MITOLOGIA
Cabeça de elefante, homem-pássaro e peixe com chifres são
deuses da mitologia indiana. Você conhece algum deles? Os mitos hindus,
surgidos há milênios, foram e são transmitidos oralmente de geração a geração.
O texto que você vai ler apresenta o mito do peixe com chifres. Antes de ler, pense
sobre um possível papel desse deus no mito. Depois, leia o texto e descubra.
TEXTO
O peixe com chifres
Aquele que não parava
de crescer
Há muitos anos, havia um rei, filho do Sol, que se chamava
Manu, e que possuía inúmeras qualidades. Por ser um asceta e desejar
levar a vida afastado do mundo e em meditação, Manu entregou o reino a seu
filho e, recolhendo-se num lugar solitário no Himalaia, atingiu o mais alto
grau na prática de ioga.
Passou assim um milhão de anos, até que um dia recebeu a
visita de Brahma, que, satisfeito com seu ascetismo rigoroso, concedeu-lhe a
escolha de um dom.
—
Escolha o que quiser — disse-lhe o deus criador
— e seu pedido será realizado. O rei saudou a divindade e respondeu:
—
Há apenas um dom supremo que desejo obter:
deixa-me ser o protetor de todos os seres, animados e inanimados, quando
acontecer a destruição.
A alma de todas as criaturas vivas concordou. Então, enviada
pelos deuses, uma chuva de flores caiu do céu.
Um dia, quando Manu preparava o ritual dos antepassados, um
pequeno peixe brilhante veio parar em suas mãos, com a água usada na cerimônia.
O rei, vendo aquele peixinho tão frágil quanto belo, foi tomado de compaixão e
resolveu cuidar dele, colocando-o numa vasilha cheia d'água.
Apenas um dia e uma noite se passaram e o peixe já havia
crescido meio metro. Nesse momento, começou a gritar: "Salva-me, salva-me!",
e Manu o jogou dentro de um pote.
Ao fim de uma só noite, ele aumentou de tamanho, medindo
agora mais de um metro. E novamente se pôs a gritar em desespero:
— Salva-me, salva-me! Vim aqui em busca de refúgio.
O rei jogou-o dentro de um poço e, quando ele já não cabia
mais ali, o jeito foi atirá-lo num grande lago. Mas aquela criatura aquática
não parava de crescer. Media já mil metros e continuava a gritar
desesperadamente:
— Salva-me, salva-me, ó melhor dos reis!
Então Manu o arremessou no rio Ganges e, como ainda
crescesse, lançou-o no oceano. Quando o peixe ocupou todo o mar, o rei, Senhor
da Terra, ficou com medo e perguntou:
—
Afinal quem é você? O senhor dos demônios? Ou o
Divino Benfeitor? De quem é esse corpo desmedido? Eu o reconheci na sua forma
de peixe, ó Iluminado dos Cabelos Longos, mas você está me esgotando
completamente. Presto-lhe homenagens, Senhor do Mundo.
Matsya, a deus-peixe
Então o deus Vishnu, que tinha tomado a forma do peixe,
disse:
—
Muito bem, muito bem! Você me reconheceu
corretamente e cumpriu seu voto sem nenhum erro. Dentro em pouco, a terra, com
suas montanhas, árvores, casas e animais, será submersa pelas águas. Este barco
foi construído em conjunto pelos deuses, de modo a proteger os viventes: os
que nasceram do suor, do ovo, da água e aquelas criaturas que trocam de pele.
Coloque todos no barco e salve-os, pois eles não têm um protetor. E quando o
barco for golpeado pelos ventos que sopram do fim dos tempos, amarre-o ao meu chifre,
ó rei, Senhor dos Reis, Senhor da Terra. Ao fim da destruição, você será
Prajapati, o grande sábio de todo o universo animado e inanimado. Assim, no
início da idade de ouro, isto é, quando todos pertencerem a uma única casta,
adorarem a um único deus e tiverem um único livro sagrado, você será o rei,
firme e sábio, adorado até pelos deuses.
O dilúvio
Nesse momento, Manu perguntou a Vishnu:
— Senhor, quantos anos vai durar a destruição? Como
protegerei as criaturas e como poderei ir para o seu lado novamente?
O peixe respondeu:
—
A partir de hoje haverá uma seca que durará cem
anos. A comida será pouca e a desgraça farta. Sete raios terríveis destruirão
as poucas criaturas que sobrarem e sete vezes sete raios farão chover carvões
em brasa. Chamas venenosas sairão da boca da égua submarina, até então fechada.
Grande Sábio, o fogo sairá também do terceiro olho de Bhava, esse que é uma das
forças da natureza, e queimará o universo. Quando a terra for reduzida às
cinzas, o céu será aquecido pelo vapor. Então o universo, com seus deuses e
constelações, será totalmente destruído. Redemoinho, Rugido-Aterrorizante,
Caçamba, Feroz, Grou, Relâmpago-Bandeira e Sangue-Vermelho, as sete nuvens do
apocalipse, nascidas do suor de Agni, deus do fogo, inundarão a terra. Os mares
serão agitados e os três universos formarão um único oceano. É chegada a hora
de tomar este barco, colocar nele as essências e as sementes de todas as criaturas
vivas e, prendendo a corda que lhe ensinei, amarrar o barco ao meu chifre.
Assim você será protegido pela minha suprema majestade. Restará apenas você,
pois até os deuses serão queimados. A Lua e o Sol, Brahma e eu, com os quatro
Protetores do mundo, o rio Sagrado Narmada, o Grande Sábio Markandeya, Bhava,
os livros sagrados Vedas, os Puranas, que contam antigas histórias, e
as ciências auxiliares, todos ficarão ao seu lado, enquanto durar a destruição.
No começo da nova criação, recitarei-lhe o Vedas,
ó Senhor da Terra, fulminador dos inimigos.
E então Vishnu desapareceu.
Quando chegou o dilúvio, corno tinha sido dito pela boca do
Divino Benfeitor, Vishnu apareceu sob forma de um peixe com chifres e uma
serpente em forma de corda se aproximou de Manu. O sábio rei juntou todas as
criaturas e colocou-as no barco.
[...]
Quando tudo terminou, aproximou-se de Vishnu, ajoelhou-se a
seus pés, e adorou-o.
Lúcia Fabrini de Almeida. O
peixe com chifres. Em: O cabeça de
elefante e outras histórias da mitologia indiana. São Paulo: Cosac Naify,
2001. p. 59-65.
PARA ENTENDER O TEXTO j
1. Após a leitura do mito, converse com os colegas sobre
estas questões.
a) O que você pensou sobre o papel do peixe com chifres na
narrativa se confirmou ou não após a leitura do mito? Explique.
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b) Qual é o papel do peixe com chifres nesse mito?
...............................................................................................................................
c) Você já ouviu ou leu uma narrativa parecida com a do mito
apresentado?
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2. No início do mito "O peixe com chifres", a
personagem Manu é retratada como um ser dotado de inúmeras qualidades.
a) Quem concedeu um dom ao rei Manu? Que dom ele escolheu?
...............................................................................................................................
b) Quais são os dois momentos em que Manu cumpre seu voto?
..............................................................................................................................
c) As atitudes de Manu ao longo de toda a narrativa revelam
uma preocupação individual ou com o bem comum? Explique.
...............................................................................................................................
3. Os heróis das histórias mitológicas demonstram
sentimentos elevados, qualidades morais que indicam sua proximidade com o mundo
dos deuses. Copie uma passagem do texto que comprove esse aspecto em Manu.
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4. No caderno, indique se a afirmação sobre o mito é
verdadeira (V) ou falsa (F).
I. Brahma transforma-se em peixe para destruir a Terra.
II. Brahma é chamado de "a alma de todas a criaturas
vivas".
III. Manu concede o dom da proteção dos animais a Vishnu.
IV. Vishnu é o peixe com chifres.
5. O mito que você leu é dividido em três partes. Copie o
quadro abaixo no caderno e faça uma síntese dos principais acontecimentos de
cada parte.
Partes
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Principais acontecimentos
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I. "Aquele que não parava de crescer"
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Il. "Matsya, o deus-peixe"
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III. "O dilúvio"
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Os mitos são
narrativas que explicam o surgimento do Universo, da humanidade, de determinado
comportamento humano ou dos fenômenos da natureza. Datados de tempos remotos,
eles revelam traços da cultura dos povos que os criaram. Nos episódios
mitológicos, há sempre a presença de seres sobrenaturais, como deuses e
semideuses, que podem encarnar as forças da natureza ou características da
condição humana.
6. O mito faz referência a lugares específicos como Himalaia
e rio Ganges; e também referências genéricas como lago e oceano. O que esses
espaços têm em comum? Comente sua resposta.
...............................................................................................................................
7. O mito do peixe com chifres nos conta sobre um dilúvio
que destruiu a Terra.
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a)É possível determinar com exatidão em que época as
situações narradas no mito ocorreram? Por quê?
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b) Quanto tempo dura
a história narrada nesse mito? Justifique sua resposta.
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8. Relacione as expressões temporais aos episódios descritos
no mito.
a) período de seca que aconteceu o dilúvio.
b) período que Manu passou no Himalaia antes da visita de
Brahma.
c) período próspero em que a terra viverá em equilíbrio.
I. Um milhão de anos.
II. idade de ouro.
III. Cem anos.
Anote aí
No mito, os espaços em que a narrativa se desenvolve
costumam ter dimensões sobre-humanas e, por vezes, um caráter sagrado. O
tempo mítico refere-se a um passado remoto, as origens do mundo ou do
Universo Geralmente, os fatos narrados nos mitos são separados por um grande
intervalo de tempo e não correspondem ao tempo comum A imprecisão do tempo
esta expressa também na sentença crucial do mito lido· "Há muitos
anos"
|
9. Observe a capa do livro O cabeça de elefante.
Descreva brevemente os elementos da capa
A personagem da capa é uma divindade indiana chamada Ganesha
Que característica comum ha entre Ganesha e Vishnu?
Em sua opinião por que os mitos continuam a ser lidos na
atualidade?
10. O. Leia este
trecho da introdução do livro O cabeça de elefante.
A mitologia
faz parte da vida dos indianos. Desde pequenas, as crianças
ouvem a narração dos mitos de seu país. Essas histórias permanecem vivas em cerimônias
religiosas, festivais, danças e canções folclóricas, assim como na música e na
dança clássicas indianas. [...]
São mitos criados por uma cultura
que começou cerca de 2500 a. C., no vale dos rios Indo e Ganges, e se espalhou
por todo o subcontinente. [...]
A mitologia indiana teve origem
nos livros sagrados: os Vedas. Estes celebravam as forças da natureza, vistas
como deuses: a Terra, o Sol, as águas, o vento, o raio, o fogo, os animais e as
plantas. O mundo da natureza e dos homens eram tidos como inseparáveis, e o
universo inteiro era sagrado.
Com o passar do tempo, surgiram
novos deuses e novos mitos. Os deuses principais são: Brahma, o criador; Shiva,
o destruidor; e Vishnu, o preservador. [...]
Os dois grandes poemas épicos
Mahabharata e Ramayana são um verdadeiro tesouro da mitologia indiana. Os mitos são encontrados no enorme conjunto de livros denominado Puranas, as chamadas "histórias antigas".
A mitologia indiana procura nos dizer que o
universo é ilimitadamente variado, que todas as coisas se passam ao mesmo
tempo, e, portanto, tudo pode acontecer. [...]
Lúcia Fabrini de Almeida. Introdução. Em: 0
cabeça de elefante e
outras histórias da mitologia indiana. São Paulo: Cosac Naify, 2001. p. 7-9.
a) Como as histórias da mitologia indiana sobreviveram ao
longo do tempo?
Qual é a importância dos mitos para a cultura indiana na atualidade?
b) Relacione a ideia mítica da união entre o mundo da
natureza e o dos homens
apresentada em "Peixe com chifres".
FONTE:
COSTA, Cibele Lopresti, Geração Alpha Língua portuguesa: ensino fundamental:
anos finais: 7ºano-2ª ed. - São Paulo: Edições SM, 2018.
GABARITO
1.
a) Resposta pessoal Professor, converse com os alunos para verificar
se as hipóteses levantadas antes da leitura se confirmaram.
b) Na grande inundação, ele protege e conduz o barco.
c) Resposta pessoal Espera-se que os alunos Já tenham conhecimento
sobre alguns mitos que contam histórias de dilúvio.
2.
a) Quem concedeu esse dom a Manu foi Brahma O rei Manu escolheu
ser o protetor de todos os seres, animados e inanimados, durante o período da destruição.
b) Manu cumpre seu voto ao cuidar do peixe e ao salvar os
seres viventes da inundação
c) Revelam uma preocupação com o bem comum, pois ele salva
to¬dos os seres da destruição.
3. Possibilidades
de resposta: "Passou assim um milhão de anos, até que um dia recebeu a visita
de Brahma, [ ]"; "Então [ ] Você me reconheceu corretamente e cumpriu
seu voto sem nenhum erro".
4. Verdadeiras:
li e IV; falsas· 1 e 111.
5.
Parte I: Manu se retira para um lugar solitário no Himalaia
Lá, recebe a visita de Brahma. Manu encontra um peixe e fala com ele.
Parte II: O deus Vishnu, na forma do peixe, apresenta-se a
Manu. Ele avisa da grande destruição sobre a Terra Vishnu orienta Manu a colocar
todas as criaturas vivas em um barco.
Parte IlI: Vishnu explica a Manu o que deve fazer para
proteger as criaturas da inundação O dilúvio chega, e Manu procede como o deus
lhe recomendou, salvando as criaturas
6. São espaços
da natureza. Professor, verifique a pertinência dos comentários dos alunos.
7.
a) Não. Parece que os fatos narrados acontecem nos primórdios
da história humana
b) Provavelmente, mais de um milhão de anos, pois, entre a
ida de Manu ao Himalai e a visita de Brahma, passa-se um milhão de anos Depois
de um tempo, Manu encontra o peixe, e há o período em que o peixe cresce.
Vishnu diz que, antes do dilúvio, haverá uma seca de cem anos. Não é revelado
exatamente o tempo do dilúvio.
8.I-b;
9. II-c;
10.III - a
8.
9.a) A capa apresenta o título e o subtítulo do livro e o nome
da autora e do ilustrador Há ainda a figura de um ser com cabeça de elefante,
tronco, braços (dois braços esquerdos) e pernas de ser humano, com uma espécie
de coroa na cabeça - provavelmente é o ser que dá título ao livro
b) As duas mesclam características humanas e de animais
c) Resposta pessoal. Possibilidade de resposta. Essas histórias
continuam a aguçar a imaginação, Já que os temas que abordam são atemporais e
universais.
10.
a) Os mitos permanecem
vivos nas cerimônias religiosas, nas danças e nas canções folclóricas e nas
músicas e nas danças clássicas da Índia A mitologia faz parte da vida dos indianos;
logo, tem uma grande importância para essa cultura
b) A união entre natureza
e homens está presente na disposição de Manu de ser o protetor de todos os
seres animados e inanimados da Terra, como também na manifestação dos deuses
que assumem forma humana e animal.