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domingo, 18 de abril de 2021

CRÕNICA - O CARNAVAL E O MENINO

 

 Crônica: O carnaval e o menino (CARLOS HEITOR CONY)

        "No grande teatro da vida / vão levar mais uma vez / a revista colossal: / pierrô, arlequim, colombina / vão a preços populares / repetir o carnaval."

        Taí a quadrinha de antigamente, eu era menino e esperava o carnaval com certo temor, medo dos mascarados e, ao mesmo tempo, vontade de ser um deles.

        Até que fui – e não apenas durante o carnaval. Grudei na cara várias máscaras – e se não obtive poder e glória, ao menos sobrevivi no meu canto, fazendo um tipo de carnaval a meu modo, véspera de cinzas.

        Já encarei de tudo. Desde os retiros espirituais no seminário (segundo as santas regras de Santo Afonso Maria de Ligório), até o retiro forçado na cela da Polícia Especial.

        Também fui a outros folguedos. Para opróbrio dos meus descendentes, saí de morcego assustando outras crianças em Paquetá. Minha mãe havia feito complicada fantasia de chinês (ou japonês, dava na mesma), cuja atração era o chapéu de cartolina, em óbvio feitio de chapéu de chinês.

        Tomaram meu silêncio como aprovação. Suei frio ao me imaginar com aquele chapéu, mas aí o meu irmão virou a mesa, ele ia sair de reles marinheiro americano, (não era bem uma fantasia mas um quebra-galho carnavalesco); urinou em cima do meu chapéu chinês.

        Não havia tempo para a fabricação de um artefato elaborado como aquele. O pai deu-lhe safanões por conta do chapéu e de outras patifarias genéricas e acumuladas.

        Minha mãe foi ao armarinho, comprou pano preto, a horrível máscara que cheirava a papelão e a cola – e assim passei e passeei os três dias pelas ruas cheias de sol de Paquetá, dando susto nas crianças que conhecia e evitando aquelas que não conhecia, podiam ser mais fortes do que eu e aí o sovado seria eu.

        Quando a tarde caía, botava a máscara para trás da cabeça, sentindo-me amaldiçoado, perguntando-me sem resposta: quem foi o cretino que inventou essas coisas? Em casa, queriam saber se eu havia gostado. Respondia que sim.

        No rádio, tocavam as músicas do ano, o grande teatro da vida, o pierrô, o arlequim, a colombina a preços populares -o pai não achava os preços tão populares assim. E numa madrugada ele me acordou e me levou até a ponte onde chegava a última barca trazendo os escombros, mutilados pedaços de um rancho que voltava do Rio. Os fogos-de-bengala, ainda vivos e esverdeados, iluminavam as espumas que vinham morrer na praia dos Tamoios. As lanternas de vidro colorido refletiam-se nas cabeleiras empoadas dos mestres-salas.

        Ao pisar terra firme, o rancho renascia de seu cansaço e se arrastava uma vez mais na marcha-hino que louva a ilha, "Paquetá é um céu profundo / que começa neste mundo / mas não sabe onde acabar". O ritmo era mais lento e as luzes ficavam mais tristes dentro da madrugada. Longe, o faroleiro do Xeréu apagava seu facho vermelho: era outro dia.

        Vestia o morcego outra vez, a máscara com cheiro de papelão e cola, e eu sozinho, eu-morcego, batendo as ruas cheias de sol, encontrava outros morcegos, era uma espécie de fantasia oficial dos meninos de Paquetá.

        E sentia frio na espinha quando esbarrava com uma caveira, de camisola branca e encardida, a cruz preta nas costas, devia ser um garoto igual a mim, mas nunca se sabe, e esta dúvida me perseguia a tarde inteira, por que botam caveiras nas ruas do carnaval?

        E eu não entendia o grande teatro da vida (tampouco o entendo agora) nem o pierrô com seu branco rosto banhado de luar. E quando tirava a máscara, ela estava molhada de suor, um suor tão salgado e meu que parecia lágrima.

CONY, Carlos Heitor. Folha de São Paulo. 24 fev. 1998. Caderno A, p. 2.

            Fonte: Português – Língua e Cultura. Carlos Alberto Faraco. Volume 1. 2. Ed. – Curitiba: Base Editorial, 2010. P. 29-30.

 

Entendendo a crônica:

01 – A crônica de Carlos Heitor Cony está atravessada de sentimentos contraditórios. Por exemplo, o medo que o menino tinha dos mascarados e a vontade de ser um deles. Que outros desses sentimentos você identifica no texto?

      Sentimentos contraditórios – 4°, 9° e 13° parágrafos.

02 – O autor nos diz que tinha vontade de ser um mascarado; e que finalmente foi um. E completa afirmando: “e não apenas durante o carnaval”. O que ele quis dizer com esta afirmação?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Até que fui – e não apenas durante o carnaval. Grudei na cara várias máscaras – e se não obtive poder e glória, ao menos sobrevivi no meu canto, fazendo um tipo de carnaval a meu modo, véspera de cinzas.

03 – Como interpretar o início do último parágrafo: “E eu não entendia o grande teatro da vida (tampouco o entendo agora)”? 

      Resposta pessoal do aluno.

 

ANÁLISE DA OBRA DE ARTE: LIXO EXTRAORDINÁRIO

 

 ANÁLISE DA OBRA DE ARTE: LIXO EXTRAORDINÁRIO

 

Vik Muniz. Atlas(Cartão), 2008. Montagem feita com ampliação de fotografia e materiais descartados [lixo]. Painel, 231,2 cm x 180,4 cm

Fonte – Livro – APOEMA –  Português 9 / Lucia Teixeira...[et. Al.]– 1.ed – São Paulo: Editora do Brasil ,2018, p.11/12/13.

Estudo do Texto

1.   Ao olhar para essa obra, o que chamou sua atenção primeiro? O que você viu imediatamente?

Resposta pessoal. Sugestão: Poderão dizer que se impressionaram com o que o homem carrega, com o olhar dele, com a quantidade de lixo sobre seu corpo, etc.

2.   Observe a parte superior da cabeça do homem.

a)   Ao olhar pela primeira vez para o que está sobre a cabeça do homem, você conseguiu identificar os elementos ou viu uma massa compacta? Explique.

Resposta pessoal.

b)   Para observar melhor o que há sobre a cabeça do homem, o que você deverá fazer?

Resposta pessoal. É necessário analisar figura por figura, olhar atentamente cada parte para ver os detalhes.

c)   Quais elementos você consegue identificar sobre a cabeça do homem?

Resposta pessoal.

d)   Esses objetos são novos ou usados? De onde você acha que eles vieram?

O estado dos objetos mostra que eles já foram usados e descartados. Provavelmente os objetos foram retirados do lixo.

e)   O tamanho do conjunto de objetos chama a atenção. Por que o artista pode tê-lo representado dessa maneira? Será leve ou pesado?

Provavelmente o artista representou os objetos descartados para mostrar a quantidade de lixo jogado fora e recolhido pelo homem. Pela quantidade de objetos, parece pesado.

      3) Observe o homem.

           a) Como ele está vestido? Quantas peças de roupas estão representadas na imagem? O que há preso em sua roupa?

                Camiseta branca, um colete de tom terroso. Duas peças. Alguns objetos semelhantes ao que estão sobre a cabeça dele.

           b) Há letra estampadas em uma das peças de roupa do homem. Identifique as letras. Por que não é possível ler a palavra inteira? Que palavra essas letras podem formar? O que a peça de roupa com a estampa representa?

            CAT, de um lado do colete; S, do outro. Porque o colete está aberto. Catadores. Um uniforme que representa a profissão do homem.

          c) Estabeleça uma relação entre a origem dos objetos, a inscrição da roupa e a profissão do homem.

          Os objetos foram descartados, a inscrição de catadores indica que o homem é um catador de recicláveis.

        d) Explique como o homem estabelece uma ligação com o observador da obra.

           Pelo olhar expressivo, chamando o observador para dentro da imagem. O olhar encara o observador, mostrando sua existência e importância.

4.   Observe as cores da obra.

a)   Qual tom predomina na obra: claro ou escuro?

Tom escuro.

b)   Em qual parte há uma diversidade de cores?

Na parte superior. Há objetos nas cores verde, vermelha, azul e branca.

c)   Qual cor contrasta com o tom da cor da pele do homem e de uma parte de sua vestimenta? Qual efeito de sentido ela provoca?

A cor branca. O contraste ressalta ainda mais o tom da pele do trabalhador e do colete que representa sua profissão.

5.   Leia o texto abaixo, sobre o projeto Lixo extraordinário, e responda às questões.

Lixo extraordinário

         A obra Atlas e outras do mesmo estilo foram produzidas com os objetos retirados do Lixão de Gramacho (Duque de Caxias, Rio de Janeiro). O projeto Lixo extraordinário mudou a perspectiva do artista e transformou muito a vida das pessoas que trabalhavam ali. Em seu depoimento sobre o trabalho realizado, o artista afirmou:

         Nesse projeto, o que mais, me sensibilizou foi o tamanho do nosso preconceito. É muito fácil e conveniente definir uma sociedade baseada em funções, na qual se imagina que o morador de Duque de Caxias da área de Gramacho não quer dizer absolutamente nada. [...] O que eu queria provar para mim mesmo – e que resultou em uma experiência satisfatória, no fim das contas – é que a arte muda as pessoas, não só pelo convívio e pela experiência, mas também pelo engajamento, pela produção.

                                  Vik Muniz. Lixo extraordinário. Rio de Janeiro. G. Ermakoff Casa Editorial, 2010. P.166.

 

a)   Como são vistas, socialmente, as pessoas que trabalham com o lixo?

Na maioria das vezes, como profissionais de menor valor. Em seu depoimento, Vik Muniz diz que as pessoas que trabalham no lixão de Gramacho são vistas como “absolutamente nada”. Pode-se iniciar um breve debate sobre a desvalorização dos profissionais que trabalham com materiais descartados e o lixo em geral.

 b)   Qual é a importância desse profissional para o meio ambiente?

Os catadores de recicláveis, além de tirar do lixo seu sustento, fazem um trabalho essencial para o meio ambiente. Ao recolher os objetos descartados e leva-los para a reciclagem, eles contribuem para a diminuição da poluição do planeta.

c)   Você acha que as pessoas, de modo geral, estão preocupadas com o destino do lixo que produzem?

Resposta Pessoal.

d)   É possível avaliar os valores de uma sociedade observando o lixo que ela produz?

Resposta pessoal.

e)   Em sua opinião, como se sentiu o profissional retratado ao ver a obra pronta?

Resposta pessoal.

TIRINHA - GUARDA A CHUVA APOEMA

 

 HISTÓRIA EM QUADRINHOS - GUARDA A CHUVA

1)Entre 2014 e 2016, o estado de São Paulo, principalmente na região metropolitana, passou por um período de escassez de água para o abastecimento da população. Leia a tira.

 

a)   Explique a diferença de sentido entre o título da tirinha e o nome do objeto que se vê nos dois quadrinhos.

A frase do título significa “guardar”, “reter a chuva”. Já o substantivo guarda-chuva nomeia o objeto que nos protege da chuva.

b)   Explique como é formado o substantivo guarda-chuva.

O substantivo guarda-chuva é formado por composição, pela união de dois radicais: guarda, flexão no tempo presente do verbo guardar, e chuva, substantivo.

c)   Por que, segundo a tira, a forma de usar o guarda-chuva modificou-se entre os paulistanos?

Porque com a crise no abastecimento de água, passou a ser necessário captar a água da chuva até mesmo usando um guarda-chuva invertido, o que causa o efeito de humor e crítica da tira.

2) Além de guarda-chuva, você conhece outros substantivos compostos com o verbo guardar?

         Respostas pessoais. Sugestões: guarda-noturno; guarda-roupa; guarda-comida, etc.

 

 Fonte – Livro – APOEMA –  Português 6 / Lucia Teixeira...[et. Al.]– 1.ed – São Paulo: Editora do Brasil ,2018, p.95.

POEMA: GATO QUE BRINCAS NA RUA

 

 POEMA: GATO QUE BRINCAS NA RUA ( Fernando Pessoa)

 

 Gato que brincas na rua

como se fosse na cama

invejo a sorte que é tua

porque nem sorte se chama.

 

Bom servo das leis fatais

que regem pedras e gentes,

que tens instintos gerais

e sentes só o que sentes.

 

És feliz porque és assim,

Todo o nada que és é teu.

Eu vejo-me e estou sem mim,

Conheço-me e não sou eu.

 

 Entendendo o poema

1.   Que sensação uma primeira leitura desse poema provoca em você: alegria, melancolia, inquietação, serenidade? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal.

2.   Como você imagina a cena observada pelo eu lírico? Copie o verso que justifica sua resposta.

Resposta pessoal.

3.   Releia a primeira estrofe e responda às questões a seguir:

a)   Segundo o eu lírico, qual é a sorte do gato? Que sentimento o eu lírico confessa diante disso?

É o fato de o gato mostra-se feliz, confortável, mesmo sem ter consciência disso.

O eu lírico inveja essa condição.

b)   O significa saber o nome das coisas?

Significa conhece-las, reconhece-las e ter consciência de sua existência.

c)   O que você acha que significa dizer que a sorte do gato não tem nome?

Resposta pessoal. Sugestão: O eu lírico sugere ser sorte viver sem ter consciência do que se vive, livre de autojulgamentos, “sentido só o que sente”.

   4- Releia a segunda estrofe e responda às questões a seguir.

a)   Discuta com um colega: O que são leis fatais?

Resposta pessoal. Sugestão: São as leis da natureza, que se impõem sobre todos os seres, como o desgaste das rochas, a passagem do tempo e a morte dos seres vivos.

b)   A que se refere a oração adjetiva “que tens instintos gerais e sentes só o que sentes”?

Refere-se ao gato.

c)   O que essa oração esclarece sobre o elemento a que se refere?

Significa que o gato age como qualquer outro gato; suas ações são instintivas; ele não pensa no que é.

5 – Releia a última estrofe do poema e, abaixo as acepções para o termo “nada”, retiradas de um dicionário.

nada – pr.indef.

1.Coisa nenhuma [...] adv.

2.De modo nenhum [...] sm.

3.O não existente, a não existência, o vazio [...]

4.Ser ou coisa insignificante [...]

a) Em sua opinião, a palavra “nada” empregada no poema corresponde a algo mencionado em outros versos? Justifique sua resposta.

O “nada” citado na última estrofe recupera a ideia de viver sem pensar que se vive, presente nos versos “porque nem sorte se chama” e “sentes só o que sentes”, e não corresponde às acepções apresentadas.

b) Podemos afirmar que o eu lírico é feliz como o gato? Justifique.

Não. O eu lírico se observa, reflete sobre si mesmo (“Eu vejo-me”), não se encontra e não se reconhece.

 6. Assinale a alternativa mais adequada ao sentido do poema.


a) O eu lírico inveja a sorte do gato, porque este tem a felicidade de uma vida segura, ao passo que ele, eu lírico, está solitário e desamparado.
B) Entre o eu lírico e o gato há a distância devida a que este se situa do lado de uma generalidade despreocupada, enquanto aquele vive uma individualidade consciente e problemática.
c) O gato é feliz porque brinca despreocupado de sua própria sorte; o eu lírico é infeliz porque não se adapta a sua situação.
d) O gato tem a felicidade instintiva; o eu lírico, a angústia das sensações e das ideias incertas, em razão de excessivo intelectualismo.
e) O gato não é nada, mas é feliz porque se conforma às “leis fatais”; o eu lírico (o homem), que se revolta contra essas leis, vive torturado pela solidão e pela incerteza.

POEMA: SAPATO DE MENINO

 

POEMA: SAPATO DE MENINO ( Nye Ribeiro)

 

Menino,

amarra esse sapato,

senão...

 

Você vai acabar

pisando

nesse cordão!

 

Leva um tombo,

esfola o joelho,

arma um berreiro

de cara no chão...

 

A mãe vem correndo,

o cachorro late,

a porta bate e amassa o dedão...

 

O pai chega assustado,

o gato mia,

o papagaio fala um nome feio,

o irmão faz birra,

 

o avô desmaia,

o vizinho reclama do barulho...

Pronto!

Está armada a confusão!

 

Menino,

amarra esse sapato,

senão...!

                    Ribeiro, Nye. Roda de letrinhas. São Paulo: Rada & Cia.2004.

Fonte: Livro - Tecendo Linguagens - Língua Portuguesa: 6º ano/Tania Amaral Oliveira, Lucy Aparecida Melo Araújo - 5.ed. - Barueri(SP): IBEP, 2018 - p.111/112.

 

Entendendo o poema

 1.   O poema apresenta um ritmo bastante marcado, como nos versos “o cachorro late, a porta bate, e amassa o dedão...”.

a)   Que relação tem o ritmo com os acontecimentos?

O ritmo das ações são sequenciais e consiste na repetição ordenada de sons vocálicos.

b)   Que expressões resume as consequências de não amarrar o sapato?

“...pisando nesse cordão...”,

“...leva um tombo...”

“...esfola o joelho...”

“...arma um berreiro...”

“...de cara no chão...”.

2.   Os pronomes esse e aquele usados no poema são chamados de :

pronomes demonstrativos.

3.   Ao usar a palavra esse para se referir ao sapato e ao cordão, o eu lírico indica que o sapato está próximo ou longe do menino?

É possível perceber que o eu lírico está se referindo ao sapato que o menino está usando, ou seja, está próximo do menino.

4.   Caso o eu lírico se referisse a um sapato que estivesse distante de si mesmo e do menino, que palavra substituiria o termo esse?

Aquele.

5.   Qual o pronome de tratamento que substitui no texto a palavra menino?

O pronome você.

 

 

POEMA: NO MUNDO HÁ MUITAS ARMADILHAS

 

POEMA: NO MUNDO HÁ MUITAS ARMADILHAS

        Ferreira Gullar

 No mundo há muitas armadilhas

e o que é armadilha pode ser refúgio

e o que é refúgio pode ser armadilha

 

Tua janela por exemplo

aberta para o céu

e uma estrela a te dizer que o homem é nada

 

ou a manhã espumando na praia

a bater antes de Cabral, antes de Troia

(há quatro séculos Tomás Bequimão

tomou a cidade, criou uma milícia popular

e depois foi traído, preso, enforcado)

 

No mundo há muitas armadilhas

e muitas bocas a te dizer

que a vida é pouca

que a vida é louca

E por que não a Bomba? te perguntam.

Por que não a Bomba para acabar com tudo, já

que a vida é louca?

 

Contudo, olhas o teu filho, o bichinho

que não sabe

que afoito se entranha à vida e quer

a vida

e busca o sol, a bola, fascinado vê

o avião e indaga e indaga

 

A vida é pouca

a vida é louca

mas não há senão ela.

E não te mataste, essa é a verdade.

 

Estás preso à vida como numa jaula.

Estamos todos presos

nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver

de fora e nos dizer: é azul.

E já o sabíamos, tanto

que não te mataste e não vais

te matar

e aguentarás até o fim.

 

O certo é que nesta jaula há os que têm

e os que não têm

há os que têm tanto que sozinhos poderiam

alimentar a cidade

e os que não têm nem para o almoço de hoje

 

A estrela mente

o mar sofisma. De fato,

o homem está preso à vida e precisa viver

o homem tem fome

e precisa comer

o homem tem filhos

e precisa criá-los

Há muitas armadilhas no mundo e é preciso quebrá-las.

 GULLAR, Ferreira. Melhores poemas de Ferreira Gullar. Seleção e apresentação de Alfredo Bosi. 6. ed. São Paulo: Global, 2000. p. 58-59.

Fonte: Livro – APROVA BRASIL- Língua Portuguesa – 9º Ano -  Editora Moderna;editora responsável, Thaís Ginícolo Cabral. --São Paulo : Moderna, 2019, p.48-51

 

1.   Denomina-se eu lírico a voz que fala no poema. No poema, que sentimentos são manifestados pelo eu lírico na comparação que faz nos versos a seguir?

 “No mundo há muitas armadilhas

e o que é armadilha pode ser refúgio

e o que é refúgio pode ser armadilha”

 O eu lírico compara o mundo (a vida) a uma armadilha e a um refúgio. Como armadilha, o mundo é visto negativamente, trazendo problemas, surpresas desagradáveis; como refúgio, ele é visto como proteção.

 

 2. Na estrofe citada na questão anterior, a palavra refúgio tem o sentido de

a) esconderijo.

b) perigo.

c) abrigo.

d) fuga.

 

 3. Assinale a alternativa que expressa uma possível interpretação para a estrofe a seguir.

 “Contudo, olhas o teu filho, o bichinho

que não sabe

que afoito se entranha à vida e quer

a vida

e busca o sol, a bola, fascinado vê

o avião e indaga e indaga”

a) As crianças são deslumbradas porque não conhecem a vida.

b) As crianças são ingênuas porque jogam bola e admiram o sol e os aviões.

c) As crianças não se sentem presas e são ávidas por conhecer o novo.

d) As crianças aproveitam a vida porque ela é pouca e louca.

 

 4.A linguagem dos poemas geralmente é figurada, metafórica. Que metáfora é empregada na estrofe a seguir para referir-se à Terra?

Lembre: metáfora é o emprego de uma palavra ou expressão em lugar de outra, com a qual guarda alguma semelhança.

 “Estás  preso à vida como numa jaula.

Estamos todos presos

nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver

de fora e nos dizer: é azul.

E já o sabíamos, tanto

que não te mataste e não vais

te matar

e aguentarás até o fim.”

 No poema, a palavra jaula é utilizada como metáfora para Terra; “Estamos todos presos / nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver / de fora e nos dizer: é azul”.

 5.Extraia do poema a estrofe em que o eu lírico aborda as desigualdades sociais.

“O certo é que nesta jaula há os que têm / e os que não têm / há os que têm tanto que sozinhos poderiam / alimentar a cidade / e os que não têm nem para o almoço de hoje”.

POEMA - O RIO

 

 POEMA: O RIO (Vinicius de Moraes)

 

Uma gota de chuva

A mais, e o ventre grávido

Estremeceu, da terra.

Através de antigos

 

Sedimentos, rochas

Ignoradas, ouro

Carvão, ferro e mármore

Um fio cristalino

Distante milênios

Partiu fragilmente

Sequioso de espaço

Em busca de luz.

Um rio nasceu.

 

MORAES, Vinicius de. O rio. Disponível em: <www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/

poesia/poesias-avulsas/o-rio>. Acesso em: 24 jun. 2019.

 

 ENTENDENDO O POEMA

1.1 Qual é o tema do texto?

     O nascimento de um rio.

 2.2 Explique, com suas palavras, o que o poema conta.

      Resposta pessoal. Sugestão de resposta: Uma gota de chuva a mais cai sobre a terra fértil, formando um fio de água cristalina que futuramente se transforma em rio.