
Aí, chegou a
hora.
A professora
resolveu mostrar para eles o Disco de Newton.
Toda mundo
conhece o Disco de Newton, não é verdade?
Todo mundo já
foi ao laboratório da escola, certo? Ou sua escola não tem laboratório?
p.16
Bem, essa é
urna outra história e é o Ministro da Educação que tem que resolver. Deixa a
gente contar a nossa, que felizmente tem um laboratório instalado na escola.
E ali tinha o
Disco de Newton.
O Disco de
Newton é o seguinte: um pequeno circulo de metal, plano como um disco comum,
dividido em raios (como uma roda de bicicleta). São sete espaços entre os
raios, cada espaço com urna das cores do arco-íris. O disco gira em pé, como
urna pequena roda-gigante, tocado por uma manivela. Você toca a manivela bem depressa,
o disco vai girando, girando e ai, o que é que acontece com as sete cores? O
quê?
Isto é o que
os meninos iam descobrir naquela manhã, na escola.
A professora
mostrou o disco para eles — tinha uns meninos tão pequenininhos, tão agitadinhos
que nem estavam ligando para aquela história — e perguntou: “Se eu misturar
todas essas cores, o que é que elas viram?"
O menino
marrom gritou, rápido: "Viram marrom! " E olhou orgulhoso para os
outros. Só que ele esperava aplausos e levou foi o maior susto.
A professora
disse: "Não. " E continuou: " Vejam: eu vou rodar este disco bem
depressa e vou misturar todas as cores nesta rodada»
Prestem
atenção, fiquem de olho no disco."
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E todos
prestaram atenção. O disco foi girando, girando, e, de repente, ficou to-do
branco. E a professora explicou: "Viram? O branco não é uma cor. O branco
é a soma de todas as cores em movimento.”
"Com esta
eu não contava" falou o menino marrom.
"Nem eu
" falou o menino cor-de-rosa.
Os dois voltaram
para casa calados, com a cabecinha fervendo. A coisa tinha ficado desse jeito:
se misturar todas as cores e elas não girarem, elas ficam marrom.
Se misturar
todas as cores — em partes iguais — e botá-las para rodar, elas viram o branco.
Estava tudo
assim, quando, de repente, o menino marrom falou para o menino cor-de-rosa:
"Quer
dizer que eu sou todas as cores paradas e você é todas as cores em movimento?"
O menino
cor-de-rosa pensou um pouco e respondeu: "Só tem um detalhe: eu não sou
branco!"
Pronto. Agora,
é que as coisas complicaram de vez...
E voltou
aquela discussão: o que é realmente branco na Natureza?
O tipo da
pergunta de menino curioso!
O técnico do
Instituto Félix Pacheco que me desculpe, mas tem cabelo de velhinho que é
branco mesmo, branco-omo-total!
Tem muito pelo
de animal: o pelo do urso, o pelo do coelhinho de páscoa, o pelo do
porquinho-da-índia. E tem o cálice os lírios e tem as pétalas das rosas —
quando as rosas são brancas — e tem as penas do cisne branco, que em noites de
lua, vai navegando no lago azul. E, embora nem o menino marrom nem o menino
cor-de-rosa jamais tivessem visto — eles sabiam! — tem a neve que é branca,
branca.
Aí, os dois
chegaram a uma boa conclusão: a coisa mais preta da Natureza é o carvão e a
mais branca é a neve. Se isto não for cientificamente certo, quando vocês
crescerem, por favor, façam aí umas pesquisas e me desmintam, está bem?
Como, porém,
os dois acharam que assim estava bom, fica assim.
E ficou também
acenado que gente branca, branca mesmo, também não existe. A não ser em
histórias para crianças, como aquela dos sete anões.
E quando os
dois chegaram em casa, estavam encantados com uma nova descoberta: o mundo não
é dividido entre pessoas brancas e pretas.
Mesmo porque,
elas não existem.
O que existe —
que boa descoberta! — é gente marrom, marrom-escuro, marrom-claro, avermelhada,
cor•de-cobre, cor-de-mel, charuto, parda, castanha, bege, flicts, esverdeada,
creme, marfim, amarelada, ocre, café-com-leite, bronze, rosada, cor-de-rosa e
todos esses nomes aproximados e compostos das cores e suas variações.
p.18
Aquela visita
ao laboratório deixou os dois, sem dormir por vários dias de tanto que eles
matutaram sobre suas descobertas.
O mais
engraçado é que eles não estavam
preocupados com o mistério das misturas, com o fato da mesma mistura dar o
branco e dar o marrom.
Eles estavam
despertados para outras coisas.
Tipo de coisa
que acontece, não é? As vezes a gente vê um fato impressionante pela primeira
vez e em vez de ficar marcado pelo fato propriamente dito, fica preocupado com
outra coisa completamente diferente que nasceu daquele fato.
Deu pra
entender? Vou tentar explicar com uma história que a minha mãe contava. Ela era menina e a estrada de ferro chegou à
cidade onde ela vivia. Meu avô, então, resolveu levar um empregado dele muito
bonzinho para ver a locomotiva. Meu avô amava aquele empregado meio simplório!
E queria ver sua reação, quando ele visse,
p.19
pela primeira vez, uma máquina andando sozinha, sem cavalo
nenhum para puxar. Vovô ficava imaginando como ia ser a reação de espanto do
seu empregado.
Lá se foram os dois para a estação. E veio a
locomotiva andando sozinha, aquela„ coisa mágica se aproximando, vupt, vupt,
vupt.
Meu avô ali,
de olho, pronto para saborear a emoção do rapaz.
E a máquina
passou por eles, os dois parados, sem dizer palavra, vapt, vupt, vupt, vupt,
vupt.
Ai, meu avô falou: "Então, Zé? O que
foi que você achou deste milagre?"
E o Zé
respondeu: "Puxa, seu Hortêncio, como faz fumaça, fiem!?"
Pois é isto: o
que impressionou os meninos também, não foi a roda rodando e fazendo as cores
sumirem no disco. O que os deixou inquietos foi a fumaça que a experiência fez
na cabecinha deles...
Puxa vida! Se
um era marrom e o outro era — digamos — cor-de-rosa, por que é que todo mundo
dizia que um era preto e o outro era branco?
Imagina: eles
nunca haviam se preocupado com isto. Mesmo marrom, o menino marrom achava
normal ser chamado de preto. Mesmo cor-de-rosa, o menino cor-de-rosa achava
normal ser chamado de branco.
Agora, como na
caixa de aquarelas estava tudo misturado
na cabeça deles.
Eles tinham estado
juntos, praticamente, desde o dia que nasceram, brincando, conversando,
inventando coisas, brigando, rolando na
grama, dando socos um na cara do outro, fazendo pazes, brigando de novo, passeando
na praça, jogando na escola, sempre juntos, sempre às gargalhadas, sempre inventando
moda.
E nunca tinham
se reocupado com o fato de um ser de uma cor e o outro ser de outra.
Agora, eles
queriam saber o que que era branco e o que que era preto e se isto fazia os
dois diferentes. P.20
Uma vez me
aconteceu uma história que — me parece dá pra ajudar a gente a entender o novo
problema dos dois amigos.
Eu era bem
pequenininho e já sabia fazer bolinhos de fritar. Quer dizer: devia fazer a maior
bagunça na cozinha mas mamãe me deixava ficar lá, quebrando ovos, derramando
farinha de trigo pelo chão, me lambuzando todo, mas fazendo a massa, rodando a
massa nas mãos, fazendo as bolinhas — como se fossem sonhos — e jogando tudo na
gordura quente para fritar. Vai ver, mamãe ficava por ali, tomando conta. Na minha
memória, porém, me vejo o rei absoluto da cozinha.
E estava lá,
fazendo os meus sonhos — ou meus bolinhos de fritar — e queria que eles
ficassem prontos para o café da manhã. Tantas fiz que a massa dos bolinhos não
ficou pronta a tempo. Aí, já era hora do almoço e me lembro de ouvir a voz do
papai chegando do escritório e me dizendo: "O meu filho está fazendo
bolinhos pa-ra o almoço?'
Eu disse que
estava sim e tomei uma decisão: "Bolinhos para o café são doces; bolinhos
para o almoço devem ser salgados."
Na minha
cabeça, o que eu tinha que fazer era simples: tirar o doce da massa e fazê-la
ficar salgada. Simples! Simplíssimo: como eu havia botado um copo de açúcar para
adoçar os bolinhos, bastava agora botar um copo de sal em cima, que tudo ficava
empatado.
Não pensei
duas vezes, virei um copo de sal na massa e ainda botei mais,uma pitadinha de
sal extra, para — aí, sim — temperar o bolinho para u almoço.
Juro que não me lembro do que aconteceu
depois. Só sei que foi nesta manhã que elaborei a minha Teoria dos Contrários:
"Uma coisa só é o contrário da outra, quando toma o seu lugar. Logo,
salgado não é o contrário de doce."
Não lhes
parece uma boa teoria?
Vamos à prova:
tome-se um arame e ponha-o no fogo. Ele fica quente. Tire o arame do fogo e
bote-o na água gelada. Ele fica frio. O frio toma o lugar do quente. logo, o
frio é o contrário do quente. C. Q. D. (Vê ai se a sua professora ainda sabe o
que quer dizer C. Q. D. Depois, você me conta.)
Bem, não creio
que esta história tenha ajudado o tanto que eu esperava. Vocês vêem ai. Tenho o
maior medo de explicações cientificas, sabem? , Mesmo porque, não sou nada bom
nisso. O que estou tentando é ajudar os dois meninos na sua dúvida, pois — me
prece — o que eles estavam querendo era saber se o branco é o contrário do
preto. É? Será?
P.21
Eles ficaram
por muito, muito tempo sofrendo esta dúvida.
Mas menina tem
essa coisa de bom: logo esqueceram aquela história e já entraram de novo em
outras invenções.
Menino nunca
sabe a hora exata em que essas coisas acontecem, os dois descobriram juntos: a moça na janela da casa ao lado!
Era a filha
mais nova da vizinha, meu Deus, a coisa mais bonita que jamais houve neste
mundo desde que Deus criou o mar.
Mas, ela era
uma menina, outro dia mesmo!
E aí, numa
tarde na janela, surgiu como uma princesa!
De repente,
como se uma fada tivesse tocado seu corpo com uma varinha de condão, a menina
virou uma princesa e apareceu na janela.
Numa tarde
assim, daquelas bem quietinhas.
A partir desse dia, era aquela febre e
aquela aflição na escola, a vontade imensa de voltar para casa, de ver a tarde
chegar e ir olhar a princesa na janela do seu castelo, a pequena casa verde ao
lado.
Lá vinha ela,
das sombras do quarto e chegava à janela, toda cheia de luz; e entrava e saía e
seus braços tão brancos dançavam no espaço, ajeitando os cabelos, jogando a
cabeça, de leve para trás; e teus olhos brilhavam, olhando pra longe e seu
rosto girava, de leve, de leve, sobre os ombros redondos — que ombros, meu
Deus! ---- que curva tão linda, a corrente de ouro, e a medalha onde está?
Não estou bem
certo se aquela era a hora exata da chegada dos dois à janela para olhar a moça
ou se era a exata hora da chegada da moça para que os dois olhassem para ela.
Depende de
quem conta a história.
"Como é,
meu Deus, que nós vamos afastar esta paixão que vai fazer a gente brigar no
beco, longe dos pais e dos tios, uma briga de decidir? Tira essa moça da nossa
cabeça! Xõ, xô mosquitinho, xô xô mosquitinho a moça da casa verde, xô xô
mosquitinho, xô xô mosquitinho, vou ardendo, vou morrendo, xô xô mosquitinho
xô, xô... mosquitinho. Ai!"
Há certas
manhãs em que a cama deixa de ser boa companhia e, quando a gente dá pela
coisa, já está de pé, no meio da rua, no meio do quintal ou na área, longe do
quarto.
Nem acabou de
amanhecer ainda e ficamos sem saber o que fazer com aquele pedaço de dia que
ganhamos, de repente. Pois numa manhã dessas, o menino marrom enjoou cedo da
cama. Acho que estou contando essa história, indo e vindo no tempo, sem botar
as coisas em ordem. Vai ver que estou.
Esta manhã de
que falo agora, por exemplo, é uma manhã muito mais antiga, muito anterior aos
sonhos com a menina da casa verde, eles eram bem pequenininhos ainda.
Pois o menino
marrom — daquele tamaniaho se viu sozinho no meio da rua,
p. 22
antes que o dia acabasse de amanhecer, antes que a primeira
loja da rua abrisse para, a luz do dia suas barulhentas portas de aço.
Tudo vazio, só
ele sozinho no meio da ma como menino perdido. De repente, ele vê a velhinha
atravessando a rua a caminho da missa das seis Agora, meu deus, me digam: onde
foi que aquele tico de gente tinha ouvido falar em boa ação? Pois não é que ele
tomou a decisão, como se fosse um experimentado escoteiro' Correu e pegou a mão da velhinha
para guiá-la na travessia da rua:
"Não
careço de ajuda. Me larga, menino, por amor de Deus!"
Deu um tapa na
mão do menino marrom, e atravessou a rua sozinha.
O menino ficou
estático no meio-fio, com a mãozinha no ar, parado como uma estátua desapontada,
olhando para a velhinha com a maior de todas as incompreensões.
Na manhã seguinte,
a cama incômoda de novo, antes dás seis hora.
E ele estava
ali, no mesmo lugar, sentadinho na calçada. Só que desta vez em companhia do
menino cor-de-rosa, que foi acordado por ele sem qualquer explicação, só “Vem!”
p.23
E lá apareceu
a velhinha, de novo, indo para a missa. Os dois não diziam nada. Só ficaram
olhando a velhinha atravessar a rua que levava à praça e depois à igreja. A
velhinha sumiu no meio da vegetação da pracinha e os dois voltaram para casa. No
dia seguinte, olha os dois lá, de novo, sentadinhos na calçada, esperando a
velhinha passar.
No final de
algumas manhãs, já que o menino marrom não dizia nada, o menino cor-de-rosa
resolveu perguntar:
"Por que
você vem todo dia ver a velhinha atravessar a rua?" E o menino marrom
respondeu:
"Eu quero
ver ela ser atropelada.
Como pode
durar este jogo de deus e de diabo em peito de menino?
24
Menino tem
muitos defeitos. Por exemplo: menino cresce. E os dois amigos não tiveram como
se livrar deste dever. De repente, começaram a crescer mais depressa, a voz começou
a engrossar aqui, a esganiçar ali, até que chegou a hora do menino cor-de-rosa
ter que ir embora. Primeiro foi comprar umas cuecas, alguns pares de meia, pregar
uns botões nas camisas, descer a bainha de uma ou outra calça e juntar os
amigos para o bota-fora.
Os amigos
todos apareceram para a festa de despedida do menino cor-de-rosa que, àquela
altura, já não era tão menino nem tão cor-de-rosa. Foi uma farra: muitos
abraços, muitas palmadinhas nas costas — teve um que vomitou com sua primeira
cerveja — e muitas piadas de bom e de mau gosto.
Muito bem:
agora, o menino, ainda que não queira, vai ter que ser ele mesmo e não mais um
objeto de família, agasalhado na voz musical da mamãe, protegido na força de
bronze que menino enxerga no pai, que vence o medo, que afasta os raios. Os
olhos se desprendem da paisagem, a própria casa ignora que ele vai partir,
nenhuma xícara, nenhuma porta lhe deseja boa viagem. Lá vai ele para o mundo,
deixar seu quarto infinito.
O pai chama-o
num canto e desfila os conselhos. O menino ouve com a maior atenção, como se
aquela história já tivesse acontecido ele alguma vez em algum lugar.
Quando mamãe
veio com a bolsa de mão toda arrumadinha e com os olhos cheios de lágrimas
dizer: juízo, meu filho, vai com Deus e... o menino cor-de-rosa só faltou
repetir cada palavra da mãe, de tanto que ele sabia que ia ser assim. Ele sabia
também que ia ficar com os olhos cheios d'água, não ia conseguir dizer nada e
aconteceu tudo direitinho: ele não conseguiu dizer nada e ficou com os olhos
cheios d'água.
Mamãe veio até a porta, papai veio até a rua e
ele seguiu para a estação em companhia do menino marrom, que lhe carregava a
mala.
Os dois foram
andando devagarinho para a estação. Naquele instante eles estavam certos — sem
que nenhum dos dois falasse isto para o outro — de que não iriam nunca se
esquecer daquele momento e se perguntando, sem fazer a pergunta: "Quem é o
dono da história? Aquele que parte ou aquele que fica?"
De repente, o
menino marrom deu uma gargalhada dessas que não acabam mais, dessas de perder o
fôlego.
O menino
cor-de-rosa espantou-se, sem entender nada. Esperou que a gargalhada terminasse
e aí perguntou: "Tá rindo de quê?" O menino marrom olhou para ele,
todo solene, e disse:
"Espero
que você tenha todos os ingredientes para vencer na vida!"
"Você se
lembra?" falou o menino cor-de-rosa, pegando carona na risada que não
acabava.
25
A sobrinha da
babá, que falava difícil, havia se casado com o carteiro e já estava esperando
o terceiro filho.
A gargalhada
acabou e eles voltaram a caminhar em silêncio, agora que o mistério estava desfeito.
Às vezes, os
silêncios ficam muito compridos e você não sabe como diminuir seu tamanho, a
não ser com uma pergunta boba.
"E o
nosso pacto de sangue, como é que fica?"
"Amigos
para sempre!
"Temos que
selar nosso pacto com sangue!"
"Com
sangue!"
Eles eram tão
pequenininhos naquela época que nem se lembravam onde tinham visto este negócio
de pacto de sangue. Vai ver, um deles tinha ficado sem dormir até mais tarde e
pegado um filme de espadachim na televisão, no fim da noite. Sei lá, às vezes,
o que a gente aprende vem no vento, sem qualquer explicação.
O pacto!
"Temos que fazer um pacto de sangue!"
Um deles foi
até a cozinha buscar uma faca de ponta para furar os pulsos e misturar o sangue
dos amigos eternos.
Ficaram os
dois, os bracinhos espichados, as mãozinhas fechadas para cima, os pulsos à
mostra, latejando. A faquinha na mão de um, esperando o pacto. Os dois ali,
parados, sem um sorriso sequer, só o ruído das suas respirações ofegantes,
olhando firmes um no olho do outro, sem piscar: pacto é pacto. E a faquinha
parada no ar. Até que um deles resolveu a questão: "Não tem um
alfinete?"
O outro nem
respondeu, foi correndo ao estojo de costura da mãe, estojo de costura, tesouro
da vista, linhas, carretéis, fitas, cor o quarto reino natural — não apenas
alfinetes de bolinhas coloridas nas pontas.
"Pego
este, da bolinha vermelha!"
"A gente
fura o dedo."
"Qual
dedo?"
"O fura-bolos.
Que é pra gente assinar o nome com sangue."
"Isto! O
dedo vira uma caneta-tinteiro."
Agora pausa
para uma gargalhada dupla de se ouvir na rua inteira, riso bobo, exclusivo.
"Quem
foi que inventou essa do dedinho, soltando sangue pela ponta, virar
caneta-tinteiro, foi eu ou você?"
Muito bem: os
dois dedinhos fura-golos ali, esticadinhos, e cadê coragem para furar a ponta
de cada um? Nova pausa e um deles resolve sair da pose. Sai e vai tranqüilamente
até a gaveta onde guarda as coisas da escola.
"Que ê
que você está procurando?"
"Tinta
vermelha. "
O outro correu
para ajudar. Pacto de sangue de menino pode ser com tinta ver-
26
melha, claro.
Depois de assinado e sacramentado, quem vai desconfiar de que não é sangue
verdadeiro?
Não tinha
tinta vermelha.
Foi o menino
marrom que achou o vidro de tinta azul. Abriu, enfiou o dedo no vidro e mandou
o outro fazer o mesmo. Ficaram os dois com as pontas do fura bolos cheias de
tinta azul. Esfregaram os dedos um no outro, pegar uma folha de papel e,
juntos, assinaram seus nomes. Aliás, assinaram, não: escreveram com a dificuldade
com que escreviam seus nomes naquela época. E tiveram que enfiar o dedo várias
vezes no tinteiro, que a tinta secava rápido.
A maior
lambança. Ao final, orgulhosos, os dois esconderam o documento em lugar
secretíssimo, certos de que tinham feito um pacto indestrutível. Pacto de reis
é pacto de reis!
Aí, eles pararam
mais uma vez no caminho da estação para
reforçar suas lembranças.
'Quem é que tinha falado pra gente este
negócio de sangue real?'
"Será que
a gente sabia mesmo?"
"Tenho
certeza absoluta. Estávamos fazendo um pacto de sangue azul.”
'Amigos
eternos, Milord!"
"Fiéis
para sempre, Alteza!
"E onde
foi que a ente escondeu documento?"
"Não
tenho a menor ideia!"
27
Ai, já tinham
chegado à estação. Não era uma estação com sua bufante locomotiva, seus estertores,
seus rangidos, angustiante ou festiva mensagem de seu apito; era uma estação
rodoviária de luzes frias e o ônibus enorme não era nada romântico, todo
colorido, ar refrigerado, rodomoça, carteira de identidade, autorização dos
pais para viajar desacompanhado. Quando o chofer entrou para assumir seu lugar
e' a porta automática do ônibus fez aquele barulhinho de ar comprimido,
informando que estava na hora de ser fechada, o menino cor-de-rosa descobriu
que só faltava ele para entrar no ônibus. Aí, foi aquece abraço muito forte,
muito apertada mesmo e ele disse, sem nunca ter programado:
"Não me
esqueça amigo, eu vou voltar.
Falou assim,
sem sentir, aquela frase que lhe saiu com a música que ela contém. E estava
certo, também, de que não tinha programado aqueles olhos úmidos. Da janela, o
ônibus saindo, ele pôde ver que o menino marrom estava com as ventas do nariz
mexendo mais do que asa de borboleta. Quando o ônibus ia sumir no fim da pista,
ele olhou para trás e viu todas luzes da rodoviária brilhando nos olhos de jabuticaba
do menino marrom.
p. 28
Era chegada a
hora de deixar de ser corgo, brincar de ser rio. o menino marrom foi crescendo,
ganhando corpo, tudo muito devagarinho, ele foi ficando um rapazinho quieto,
caladinho, lendo muito, estudando, fazendo experiências, fazendo versos,
inventando coisas só para ele e, de repente, abandonando tudo, fazendo uma
manhã toda diferente da outra ou repetindo aquelas manhãs em que ele acordava muito
cedo e ia sentar-se na calçada para ver a velhinha morrer atropelada.
Um dia, aquela
história do preto e do branco voltou-lhe à cabeça. "Se o azul é uma cor
fria e o vermelho é uma cor quente, por que é que, na cabeça de ninguém, uma é
o contrário da outra? Quem foi que inventou que o preto é o contrário do
branco? Se eu sou marrom e se meu melhor amigo não é exatamente branco, por que
é que nos chamam de preto e de branco? Será que é para que fiquemos um contra o
outro?"
Ele já sabia
uma porção de coisas, já tinha estudado direitinho o Disco de Newton, já sabia
o que era luz, o que era a decomposição da luz, o que era prisma, essas coisas
que vocês vão saber daqui a pouco e das quais já me esqueci...
Ficar sozinho,
às vezes, é bom: você começa a refletir, a pensar muito e consegue descobrir
coisas lindas.
Nessa de saber
de cor e de luz — matérias que passaram a interessá-lo profun-damente — o
menino marrom começou a entender por que é que o branco dava uma ideia de paz,
de pureza e de alegria. E por que razão o preto simbolizava a angústia, a
solidão, a tristeza. Ele pensava: o preto é a escuridão, o olho fechado; você
não vê nada. O branco é o olho aberto, é a luz!
Santa mãe, a
cabeça do rapazinho fervia. Aí, ele concluía: para o Homem, tudo vira símbolo!
É verdade: o Homem foi sempre um grande inventador de moda.
Sua cabecinha
de adolescente chegava a ranger, crec, crec, crec, ele N. ia a hora que eia ia
derreter.
Vocês já
ouviram falar num sábio brasileiro chamado Silva Melo?
Ele era
médico, escritor-e foi da Academia Brasileira de Letras.
Um dia, ele
estava voltando para o Brasil de navio, o navio afundou e ele nadou — que nem o
Camões — com os orig;riais do seu livro numa das mãos, até ser salvo. Isto,
porém, é outra história que um dia vocês vão conhecer melhor. Uma vez, fiz uma
entrevista com o Professor Silva Melo sobre uma porção de coisas e, entre as
muitas que ele contou, uma não deu para esquecer.
Ele disse lá,
a um certo ponto da entrevista: "Eu não consigo descobrir em que altura da
História do Homem, ele decidiu que o branco simbolizava pureza."
Aí, eu disse:
"Deve ser. desde quIndo abriu os olhos pela primeira vez."
Ele nem mc
ouviu. E continuou:
"As
coisas puras da Natureza não são, exatamente, brancas!" Falou e disse,
Professor! O branco do lírio, por exemplo — agora sou eu que
p.29
estou repetindo — tem uma química complicadíssima, uma
mistura incrível para dar aquele branco. Um pelo de gato preto é tão puro quanto
um pelo de gato branco. As coisas puras da Natureza estão muito mais para os
tons ocres e pardos. Como o açúcar mascavo, por exemplo, que é muito mais puro
do que o açúcar refinado.
O Professor
falava coisas assim. Acho que o menino marrom andou lendo a en-trevista que fiz
com o Professor e começou a entender esse negócio do valor dos sím-bolos. Sabe
por que eu acho isto? Porque, um dia, ele — que também tinha pensado na minha
Teoria dos Contrários — fez uma bela constatação de adolescente.
Foi assim: ele
estava muito triste e achou que as coisas estavam pretas para ele. Ai, não
gostou do próprio símbolo que criou:
"Pretas,
porrrrrrrrquê?"
Ele estava no
seu guano, estudando, e ficou olhando urna folha de papel bran-quinha sobre a
mesa, onde ele ia escrever uma carta. De repente, a luz do quarto apagou. E a
folha branca sumiu. Ele botava a folha de papel perto dos olhos e via tudo
preto. Mas ele sabia que a folha de papel estava ali e continuava branca.
Então, ele deu
um sorriso lindo, todo branco que ----- no escuro ninguém viu.
Ele havia
descoberto que o preto não era o contrário do branco!
A luz acendeu
de novo. E a folha branca apareceu diante de seus olhos.
Ele pegou a
caneta e começou a carta que ia escrever:
MEU QUERIDO AMIGO
EU ANDAVA MUITO TRITE ULTIMAMENTE , POIS
POIS ESTAVA SENTINDO MUITO MA SUA FALTA
AGORA ESTOU MAIS CONTENTE PORQUE ACABO
DE DESCOBRIR UMA COISA IMPORTANTE: PRETO É
APENAS A AUSENCIA DO BRANCO
Algum tempo
depois aconteceu tudo igualzinho como na canção do Milton Nascimento: o menino
— que agora já era doutor — voltou com sinhazinha para apresentar. A moça não era bem urna sinhazinha
como as de antigamente. Era uma bela estudante de sociologia e vinha fazer
urnas pesquisas na cidade dos dois meninos. A sobrinha da babá já tinha seis
filhos e o amigo deles que não sabia beber cerveja na festa de despedida já
bebia feito um craque.
A vida
continuou.
A partir daí,
porém, a história já não é mais nem do menino cor-de-rosa nem do menino marrom.
Menino. é como certos rios misteriosos da Amazônia que, de repente, desaparecem
no meio da mata ---- ou no meio do mapa e vão aparecer lá na frente, um rio
muito maior, um outro rio.
p.30
Que os dois
continuam os maiores amigos, isto eu sei, tenho sempre notícias deles embora
não os veja há muito tempo.
Só sei que os
dois continuam fazendo das suas. Um é craque de basquete e o outro, de
voleibol; um já está quase formado e o outro não estuda mais — ou os dois já se
formaram, todos dois já são doutores — já nem posso precisar. Só sei que um
desistiu de tocar a bateria e o outro fez um samba e gravou uma canção; um está
tocando flauta e o outro, violão. Um deles já se casou — se casou, eu não sei
bem —e o outro perdeu a conta das namoradas que tem. Um quer conhecer o mundo e
o outro a Patagônia, um é o rei da Informática e o outro do vídeo-clip; um
andou fazendo cursos de teatro e literatura e o outro já fez figura num festival
da canção. Um já conseguiu emprego; o outro foi despedido do quinto que
conseguiu. Um passa seus dias lendo — ou não sei se são os dois — um não lê
coisa nenhuma, deixa tudo pra depois. Mas, faz cada verso lindo, que ainda vai
virar canção. Um pode ser diplomata. Ou chofer de caminhão. O outro vai ser
poeta ou viver na contramão. Um é louco por sorvete de chocolate e o outro
detesta o gosto de chocolate com leite; prefere, pro seu deleite, cerveja com
tira-gosto. Um adora um som moderno e o outro — como é que pode? — se amarra é
num pagode. Um dos dois é muito alegre e o outro mais quietinho; um faz piadas com
tudo e os dois riem sozinhos. Um é um cara ótimo e o outro, sem qualquer
dúvida, é um sujeito muito bom. Um já não é mais rosado e o outro está mais
marrom.
Aqui acaba a
história. Por que dar fim a histórias? Quando Robinson Crusoé deixou a ilha,
que tristeza... Ainda bem que os dois meninos — não tão meninos mais —
continuam por aí, sem saber que, neste momento, estamos lendo quase tudo sobre
eles.
Até que se
eles descobrissem isto, não ia ser nada mau.
Não por causa
do contador desta história, mas por causa deles rnesmos, eles iam fazer mais
uma bela descoberta. E cada um ia poder dizer pra gente: "Eu não sabia que
a minha história era mais bonita que a do Robinson Crusoé. "
Série
MUNDO COLORIDO
Esta é a história de
três meninos
Em primeiro lugar, é
a história
de um menino marrom.
E é também a historia
do seu amigo,
o menino cor-de-rosa.
Mas, principalmente ,
é urna história
do menino que mora no
coração do Ziraldo,
e que é um menino
poeta, contador de caso,
inventador de moda,
sempre sonhando,
imagïnando, juntando
amigos,
e, com eles, fazendo
outras histórias,
e com as histórias,
outros amigos,
e, com os amigos,
novas histórias...
Ciça
1. Em certo momento da história o menino de onze anos deseja
que uma velhinha morra, pois havia rejeitado a sua ajuda para atravessar a rua.
Você acha que esse comportamento?
_____________________________________________________________________________________________________________________________
2. Os dois amigos planejam fazer um pacto de sangue para
selar a amizade. Acabam fazendo com tinta azul. Você acha que isso incentiva as
crianças a fazerem pacto de sangue de verdade?
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3. Quais as partes do corpo do menino são descritas pelo
narrador? P3,4,.
_____________________________________________________________________________________________________________________________
4. Com o que o narrador compara os olhos, os dentes e as
pernas do menino?
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5. Do que o Menino Marrom tinha medo?p.6
_____________________________________________________________
6. O narrador do texto é o próprio autor? Justifique com um
fragmento do texto. P.7.
_____________________________________________________________
7. De acordo com a filha do narrador, qual a diferença entre
mar e lagoa?. P8.
_____________________________________________________________________________________________________________________________
8. Como era a aparência do menino cor–de–rosa? p.10.
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
9. Em que escola os meninos estavam estudando,
provavelmente? P.10.
____________________________________________________________
10. Os amigos partiram para a agressão física após um
insulto. Qual foi esse insulto? P.11
_______________________________________________________________
11. Qual foi o motivo do insulto ter provocado a briga?p.11.
_______________________________________________________________
12. Quem passou a tomar conda do menino depois que a babá
foi embora?p.14
_______________________________________________________________
13. Qual a cor que resultou da mistura de todas as cores do arco-íris
no experimento do menino marrom? p. 15.
____________________________________________________________
14. Por que o menino ficou feliz com a descoberta? P.16.
__________________________________________________________________________________________________________________________
15. De acordo com o experimento do disco de Newton a mistura
de todas as cores cria qual cor?
______________________________________________
16.Qual foi a descoberta feita pelos meninos sobre as
pessoas brancas e as pessoas pretas?p.18
_____________________________________________________________________________________________________________________________
17.Os amigos nunca haviam se preocupado com que fato? P.20
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
18. Qual o nome da teoria criada pelo narrador quando era
criança? p. 21.
_______________________________________________________________
19.Que novo acontecimento os dois amigos descobrirem? P. 22.
____________________________________________________________________________________________________________________________
20. Por que o menino resolveu ajudar a velhinha a atravessar
a rua? P. 23
_____________________________________________________________________________________________________________________________
21. Por que ele ficou com raiva da velhinha?
_____________________________________________________________________________________________________________________________
22. De acordo com o
narrador um dos defeitos dos meninos e o quê? P.25
_________________________________________________________
23. Qual idade aproximada os amigos tinham quando fizeram o
pacto de sangue? P.26
______________________________________________________________
24. Como foi o pacto de sangue dos amigos?p.26
____________________________________________________________________________________________________________________________
25. Qual dos amigos partiu no ônibus? Justifique com um
fragmento do texto.
_____________________________________________________________________________________________________________________________
26. De acordo com o menino marrom o que é o preto? P. 30
____________________________________________________________________________________________________________________________
27. O menino marrom e o menino cor-de-rosa representa quem? P.
31.
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28. Quais os três meninos dessa história? P.32
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