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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

CALEIDOSCÓPIO - ALEXANDRA LEVY - ATIVIDADE

 

1. EU

 

          Meu nome é Clara. Tenho quase 14 anos. Tenho muitas dúvidas e algumas certezas. Minha maior certeza é: vou morrer algum dia.

Minha maior dúvida é: será que sou normal?

 

2. JORGE

 

          Você pode estar achando minha dúvida esquisita, mas não é, e vou explicar por quê.

          Minha dúvida tem um nome: Jorge.

          Jorge é meu primo. Ele é um menino muito legal e eu gosto muito dele. Quando Jorge nasceu, aconteceu alguma coisa que eu nunca entendi direito, apesar de minha mãe já ter me explicado mais de mil vezes.

          Ele nasceu com algum negócio no coração, os médicos fizeram sei lá o quê e o cérebro dele ficou um tempo sem oxigênio.

          O coração ficou perfeito, mas o cérebro não...

          Meu primo parece um menino igual aos outros, faz coisas que os outros também fazem, mas ele é diferente.

          Nunca consegui descobrir se ele sabe disso. Se sabe que é diferente.

          Ele vai vivendo a vida e nunca ninguém toca nesse assunto.

          É por isso que me pergunto: será que eu também sou diferente?

          E se quando eu nasci aconteceu alguma coisa que deixou o meu cérebro diferente? Ninguém iria me contar, certo? Nem falar sobre isso, como fazem com o Jorge. Como vou saber?

 

          3. CONFISSÕES

 

           Ás vezes, meu primo faz algumas coisas esquisitas.

          Outro dia, ele ficou repetindo uma história várias vezes, sem parar.

          Todos ouviam com atenção e acho que ele nem percebeu que aquilo estava ficando estranho.

          Mas a vovó também faz isso, conta as mesmas histórias várias vezes, e ela me parece bem normal.

          Eu não fico repetindo as coisas, pelo menos acho que não. De qualquer maneira, já decidi o que vou fazer.

          Vou contar algumas passagens da minha vida, prometo que vou tentar ser o mais sincera possível e, depois você vai me dizer se sou normal ou não.

          Conto com sua sinceridade também.

 

4. CATÁSTROFE

 

 Vou começar com uma catástrofe que é para você já ir sentindo o drama de ter uma ideia bem clara de alguns absurdos que eu faço.

          Era o dia do meu aniversário, eu ia fazer 13 anos e dar uma festa para comemorar.

          Estava apavorada, com medo de que não viesse ninguém. Eu realmente não queria passar pelo mesmo sufoco que a Denise. A festa dela foi um desastre. Até apareceram alguns gatos pingados, mas nem chegaram a esquentar o sofá. Mal entraram, logo saíram. Não adiantou nem mesmo a Denise ficar oferecendo coisas. Ela tinha preparado umas comidas deliciosas. Nem quiseram esperar chegar mais gente. Sei porque eu estava lá. E ela fez questão de colocar um milhão de fotos minhas no instagram, Em várias posições, para parecer que tinha mais gente. Claro que a Ana Paula não foi. Se ela tivesse ido, aposto que a festa bombaria e tenho certeza de que a Denise não ia se dar ao trabalho de colocar nenhuma foto minha no insta.

          Depois de muito investigar na escola, descobri que bastante gente viria a minha festa, o que me deixou um pouco mais tranqüila, mas não muito, porque as pessoas sempre podem mudar de ideia.

          Fui até o salão de beleza fazer as unhas e escova no cabelo. Chegando lá, não tinha nenhuma manicure disponível, então me sentei no sofá, peguei uma revista e esperei minha vez.

          Qual não foi minha surpresa quando, após vinte minutos de espera, vejo a Ana Paula entrar no salão, conversar com a recepcionista e ser atendida na mesma hora.

          Ela nem sentou no sofá.

          Só para ajudar a entender a situação, preciso contar que a Ana Paula é a menina mai bonita da escola. Mentira, ela é a menina mais bonita do mundo.

          Fiquei sentada ali, revoltada, indignada, vendo aquela magrela estonteante passar reto por mim e se sentar na cadeira da manicure que eu estava esperando vagar.

          Pensei em fazer um escândalo, mas me segurei.

          Depois, pensei em reclamar educadamente, mas também desisti, pois achei que, se eu falasse alguma coisa, ela poderia mudar de ideia e decidir não ir a minha festa.

          Nenhuma festa é sucesso se a Ana Paula não for, então achei melhor ficar quieta...

          Eu até poderia faltar na minha festa e provavelmente ninguém iria perceber, mas ela tinha que ir.

          Então, fiquei ali, esperando feito uma panaca, roendo as minhas pobres unhas.

          O pior de tudo é que depois que a Ana Paula foi embora, sem nem olhar para mim, eu me sentei na cadeira da manicure e pedi para passar o mesmo esmalte que ela, no restinho de unha que sobrou!

 

 

 

1. Faça uma descrição curta de quem é você semelhante a que a personagem fez.

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2. Assinale a alternativa ERRADA sobre Jorge.:

a) Jorge é igual aos outros meninos.

b) faz coisa que os outros meninos fazem

c) é primo da narradora.

d) nasceu com um problema no coração.

 

3. Qual das frases abaixo NÃO indica uma dúvida da narradora?

 

 

a) Ele vai vivendo a vida e nunca ninguém toca nesse assunto.

b) será que eu também sou diferente?

c) E se quando eu nasci aconteceu alguma coisa que deixou o meu cérebro diferente?

d) Ninguém iria me contar, certo?

 

4. No texto a palavra confissões se refere:

a) Ao primo fazer algumas coisas esquisitas.

b) À vovó contar uma história várias vezes.

c) Às passagens sobre a vida da menina que ela irá contar.

d) Ao fato do menino não perceber que estava estranho ele ficar contando a mesma história.

 

 

5. A catástrofe a que a menina se refere é o fato de :

a) O fracasso da festa da Denise, pois não foi quase ninguém.

b) A Ana Paula ter sido atendida primeiro na manicure.

c) A Ana Paula não ter falado com ela.

d) A Denise ter colocado um milhão de fotos dela no instagram.

 

6. “Então, fiquei ali, esperando feito uma panaca, roendo as minhas pobres unhas.” O adjetivo pobres nesse fragmento significa:

a) sem recursos

b) sem dinheiro

c) coitado

d) pequeno

 

7. Marque a alternativa que não apresenta um EXAGERO.

a) ele ficou repetindo uma história várias vezes

b) apesar de minha mãe já ter me explicado mais de mil vezes.

c) Vou começar com uma catástrofe que é para você já ir sentindo o drama

d) Mentira, ela é a menina mais bonita do mundo.

 

8. “Até apareceram alguns gatos pingados, mas nem chegaram a esquentar o sofá.” De acordo com o fragmento:

a) vieram poucas pessoas, mas demoraram.

b) vieram muitas pessoas e foram embora rápido.

c) vieram poucas pessoas e foram, embora rápido

d) vieram muitas pessoas e demoraram a ir embora.

 

9. “O coração ficou perfeito, mas o cérebro não...” Os três pontos nessa frase indicam a omissão da palavra:

a) ficou

b) mudou

c) pensou

d) bateu

 

10. Em qual das alternativas abaixo  NÃO    palavra que indique a conversa da narradora com o leitor?

a) Você pode estar achando minha dúvida esquisita

b) Conto com sua sinceridade também.

c) Vou começar com uma catástrofe que é para você já ir sentindo o drama

d) Ele é um menino muito legal e eu gosto muito dele.

MIRÍADE - AUTORRETRATO - RENATA BUENO - ATIVIDADES

 

MIRÍADE

          Hoje o espelho me diz: preto e branco; ainda ontem eu era furta-cor, amanhã serei azul-céu? Não sou hoje a pessoa que fui ontem, nem amanhã serei igual à pessoa que sou hoje, é fato. O que me acontecer num dia e noutro, susto ou alegria, é pincelada nova na imagem. Estranha crença, essa, de acreditar nos retratos dos documentos de identidade. Uma única foto, o que sabe da gente? Somos apenas as características apreendidas num clique?

        

         AUTORRETRATO ajuda a compreender a multiplicidade de EUS que toda a gente carrega. Em rico processo de composição com papeis, tecidos, palavras e outras referências, Renata Bueno explora o campo dos retratos que os artistas fazem de si, ao longo dos tempos. Dialoga com as muitas pessoas que somos, na trilha de exemplos passados, Picasso, Mario de Andrade, Frida kahlo. A autora, artista plural e talentosa, amiga de representar rostos, joga com aquilo que faz de cada ser um ente original, entregue ao dinamismo da vida. Em experiências que vão ajudar leitores e leitoras de todas as idades a se reconhecerem também plurais e diferentes, e usando a técnica de cortar o papel com as mãos, Renata retira partes da realidade à volta, ou bem lá de dentro de histórias e sentimentos, e os traz para os retratos de si mesma, nos quais se mostra a necessária interlocução com o outro. Como a vida só está pronta quando acaba, autorretrato muda e transmuda : saber de si é inesgotável.  

 

 Nilma Lacerda- escritora, pesquisadora e professora

 

1. Você sabe o que é um autorretrato? Comente.

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2. De acordo com o início segundo parágrafo, qual a finalidade do autorretrato?

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3. “Não sou hoje a pessoa que fui ontem, nem amanhã serei igual à pessoa que sou hoje, é fato.” O que a autora do texto quer dizer com essa frase?

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4. Agora registre abaixo seus gostos, medos e sonhos.

a) O que mais gosto de fazer é

_____________________________________________________________

b) Minha diversão preferida é

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c) O programa de televisão de que mais gosto é

_____________________________________________________________

d) Minha comida predileta é

_____________________________________________________________

e) Meus amigos mais queridos são

_____________________________________________________________

f) Eu não gosto de

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g) Tenho medo de

____________________________________________________________

h) Meu sonho é

_____________________________________________________________

i) Eu adoro

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5. A palavra azul-céu (azul da cor do céu) na língua portuguesa é invariável, não tem plural. Qual das palavras abaixo não tem plural pelo mesmo motivo.

a) Saia vermelho-sangue.

b) Tecido amarelo-limão.

c) Causa verde-musgo

d) Cabelo castanho-escuro.

 

6. Qual das palavras abaixo não apresenta um antônimo?

a) branco/preto

b) hoje/ontem

c) susto/alegria

d) plural/singular

 Assinale a alternativa em que a palavra foi empregada em sentido real, literal.

 

 

7. Hoje o espelho me diz: preto e branco; ainda ontem eu era furta-cor, amanhã serei azul-céu? O fragmento destacado indica uma;

a) certeza

b) dúvida

c) ordem

d) pedido

 

8. O primeiro parágrafo é uma citação (fala) de:

a) Renata Bueno

b) Nilma Lacerda

c) Mario de Andrade

d) Frida kahlo

 

9. O título do texto Miríade só NÃO significa:

a) dez mil

b) multidão

c) infinidade

d) apenas um

 

10. “Como a vida só está pronta quando acaba” Esse fragmento indica que

a) A vida nunca muda.

b) Na vida é muito ruim morrer.

c) Na vida seus pais sempre te amarão.

d) A vida muda constantemente.

ATIVIDADES SOBRE O MESMO ASSUNTO:

https://professordiorges.blogspot.com/2022/09/auto-retrato.html

https://professordiorges.blogspot.com/2019/05/texto-o-menino-cereja-pag-13.html




 

 

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

CONTEXTO OU COTEXTO

CONTEXTO / COTEXTO



 1. CONTEXTO – BIFE = PEDAÇO GRANDE DA CUTÍCULA. LEVA EM CONTA O ESPAÇO, AS PESSOAS ENVOLVIDAS, A SITUAÇÃO, 

2. COTEXTO – BIFE = CARNE = NÃO LEVA EM CONTA O ESPAÇO, AS PESSOAS ENVOLVIDAS, A SITUAÇÃO,









1. CONTEXTO – TOCA BAIXO, DESGRAÇADO = BAIXAR O VOLUME

2. COTEXTO – TOCA BAIXO, DESGRAÇADO = TOCAR O INSTRUMENTO CHAMADO DE BAIXO.

 









 1. CONTEXTO = DE GATO EU NÃO GOSTO = NÃO GOSTO DE CARNE DE GATO.

 2. COTEXTO = DE GATO EU NÃO GOSTO = NÃO GOSTO DE GATOS= ANIMAL.

CONTEXTO OU COTEXTO

1. CONTEXTO = ENVOLVE O SIGNIFICADO DAS PALAVRAS DENTRO DE UM ESPAÇO, TEMPO, TIPO PESSOAS ENVOLVIDAS, ...

 2. COTEXTO = ENVOLVE A POLISSEMIA , PLURAL, POSIÇÃO DO ADJETIVO:

A) A NOTÍCIA CORRE = ESPALHA

B) O ATLETA CORRE =  LOCOMOVE

C) O TEMPO CORRE = PASSA RÁPIDO

OBSERVE QUE OS FRAGMENTOS A,B,C, FORAM ANALISADOS FORA DE UM CONTEXTO. FOI OBSERVADO SÓ O COTEXTO.

 

CONCLUSÃO: 

CONTEXTO = RELAÇÃO DENTRO DE UM TEXTO: INFLUENCIADA PELO ESPAÇO, AS PERSONAGENS, DENTRO DE UMA SITUAÇÃO COMUNICATIVA.

COTEXTO = RELAÇÃO DENTRO DE UM FRASE OU TEXTO = FORA DO CONTEXTO. SEM LEVAR EM CONTA   AS PERSONAGENS, O ESPAÇO, O TEMPO.


SE EU DISSER "A CASA ESTÁ SUJA"  DIANTE DE MINHA EMPREGADA O CONTEXTO LEVARÁ ELA A ENTENDER QUE É PARA ELA  LIMPAR. 

SE ELA OBSERVAR SÓ A FRASE, "A CASA ESTÁ SUJA" SÓ O COTEXTO, ELA NÃO ENTENDERÁ QUE É PARA LIMPAR.

SUGESTÕES, CORREÇÕES OU DÚVIDAS, POSTAR NOS COMENTÁRIOS.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

A FÁBULA DA CORRUPÇÃO – ASSUNTO CORRUPÇÃO

 

A FÁBULA DA CORRUPÇÃO – ASSUNTO CORRUPÇÃO

INÍCIO DO VÍDEO 17 SEGUNDOS

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 https://www.youtube.com/watch?v=a8423f6Aw1A&t=256s

          João era um bom homem, e um honesto comerciante. E, na estrada onde vivia, passavam muitos viajantes.

          Tirava o seu sustento de um pequeno mercadinho, e com esse negócio prosperava devagarinho. João era dono de um cão, bom companheiro, e que afugentava qualquer ladrão. Também tinha um gato, muito esperto e ótimo caçador de ratos. Mas mesmo com a vigilância do gato de João, sempre sumia um pedaço de queijo, ou um naco de pão.

          Apesar da harmonia entre todos os moradores, nada podia evitar os pequenos furtos dos roedores. Ah, e já ia me esquecendo do jumento que servia de montaria, quando João buscava mantimentos. Antes de cada viagem, João sempre pedia que o cão e o gato cuidassem daquela humilde moradia, pois todos eles sabiam que dependiam do armazém. E os bichos prometiam que ficaria tudo bem.

          Um dia caiu de uma carroça, um ratão que vinha da cidade, e se juntou aos outros ratos, sem fazer amizade. Foi logo reclamando da pouca comida, e dizendo que a toca era fria e fedida. Os ratos botaram a culpa no gato miserável, por não terem mais comida, nem uma toca confortável. Eles acharam que aquele ratão forasteiro sabia das coisas por conhecer o mundo inteiro, mas o ratão mentia pra parecer importante. Ele só conhecia os esgotos da cidade grande.

          O ratão tinha um truque que chamava de “jeitinho”. Disse que, com ele, conseguia tudo rapidinho. Então, saiu da toca e foi conversar com o gato. Todos ficaram admirados com a bravura daquele ato. Até o gato ficou surpreso quando viu o ratão, que chamou o felino pra perto, fazendo um gesto com a mão. O gato, desconfiado, quis saber a intenção do bicho. O ratão, na orelha do gato, falou, num cochicho: “Você cuida de uma comida que não é sua, seu tonto. Então porque não fazemos um acordo, e pronto”.

          O ratão voltou com muita comida pra dentro da toca. Os ratos comeram tudo, antes de saberem qual foi a troca. Depois da festa, o ratão disse qual era o trato. Eles teriam mais comida, sempre que desse um ratinho ao gato. É o preço, disse o ratão. E se seguiu uma enorme discussão. Um dos ratos ficou muito bravo e disse que não aceitava aquele conchavo. Não era justo, não era ético. Não era direito. Pro seu azar, só ele pensava daquele jeito. Foi jogado porta afora e, rapidamente, engolido.

          Assim, o acordo entre as partes foi cumprido. O chefe dos ratos agora era o ratão. Pois foi dele a ideia da combinação. O gato ficou orgulhoso da sua malandragem. E foi até a casa do cão pra contar vantagem, mas o cão quis tirar proveito da situação, e propôs um acordo pra não contar nada pro patrão. Ele estava cansado de sempre comer choriço, e achava que merecia mais pelo seus serviços. Como nunca entrava na casa, só vigiava do lado de fora, mandou o gato trazer comida para ele a partir de agora. Só que pra isso, o gato teria que roubar do João e, pra não ser desmascarado, fez a vontade do cão.

          Quando João voltou da sua jornada, não percebeu a nova rotina da bicharada. Os ratos iam até a dispensa pegar comida, sem preocupação. O gato ganhava um rato, e levava escondido o lanche do cão. João ficou espantado com a rapidez com acabaram os alimentos, e teve de ir até a cidade pegar mais mantimentos.

          Enquanto isso, os ratos se mudaram para perto do fogão. E o gato passou a ganhar dois ratos no novo acordo com o ratão. O cão, quando soube, não quis ficar para trás, e pediu para aumentar sua parte um pouco mais. João não era muito inteligente, mas percebeu que tinha algo diferente. As mercadorias foram acabando, mesmo sem ter muita gente comprando. E toda vez que voltava de viagem, sempre tinha um erro na sua contagem. Por isso, ia a cidade mais vezes do que gostaria, e, levando menos dinheiro, trazia menos mercadoria.

          Foi perdendo clientes por deixar o mercadinho fechado, ou quando estava aberto, o que queriam já tinha acabado. Quanto mais os ratos comiam, mais a toca esvaziava. O gato queria mais ratos, porque o combinado já não bastava. O cão, por sua vez, comia mais do que podia, e passou a desejar uma coisa que só aos homens pertencia. Chamou o gato e pediu, bem faceiro, o que nenhum animal queria: dinheiro.

          O gato não gostou daquilo, mas ficou com medo do cão, e passou a roubar o caixa, bem embaixo do nariz do João. O cão não sabia direito pra que o dinheiro servia. Então, ele enterrava tudo o que o gato trazia. João foi ficando mais pobre e desgostoso da vida. Perdeu noites de sono, mas não achava saída. Decidiu vender a casa, e pegar a estrada, conseguiu quitar as dívidas, hum, mas ficou sem nada.  Sem poder sustentar os bichos, abandonou o cão e o gato, que ficaram pra trás junto com o ratão, o último rato.  João subiu no jumento e seguiu viagem. Era o único bicho sem custo, pois só comia pastagem.

          Os três, sem saber pra onde iam, ficaram ao relento. Mas o gato era o único que sentia algum arrependimento. O ratão partiu primeiro se embrenhando no mato. O cão lembrou do dinheiro e disse adeus ao gato. Com o que guardou, achou que não passaria fome ou frio. Só que quando chegou no esconderijo, o buraco estava vazio. Como não tinha dono, o cão foi pego pela carrocinha, e o gato aprendeu a dividir comida na casa de uma velhinha. O ratão, em outro armazém, foi botar em prática seu plano, mas encontrou um gato honesto, e virou almoço do bichano.

          João abriu outro negócio, com novos animais de estimação. Como ele conseguiu dinheiro? O jumento tem uma explicação: na estrada, assim que partiram, o jumento falou baixinho que viu tudo o que os bichos aprontaram, mas não quis meter o focinho. Agora estava arrependido de ter ficado calado, e queria mostrar pro João, onde o dinheiro estava enterrado. Não era muito o que o cão escondeu, mas João não teve medo de começar de novo. Só teria mais cuidado da próxima vez, e aconselhava isso ao povo.

 

1. Quais os personagens?

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2. Quais as características dos personagens abaixo NO INÍCIO DO TEXTO?:

a) João:

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b) Cão;

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c) Gato;

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3. Qual a situação inicial?

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4. Qual o conflito que surge?

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5. O que o ratão falou no ouvido do gato?

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6. Qual foi o acordo feito entre o rato e o gato?

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7. Por que o gato fez o que o cão pediu?

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8. Por que João perdeu os clientes?

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9. Por que João abandonou o gato e o cão?

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10. O que aconteceu com o ratão quando chegou a outro armazém?

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11. Qual o assunto da fábula?

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12. O que representa cada uma das personagens da fábula?

a) JOÃO –

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b) O GATO –

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

c) O CÃO –

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d) O BURRO –

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e) O RATÃO –

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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

HAICAIS – MEIO DIA - GABARITO

 

HAICAIS – MEIO DIA - GABARITO

 

Leia os haicais

 

Meio-dia e as sombras somem.

Eis uma escondida

Embaixo do homem

FERNANDES, Millôr. Hai-kais. Porto Alegre: L&PM, 2011

 

 

Olho, alarmado;

E se a vida for

Do outro lado?

FERNANDES, Millôr. Hai-kais. Porto Alegre: L&PM, 2011

 

Em nosso universo

Breve, passa, com pressa! e

Graça, a borboleta. ISSA.

 

In: PIGNATARI, Décio (org.). 31 poetas, 214 poemas: do Rigveda e Safo a Apollinaire. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 78.

 

 

 

 

1. Releia o haicai de Issa, poeta japonês.

 

a) Quantos versos o poema apresenta?

Três versos.

b) Quantas sílabas poéticas há em cada verso?

O primeiro e o terceiro versos têm cinco sílabas cada um; o segundo verso tem sete sílabas

c) Qual é o número total de sílabas poéticas do poema?

O poema tem desessete sílabas

 

2. Que característica formal do haicai de Issa também está presente  nos haicais do brasileiro Millôr Fernandes?

A organização em três versos.

3. Geralmente, os haicais têm como temática a natureza ou o passar  do tempo.

a) Qual(is) dos haicais aborda(m) essa temática?

O haicai de Issa e o primeiro haicai de Millôr Fernandes

 

b) Qual é o tema do(s) outro(s) haicai(s)?

Uma reflexão sobre a realidade: até que ponto a realidade em que vivemos é a única verdade ou a única realidade?

 

4. Mesmo sendo muito breves, os haicais costumam ter grande carga  poética, pois apresentam em poucas palavras observações sutis e  reflexões profundas sobre a vida e o mundo.

a) O que o haicai de Issa descreve poeticamente?

Uma borboleta.

b) No primeiro haicai de Millôr Fernandes, o que o eu lírico observa

ao meio-dia?

O eu lírico observa a ausencia de sombras como se elas tivessem se escondido embaixo das pessoas.

5. A respeito da linguagem do haicai, responda:

a) Ela é objetiva ou subjetiva?

Objetiva

b) Ela normalmente apresenta rimas, ritmo e outras sonoridades?

Não. Pode haver o uso desses recursos, mas não é uma norma.

c) Ela apresenta imagens?

Sim normalmente ela apresenta uma imagem marcante, que sintetiza a ideia básica do haicai, como a imagem da borboleta passando cheia de graça pelo universo

6. Observe que nenhum dos haicais lidos apresenta título. Que efeito de  sentido esse procedimento provoca no poema?

O título normalmente acrescenta e orienta os sentidos de um texto. A falta dele concentra toda a significação do texto nos três versos curtos do haicai.

 

7. O termo haicai é formado pelas palavras hai (brincadeira, gracejo)  e cai (harmonia, realização), tendo, assim, o sentido de poema  bem-humorado ou divertido. Na sua opinião, os haicais lidos são  divertidos? Por quê?

Respostas pessoais

 

8. No 7º ano, você provavelmente estudou as características básicas dos poemas em geral. Agora, junte-se a alguns colegas para resumir  as características específicas do haicai. Para isso, copiem o quadro  a seguir no caderno e respondam às questões de acordo com  o que perceberam dos poemas estudados ou de outros textos  conhecidos.

a) Quem são os interlocutores do haicai?

O eu lírico e os leitores que apreciam poesia em geral ou, ainda, toda a sociedade. Também é possível considerar que poemas em geral podem ser feitos sem um interlocutor específico, pois o poeta pode escrever para si mesmo, como forma de expressar suas emoções.

 

b) Qual é o objetivo desses textos?

Entreter, promover emoções e reflexões, entre outras possibilidades.

 

c) Por onde o haicai circula?

Em livros, revistas, jornais, sites e blogues da internet. Também podem ser expostos em locais variados, como museus, estações de trem e metrô, instalações urbanas, painéis, etc.

 

d) Como o haicai se estrutura?

O haicai clássico apresenta três versos: o primeiro e o terceiro com cinco sílabas poéticas, e o segundo verso, com sete sílabas poéticas. Em geral não apresenta título.

 

e) Quais são os temas mais frequentes no haicai?

Temas ligados à natureza e à reflexão filosófica, como a passagem do tempo.

 

f) Como é a linguagem do haicai?

Objetiva e sintética. Não é obrigatório o emprego de rimas e ritmo, mas frequentemente apresenta imagens ricas.

O PRESENTE DE CAUÃ - GABARITO

 

O PRESENTE DE CAUÃ

 

          O presente de Cau‹ Em 16 de junho, um dos novos tesouros da família Pereira comemora outonos de vida. Quatro em 2013.

          — Irmã, de que o Cauã precisa?

          — Como criança perde roupa rápido!

          — Cauã, o que você quer ganhar de aniversário?

          — O Sonic vem na minha festa. O Homem-Aranha e o Homem de Ferro vão trazer ele.

          A tia-dinda, professora da família, obviamente dá livros. Mas o que eu queria mesmo era dar um mun[1]do. O mundo.

          Um mundo sem mazelas de qualquer ordem. Sem drogas, concretas e abstratas. Sem politicagem, po[1]litiquices, corrupção. Sem violência, que toda ela é sem razão. Sem pobreza monetária e de espírito. Sem poluição sonora, visual, ambiental. Sem descumprimento dos deveres. Sem hipocrisia.

          Um mundo com benesses. Com amor absoluto, sem precisar de adjunto ou complemento. Com boa educação — familiar e escolar. Com consciência da diversidade (étnica, sexual, religiosa...), pois é, enfim e apenas, o que iguala um ser humano a outro (Tirem as vendas, por favor, senhoras e senhores!). Com ga[1]rantia de direitos. Com respeito.

          Utopia — ingênua, piegas, podem dizer! —, pois “mundo sem” e “mundo com” coexistem, se alternam, evoluem, recrudescem.

          Então, se toda moeda tem duas faces (bendito maniqueísta clichê), que Cauã seja amoroso, consciente e respeitoso, para contribuir com o “lado bom”, mas forte e corajoso para lutar contra o “lado ruim” (perdoe Yoda, mas não posso, por razões melanínicas, usar “lado negro da força”, não no “seu” sentido!!).

          E que eu, querido sobrinho, não lhe deseje apenas um futuro, mas comemore seu presente. Do indica[1]tivo. E também no gerúndio.

CATITA. Not’cias da incerteza. São Paulo: Desconcertos, 2021.

 

 

 

 

 

1. A narradora diz que um membro da família Pereira “está comemorando outonos de vida”. O que  esta expressão significa?

Que alguém está fazendo aniversário.

 

 

2. A narradora, tia do menino Cauã, diz que não gostaria de dar um mundo para ele, mas, sim, o mundo. O que você acha que ela quis dizer com isso?

Resposta pessoal. Possibilidade de resposta: Que ela gostaria de dar para ele

 

3. A autora diz que não pode usar a expressão “o lado negro da força” por razões melan’nicas.  O que significa esse termo? E qual seria a razão para não usar a expressão?

O termo melanínico refere-se à melanina, à pigmentação da pele humana. A razão para não usar a expressão “lado negro da força” é por ela apresentar uma conotação preconceituosa ao relacionar a palavra negro a algo ruim.

O MENINO - GABARITO

O MENINO  - GABARITO

          Vou fazer um apelo. É o caso de um menino desaparecido. 

          Ele tem 11 anos, mas parece menos; pesa 30 quilos,  mas parece menos; é brasileiro, mas parece menos.

          É um menino normal, ou seja: subnutrido, desses milhares de meninos que não pediram pra nascer; ao contrário: nasceram pra pedir.

          Calado demais pra sua idade, sofrido demais pra sua idade, com idade demais pra sua idade. É, como a maioria, um desses meninos de 11 anos que ainda não tiveram infância.

          Parece ser menor carente, mas, se é, não sabe disso. Nunca esteve na Febem, portanto, não teve tempo de aprender a ser criança- -problema. Anda descalço por amor à bola.

          Suas roupas são de segunda mão, seus livros são de segunda mão e tem a desconfiança de que a sua própria história alguém já viveu antes.

          Do amor não correspondido pela professora, descobriu que viver dói. Viveu cada verso de “Romeu e Julieta”, sem nunca ter lido a história.

          Foi Dom Quixote sem precisar de Cervantes e sabe, por intuição, que o mundo pode ser um inferno ou uma badalação, dependendo se ele é visto pelo Nelson Rodrigues ou pelo Gilberto Braga.

          De seu, tinha uma árvore, um estilingue zero quilômetro e um pássaro preto que cantava no dedo e dormia em seu quarto.

          Tímido até a ousadia, seus silêncios gritavam nos cantos da casa e seus prantos eram goteiras no telhado de sua alma.

          Trajava, na ocasião em que desapareceu, uns olhos pretos muito assustados e eu não digo isso pra ser original: é que a primeira coisa que chama a atenção no menino são os grandes olhos, desproporcionais ao tamanho do rosto.

          Mas usava calças curtas de caro‡, suspensórios de elástico, camisa branca e um estranho boné que, embora seguro pelas orelhas, teimava em tombar pro nariz.

          Foi visto pela última vez com uma pipa na mão, mas é de todo improvável que a pipa o tenha empinado. Se bem que, sonhador do jeito que ele é, não duvido nada.

          Sequestrado, não foi, porque é um menino que nasceu sem resgate.

          Como vocês veem, é um menino comum, desses que desaparecem às dezenas todos os dias.

          Mas se alguém souber de alguma notícia, me procure, por favor, porque... ou eu encontro de novo esse menino que um dia eu fui, ou eu não sei o que vai ser de mim.

ANYSIO, Chico. Um autorretrato inédito de Chico Anysio. O Globo, Rio de Janeiro, 28 mar. 2012. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/um-autorretrato-inedito-de-chico-anysio-4428439. Acesso em: 26 abr. 2022.

 

1. O texto é construído como se fosse um anúncio de busca de pessoa desaparecida.

a) Em que trecho isso fica explícito?

a) “Vou fazer um apelo. É o caso de um menino desaparecido.”

 

b) Em geral, o que caracteriza um texto desse tipo?

b) A identificação da pessoa desaparecida, seguida da descrição dela, incluindo traços físicos e psicológicos e o vestuário que a pessoa trajava quando foi vista pela última vez.

 

2. Com relação ao texto em estudo, responda:

a) Quais são as características físicas do menino?

a) Tem 11 anos, 30 quilos, olhos pretos de tamanho desproporcional ao tamanho do rosto.

 

b) Que tipo de vestuário o menino trajava quando foi visto pela última vez?

Estava descalço e usava roupas de segunda mão: calças curtas de caroá, suspensórios de elástico, camisa branca, boné

 

 

c) O que ele fazia quando foi visto pela última vez?

c) Provavelmente, estava empinando pipa, pois tinha uma em mãos.

 

d) Deduza: Qual era a condição social do menino?

Era um menino pobre.

 

3. O texto faz outras caracterizações do menino, além das físicas.

a) Que elementos mencionados dizem respeito:

• ao mundo infantil do menino?

Árvore, estilingue, pássaro preto, pipa, bola.

• ao romantismo precoce?

O amor não correspondido pela professora.

• à concepção de mundo dele?

A ideia de que o mundo pode ser um lugar de sofrimento ou um lugar de prazeres (inferno ou badalação)

 

b) Referindo-se ao menino, o narrador diz: “sonhador do jeito que ele é”. Qual personagem citado no texto também é um sonhador?

Dom Quixote.

 

4. Observe estas referências feitas ao menino: “é brasileiro”, “desses milhares de meninos”, “como a maioria”, “que desaparecem às dezenas”, “sua própria história alguém já viveu antes”.

 

a) As palavras e expressões destacadas nesses trechos singularizam a figura do menino desaparecido, facilitando seu reconhecimento?

a) Não. Elas correspondem a informações genéricas, que situam o menino em um grupo amplo, em um coletivo.

 

b) Que efeito esse tipo de referência ao menino produz no leitor?

b) Produz um estranhamento inicial, seguido pelo reconhecimento de que a situação do garoto (estar perdido, sem família nem orientação) diz respeito à parte significativa da infância do país.

 

5. O narrador também faz referências ao menino utilizando expressões como: “subnutrido”, “nasceram pra pedir”, “ainda não tiveram infância”, “sem resgate”. Que visão da infância se depreende desses trechos: feliz e bem cuidada ou desprotegida e carente?

Trata-se de uma visão de infância marcada pela carência e pela invisibilidade, portanto, “desaparecida” tanto no espaço como na visão das autoridades e das famílias, responsáveis pelo bem-estar das crianças.

 

6. Aos poucos, vai ficando claro o tema do texto e sua verdadeira intencionalidade.

a) Qual é o tema do texto?

a) O tema do texto é o descaso com qu e as autoridades brasileiras tratam a infância no país. Prova disso é o grande número de crianças que não têm suas necessidades básicas atendidas (alimentação, educação, higiene, etc.), vivendo à margem da sociedade e sem perspectivas de futuro.

b) Apesar de o texto abordar um grave problema da sociedade brasileira, ele não perde o humor. Explique como se constrói o humor nestes trechos:

• “[...] pesa 30 quilos, mas parece menos; é brasileiro, mas parece menos.”

O paralelismo de termos quantificaveis: anos, quilos, é quebrado por um termo não quantificável: o adjetivo brasileiro.

• “[...] com idade demais pra sua idade.”

Não é possível alguém ter uma idade diferente da que tem na realidade.

• “[...] é de todo improvável que a pipa o tenha empinado.”

Aqui há uma inversão de expectativa: a ideia de que a pipa tenha empinado o menino e não o inverso.

 

7. O texto faz referência a um órgão responsável pela recuperação de menores infratores. Qual é a visão do narrador a respeito desse órgão? Justifique sua resposta com um trecho do texto.

A visão do narrador é crítica, pois ele entende que esse órgão, em vez de educar e orientar as crianças, por vezes, acaba ensinando a elas a vida do crime, conforme demonstra o trecho “Nunca esteve na Febem, portanto, não teve tempo de aprender a ser criança-problema

 

8. No último parágrafo, há uma revelação importante para o desfecho do texto.

a) Qual é essa revelação?

 A de que o menino procurado é o menino que o narrador do texto foi um dia e do qual ele se perdeu.

b) Nesse sentido, o menino procurado se perdeu no espaço ou no tempo? Explique sua resposta.

O menino se perdeu no tempo, pois ficou no passado do narrador.

 

9. O narrador aponta todas as carências do menino que ele foi, mas, no final do texto, diz: “ou eu encontro de novo esse menino que um dia eu fui, ou eu não sei o que vai ser de mim”.

a) De acordo com sua interpretação, por que o narrador deseja encontrar o menino que ele foi?

a) Sugerimos abrir a discussão com a turma. Entre outras possibilidades, parece que a infância sofrida foi a base de tudo o que narrador se tornou. Reencontrar-se com o passado é uma forma de reafirmar seus caminhos e confirmar sua identidade.

 

b) O desaparecimento do menino deve ser visto como um fato concreto ou ele pode representar um desaparecimento no sentido figurado? Explique.

Ele pode representar um desaparecimento no sentido figurado, pois o menino pode ter desaparecido dentro do adulto que o narrador se tornou.

 

10. O texto “O menino” contém humor e lirismo. Contudo, além de provocar o riso e a emoção, ele também cumpre outra finalidade. Qual seria ela?

O texto cumpre a finalidade de fazer uma crítica ao descaso com que as crianças são tratadas por certas famílias e pelas autoridades no país.

 

A LINGUAGEM DO TEXTO

 

1. Releia estes trechos do texto:

• Ele tem 11 anos, mas parece menos; pesa 30 quilos, mas parece menos; é brasileiro, mas parece menos.

• Calado demais pra sua idade, sofrido demais pra sua idade, com idade demais pra sua idade. Observe os termos menos e demais, em destaque.

a) A que classe gramatical pertencem?

À classe dos advérbios.

 

b) O sentido dos dois termos é antagônico. No entanto, pode-se dizer que, no contexto em que aparece, o advérbio demais apresenta sentido equivalente ao sentido do advérbio menos? Justifique sua reposta.

Sim, pois os adjetivos calado e sofrido e a locução adjetiva com idade (idoso) implicam carência. Assim, correspondem a menos expansivo, menos feliz e menos jovem, ou seja, ao oposto do que todo menino deveria ser.

 

2. A palavra mas é empregada três vezes no primeiro dos dois trechos reproduzidos na atividade anterior.

a) Que ideia essa palavra expressa: de adição, de oposição, de explicação ou de causa?

De opocisão.

b) Considerando o contexto, como você justifica o emprego dessa palavra?

Ela inicia orações que expressam a ideia de que a criança parece não ter a idade que tem, pesa menos que o normal e não tem sua nacionalidade respeitada, pois é pouco desenvolvida na aparência física e na cidadania.

 

3. Compare os dois trechos a seguir.

• O menino era tímido, calado e choroso.

• “Tímido até a ousadia, seus silêncios gritavam nos cantos da casa e seus prantos eram goteiras no telhado de sua alma.” Nos dois trechos, há, essencialmente, a mesma informação. Contudo, um deles apresenta recursos próprios da literatura, como a expressividade e o uso de imagens.

a) Qual deles é mais expressivo?

O segundo trecho, que faz parte do texto lido.

 

b) Identifique as imagens empregadas no trecho que é mais expressivo.

São elas: “silêncios gritavam” e “goteiras no telhado de sua alma”.

 

4. Observe este trecho do texto:

É um menino normal, [...] desses milhares de meninos que não pediram pra nascer; ao contrário: nasceram para pedir.

 

Identifique o trocadilho (jogo de palavras) que há nesse trecho e explique o efeito de sentido que ele provoca no texto.

O trocadilho ocorre em “não pediram pra nascer; ao contrário: nasceram para pedir” e reforça a condição desse menino: fruto de uma gravidez provavelmente não planejada por seus pais e com um futuro de miséria como criança pedinte nas ruas.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

PERDEDOR VENCEDOR GABARITO

 

PERDEDOR VENCEDOR

          O perdedor cumprimentou o vencedor. Apertaram-se as mãos por cima da rede. Depois foram ao vestiário. Enquanto tiravam a roupa, o perdedor apontou para a raquete do outro e comentou, sorrindo:

       - Também, com essa raquete...

          Era uma raquete importada, último tipo. Muito melhor do que a do perdedor. O vencedor sorriu, mas não disse nada. Começou a descalçar os tênis. O perdedor comentou, ainda sorrindo:

          - Também, com esses tênis...

          O vencedor quieto. Também sorrindo. Os dois ficaram nus e entraram no chuveiro. O perdedor examinou o vencedor e comentou:

         - Também, com esse físico...

         O vencedor perdeu a paciência.

         - Olha aqui - disse. - Você poderia ter um físico igual ao meu, se se cuidasse. Se perdesse essa barriga. Você tem dinheiro, senão não seria sócio deste clube. Pode comprar uma raquete igual à minha e tênis melhores que os meus. Mas sabe de uma coisa? Não é equipamento que ganha jogo. É a pessoa. É a aplicação, a vontade de vencer, a atitude. E você não tem uma atitude de vencedor. Prefere atribuir a derrota à minha raquete, aos meus tênis, ao meu físico, a tudo menos a você mesmo. Se parasse de admirar tudo que é meu e mudasse de atitude, você também seria um vencedor, apesar dessa barriga.

         O perdedor ficou em silêncio por alguns segundos, depois disse:

         - Também, com essa linha de raciocínio...

Perdedor, vencedor (Luís Fernando Veríssimo)


1. A crônica retrata uma situação comum, cotidiana, na qual dois jogadores, ao final de uma partida de tênis, conversam.

 a) Como é o espaço em que eles estão?

b) Em quanto tempo se passa a história?

c) Como são retratados os personagens: de modo mais ligeiro ou de modo mais aprofundado?

d) Como você caracterizaria cada um dos personagens? O que possibilita chegar a essa conclusão?

 

2. Observe as falas do narrador. Que papel elas têm?

 

3. Observe as falas dos personagens.

a) Como elas são reproduzidas: em discurso direto ou em discurso indireto?

b) Imagine como ficaria a crônica caso as falas dos personagens fossem reproduzidas no outro tipo de discurso. Conclua: Que vantagens, para a narrativa, resultam do tipo de discurso utilizado para reproduzir as falas dos personagens?

 

4. Releia este trecho da crônica

“A pátria de ponteiros”, de Antonio Prata: “Mas e quando o pessoa diz ‘tô saindo!’?” Expliquei que as declarações do brasileiro, no que tange ao atraso, estão sempre uma etapa à frente da realidade — são uma manifestação do seu desejo. Se a pessoa diz que está chegando, é porque tá saindo, e se diz que tá saindo, é porque ainda precisa tomar banho, tirar a roupa da máquina e botar comida pro cachorro.

a) Nesse trecho e em todo o texto, predomina o discurso direto ou o discurso indireto?

b) Levante hipóteses: Considerando a finalidade e o estilo do autor, por que predomina esse tipo de discurso?

c) Que papel desempenha no texto o outro tipo de discurso?

 

5. A passagem de um tipo de discurso para outro exige um conjunto de modificações gramaticais que devem ser observadas. Junte-se a um colega, e, em dupla, passem para o discurso direto o seguinte trecho do parágrafo inicial da crônica de Antonio Prata.

Numa demonstração de abertura e inequívoca coragem, Fritz pediu uma feijoada. Eu comentei que, aparentemente, ele não estava tendo dificuldades de adaptação. O alemão disse que não. Por conta do seu trabalho [...] viajava o mundo todo. A única coisa que lhe incomodava, no Brasil, era nunca saber quando as pessoas chegariam aos encontros.

 

GABARITO

1.

a) Um vestiário de um clube

b) Poucos minutos.

c) São retratados de modo mais ligeiro.

d) d) O perdedor é o tipo de pessoa que não aceita as próprias limitações e sempre procura encontrar desculpas para elas; o ganhador é objetivo e direto. É possível chegar a essas conclusões por meio do diálogo entre os personagens.

2. As falas do narrador são breves e têm o papel de contextualizar a situação inicial do diálogo, de descrever brevemente a raquete e, depois, a reação dos interlocutores. Assim, elas “costuram” as situações, uma vez que a narrativa se desenrola com base no diálogo entre os personagens

3.

a) Em discurso direto.

b) A crônica provavelmente perderia a graça caso o diálogo fosse reproduzido pelo discurso indireto. O discurso direto dá maior dinamismo, vivacidade e veracidade para a cena, proporcionando, assim, mais facilmente o efeito de humor pretendido pelo autor.

4.

a) Predomina o discurso indireto.

b) O humor do texto é construído a partir das reflexões do narrador a respeito dos hábitos do brasileiro diante da lógica do alemão, e não a partir dos diálogos.

c) O discurso direto é utilizado para reproduzir principalmente as falas do alemão. Ele contribui para construir o humor do texto, seja pelas características linguísticas da fala do personagem, seja pelo espanto que este demonstra diante dos comentários do narrador.

5. — Uma feijoada —, pediu Fritz, numa demonstração de abertura e inequívoca coragem. — Você não está tendo dificuldades de adaptação, parece — comentei. — Não, disse Fritz. — Por conta do meu trabalho, viajo o mundo todo. A única coisa que me incomoda, no Brasil, é nunca saber quando as pessoas chegarão aos encontros.