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segunda-feira, 25 de março de 2024

MARIA VAI E VOLTA – CONTO - EDY LIMA

 MARIA VAI E VOLTA  ( EDY LIMA )

           Maria vivia muito isolada e resolveu ir à feira para encontrar pessoas. No caminho, viu uma vaca mugindo triste. Em linguagem de vaca, ela pedia:

          — Por favor, tire o meu leite. Estou precisando que alguém faça isso e todos os viajantes fingem que não escutam.

          Maria achou que aquilo era coisa de encantado.

          O melhor era atender a vaca.

          Pegou o balde que estava ali perto e tirou o leite.

          A vaca agradeceu em linguagem de mugido:

          — Venda esse leite e seja feliz!

          Maria não teve dúvida, em histórias de encanto é sempre assim: a gente faz um favor e ganha um reino em troca.

          Pegou o balde de leite e tomou o rumo da feira.

          Teve muita sorte, encontrou uma velha vendendo pintinhos recém-nascidos e trocou pelo leite. A velha disse:

          — Quando crescerem e se transformarem em frangos, traga que eu compro.

          Maria voltou para casa muito contente com algumas dúzias de pintinhos.

          Nem todos viraram frangos, alguns viraram frangas e puseram ovos.

          Chegou o momento de voltar à feira. Levou aquele galinhame para vender.

          Trouxe novos pintinhos e leitões e criou todos até chegarem a ponto de serem vendidos na feira.

          Lá foi ela outra vez e trocou por mais pintinhos, leitões, cabritos e ovelhas.

          Quando todos ficaram grandes e fortes, Maria voltou à feira com uma bicharada que lotava a estrada. la andando e pensando:

          Vou ficar muito rica, ganhar muito dinheiro, não vou mais precisar trabalhar. Já estou cansada de criar bichos para vender na feira. Eu gostaria de correr mundo.

          As galinhas cacarejavam, os galos cantavam, os porcos grunhiam, as ovelhas baliam, as cabritas berravam.

          Maria continuava com seus planos:

          Desta vez vou à feira da cidade e com o dinheiro que vou ganhar posso comprar alguma coisa moderna. Estou muito antiga.

Um bicho corria para um lado, outro bicho corria para outro lado, e Maria se cansava de persegui-los e colocá-los na estrada novamente.

Levou um dia inteiro para chegar à cidade, onde havia uma feira grande.

Ali todos eram estranhos, e Maria quase se arrependeu de ter ido.

Depois pensou:

Que é isso, menina, vá em frente! Você começou com um balde de leite e conseguiu toda esta bicharada. Hoje é seu dia de sorte. Daqui você vai correr mundo.

Encontrou um homem que perguntou:

        Esses bichos são seus?

        Estou querendo vender.

O homem era um negociante muito esperto e resolveu enganar Maria. Insistiu na pergunta:

        Você é dona de tudo isso?

        Sou sozinha e sou doninha de todos eles.

O homem esfregou as mãos de contentamento. Então aquela mocinha caipira não tinha ninguém por ela. Ninguém melhor para ser logrado do que uma menina sozinha. O negociante quis saber:

        O que você vai fazer com o dinheiro?

Maria não desconfiou da maldade do outro e informou:

        Vou correr mundo.

O homem concluiu: Ela é mais boba do que pensei, vou enganá-la rapidinho. Em voz alta, disse:

        Para correr mundo, é melhor não ir a pé.

        Por quê?

        O mundo é grande e você vai se cansar.

Maria pensou que só de vir de casa até ali tinha ficado cansada. O fim do mundo devia ser muito longe e para chegar até lá ia precisar de algum meio de transporte, por isso concordou:

        O senhor tem razão, acho que seria bom ter uma bicicleta. Bicicleta não era o negócio dele e o homem resolveu tirar aquela ideia da cabeça dela:

        Bicicleta fura pneu, você precisa fazer força pra pedalar.

        E o que posso fazer?

        Arranjo um cavalo para você.

Maria fez cara de desconfiança:

        Será que vou gostar?

O homem trouxe um pangaré velho e desdentado com uma sela surrada no lombo e disse:

        Veja que beleza de cavalo! Montada nele você chega ao fim do mundo com todo o conforto, feito uma princesa.

Maria não sabia nada de cavalos, achou o bicho bonito e perguntou:

        Quanto custa um bicho desses?

        Você me dá em troca esses bichinhos que trouxe para vender na feira.

        Todos?

        Um cavalo é um animal caro, ainda mais o meu, que tem sela tão bonita.

Maria pensou: Comecei com um balde de leite e comprei toda essa bicharada, posso trocá-la por um cavalo, que com certeza vai me trazer mais sorte ainda. Respondeu:

        Aceito, mas o senhor me ajuda a montar, porque não sei.

        Não tem dúvida, vamos lá.

O homem ajudou Maria a montar e ela saiu trotando em direção à estrada principal.

la feliz da vida olhando tudo do alto do cavalão e pensava: Sorte a minha que não preciso caminhar para correr mundo e posso ir aqui bem descansada.

Mais adiante vinha vindo, pela estrada, um grupo de um circo mambembe. O cavalo era velho e manso, mas se assustou com o barulho que fazia aquela gente e jogou Maria no chão.

Os palhaços correram para ajudá-la e ela ficou mais assustada ainda:

        Que querem comigo?

        Nada, menina. Você se machucou?

Ela passou a mão no traseiro doido e disse:

        Um pouco. Não sei montar a cavalo. Esse bicho é muito perigoso.

O dono do circo compreendeu que podia fazer um bom negócio e aconselhou:

        O cavalo é muito alto para você. O melhor seria montar um burrinho como o Dr. Sabe-Tudo.

Maria olhou o burrinho que o outro segurava pelas rédeas e perguntou:

        Por que ele tem esse nome?

        Ele sabe tudo, responde a qualquer coisa que você perguntar. Maria ficou entusiasmada:

        Posso fazer uma pergunta?

        Claro.

        Não sei o que perguntar.

        Pergunte quanto é um mais um.

Antes mesmo que Maria abrisse a boca, o burrinho bateu duas vezes com a pata no chão. A moça ficou muito admirada:

        Que burrinho sabido!

O dono do circo propôs:

        Troco pelo seu cavalo.

        Meu cavalo não sabe nada.

        Gostei da menina, faço esse negócio por amizade, pode levar o burrinho e eu fico com o cavalo.

        Muito obrigada, mas acho que o senhor está sendo logrado.

        Não se preocupe, monte no Dr. Sabe-Tudo e boa viagem.

Maria seguiu o caminho no burrinho e o pessoal do circo rapidamente tomou outro rumo, sumindo da sua frente.

Mais à frente a moça descobriu que o burro estava velhinho e não podia mais carregá-la. Ela desceu e o puxou pelas rédeas. Ia pensando: O importante é que ele é muito inteligente.

Depois de caminhar o resto do dia, chegou a um vilarejo. Estava louca de fome, mas não tinha dinheiro. Quis fazer uma demonstração de perguntas com o burrinho na praça em troca de algumas moedas, mas o Dr. Sabe-Tudo não atendia a nada. Nem mesmo um mais um agora sabia quanto era.

Maria foi vaiada pelas pessoas e se sentiu muito triste.

Estava ali chorando quando a dona da estalagem falou com ela:

— Venha comigo e pode jantar se lavar a louça.

Maria enxugou as lágrimas e seguiu para a estalagem. Nunca tinha pensado que houvesse tanto prato assim no mundo, mas conseguiu lavar todos. Jantou e dormiu ao lado do fogão. No outro dia de manhã, falou:

        Muito obrigada, já vou embora.

A dona da estalagem propôs:

        Quer trocar o burro por um cachorro?

Maria ficou indecisa, a outra insistiu:

        O burro é manco, não pode caminhar muito. O cachorro é uma boa companhia, serve de guarda, impede que você seja assaltada.

Maria continuava indecisa, a dona da estalagem lembrou que havia sobras do jantar da véspera e ofereceu:

        Dou a você pão e frango para a viagem.

Maria ia aceitar, mas a outra pensou que ela ia recusar e    acrescentou:

        Pode levar também um pedaço de queijo e um osso para o cachorro roer.

Maria disse:

        Aceito, muito obrigada.

Deixou o vilarejo com o cachorro e o farnel.

Tinha perdido a vontade de correr mundo e achava que as coisas nem sempre eram como a gente sonha. Parecia que desse jeito nunca ia virar princesa. Melhor voltar para casa.

No caminho, o cachorro latia para toda a gente que encontrava, e isso trazia problemas. Mais adiante Maria foi quem propôs a troca com uma velha que carregava um gato:

        Quer trocar pelo cachorro?

        Gato persegue ratos; cachorro o que faz?

        Persegue ladrões.

A velha resmungou:

        Não sei se vale a pena.

        Vale sim, há muitos assaltantes nesta estrada.

Foi assim que Maria conseguiu um gato e achou que já estava começando a saber negociar. Depois se arrependeu, o gato era preguiçoso e ela tinha de carregá-lo, senão ele ficava dormindo pelo caminho.

No outro dia, viu um homem que devia ser um pirata, porque trazia um papagaio no ombro.  

Falou com ele e disse:

— Quer trocar o papagaio pelo gato?

O homem achou que o gato podia ser um bom caçador de ratos e aceitou:

— Feito.

Foi assim que Maria, que tinha saído de casa com um rebanho de cabras e ovelhas, além de porcos e frangos,voltou com um papagaio no ombro. Verdade que o bicho sabia falar, e isso era bom.

la pensando que talvez não tivesse sido muito esperta, mas o jeito era começar de novo. De repente, viu a vaca com o úbere inchado de tanto leite. Logo encontrou um balde ali por perto. Chegou junto da vaca e disse:

— Aqui estou de novo, vou tirar o leite e vender na feira.

À vaca mugiu amiga e Maria achou que desta vez ia ter mais juízo.

 

 

 

 

Enquanto tirava o leite, ia fazendo planos:

— Levo este balde de leite à feira e troco por pintinhos. Eles crescem, viram frangas que botam ovos e frangos que vendo na feira. Compro leitõezinhos que crescem e troco por cabras e ovelhas. Levo todos à feira da cidade, mas desta vez não troco por cavalo que me derrube nem por burro que me carregue.

Agora eu sei das coisas, vou trocar a bicharada por uma bicicleta e vou correr mundo.

O balde estava cheio de leite e ela disse para a vaca: Obrigada, na próxima vez eu vou lhe contar se cheguei ao fim do mundo e se bicicleta é melhor do que cavalo.

Maria seguiu bem alegre para a feira.

Será que desta vez deu certo?

 

 

1. Quantas vezes Maria foi a feira?

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2. Quais foram as trocas que Maria fez?

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3. Quais pessoas enganaram Maria?

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4. Quem na história ajudou Maria?

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5. Que argumento o negociante usou para que Maria ficasse com o cavalo e não com a bicicleta?

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6. Escreva um argumento usado pelo dono do circo para que Maria ficasse com o burrinho.

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7. Qual argumento a dona da estalagem utilizou para que Maria ficasse com o cachorro.

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8. Qual era o sonho de Maria?

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9. “Será que desta vez deu certo?” Você acha que desta vez deu certo ou Maria foi enganada de novo? Justifique.

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domingo, 24 de março de 2024

A HISTÓRIA DE NALA – CONTO – ELIANA MARTINS

 A HISTÓRIA DE NALA – CONTO – ELIANA MARTINS

Nala havia nascido escrava. A mais nova de oito filhos, vivia na senzala de uma fazenda com seus pais e irmãos.

Esperta e risonha, passava os dias se divertindo no terreiro da fazenda,com brinquedos que ela mesma criava. Um galho de árvore era cobra, uma lata vazia era vaso de planta, uma folha de bananeira era saia comprida. Também gostava de inventar histórias.

As crianças da casa-grande, filhos dos donos da fa­zenda, adoravam brincar com Nala, divertindo-se com suas invenções.


Mas, para os escravos, a infância durava muito pou­co. Ao completar sete anos, Nala foi para a casa-grande tornar conta de Luisinho, de dois anos, filho caçula dos patrões.

De pronto, o pequeno se afeiçoou à escrava, e ela a ele. Era o dia todo os dois brincando e correndo pela enor­me casa da fazenda.

Nala era feliz. Comia a mesma refeição dos donos e podia brincar com os brinquedos do menino.

Chegava bem cedo à casa-grande, enquanto ele ainda dormia.

A hora em que Nala chegava era a mesma que a pro­fessora dos irmãos mais velhos de Luisinho vinha para as aulas do dia.

Ela entrava na casa cheia de pastas e livros. Acomoda­va-se à mesa da sala, espalhava os materiais e aguardava a chegada dos alunos.

Enquanto Luisinho ainda dormia, Nala observava a aula. Ouvia, encantada, as crianças lendo os livros.

Quando fosse maior, também ia aprender a ler com aquela professora, pensava ela.

O tempo foi passando, Luisinho e Nala crescendo. Ela já estava com nove anos. Achava que era hora de participar das aulas da professora.

         Uma noite, na senzala, conversou com os pais a esse respeito.

          __Escravo não aprende a ler, não, Nala — disse a mãe.

          __Mas eu como a mesma comida do Luís, brinco com os brinquedos dele, acho que também devia aprender a ler, que nem os irmãos dele.

         __Não fala mais nisso, menina! — alertou o pai. —Você é escrava. Não é igual a eles! Esquece isso!

        Mas Nala não esqueceu.

        Um dia, entrou no escritório do dono. Seus olhos de criança criativa brilharam ao ver enormes estantes cheias de livros. Mas a alegria durou pouco. Ao chamado da dona, ela voltou ao serviço, não sem tomar uma repreensão por ter entrado, sem licença, no escritório.

         Eu quero aprender a ler que nem seus filhos, sinhá — disse, na ânsia de uma resposta carinhosa.

         ­__Você é escrava, Nala. Não precisa ler nada. Conti­nue inventando suas histórias, que está ótimo.

         De menina alegre, Nala foi se tornando tristonha. Por que escravo não precisava ler nada? Antes de ser escrava, ela era uma pessoa, e pessoas tinham vontades. E a vontade dela era aprender a ler.

No aniversário de cinco anos de Luisinho, os padri­nhos dele chegaram à festa com um presente diferente: cubos de brinquedo. Mas o que tornava os cubos interes­santes é que em cada face de cada um deles havia uma letra.

O presente era para Luís, mas quem ficou encantada foi Nala.

         Dali em diante, quando a pequena escrava chegava na casa-grande, pegava os cubos com letras e brincava com o menino.

Certo dia, ao voltar para a senzala, viu um folheto jogado no lixo. Interessada, pegou-o.

          À noite, sob a luz das lamparinas de azeite de peixe, Nala observou o folheto. Notou que as letras que via ali eram as mesmas dos cubos de Luís. Decidiu que, na manhã seguinte, tentaria juntar os cubos e ver se conseguia formar uma palavra como aquelas do folheto.

          Então, rasgou uma folha dele com várias palavras e guardou-a no bolso do vestido.

          No dia seguinte, enquanto brincava com os cubos, pegou a folha, juntou algumas letras do brinquedo e escreveu a palavra "lata".

          Ao ver aquilo, os olhos da pequena escrava brilharam. Podia aprender a ler alguma coisa com aqueles cubos, afinal!

          E Nala aprendeu a escrever seu nome.

          — Que bom! Que bom! Olha, sinhá, escrevi meu nome com os cubos! — gritou ela, feliz.

          Mas a mãe de Luís, percebendo que a esperta escrava aprenderia a ler, ainda que pouco, com os cubos de brinquedo, proibiu aquela brincadeira.

          Nala ficou triste. Porém a semente da leitura já brotara dentro dela. Lembrou-se do folheto e começou a recortar letras, juntando com outras, como fazia com os cubos.

          Em poucos meses, aprendeu a formar frases e a ler as placas espalhadas pela fazenda. Uma felicidade, um mundo novo se abria para ela.

          Mas Nala não queria ser feliz sozinha. Então, durante as noites, quando só as lamparinas de azeite de peixe iluminavam a senzala, começou a ensinar os escravos a ler.

          Coragem era o que não faltava para Nala. Algo lhe dizia que, um dia, seria livre. E quando esse dia chegasse, estaria pronta para ler todos os livros do mundo

 

1. Qual é o espaço da narrativa?

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2. Qual o tempo da narrativa?

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3. Quais as características de Nala?

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4. Qual era o sonho de Nala?

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5. Por que a mãe de Luís proibiu Nala de brincar com os cubos de letras?

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6. Levante hipóteses sobre o motivo de a mãe de Luís não querer que Nala aprendesse a ler?

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7. A opinião dos pais de Nala era igual a dos patrões sobre a leitura? Justifique com uma frase dos patões e uma dos pais de Nala.

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8. O que Nala fez depois que aprendeu a ler?

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ANA BOLA - CONTO - ELIANA MARTINS

 ANA BOLA

Ana Paula tinha acabado de se mudar para a capital. Nascera e crescera em um sítio em uma pequena cidade do interior.

A escola onde estudava ficava na zona rural. Todos os alunos moravam em sítios ou fazendas. Sabiam apre­ciar o canto dos pássaros, o sabor do leite tirado na hora, as brincadeiras ao ar livre. Ali, todo mundo era amigo.

Por todos esses motivos, Ana Paula sofreu ao se mu­dar para a capital. Mas como era menina alegre e confiante, chegou com o firme propósito de encontrar novos amigos, se acostumar com a nova escola e continuar sendo feliz.

Assim foi. No primeiro dia de aula, Ana Paula entrou na classe distribuindo sorrisos. Quando a professora pe­diu que se apresentasse, ela contou que tinha vindo do in­terior e, quando disse seu nome, ouviu um sussurro vindo das carteiras do fundo da classe. Apesar do sussurro, deu bem para ela ouvir alguém dizendo: "O nome dela devia ser Ana Bola". — Depois disso, alguns alunos começaram a rir.

A professora pareceu não ter ouvido nada a não ser os risos. Pediu silêncio e deu o assunto por encerrado.

Mas o apelido pegou. Dali em diante, na escola, ela passou a ser Ana Bola.

Desde pequena, Ana Paula era gordinha. Os doces deliciosos, as carnes frescas, o leite gorduroso e cheio de espuma e todas as guloseimas do sítio onde morava eram saboreados por ela sem preocupação.

Todos os amigos se alimentavam daquele jeito, mas só ela engordava.

No entanto, nenhum deles, em nenhum momento, havia se preocupado ou feito alguma graça em relação ao peso dela. Conheciam-se desde bem pequenos. Um aceita­va o outro como era.

Por todos esses motivos, o apelido que os colegas da nova escola colocaram em Ana Paula tocara profunda­mente seu coração.

Os meses se passaram. Ana Paula era boa aluna, mas, por mais que tentasse, não conseguia ser aceita pelos colegas. A Ana Bola era a diferente da classe.

De menina alegre e confiante passou a ser arredia e desconfiada. Ia para a escola e, ao voltar para casa, tran­cava-se no quarto. De criança acostumada a brincar ao ar

livre e cheia de amigos, transformou-se em uma adoles­cente que tinha por companheiros só o computador e o celular.

Os pais começaram a se preocupar. Conversaram com ela, mas não conseguiram descobrir o que estava aconte­cendo de verdade. Ana Paula os convenceu de que a vida na cidade era diferente e ela estava tentando acompanhar.

E como tanto o pai quanto a mãe trabalhavam fora e viam a filha ir bem na escola e continuar se alimentan­do, não tocaram mais no assunto. Não sabiam, porém, que havia festinhas dos colegas de escola para as quais Ana Paula sempre era convidada, mas nunca comparecia.

As férias chegaram, e a família alugou uma pequena casa na praia.

Na primeira manhã, os pais já estavam prontos para curtir a praia quando Ana Paula apareceu, usando urna bermuda com uma camiseta larga por cima.

A mãe achou estranho.

   Filha, nós vamos à praia, esqueceu?

   Não.

   E você vai assim, de bermuda?

   Vou.

   Vai morrer de calor, querida.

   Dane-se!

       O pai não gostou da resposta e palpitou na conversa.

   Corno assim, dane-se? Logo que viemos para a ca­pital, seu grande sonho era conhecer o mar, curtir a praia.

   Pois é, papai, era meu grande sonho. Agora não é mais.

A mãe pareceu compreender o motivo daquela con­versa. Abraçou a filha. Disse que ela nunca se importara em ser gordinha, que era linda, que a amavam muito, que cada um tinha seu jeito de ser e mais um monte de coisas bonitas, mas que não convenceram a menina.

Seu inimigo número um era o espelho. Quando se via refletida nele, não encontrava mais a Ana Paula, e sim a Ana Bola.

Outro ano escolar se iniciou, e um novo aluno entrou na classe de Ana Paula.

João era o nome dele. Também tinha chegado do in­terior. Era um garoto tímido e arredio.

Quando pediram que ele se apresentasse, a mesma coisa aconteceu: alguém deu risada de seu sotaque "caipi­ra" e surgiu o apelido de João Pé de Feijão.

Como era tímido, João tornou-se uma espécie de alu­no fantasma — ninguém reparava nele. Ana Paula foi fi­cando cada dia mais incomodada com a situação do colega.

Naquela tarde, ao voltar para casa, almoçou e fe­chou-se no quarto, como de costume. Mas seu pensamen­to continuava em João. Queria achar um meio de ajudá-lo a se impor, a mostrar aos outros que um sotaque diferente não fazia dele alguém desprezível.

Recostada em sua cama, podia ver-se no espelho pendurado atrás da porta. Aquele espelho que se tornara seu inimigo.

Voltou a pensar em João. Ele era tão fofo! Aquele ca­belo encaracolado, com um cacho teimoso que, de vez em quando, caía nos olhos negros, grandes e tímidos. E aque­le sotaque arrastando o "erre" que ela tão bem conhecia da época em que vivera no sítio. Não era justo ele estar sempre sozinho. João precisava se valorizar, orgulhar­-se de ser quem era, do seu sotaque de gente do interior.

Quantos pés de feijão ele devia ter visto serem plantados! Era gente da terra, afinal!

"Quero e vou ajudar o João!", decidiu ela. Mas...

Repentinamente, uma dúvida surgiu: como podia ajudar o colega a se impor se ela mesma não se impunha? Como convencê-lo a ter orgulho de si próprio se ela mes­ma não tinha?

Recostada à cama, Ana Paula fechou os olhos e cho­rou. EIa era, definitivamente, urna garota infeliz, e pessoas infelizes não tinham capacidade de fazer os outros felizes. Precisava reagir. Era inteligente, tinha urna família que a amava, uma casa bacana. Por que jogava tudo isso para o ar só porque era gorda? Ser gorda não a fazia menor do que os outros, nem o sotaque do João fazia o mesmo com ele.

Abriu os olhos, enxugou as lágrimas e, decidida a mudar de vida para poder ajudar o amigo, levantou-se da cama.

"Vou ao colégio", resolveu. Sabia que João ia passar a tarde na biblioteca, adiantando um trabalho.

E ao se encaminhar para a porta do quarto, uma coi­sa inacreditável aconteceu: Ana Bola olhou para o espe­lho, mas não se viu mais. Quem estava refletida nele era, de novo, a Ana Paula: urna garota gordinha, linda, inteli­gente e charmosa.

Feliz da vida, cruzou a porta rumo à biblioteca da escola.

E, para encurtar a história, a decidida Ana Paula não só convenceu João a se orgulhar de ser como era, como se tornou a garota mais requisitada da classe, que não perdia uma festa sequer.

E os dois juntos foram descobrindo em cada colega uma coisa: um usava aparelho nos dentes, outro era estrábico,outra roía as unhas, outra tinha muitas espinhas, outra era magrela... Afinal, todos eram diferentes!

 

1. Qual o espaço da narrativa?

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2. Qual o tempo da narrativa?

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3. Quais os personagens da narrativa?

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4. Quais as características de Ana Paula quando morava no sítio?

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5. Porque Ana Paula Se tornou uma pessoa triste?

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6. No início da vida na capital Ana Paula muda como ela passa a ser?

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7. “A professora pareceu não ter ouvido nada a não ser os risos. Pediu silêncio e deu o assunto por encerrado.” Você concorda com a atitude da professora? Justifique.

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8. No final da história Ana Paula se transforma novamente? Explique?

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9. O que provocou o início da nova mudança de Ana Paula?

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10. Quem descobriu o problema pelo qual Ana Paula estava passando? Justifique com uma frase do texto.

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11. De acordo com Ana Paula, o que os outros alunos tinham de diferentes?

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12. Qual o assunto do texto?

a) A escola

b) A história de Ana Paula

c)  Bullying

d) A história de João.

 

13. De acordo com o texto podemos INFERIR que Ana Paula era gordinha porque:

a) Comia doces deliciosos, as carnes frescas, o leite gorduroso e cheio de espuma.

b) Comia e todas as guloseimas do sítio onde morava.

c) Comia mais que os amigos.

d) o metabolismo do seu corpo era diferente.

 

14. “Recostada à cama, Ana Paula fechou os olhos e cho­rou. EIa era, definitivamente, urna garota infeliz” O pronome ela se refere a;

a) Ana Paula

b) João

c) A mãe de Ana

d) A professora

 

15. Porque joão passou a sofrer Bulling na escola nova?

a)  devido ao seu nome

b)  devido a sua aparência

c) por causa do seu sotaque

d) por causa de sua cor

 

16. Correlacione as colunas de acordo com o significado das palavras:

(1) ARREDIO             (  ) QUE VIVE NO INTERIOR

(2) SOTAQUE            (  ) PROCURADA

(3) CAIPIRA               (  ) DOCES

(4) REQUISITADA      (  ) AFASTADO, ISOLADO

(5) GULOSIMAS         (  ) MODO DE FALAR

 

17. Acentue as palavras se necessário.

a) PASSAROS

b) PASSADOS

c) TIMIDOS

d) TEMIDOS

e) POREM

f) ALGUEM

 

18. Complete os espaços com uma das letras entre parenteses.

a) EN__UGOU (X, CH)

b) PROPÓ__ITO ( S, Z)

c) DESPRE__ÍVEL (S, Z)

d) GORDURO__O (Z,S)


QUESTÕES USADAS NO TESTE DO PRIMEIRO BIMESTRE 2024  7º ANO.

D1- 1. Nas alternativas abaixo há vária frases retiradas do texto. Marque a alternativa em que há um ERRO.

a) Assim foi. No primeiro dia de aula, Ana Paula entrou na classe distribuindo sorrisos.

b) A professora pareceu não ter ouvido nada a não ser os risos.

c) Todos os amigos se alimentavam daquele jeito, mas só ela engordava.

d) As férias chegaram, e a família alugou uma pequena casa no sítio.

 

D2- 2 “Recostada à cama, Ana Paula fechou os olhos e cho­rou. EIa era, definitivamente, uma garota infeliz” O pronome pessoal destacado se refere à (ao):

a) Ana Paula

b) João

c) mãe de Ana

d) professora

 

D3- 3. “De menina alegre e confiante passou a ser ARREDIA e desconfiada. Ia para a escola e, ao voltar para casa, tran­cava-se no quarto.” De acordo com o contexto a palavra destacada significa:

a) assistencial

b) antipática

c) antissocial

d) arrependida

 

D6- 4. Qual o assunto do texto?

a) A escola

b) A história de Ana Paula

c) Bullying

d) A história de João.

 

D10- 5. Marque a alternativa ERRADA sobre os elementos da narrativa presente no texto.

a) O espaço onde ocorre a narrativa é uma parte na zona rural e a outra na capital.

b) O tempo da narrativa é um período de aproximadamente dois anos.

c) São personagens da narrativa Ana Paula, a Professora e João.

d) São personagens da narrativa Eliana Martins, Ana Paula e João.

 

D14- 6. Marque a alternativa que NÃO apresenta uma opinião.

a) A mãe achou estranho.

b) Outro ano se iniciou.

c) Voltou a pensar em João. Ele era tão fofo!

d) João precisava se valorizar.

 

7. As palavras abaixo foram retiradas do texto. Acentue as palavras se necessário.

a) PASSAROS        f) TIMIDO

b) PROPOSITO      g) NINGUEM

c) SILENCIO          h) COLEGIO

d) POREM                i) INACREDITAVEL

e) NUMERO           j) HISTORIA

 

 

8. As palavras abaixo foram retiradas do texto. Complete os espaços com uma das letras entre parenteses.

a) leite GORDURO__O (S,Z)

b) todas as GULO__EIMAS (S,Z)

c) alguém DESPRE__ÍVEL (S,Z)

d) EN__UGOU as lágrimas (X,CH)

e) o outro era E__TRABICO (X,S)


 

9. De acordo com Ana Paula, o que os outros alunos tinham de diferentes?

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10. “A professora pareceu não ter ouvido nada a não ser os risos. Pediu silêncio e deu o assunto por encerrado.” Você concorda com a atitude da professora? Justifique.

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