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domingo, 26 de fevereiro de 2017

INTERPRETAÇÃO A PISCINA 2

          Era uma esplêndida residência, na Lagoa Rodrigo de Freitas, cercada de jardins e tendo ao lado uma bela piscina. Pena que a favela, com seus barracos grotescos se alastrando pela encosta do morro, comprometesse tanto a paisagem.
          Diariamente desfilavam diante do portão aquelas mulheres silenciosas e magras, lata d’água na cabeça. De vez em quando surgia sobre a grade a carinha de uma criança, olhos grandes e atentos, espiando o jardim. Outras vezes eram as próprias mulheres que se detinham e ficavam olhando.
          Naquela manhã de sábado ele tomava seu gim-tônica no terraço, e a mulher um banho de sol, estirada, de maiô à beira da piscina, quando perceberam que alguém os observava pelo portão entreaberto.
          Era um ser encardido, cujos mulambos em forma de saia não bastavam para defini-la como mulher. Segurava uma lata na mão, e estava parada, à espreita, silenciosa como um bicho. Por um instante as duas mu-lheres se olharam, separadas pela piscina.
          De súbito, pareceu à dona da casa que a estranha criatura se esgueirava, portão adentro, sem tirar os olhos dela. Ergueu-se um pouco, apoiando-se no cotovelo e viu com terror que ela se aproximava lentamente: já transpusera o gramado, atingia a piscina, agachava-se junto à borda de a-zulejo, sempre a olhá-la, em desafio e agora colhia água com a lata. Depois, sem uma palavra iniciou uma cautelosa retirada, meio de lado, equilibrando a lata na cabeça – e em pouco sumia-se pelo portão.
          Lá no terraço, o marido, fascinado, assistiu a toda a cena. Não durou mais de um ou dois minutos, mas lhe pareceu sinistra como os instantes tensos de silêncio e de paz que antecedem um combate.
          Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa.
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Vocabulário
Gim-tônica: bebida que consiste na mistura de gim, aguardente feita de cereais, com água tônica e limão.
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I – Nas questões 1 a 7, marque a alternativa que é sinônimo da palavra ou expressão em negrito:
1. “Era um ser encardido…”
a. (   ) encarnado       b. (   ) feio        c. (   ) velho      d. (   ) sujo
2. “… estava parada, à espreita, silenciosa como um bicho.”
a. (   ) esperando    b. (   ) observando    c. (   ) rindo     d. (   ) pensando
3. “… já transpusera o gramado…”
a. (   ) ganhara     b. (   ) desviara     c. (   ) ultrapassara     d. (   ) contornara
4. “… sempre a olhá-la, em desafio…”
a. (   ) desconfiada    b. (   ) temerosa   c. (   ) indiferente   d. (   ) provocante
5. “… iniciou uma cautelosa retirada…”
a. (   ) rápida     b. (   ) prudente       c. (   ) temerosa       d. (   ) vagarosa
6. “Lá no terraço, o marido, fascinado, assistiu a toda a cena.”
a. (   ) deslumbrado   b. (   ) temeroso   c. (   ) entusiasmado   d. (   ) furioso
7. “Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa.”
a. (   ) duplicidade   b. (   ) vacilação  c. (   ) determinação   d. (   ) convicção

II – Marque a alternativa correta de acordo com o texto.
8. No 1º parágrafo podemos perceber que a esplêndida residência situava-se:
a. (   ) num lugar desabitado
b. (   ) próximo à encosta de um morro onde se alastrava uma favela
c. (   ) num bairro onde só havia residências luxuosas.
d. (   ) dentro da favela
9. No início do 2º parágrafo temos: “Diariamente desfilavam diante do portão aquelas mulheres silenciosas e magras, lata d’água na cabeça.” Disto podemos concluir que:
a. (   ) as mulheres vendiam água.
b. (   ) as mulheres gostavam de desfilar com latas na cabeça
c. (   ) na favela não havia água
d. (   ) não havia água encanada na cidade
10. Ao ver a mulher da favela entrar em seu jardim, a dona da casa ficou:
a. (   ) indiferente      b. (   ) furiosa     c. (   ) aterrorizada     d. (   ) alegre
11. Por que casa foi vendida?
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Gabarito
1. d       2. B      3. C       4. D       5. B       6. A       7. B     8. B     9. C    10. C

11. A casa foi vendida porque o incidente fez com que seus donos passassem a temer os ha-bitantes da favela. Aquela pequena e rápida invasão poderia significar o início de uma série de invasões maiores.

INTERPRETAÇÃO A PISCINA

A PISCINA
       Era uma esplêndida residência, na Lagoa Rodrigo de Freitas, cercada de jardins e tendo ao lado uma bela piscina. Pena que a favela, com seus barracos grotescos se alastrando pela encosta do morro, comprometesse tanto a paisagem.
       Diariamente desfilavam diante do portão aquelas mulheres silenciosas e magras, lata d’água na cabeça. De vez em quando surgia sobre a grade a carinha de uma criança, olhos grandes e atentos, espiando o jardim. Outras vezes eram as próprias mulheres que se detinham e ficavam olhando.
        Naquela manhã de sábado ele tomava seu gim-tônica no terraço, e a mulher um banho de sol, estirada, de maiô à beira da piscina, quando perceberam que alguém os observava pelo portão entreaberto.
       Era um ser encardido, cujos mulambos em forma de saia não bastavam para defini-la como mulher. Segurava uma lata na mão, e estava parada, à espreita, silenciosa como um bicho. Por um instante as duas mulheres se olharam, separadas pela piscina.
      De súbito, pareceu à dona da casa que a estranha criatura se esgueirava, portão adentro, sem tirar os olhos dela. Ergueu-se um pouco, apoiando-se no cotovelo e viu com terror que ela se aproximava lentamente: já transpusera o gramado, atingia a piscina, agachava-se junto à borda de azulejo, sempre a olhá-la, em desafio e agora colhia água com a lata.       Depois, sem uma palavra iniciou uma cautelosa retirada, meio de lado, equilibrando a lata na cabeça – e em pouco sumia-se pelo portão.
     Lá no terraço, o marido, fascinado, assistiu a toda a cena. Não durou mais de um ou dois minutos, mas lhe pareceu sinistra como os instantes tensos de silêncio e de paz que antecedem um combate.
Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa

1) O objetivo principal do texto é mostrar o contraste entre:
a) a riqueza de uns e a pobreza dos outros.
b) a esplêndida residência do casal e os barracos grotescos da favela.
c) a abundância de água na piscina e a falta de água na favela.
d) o uso da água para a diversão e o uso da  água para as necessidades básicas.
e) a preocupação dos moradores e a tranquilidade da mulher da favela.

2) “Pena que a favela, com seus barracos  grotescos se alastrando pela encosta do morro, comprometesse tanto a paisagem”. O trecho acima sugere que os barracos da favela eram:
a)perigosos e tornavam a paisagem pitoresca.
b) ridículos e enfeavam a paisagem.
c) grandes e se confundiam com a paisagem.
d) horríveis e escondiam as partes belas da paisagem.
e) mal construídos e passavam  despercebidos na paisagem.

 3) “De súbito, pareceu à dona da casa que a estranha criatura se esgueirava, portão adentro, sem tirar dela os olhos”. No trecho acima, a palavra em destaque significa:
a) introduzir-se sem pedir licença.
b) esconder-se silenciosamente.
c) pular disfarçadamente.
d) andar ruidosamente.
e) entrar cautelosamente.

4) “Ergueu-se um pouco, apoiando-se no cotovelo, e viu com terror que ela se aproximava lentamente (...)”O trecho acima sugere que a dona da casa:
a) imaginou que seria agredida pela mulher.
b) achou que a mulher ia pedir-lhe alguma coisa.
c)sentiu repugnância pelas roupas da mulher.
d) ficou revoltada com a sujeira da mulher.
e)ficou contrariada por ter sido interrompida em um momento de lazer.

5) Assinale a alternativa que apresenta a palavra que define a reação da dona de casa e a palavra que define a reação da favelada, respectivamente.
a) Indiferença; amabilidade.
b) Medo; provocação.
c) Paciência; impaciência.
d) Generosidade; egoísmo.
e) Cordialidade; agressividade.

6)  “Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa”. A atitude tomada revela que o proprietário:
a)temeu que a água da piscina ficasse contaminada.
b) achou mais justo a piscina ser usada para  abastecer os favelados de água.
c) previu que a piscina ficaria vazia depois de abastecer a favela de água.
d) temeu um confronto mais direto e sério com os favelados.
e)intimidou-se com a exigência dos favelados para entrarem sem permissão na casa.

7) No 1º parágrafo podemos perceber que a esplêndida residência situava-se:
a. (   ) num lugar desabitado
b. (   ) próximo à encosta de um morro onde se alastrava uma favela
c. (   ) num bairro onde só havia residências luxuosas.
d. (   ) dentro da favela

8. No início do 2º parágrafo temos: “Diariamente desfilavam diante do portão aquelas mulheres silenciosas e magras, lata d’água na cabeça.” Disto podemos concluir que:
a. (   ) as mulheres vendiam água.
b. (   ) as mulheres gostavam de desfilar com latas na cabeça
c. (   ) na favela não havia água
d. (   ) não havia água encanada na cidade

9. Ao ver a mulher da favela entrar em seu jardim, a dona da casa ficou:
a. (   ) indiferente            b. (   ) furiosa    
c. (   ) aterrorizada           d. (   ) alegre

10. No texto predomina:
a. (   ) descrição  b. (    ) narração  

c. (   ) dissertação  d. (    ) injunção 

INTERPRETAÇÃO A GALINHA REIVINDICATIVA

A Galinha Reivindicativa


            Em certo dia de data incerta, um galo velho e uma galinha nova encontraram-se no fundo de um quintal e, entre uma bicada e outra, trocaram impressões sobre como o mundo estava mudado. O galo, porém, fez questão de frisar que sempre vivera bem, tivera muitas galinhas em sua vida sentimental e agora, velho e cansado, esperava calmamente o fim de seus dias.

            - Ainda bem que você está satisfeito, disse a galinha. E tem razão de estar, pois é galo. Mas eu, galinha, fêmea da espécie, posso estar satisfeita? Não posso. Todo dia pôr ovos, todo semestre chocar ovos, criar pintos, isso é vida? Mas agora a coisa vai mudar. Pode estar certo de que vou levar uma vida de galo, livre e feliz. Há já seis meses que não choco e há uma semana que não ponho ovo. A patroa se quiser que arranje outra para esses ofícios. Comigo não, violão!

             O velho galo ia ponderar filosoficamente que galo é galo e galinha é galinha e que cada ser tem sua função específica na vida, quando a cozinheira, sorrateiramente, passou a mão no pescoço da doidivana  e saiu com ela esperneando, dizendo bem alto:


             - A patroa tem razão: galinha que não choca nem põe ovo, só serve mesmo é pra panela.

(Millôr Fernandes)
                                
Interpretação
Quais são os personagens principais dessa história?
O que a história nos informa sobre a época e o local?
O narrador diz que o galo é velho e a galinha é nova. Que importância tem isso para o desenrolar da história?
Que trecho da história mostra o galo e a galinha agindo como seres humanos?
1.O galo diz que sempre teve uma boa vida. Na opinião dele, o que é viver bem?
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2. Que trecho do texto fala sobre a ideia de morrer de modo suave?
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3. Pelas declarações do galo, podemos dizer que ele ainda possui muitas galinhas? Justifique com apoio no texto.
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4. A galinha desta história, que na verdade representa uma mulher, pode ser considerada uma feminista? Justifique sua resposta com apoio no texto.
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5. Numa fábula, os animais representam seres humanos. Quem é que o galo e a galinha representam?
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6. O que a galinha quis dizer com - isso é vida?
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7. A galinha fala numa linguagem bem popular. Quais são as expressões do texto que indicam essa fala popular?
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8. A que elemento anterior se refere a palavra coisa  que aparece no 2o parágrafo?
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9. Qual é o significado da expressão não chocar nesse texto?
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10. O galo chega a expor para a galinha os seus argumentos a respeito da função de cada um? Justifique a sua resposta com elementos do texto.
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11. A patroa concorda com as opiniões do galo? Justifique a sua resposta com apoio no texto.
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12. Qual a diferença entre galo velho e velho galo?
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INTERPRETAÇÃO A DESPEDIDA

A DESPEDIDA

              Zeca entendeu tudo na hora. Deu um grande abraço no irmão. Trocaram um olhar, e meio que combinaram tudo, sem dizer nenhuma palavra. Foram detrás do prédio. Não acharam nenhum lugar de que gostassem. Caminharam um pouco mais e chegaram num terreno baldio. Pararam perto duma árvore, cavaram a terra com as pazinhas que tinham trazido. Enterraram o hamster no maior silêncio.
              Cobriram a cova com a terra. Com tristeza, com dor, Zeca fez uma cruz com dois paus de madeira que encontrou pelo caminho e amarrou com elástico. Com uma caneta escreveram: “Olhos vermelhos. Dez meses de idade. Saudades de Edu e Zeca.”
              Voltaram para casa chorando. Edu se apoiava em Zeca, que caminhava devagarinho, sentindo que a ocasião não era pra nenhuma estanabação. Deu o tempo que o Edu precisava. Não disse nada, nem ouviu nada. Só silêncio e lágrimas rolando.
              Em casa, Edu se trancou no quarto. Não quis saber de mais nada. Nem de jantar, muito menos de conversar ou ver tevê. Zeca até emprestou o seu videogame, mas nem isso animou o Edu. Deitado na cama, olhos fechados, coberto até o pescoço, porque estava sentindo frio, só pensava na falta que Olhos Vermelhos ia fazer. Chorou até dormir. Dormiu de cansaço.
              Edu sofria, Zeca chamava o irmão pra ler suas revistinhas, mas Edu nem se interessava... A mãe insistia pra que ele fosse dar umas voltas, brincar com os amigos, jogar futebol, apostar corrida, pedalar na bicicleta. Ele só queria ficar em casa. Pensando.
              Resolveu desenhar num caderno grosso tudo o que lembrava as aprontações e da carinha marota de OlhosVermelhos. Ficava horas nisso... Tinha perdido alguém que adorava! E quem perde alguém tão querido não sai dando voltas por aí, procurando um jogo de futebol ou tomando sorvete na esquina. Os pais tinham que entender que perder o melhor amigo era duro. Muito duro. Talvez mais tarde encontrasse alguma coisa que o consolasse. Agora, por enquanto, nesse momento, não tinha nada, nadinha! Só um coração vazio.
(ABRAMOVICH, FANNY.IN: OLHOS VERMELHOS .SÃO PAULO: MODERNA ,1995.)

1ª parte – Interpretação e análise

1.Qual é a autoria do texto? Em qual livro está publicado?

2.Qual o tema principal de A despedida?Assinale apenas uma alternativa:
(  ) animal de estimação           (   ) lidar com as perdas de algo ou alguém 
(   ) amizade                           (   ) afeto entre irmãos

3. Quem era Olhos Vermelhos?

4. Quem eram Edu e Zeca?

5.Qual dos dois meninos  ficou  mais triste pela perda? Qual poderia  seria o motivo?

6.Qual a relação entre o título A despedida  e o texto? Explique com suas palavras
mais sugestões, a produção e o gabarito:


7. Que outro título você daria, considerando a relação com o texto?

8. Escreva duas ações que estão no texto comprovando que Zeca se importava com o sofrimento do irmão.

9.”E quem perde alguém tão querido assim não sai dando voltas por aí, procurando um jogo de futebol ou tomando sorvete na esquina.” Você concorda com essa ideia? Justifique sua resposta.

10. Você já sofreu uma grande perda? Se quiser, relate em um parágrafo a sua experiência e como lidou com isso.

2ª parte
Produção de texto.

Continue o texto, elaborando um final bem interessante. Lembre-se de manter:

o foco narrativo (nesse caso, 3ª pessoa)
a coesão (ligação) com o texto lido.
a coerência (sentido) em relação ao que você leu.
fazer parágrafos
usar pontuação adequada
mínimo 12 linhas

Gabarito- sugestão

1.Fanny Abramovich – Livro Olhos Vermelhos
2. A perda...os outros temas até podem aparecer mãos o principal é lidar com as perdas de algo ou alguém 
3. O hamster
4. Eram dois irmãos.
5. Edu, o hamster era dele e pelo contexto era mais novo que Zeca.
6. A despedida de alguém que era amado pelos meninos e que morrera, no caso, o hamster e como eles lidariam com a perda.

7. a 10. (resposta pessoal)

INTERPRETAÇÃO A CASA DO PESADELO

SEM GABARITO.

A  CASA  DO  PESADELO

     A estrada pela qual eu seguia em meu carro deu num campo aberto, deixando o bosque para trás.
     O sol estava se pondo. A fazenda mais próxima tinha um caminho cinzento que a ligava à estrada.
     Acelerei o carro para chegar o quanto antes à casa e entender o que estava acontecendo, mas corri demais: meu carro derrapou e se estabacou contra uma árvore.
     Levantei-me sem maior dificuldade e fui examiná-lo. Ficara imprestável. Já era quase noite e eu já começava a ficar aflito quando apareceu um garoto correndo pelo caminho da casa. Vestia, como era típico do lugar, uma camisa marrom aberta no peito. Tinha uma expressão que me incomodava um pouco, porque seu lábio era rasgado. Quando chegou ao local do acidente, ele não disse nada, mas logo lhe perguntei:
     - Onde fica a oficina mais próxima?
     - A oito milhas daqui, senhor. – respondeu com uma péssima pronúncia, por causa do defeito no lábio.
     Como a noite já estava caindo, pedi-lhe:
     - Posso passar a noite em sua casa?
     - Claro, se o senhor quiser. Mas a casa está bem desarrumada, porque papai não está e mamãe morreu há três anos. Tem pouca comida.
     - Não tem importância. Trouxe algumas provisões. – retruquei e fomos juntos à sua casa.
     No caminho até a sua casa senti uma brisa estranha, um cheiro de vegetação desagradável. Ao chegar vi que tudo estava mesmo muito largado.
     O garoto me instalou amavelmente num quarto pegado à entrada. Como não havia luz na casa toda, peguei três velas na minha mala. Serviram-me para iluminar meu quarto e a cozinha. Mal me acomodei, acendi a lareira e comecei a preparar o jantar com o que trazia. O garoto comentou que já havia jantado e não estava com fome. Achei estranho para um garoto da sua idade, ainda mais com aquele aspecto de quem passava necessidades, mas eu não quis dizer nada. Aproximou-se do fogo e pôs-se a aquecer as mãos.
     - Está com frio? – perguntei.
     - Sempre estou.
     Aproximou-se tanto das chamas da lareira que temi fosse se queimar, mas ele parecia não sentir o fogo. Preparado o jantar, pus a mesa na cozinha mesmo e jantei – sozinho e rápido. Conversamos um pouco, porque não era tarde, e o garoto me acompanhou à varanda. Sentou-se no chão, enquanto eu me embalava gostosamente numa cadeira de balanço.
     - O que você faz quando seu pai não está? – perguntei.
     - Nada, só deixo o tempo passar. Ninguém nunca vem nos visitar. A gente daqui diz que essa casa é mal-assombrada.
     - Você já viu algum fantasma? – perguntei intrigado.
     - Ver, eu nunca vi. Mas posso senti-los.
     De repente, senti como se um fino véu deslizasse suavemente pelo meu rosto. Levantei-me de repente.
     - Ei! Você viu? – exclamei confuso.
     - Não vi nada. O que foi?
     - Não sei... Um véu. Roçou-me no rosto – expliquei.
     - Não tenha medo. Deve ser um dos fantasmas que correm pela casa. Na certa é minha mãe. – disse ele tranquilamente.
     Naquele momento, achei que o garoto não regulava bem. Despedi-me dele, desejei-lhe boa noite e fui dormir, agora já meio desconfiado. Caí num sono profundo mas, passado um bom tempo, um sonho arrepiante me acordou. Um pesadelo terrível: ali mesmo, no meu quarto, uma enorme fera, como que um javali disforme, de presas ameaçadoras, grunhia diante de mim. Tinha uma atitude muito agressiva e pusera suas patas na cama, a ponto de pular em cima de mim.
     Acordei suando, apavorado.  Não consegui mais dormir. Quis chamar o garoto, e só então me dei conta de que não sabia seu nome. Não tinha pensado em perguntá-lo e ele não tinha se apresentado. Gritei ‘oi’ repetidas vezes, mas ninguém respondeu. Só ouvi o eco dos meus gritos entre aquelas paredes vazias. Sentia meu coração bater como se fosse sair pela boca.
     Não estava gostando nada daquilo. Resolvi então ir embora daquela casa sem perder nem mais um minuto. Para não ser mal agradecido, deixei algum dinheiro em cima da mesa da cozinha. Saí, segui a estrada a pé, decidido a encontrar a tal oficina. O sol já tinha raiado quando cheguei à primeira fazenda. Um homem veio ao meu encontro.
     Contei-lhe meu acidente de automóvel da noite anterior e ele me perguntou onde tinha passado a noite. Ao lhe explicar onde tinha dormido, olhou para mim com cara de incredulidade.
     - Como é que lhe passou pela cabeça entrar ali? Não sabe o que dizem dessa casa?
     - O garoto me levou – respondi.
     - Que garoto?
     - O do lábio rasgado – afirmei com segurança.
     Com cara de quem havia compreendido tudo, me perturbou com suas palavras:
     - Desta vez não há dúvida. Esse garoto que o levou até a casa é um fantasma. Você não sabia, não é? Ele morreu há seis meses.

( A casa do pesadelo, de Edward White. Em O grande livro do medo ) 

Atividades

1.    Leia atentamente os trechos retirados do texto acima e copie os trechos, trocando as palavras destacadas por um sinônimo. Se necessário, utilize um dicionário:

a.    “Já era quase noite e eu já começava a ficar aflito”.
R: ________________________________________________________
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b.    “...passado um bom tempo, um sonho arrepiante me acordou...”
R: _____________________________________________________
________________________________________________________

c.    “Não tinha pensado em perguntá-lo”.
R: ______________________________________________________

d.    “Como é que lhe passou pela cabeça entrar ali?”
R: _______________________________________________________
__________________________________________________________

2.    Leia as informações abaixo e classifique-as em V ( verdadeiras ) ou F (falsas ):

a.    O carro do narrador chocou-se contra uma árvore. (     )
b.    O menino logo ofereceu abrigo ao narrador. (     )
c.    O narrador ficou incomodado com a aparência do garoto. (     )
d.    A mãe do menino estava ocupada e não pôde receber o homem. (     )
e.    Quando o homem foi embora da casa, o menino ainda dormia. (     )
f.     O narrador teve um aterrorizante encontro com um fantasma. (     )

3.    Encontre no texto dez palavras que tenham encontro consonantal e circule-as de vermelho. Depois, encontre outras dez palavras com dígrafo e circule-as de amarelo. Anote as palavras abaixo, no local correto:
Palavras com encontro consonantal: ____________________________
____________________________________________________________________________________________________________________
Palavras com dígrafo: ________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________

4.    Agora, anote as palavras encontradas na tabela abaixo, em ordem alfabética. Em seguida, separe as sílabas:

Palavras em Ordem Alfabética
Separação de Sílabas









































5.    Quando você classificou as palavras em encontros consonantais e dígrafos, certamente utilizou critérios específicos. Explique abaixo como você fez para diferenciá-las e escolhê-las:
R: ________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6.    O texto ‘A Casa do Pesadelo’ é um conto de terror e tem a intenção de passar o sentimento de medo para os leitores. Ao ler este tipo de narrativa, o leitor costuma se colocar no lugar do narrador e imaginar outras atitudes que teria tido ao ser ele. Escreva abaixo como você agiria nas seguintes situações sugeridas ao longo da narrativa:

a.    O que você faria após bater o carro na árvore?
R: ________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________

b.    O narrador pede abrigo ao garoto. Você teria feito o mesmo? Justifique sua resposta:
R: _______________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________

c.    O que você faria ao saber que o menino já havia morrido há seis meses?
R: ________________________________________________________

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INTERPRETAÇÃO A CARTA DE AMOR

A CARTA DE AMOR
          No momento em que Malvina ia por a frigideira no fogo, entrou a cozinheira com um envelope na mão. Isso bastou para que ela se tornasse nervosa. Seu coração pôs-se a bater precipitadamente e seu rosto se afogueou. Abriu-o com gesto decisivo e extraiu um papel verde-mar, sobre o qual se liam, em caracteres enérgicos, masculinos, estas palavras: “Você será amada…”.
        Malvina empalideceu, apesar de já conhecer o conteúdo dessa carta verde-mar, que recebia todos os dias, havia já uma semana. Malvina estava apaixonada por um ente invisível, por um papel verde-mar, por três palavras e três pontos de reticências. “Você será amada…”. Há uma semana que vivia como ébria.
          Olhava para a rua, e qualquer olhar de homem que se cruzasse com o seu, lhe fazia palpitar tumultuosamente o coração. Se o telefone tilintava, seu pensamento corria célere: talvez fosse “ele”. Se não conhecesse a causa desse transtorno, por certo Malvina já teria ido consultar um médico de doenças nervosas. Mandara examinar por um grafólogo a letra dessa carta. Fora em todas as papelarias à procura desse papel verde-mar e, inconscientemente, fora até ao correio ver se descobria o remetente no ato de atirar o envelope na caixa.
         Tudo em vão. Quem escrevia, conseguia manter-se incógnito. Malvina teria feito tudo quanto ele quisesse. Nenhum empecilho para com o desconhecido. Mas para que ela pudesse realizar o seu sonho, era preciso que ele se tornasse homem de carne e osso. Malvina imaginava-o alto, moreno, com grandes olhos negros, forte e espadaúdo!
        O seu cérebro trabalhava: seria ele casado? Não, não o era. Seria pobre? Não podia ser. Seria um grande industrial? Quem sabe?
          As cartas de amor, verde-mar, haviam surgido na vida de Malvina como o dilúvio, transtornando-lhe o cérebro.
        Afinal, no décimo dia, chegou a explicação do enigma. Foi uma coisa tão dramática, tão original, tão crível, que Malvina não teve nem um ataque de histerismo, nem uma crise de cólera. Ficou apenas petrificada.
          “Você será amada… se usar, pela manhã, o creme de beleza Lua Cheia. O creme Lua Cheia é vendido em todas as farmácias e drogarias. Ninguém resistirá a você, se usar o creme Lua Cheia.
          Era o que continha o papel verde-mar, escrito em enérgicos caracteres masculinos.
Ao voltar a si, Malvina arrastou-se até ao telefone:
– Alô! É Jorge quem está falando? Já pensei e resolvi casar-me com você. Sim, Jorge, amo-o! Ora, que pergunta! Pode vir.
A voz de Jorge estava rouca de felicidade!
E nunca soube a que devia tanta sorte!
( André Sinoldi )
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1. Substitua as palavras destacadas por sinônimos:
a) Seu rosto se afogueou.
b) Seu pensamento corria célere.
c) Quem escrevia, conseguia manter-se incógnito.
d) Afinal, chegou a explicação do enigma.
    e) Malvina arrastou-se até ao telefone.
f) Seu coração pôs-se a bater precipitadamente.
g) Ficou apenas petrificada. 
2. Quem é o protagonista do texto lido?
3. Identifique a frase do texto que revela, com clareza, que Malvina reagia alucinadamente.
4. Que frase do texto revela que Malvina, se encontrasse o autor das cartas, lhe seria submissa?
5. Qual é o elemento gerador do conflito nesta história?
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Gabarito
1. a) corou       b) veloz, ligeiro     c) escondido      d) mistério      e) dirigiu      f) aceleradamente       g) paralisada
2. Malvina
3. “Há uma semana que vivia como ébria.”
4. “Malvina teria feito tudo quanto ele quisesse. Nenhum empecilho para o desconhecido.”
5. A carta anônima.