Grande Edgar (Luis Fernando Verissimo)
Já deve ter
acontecido com você.
– Não está se lembrando
de mim?
Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas as fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e não encontra. [...]
Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos a seguir.
Um, curto, grosso e sincero.
– Não. [...]
O “Não” seco pode até insinuar uma reprimenda à pergunta. Não se faz uma pergunta assim, potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. [...] Você deveria ter vergonha. [...] Outro caminho, menos honesto, mas igualmente razoável, é o da dissimulação.
– Não me diga. Você é o... o...
“Não me diga”, no caso, quer dizer “Me diga, me diga”. [...]. Ou você pode dizer algo como:
– Desculpe, deve ser a velhice, mas...
Este também é um apelo à piedade. Significa “não tortura um pobre desmemoriado, diga logo quem você é!”. [...]
E há um terceiro caminho. O menos racional e recomendável. O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você escolhe.
– Claro que estou me lembrando de você!
Você não quer magoá-lo, é isso! Há provas estatísticas de que o desejo de não magoar os outros está na origem da maioria dos desastres sociais, mas você não quer que ele pense que passou pela sua vida sem deixar um vestígio sequer. [...] Você ainda arremata:
– Há quanto tempo! [...]
Quem será esse cara meu Deus? Enquanto resgata caixotes com fichas antigas no meio da poeira e das teias de aranha do fundo do cérebro, [...].
Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.
– Cê tem visto alguém da velha turma?
– Só o Pontes.
– Velho Pontes! ([...] Pelo menos agora tem um nome com o qual trabalhar. Uma segunda ficha para localizar no sótão. Pontes, Pontes...) [...]
– Sabe que a Ritinha casou? [...]
– Com quem?
– Acho que você não conheceu. O Bituca. (Você abandonou todos os escrúpulos. [...] Como que não conhece o Bituca?)
– Claro que conheci! Velho Bituca...
– Pois casaram.
É a sua chance. É a saída. Você passou ao ataque.
– E não avisou nada? [...]
– Desculpe, Edgar. É que...
– Não desculpo não. [...] (Edgar. Ele chamou você de Edgar. Você não se chama Edgar.
Ele confundiu você com outro. Ele também não tem a mínima ideia de quem você é. O melhor é acabar logo com isso. Aproveitar que ele está na defensiva. Olhar o relógio e fazer cara de “Já?!”.)
– Tenho que ir. Olha, foi bom ver você, viu?
– Certo, Edgar. E desculpe, hein? [...]
Ao se afastar, você ainda ouve, satisfeito, ele dizer “Grande Edgar”. Mas jura que é a última vez que fará isso. Na próxima vez que alguém lhe perguntar “Você está me reconhecendo?” não dirá nem não. Sairá correndo
Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas as fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e não encontra. [...]
Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos a seguir.
Um, curto, grosso e sincero.
– Não. [...]
O “Não” seco pode até insinuar uma reprimenda à pergunta. Não se faz uma pergunta assim, potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. [...] Você deveria ter vergonha. [...] Outro caminho, menos honesto, mas igualmente razoável, é o da dissimulação.
– Não me diga. Você é o... o...
“Não me diga”, no caso, quer dizer “Me diga, me diga”. [...]. Ou você pode dizer algo como:
– Desculpe, deve ser a velhice, mas...
Este também é um apelo à piedade. Significa “não tortura um pobre desmemoriado, diga logo quem você é!”. [...]
E há um terceiro caminho. O menos racional e recomendável. O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você escolhe.
– Claro que estou me lembrando de você!
Você não quer magoá-lo, é isso! Há provas estatísticas de que o desejo de não magoar os outros está na origem da maioria dos desastres sociais, mas você não quer que ele pense que passou pela sua vida sem deixar um vestígio sequer. [...] Você ainda arremata:
– Há quanto tempo! [...]
Quem será esse cara meu Deus? Enquanto resgata caixotes com fichas antigas no meio da poeira e das teias de aranha do fundo do cérebro, [...].
Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.
– Cê tem visto alguém da velha turma?
– Só o Pontes.
– Velho Pontes! ([...] Pelo menos agora tem um nome com o qual trabalhar. Uma segunda ficha para localizar no sótão. Pontes, Pontes...) [...]
– Sabe que a Ritinha casou? [...]
– Com quem?
– Acho que você não conheceu. O Bituca. (Você abandonou todos os escrúpulos. [...] Como que não conhece o Bituca?)
– Claro que conheci! Velho Bituca...
– Pois casaram.
É a sua chance. É a saída. Você passou ao ataque.
– E não avisou nada? [...]
– Desculpe, Edgar. É que...
– Não desculpo não. [...] (Edgar. Ele chamou você de Edgar. Você não se chama Edgar.
Ele confundiu você com outro. Ele também não tem a mínima ideia de quem você é. O melhor é acabar logo com isso. Aproveitar que ele está na defensiva. Olhar o relógio e fazer cara de “Já?!”.)
– Tenho que ir. Olha, foi bom ver você, viu?
– Certo, Edgar. E desculpe, hein? [...]
Ao se afastar, você ainda ouve, satisfeito, ele dizer “Grande Edgar”. Mas jura que é a última vez que fará isso. Na próxima vez que alguém lhe perguntar “Você está me reconhecendo?” não dirá nem não. Sairá correndo
.
1. Esse texto é um fragmento de
A) crônica.
B) entrevista.
C) notícia.
D) resumo.
E) romance.
2. De acordo com esse texto, o narrador diz que conhece o
interlocutor, porque:
A) deseja saber notícias dos amigos.
B) está atrasado para um compromisso.
C) não quer magoá-lo.
D) não quer prolongar a conversa.
E) sente-se esquecido.
3. O trecho “Você deveria ter vergonha” está relacionado ao
fato de o interlocutor da conversa
A) chamar o narrador de Edgar.
B) dar detalhes sobre o casamento de Ritinha.
C) envolver-se em um lance arriscado.
D) escolher o terceiro caminho.
E) perguntar se o narrador lembrava-se dele.
4. No trecho “Você é o... o...” , o uso das reticências
expressa
A) decepção.
B) dúvida.
C) ironia.
D) preocupação.
E) suspense.
5. Sobre o fato de o narrador afirmar ao interlocutor que
lembrava-se dele, há uma opinião em:
A) “Um, curto, grosso e sincero”.
B) “Outro caminho, menos honesto, mas igualmente razoável”.
C) “não tortura um pobre desmemoriado, diga logo quem você
é!”.
D) “Você não quer magoá-lo, é isso!”.
E) “É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso
6. “– Desculpe, Edgar.” Nesse fragmento a vírgula foi
utilizada para separar:
a) aposto
b) sujeito
c) vocativo
d) adjunto adverbial.
7. Marque as
características de uma crônica há nesse texto.
a) faz uma reflexão.
b) fato do cotidiano.
c) tem opinião do narrador.
d) O narrador conversa com o leitor.
8. Faça um resumo do texto com suas palavras.
........................................................................................................................................................................................................................................................................................................
9. Quais os personagens da crônica?
....................................................................................................................................................
10. O tempo e o espaço da narrativa estão claros? Por que?
....................................................................................................................................................
11. Quem é o autor dessa crônica?
..........................................................................
12. Retire do texto um fragmento que comprove o diálogo do
narrador com o leitor.
....................................................................................................................................................
Profa. karla Faria
Aluno(A): ______________________________________________________________________________
- N°.: ______
ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL - 9º ANO
==============================================================================================
Estudo da crônica “Grande Edgar”, de Luis Fernando Veríssimo.
Questões para análise
1- Identifique a razão para a mentira do
personagem.
2- Identifique a consequência desta mentira
para o desenvolvimento da narrativa.
3- Que aspecto do cotidiano está presente na
crônica.
4- O final da crônica traz um desfecho
surpreendente. Explique.
Estudo
de vocabulário e linguagem.
5- Explique o sentido da expressão
sublinhada:
Você pulou no abismo. Seja o que
Deus quiser.
6- Busque no
dicionário expressões sinônimas para as expressões sublinhadas:
a) Você ainda arremata:
b) Agora tudo
dependerá da reação dele. Se for um calhorda,
ele o desafiará
c) Uma
tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.
7- Transcreva
do texto um exemplo de onomatopeia.
Gostaria das respostas das atividades do 1 ao 6 por favor.
ResponderExcluirEu agradeço as forma de análise do texto!! Me fez trabalhar mais na interpretação de texto de conto
ResponderExcluirMe ajude com as respostas da 1 a 6 por favor
ResponderExcluirQual as respostas?pfvr
ResponderExcluirQuis os personagens da crônica
ExcluirQual é a resposta da 2??
ResponderExcluirQuais são as respostas?
ResponderExcluirNa onde está as respostas???
ResponderExcluirgostaria do gabarito por favor
ResponderExcluirSou professora também me chamo.Ana Cláudia gostaria de obter o gabarito das atividade do seu livro
ResponderExcluirTrabalho com alunos do fundamental médio
ResponderExcluirgostaria das respostas das questões de 1 a 6.
ResponderExcluirRespostas das questões 1 a 5
ResponderExcluir1. Esse texto é um fragmento de
A) crônica.
2. De acordo com esse texto, o narrador diz que conhece o interlocutor, porque
C) não quer magoá-lo.
3. O trecho “Você deveria ter vergonha” (ℓ. 9) está relacionado ao fato de o interlocutor da conversa
E) perguntar se o narrador lembrava-se dele.
4. No trecho “Você é o... o...” (ℓ. 11), o uso das reticências expressa
B) dúvida.
5. Sobre o fato de o narrador afirmar ao interlocutor que lembrava-se dele, há uma opinião em:
E) “É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso”. (ℓ. 25)
Quem é o autor dessa crónica
ExcluirGrande Edgar (Luis Fernando Verissimo)
ExcluirQual a resposta do 8 até o 12
ResponderExcluirA resposta do 9,10,11,12
ResponderExcluirqual a resposta do 6?
ResponderExcluirGostaria das respostas para aplicar
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