O QUE VEM A SEGUIR
O
texto abaixo faz parte do primeiro capítulo do livro Família Schürmann: um mundo de aventuras. Nesse livro, Heloísa Schürmann relata uma viagem feita por ela e sua
família através dos oceanos, a bordo do
veleiro Aysso. Da viagem, participaram Heloísa, o marido, Vilfredo, e os filhos
deles - David e Kat, uma menina de
cinco anos -, além de alguns outros tripulantes. Que situação você supõe que será relatada em um capítulo
intitulado "Os piratas existem!"?
Os piratas existem!
A tarde caminha para mais um poente
vermelho. A tensão e a ansiedade encurtam
a ideia de tempo real, passando-nos a sensação de que o sol desliza no céu, de forma muito rápida, buscando a linha do horizonte.
A bordo, os olhos da tripulação
deixaram de maravilhar-se com o mar liso e com as velas gordas de vento, que arrastam o Aysso para a frente, riscando bigodes de espuma na água transparente. Olhares inquietos varrem a costa. Buscam
abrigo seguro para mais uma noite. Mais que um ancoradouro, o Aysso precisa de um esconderijo!
— Ali, ali! — Braços agitados apontam
a entrada da enseada. Desnecessária qualquer
outra orientação, a larga experiência do capitão já tinha adivinhado a baía. Poucos
minutos depois, o veleiro deslizava para o abrigo. Velas arriadas, âncora cravada no fundo de areia, era hora de relaxar os nervos. Nenhum barco à
vista. A solidão e o silêncio prometiam uma noite tranquila, de bom sono, bons
sonhos...
Os mapas e as cartas náuticas indicam
que estamos na Ilha dos Pássaros, um santuário
de aves. O calor da tarde e a água transparente convidam a um mergulho. Impossível resistir. E quem quer resistir? De
volta ao barco, o crepúsculo nos reserva
um espetáculo inesquecível: milhares de aves, voando em formação, como uma grande ponta de lança pontiaguda, retornam
para seus ninhos, depois de um dia de pescaria em alto-mar.
A algazarra é ensurdecedora. A câmara fotográfica
de Vilfredo tenta registrar o momento mágico.
Capitan,
hay un barco llegando, a estibordo! — O aviso de Jaime quebra
o encanto e nos devolve ao mundo real. O
perigo está de volta...
Sul das Filipinas, Mar de Sulu, terra de
piratas!
O barco, aparentemente um pesqueiro,
cruza as pequenas ondas da entrada da baía e
traça uma reta, rumo ao Aysso. A
pouco mais de 100 metros, diminui a marcha,
rodopia sobre o próprio eixo e larga a âncora.
Com uma baía tão grande, precisavam
chegar tão perto? — questiona Vilfredo,
voz baixa, quase um pensamento. — E já que o fundo aqui é todo de areia, podiam ancorar seguros em qualquer canto.
O barco é velho, malconservado, sujo.
Conto 12 homens a bordo. Como é costume
na região, todos ocultam os rostos, enrolados em velhas camisetas. Alguns sentam-se na borda do barco, jogam linhas com
anzóis na água. Podem estar
pescando, mas quem garante? Uma
garrafa roda de boca em boca. Pode ser água, mas é pouco provável. Um dos' homens do grupo aponta o
braço para nosso veleiro, os outros caem na gargalhada. As sombras ficam
compridas. Escurece. [...]
Desde que
entramos no Mar das Filipinas, há três meses, a tensão e o medo passaram a fazer parte da rotina.
É preciso atenção permanente com os barcos que navegam nas proximidades. De noite, o cuidado é
redobrado. {...]
Infelizmente, este não era um medo
infundado. O Centro de Pirataria da Malásia, em Kuala Lumpur, emitia avisos
com detalhes preocupantes, a intervalos ainda mais preocupantes. Não foram poucas as vezes em
que o Aysso mudou seu rumo para evitar os locais de
ataques recentes.
Há 16 anos nossa família navega
pelos mares do mundo. [...]
Quando
planejamos refazer a rota de Magalhães, sabíamos que o Mar de Sulu, por onde passou o navegador,
agora era reduto de violentos piratas. Também é fato conhecido de todos os navegadores que as águas
das Filipinas e da Indonésia não apenas são as mais perigosas, mas abrigam (ou seria escondem?) o maior reduto de piratas do mundo. Os
piratas do Mar da China são famosos desde os tempos antigos, da época dos
descobrimentos, quando seus juncos foram bastante romanceados. Hoje, a história
é muito diferente. Os piratas modernos possuem barcos rápidos, quase sempre roubados, e armamentos
pesados [...].
O que se podia fazer? Reduzir o
risco ao mínimo indispensável.
Nós, as mulheres a bordo do Aysso, passamos a nos vestir de jeito
masculino: calças compridas, camisetas
largas, bonés escondendo os cabelos compridos. Brincos, pulseiras e pintura eram absolutamente
proibidos. Dessa forma, além de ocultar a presença feminina a bordo, aumentávamos o número de
tripulantes homens.
Sempre que um barco navegava nas proximidades, Kat permanecia recolhida em sua cabine. Ao
desembarcar em algum porto, qualquer porto, nada se falava sobre o barco, nunca
se mencionava a rota ou o próximo destino. As armas de sinalização e os
foguetes de pedido de auxílio ficavam sempre à mão [...].
Noite sem
lua. Por duas vezes, o barco filipino muda de posição, dentro da baía. Buscavam um melhor pesqueiro ou, ao contrário,
preparavam o ataque? Vilfredo continua vigiando. Os binóculos de visão noturna
permitiam acompanhar os movimentos a bordo
do barco vizinho. Os homens bebem, a algazarra é grande. Sem mais nem menos, as luzes se apagam e o barco
mergulha na escuridão e no silêncio.
—
Vamos embora! — o sussurro de Vilfredo é uma ordem.
Rápida e
silenciosamente, cada um dos tripulantes passa a desempenhar suas tarefas. A âncora sobe sem o
menor ruído, na força dos braços, sem uso do motor, que poderia denunciar nossa
manobra. As velas levantadas enfunam-se com o vento. Vilfredo, no leme, conduz o Aysso para a saída da enseada. Tudo isso no escuro, nem a luz da bússola foi acesa. No interior do
barco, apenas o radar seguia ligado.
Jaime, encarregado de vigiar com
o binóculo, alerta Vilfredo:
— Capitan, ellos balaram los botes a l'água, con hombres...
No mesmo
instante, ouvem-se gritos. As luzes do barco voltam a se acender e fachos de luz vasculham a baía,
iluminando a ilha. O Aysso desliza ao
encontro das ondas, mar
aberto, a caminho da liberdade. Os sons vão se perdendo na distância. Tiros ecoam na noite. Em que
atiravam? Nunca saberemos...
O vento
aumenta e permanece firme. O Aysso segue
rápido, silencioso, mar adentro,
deixando para trás a enseada, a ponta da ilha, o susto.
Infelizmente,
a tensão e o medo continuariam a bordo por mais um longo tempo!
Heloísa
Schürmann. Família Schürmann: um
mundo de aventuras.
Rio de
Janeiro: Record, 2000. p. 12-17.
Com base no boxe O que vem a seguir e no texto do relato, responda
às questões.
a) O que você imaginou sobre o
título do relato se confirmou na leitura? Explique.
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b) De que viagem o relato trata?
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c) Quem relata essa viagem?
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d) Que meio de
transporte é utilizado?
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e)
Como é a região onde os fatos relatados
ocorreram?
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2. Nos dois parágrafos iniciais, a autora fala dos
sentimentos vividos pela tripulação.
a)
O que provoca a tensão e a
ansiedade mencionadas no primeiro parágrafo?
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b) Que sentimento a tripulação
experimentou antes dessa tensão? A que fato esse sentimento estava relacionado?
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c)
No segundo parágrafo, são utilizadas as expressões mar liso, velas gordas de vento e riscando bigodes de espuma. Que imagem elas constroem acerca desse momento vivenciado pela
tripulação?
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3. A princípio, o problema inicial
enfrentado parece ter sido solucionado.
a)
Que parágrafos indicam que a tripulação obteve
sucesso em sua busca?
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b) Que ações dos tripulantes revelam
um momento de tranquilidade?
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4. Essa tranquilidade é interrompida
a partir de determinada situação.
a) Que
situação é essa?
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b) Como essa informação é
apresentada ao leitor?
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c)
Uma das frases do texto explicita, de forma resumida, o que se teme no território navegado.
Transcreva-a.
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5. A autora
relata alguns acontecimentos que sugerem perigo.
a)
Que acontecimentos são esses?
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b) Além desses acontecimentos, há um
dado objetivo que indica o perigo de o veleiro viajar por aquela região. Que dado é esse?
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6. No relato,
como são caracterizados os atuais piratas?
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7. Cite três estratégias dos
Schürmann para prevenir ataques dos piratas.
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8. No fim do relato, os viajantes decidem sair da baía.
a)
Que pistas indicavam um possível ataque do barco
filipino?
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b) Copie no caderno as frases a
seguir, numerando-as de 1 a 3, de acordo com a sequência dos acontecimentos
1. A luz do
barco voltou a acender e os homens procuravam algo na baía.
II. Ouviram-se tiros.
III.Os tripulantes do navio filipino entraram em botes.
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ANOTE AÍ
Nos relatos de viagem, as informações
são descritas para possibilitar que o leitor imagine os locais e as
situações vivenciadas pelo viajante. As descrições de sentimentos e sensações vividos por quem escreve também auxilia a caracterizar a e situação e
a sensibilizar o leitor.
SELEÇÃO E ORGANIZAÇÃO DE
INFORMAÇÕES
9. Ao longo do relato, há diversas informações relacionadas ao tempo. Além
disso, também notamos a sequência em
que esses fatos relatados ocorreram.
a) Há quanto tempo a família
Schürmann navegava pelo mar das Filipinas? Que outra indicação de tempo revela
a experiência dessa família em navegar?
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b) Qual é a importância desse
tipo de informação ao longo do relato?
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10. Releia os trechos a seguir e observe as indicações de
tempo destacadas.
Ali, ali! — Braços agitados
apontam a entrada da enseada. Desnecessária qualquer
outra orientação, a larga experiência do capitão já tinha adivinhado a baía. Poucos minutos depois, o veleiro deslizava para o abrigo.
Jaime, encarregado de vigiar com
o binóculo, alerta Vilfredo:
— Capitan, ellos bajaram los botes a l'água, con
hombres,..
No mesmo instante, ouvem-se gritos. As luzes do barco voltam a se acender e fachos de luz vasculham a baía, iluminando a ilha.
a) Cada uma dessas indicações de
tempo está relacionada a que ação?
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b) Que efeito a ausência das
indicações de tempo produziria no texto?
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11. No relato, são apresentadas indicações e
características do lugar em que os acontecimentos
relatados ocorreram.
a) Copie as informações que trazem
essas indicações.
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b) Esses locais estão associados
a quais acontecimentos?
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ANOTE AÍ
Por seu caráter descritivo, o relato de
viagem é, geralmente, escrito no tempo presente.
Para organizar as informações e
dar maior precisão aos acontecimentos são utilizados marcadores
temporais, que comunicam quando e em que
sequência os fatos ocorreram.
A objetividade e a precisão das
indicações de espaço, bem como sua
caracterização, possibilitam ao leitor
associar as informações do texto aos locais
visitados.
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