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sábado, 29 de março de 2025

O ENVIADO DE DEUS – FERNANDO SABINO - CRONICA

 

O ENVIADO DE DEUS – FERNANDO SABINO

 

         FAZIA um dia lindo. O ar ao longo da praia era desses de lavar a alma. O meu fusca deslizava dócil no asfalto, eu ia para a cidade feliz da vida. Tomara o meu banho, fizera a barba e, metido além do mais num terno novo, saíra para enfrentar com otimismo a única perspectiva sombria naquela manhã de cristal: a da hora marcada no dentista.

           Mas eis que o sinal se fecha na Avenida Princesa Isabel e um rapazinho humilde se aproxima de meu carro.

          — Moço, me dá uma carona até a cidade?

          O que mais me impressionou foi a espontaneidade com que respondi:

          — Eu não vou até a cidade, meu filho.

           Havia no meu tom algo de paternal e compassivo, mas que suficiência na minha voz! Que segurança no meu destino! Mal tive tempo de olhar o rapazinho e o sinal se abria, o carro arrancava em meio aos outros, a caminho da cidade.

          Logo uma voz que não era a minha saltou dentro de mim:

          — Por que você mentiu?

          Tentei vagamente justificar-me, alegando ser imprudente, tantos casos de assalto…

          — Assalto? A esta hora? Neste lugar? Com aquele jeito humilde? Ora, não seja ridículo.

Protestei contra a voz, mandando que se calasse: eu não admitia impertinência. E nem bem entrara no túnel, já concluía que fizera muito bem, por que diabo ele não podia tomar um ônibus? Que fosse pedir a outro, certamente seria atendido.

          Mas a voz insistia: eu bem vira pelo espelho retrovisor que alguém mais, atrás de mim, também havia recusado, despachando-o com um gesto displicente. Nem ao menos dera uma desculpa qualquer, como eu. Não contaria com ninguém, o pobre diabo. Como os mais afortunados podem ser assim insensíveis! Era óbvio que ele não dispunha de dinheiro para o ônibus e ficaria ali o dia todo.

         E eu no meu carro, de corpo e alma lavada, todo feliz no meu terninho novo. Comecei a aborrecer o terno, já me parecia mesmo ligeiramente apertado. Dentro do túnel a voz agora ganhara o eco da própria voz de Deus:

         — Não custava nada levá-lo.

         Não, Deus não podia ser tão chato: que importância tinha conceder ou negar uma simples carona?

         Ah, sim? Pois então eu ficasse sabendo que aquele era simplesmente o teste, o Grande Teste da minha existência de homem. Se eu pensava que Deus iria me esperar numa esquina da vida para me oferecer solenemente numa bandeja a minha oportunidade de Salvação, eu estava muitíssimo enganado: ali é que Ele decidia o meu destino. Pusera aquele sujeitinho no meu caminho para me submeter à prova definitiva. Era um enviado Seu, e a humildade do pedido fora só para disfarçar — Deus é muito disfarçado.

         Agora o terno novo me apertava, a gravata me estrangulava, e eu seguia diretamente para as profundas do inferno, deixando lá atrás o último Mensageiro, como um anjo abandonado. Ao meu lado, no carro, só havia lugar para o demônio.

        — Não tem dúvida: aquele cara me estragou o dia — resmunguei, aborrecido, acelerando mais o carro a caminho da cidade.

          Quando dei por mim, já em Botafogo, entrava no primeiro retorno à esquerda, sem saber por quê, de volta em direção ao túnel.

Imediatamente me revoltei contra aquela tolice, que apenas me faria perder o dentista — o que, aliás, não seria mau. Mas era tarde, e o fluxo do tráfego agora me obrigaria a refazer todo o percurso.

         Como explicar-lhe, sem perda de dignidade, que havia mentido e voltara para buscá-lo? Certamente ele nem estaria mais lá.

          Estava. Foi só fazer a volta na praia, e pude vê-lo no mesmo lugar, ainda postulando condução. Detive o carro a seu lado. Justificando meu regresso, gaguejei uma desculpa qualquer, que ele mal escutou. Aceitou logo a carona que eu lhe oferecia: sentou-se a meu lado como se fosse a coisa mais natural do mundo eu ter voltado para buscá-lo.

          Era mesmo alguém que pedia condução simplesmente porque não tinha dinheiro para o ônibus. Desempregado, ia para a cidade por não saber mais para onde ir — o que já é outra história.

Só não me pareceu que fosse um enviado de Deus: não perdi o dentista e, ainda por cima, Deus houve por bem distinguir-me com um nervo exposto.

Fonte:SABINO, Fernando. Deixa o Alfredo Falar! Rio de Janeiro: Record, 1985.

 

 

1. Qual o significado das expressões “lavar a alma”  e “manhã de cristal”?

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 Logo uma voz que não era a minha saltou dentro de mim:

          — Por que você mentiu?”

2. A quem pertence a voz que recrimina o cronista?

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3. Que passagem no primeiro parágrafo informa  ao leitor que o cronista não gosta de ir ao dentista?

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4. O texto é narrado em primeira pessoa ( o narrador é um personagem também) ou em terceira pessoa o ( o narrador só conta a história)? Justifique.

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Se eu pensava que Deus iria me esperar numa esquina da vida para me oferecer solenemente numa bandeja a minha oportunidade de Salvação, eu estava muitíssimo enganado: ali é que Ele decidia o meu destino. Pusera aquele sujeitinho no meu caminho para me submeter à prova definitiva. Era um enviado Seu

 

5. Porque os termos  Ele e Seu foram escritos com letra maiúscula?

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6. O que significa a expressão “oferecer de bandeja”?

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7. Ao afirmar que “Deus é muito disfarçado” a intenção do cronista é dizer que:

a) Deus não quer se revelar aos homens

b) Deus se disfarçou para testar o cronista

c) a voz que ouve é a voz disfarçada de Deus

d) talvez Deus tivesse assumido a forma do rapaz que pediu carona

e) não são conhecidos todos os meios que deus usa para se revelar aos homens

 

8. Nessa crônica o autor;

a) expressa uma opinião

b) constrói uma narrativa

c) reflete sobre a salvação de sua alma

d) justifica a ação de não ajudar as pessoas

e) destaca aspectos poéticos do Rio de Janeiro

 

9. O tema dessa crônica é;

a) religioso

b) fantástico

c) cotidiano

d) incomum

e) engraçado

 

 

 

 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

CRÔNICA - APRENDA A CHAMAR A POLÍCIA

 

Aprenda a chamar a polícia (Luís Fernando Veríssimo)

 

        Eu tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa. Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro. Como minha casa era muito segura, com grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali, espiando tranquilamente.

        Liguei baixinho para a polícia, informei a situação e o meu endereço.

        Perguntaram-me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa.

        Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível.

        Um minuto depois, liguei de novo e disse com a voz calma:

        — Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro de escopeta calibre 12, que tenho guardada em casa para estas situações. O tiro fez um estrago danado no cara!

        Passados menos de três minutos, estavam na minha rua cinco carros da polícia, um helicóptero, uma unidade do resgate, uma equipe de TV e a turma dos direitos humanos, que não perderiam isso por nada neste mundo.

        Eles prenderam o ladrão em flagrante, que ficava olhando tudo com cara de assombrado. Talvez ele estivesse pensando que aquela era a casa do Comandante da Polícia.

        No meio do tumulto, um tenente se aproximou de mim e disse:

        — Pensei que tivesse dito que tinha matado o ladrão.

        Eu respondi:

        — Pensei que tivesse dito que não havia ninguém disponível.

 

    Luís Fernando Veríssimo.

 

Entendendo a crônica:

 

01 – Que fato provocou o desenrolar dos acontecimentos descritos no texto?

      O fato foi a invasão à casa do narrador, onde um criminoso tentaria um roubo.

 

02 – Qual o cenário em que aconteceu a história?

      Na casa do narrador.

 

03 – Que tipo de narrador há?

      Narrador-personagem.

 

04 – Quais personagens fazem parte dessa narrativa?

      O narrador é o personagem principal, sendo secundário, o ladrão e o atendente da polícia.

 

05 – Qual o desfecho da crônica?

      Quando o narrador diz ter baleado o ladrão, e então surgem muitas viaturas e a imprensa. Então o invasor é preso.

 

06 – No texto, ao dizer que o ladrão agiu “sorrateiramente”, o autor quis dizer que ele agiu:

a)   Com extrema violência.

b)   Com ignorância.

c)   De maneira desastrosa.

d)   De maneira sutil e às ocultas.

e)   De maneira brusca e rápida.

 

07 – De acordo com o texto, a pessoa que teve a casa invadida:

a)   Assim que percebeu que havia alguém no quintal se desesperou e começou a gritar.

b)   Não se preocupou muito inicialmente, mas tomou uma atitude em relação à situação.

c)   Entrou em pânico e tratou de partir para cima do invasor.

d)   Percebeu, logo que viu o bandido, que ele era perigoso e por isso foi logo atirando.

e)   Ficou extremamente preocupado, visto que sua residência não oferecia segurança suficiente.

 

08 – Em “Comandante da Polícia”, as letras maiúsculas foram utilizadas por tratar-se de:

a)   Entidade folclórica.

b)   Nome próprio.

c)   Uma citação referente ao governo.

d)   Uma autoridade de alto cargo e respectiva corporação.

e)   Designação de uma região.

 

09 – Pelo desfecho do texto, podemos concluir que:

a)   A Polícia foi até o local prontamente por tratar-se de um roubo.

b)   A Polícia não seria tão rápida se não pensasse que o ladrão tinha sido morto.

c)   A Polícia atendeu a primeira ligação, deslocando para o local imediatamente, por ser rápida e eficiente.

d)   A Polícia atende mais rápido a roubos do que a homicídios.

e)   A Polícia sempre atende a qualquer tipo de ocorrência assim que solicitada.

 

10 – Todos os verbos destacados abaixo indicam ação, EXCETO:

a)   “... alguém andando sorrateiramente no quintal de casa”.

b)   “Eu já matei o ladrão”.

c)   “Um minuto depois, liguei de novo...”.

d)   “Eles prenderam o ladrão...”.

e)   “... minha casa era muito segura...”.

 

 

 

 

 

CRÔNICA - ADOLESCENCÊNCIA -

 

ENSINO MÉDIO

Crônica: Adolescência (Luís Fernando Veríssimo)

        Já o Jander tinha quatorze anos, a cara cheia de espinhas e como se não bastasse isso, inventou de estudar violino.

        — Violino?! — horrorizou-se a família.

        — É.

        — Mas Jander...

        — Olha que eu tenho um ataque.

        Sempre que era contrariado, o Jander se atirava no chão e começava a espernear.

        Compraram um violino para ele.

        O Jander dedicou-se ao violino obsessivamente. Ensaiava dia e noite. Trancava-se no quarto para ensaiar. Mas o som do violino atravessava portas e paredes. O som do violino se espalhava pela vizinhança.

        Um dia a porta do quarto do Jander se abriu e entrou uma moça com um copo de leite.

        — Quié? — disse o Jander, antipático como sempre.

        — Sua mãe disse que é para você tomar este leite. Você quase não jantou.

        — Quem é você?

        — A nova empregada.

        Seu nome era Vandirene. Na quadra de ensaios da escola era conhecida como "Vandeca Furacão".

        Ela botou o copo de leite sobre a mesa-de-cabeceira, mas não saiu do quarto. Disse:

        — Bonito, seu violino.

        E depois:

        — Me mostra como se segura?

        Depois a vizinhança suspirou aliviada. Não se ouviu mais o som do violino aquela noite.

        O pai de Jander reuniu-se com os vizinhos.

        — Parece que deu certo.

        — É.

        — Não vão esquecer o nosso trato.

        — Pode deixar.

        No fim do mês todos se cotizariam para pagar o salário da Vandirene. A mãe do Jander não ficou muito contente. Pobre do menino. Tão moço. Mas era a Vandirene ou o violino.

        — E outra coisa — argumentou o pai do Jander. — Vai curar as espinhas.

 

1 – Que tipo de instrumento ele resolveu estudar e por que causou problemas em sua casa?

      Resolveu estudar violino e o Jander ensurdecia a casa e a vizinhança com os agudos desafinados do instrumento.

02 – Qual é o fato a partir do qual o autor desenvolve a sua crônica?

      A compra do violino para Jander.

03 – A crônica trata PRINCIPALMENTE:

a)   Das dificuldades de se aprender violino.

b)   Das dificuldades de se conseguir boas empregadas.

c)   Das dificuldades de se lidar com um adolescente.

d)   Da possibilidade de os vizinhos ajudarem a pagar uma empregada doméstica para um amigo.

04 – No texto, pode-se perceber:

a)   Uso de chantagem emocional por parte de Jander, em relação à família.

b)   Inexistência de referência sexual.

c)   A temática do amor puro e casto sendo trabalhada.

d)   O fato de tratarem Jander como uma pessoa especial porque sabia tocar violino.

 

05 – Que apelido tinha a nova empregada na quadra de ensaios da escola de samba?

      Vandeca Furacão.

06 – Quem são os personagens do fato narrado?

      Jander, o pai, a mãe, a vizinhança e a Vandirene.

07 – Que assunto é abordado nessa crônica?

      Os conflitos dos jovens com os pais na adolescência.

08 – Existe relação entre a situação vivida pelos personagens da crônica e a de nosso dia-a-dia? Justifique.

      Sim, pois conviver com filhos na fase adolescência é necessário ter diálogo como base para se relacionar bem.

09 – Essa crônica pode ser considerada como uma crônica humorística? Por quê?

      Sim, porque uma das marcas é ter um enfoque humorístico acerca das cenas e acontecimentos cotidianos, e isto ocorreu nesta crônica.

 

CRONICA - A TURMA

 

CRÔNICA: A TURMA - DOMINGOS PELEGRINI

 

          Eu também já tive turma, ou melhor, fiz parte de turma e sei como é importante em certa idade essa entidade, a turma.

           A gente é um ser racional, menos quando em turma. Existe, por exemplo, alguma razão para um grupo de pessoas sentar todo dia numa escadaria ou meio-fio e passar horas conversando? Você pode falar a um filho, por exemplo, que refrigerantes engordam e chocolates dão mais espinhas em quem já está na idade das espinhas. Ele nem ouvirá. Mas, se um dia a turma resolver, ele passará a tomar só água com limão e pegará nojo de chocolate. Você pode falar que cabelo tão comprido é incômodo, calorento, atrapalha, mas que nada, ele te pedirá dinheiro para comprar mais xampu. Agora, se a turma resolver cortar careca, ele aparecerá de repente careca no café da manhã e nem quererá falar no assunto – qual o problema em cortar careca? Você pode dizer que bossa nova é bom, e mostrar jornais e revistas, provar que só “Garota de Ipanema” já recebeu centenas de gravações em todo o mundo, mas ele aumentará o volume do rock pauleira ou da tecno-bost. Até o dia em que alguém da turma aparece com um CD de bossa nova e ele troca Axel Rose por Tom Jobim de um dia para o outro.

            A turma tem modas, como quando resolvem todos arregaçar as barras das calças, que usavam arrastando pelo chão.

           A turma tem traumas, como quando o namoradinho de uma se apaixona pela namoradinha de outro e ...

           A turma tem linguagem própria, uma variante local de um ramal regional da vertente adolescente da língua. A turma adora sentar na calçada e na praça e falar sobre o que viram em casa na televisão. A turma tem duplas de amigos e amigas mais chegados, e trios, e quartetos, que num grande minueto anarquista se misturam nas festas de aniversário.

           Ninguém da turma dança até que alguém da turma começa a dançar, aí dançam todos trocando de par até acabarem dançando todos juntos como turma que são.

          Um da turma se tatua, todos da turma querem se tatuar.

           Um bota uma argola no nariz, os outros, para variar, botam no lábio, na sobrancelha e na orelha e...

           A turma é isso aí, cara, uma reunião diária de espinhas e inquietações, habilidades e temperamentos, o baralho das personalidades se misturando, o jogo das informações e dos sentimentos rolando nas conversas sem fim, nas andanças sem cansaço, nas músicas compartilhadas, no refri com três canudos e uma empadinha pra quatro.

           Na turma pouco dá pra todos, todo mundo divide, cada um contribui, a turma se une partilhando e repartindo.

          A turma ri como só na turma se ri. A turma julga quando erramos. A turma castiga com silêncios e ironias.

        A turma te chama, te reprime, te liberta, te revela, te rebela, te maltrata, te orgulha, te ama e te envolve, te afasta e te atrai, mas a turma é assim porque a turma é a turma.

        Até o dia em que – disse a todos meus filhos – cansamos de ter turma e passamos a ser gente. E todos me disseram que sou um chato, mas o primogênito hoje já concorda: o tempo da turma passa.

          Mas, aqui entre nós, como dá saudade!



 PELEGRINI, Domingos. Ladrão que rouba ladrão e outras crônicas. São Paulo: Ática, 2004.

 

 Glossário

 “Garota de Ipanema”: canção de Tom Jobim e Vinícius de Morais, uma das expressões máximas do movimento musical chamado Bossa Nova.

 Meio-fio: arremate das calçadas; guia.



 

 1. O texto tem como tema a turma. Que aspecto relacionado ao tema é abordado nele de modo especial?

 A) A influência da família e da sociedade sobre o comportamento do adolescente.

 B) A influência do grupo de adolescentes sobre cada um de seus integrantes.

 C) A influência dos pais dos adolescentes sobre a turma.

 D) O sentimento de revolta do adolescente em relação às pressões do grupo social.



2. No trecho “Na turma pouco dá pra todos, todo mundo divide, cada um contribui”, que valores são destacados no comportamento da turma?

 A) a inveja, a ganância.

 B) as partilha, a indiferença.

 C) a solidariedade, a partilha.

 D) a felicidade, a alegria.

 

 

3. No 2º parágrafo, o narrador afirma que, quando em turma, o adolescente perde a racionalidade. Para comprovar seu ponto de vista, ele apresenta argumentos embasados no comportamento dos adolescentes. Qual argumento NÃO foi utilizado pelo autor?

 A) Ficar horas conversando sentados num meio fio.

 B) Trocar o hábito de comer chocolate por tomar só água com limão.

 C) Trocar o uso de cabelo comprido pelo corte careca.

 D) Não assistir a programas de televisão.



 4. A experiência do narrador com sua turma foi agradável. Retire do texto dois fragmentos que mostram esse sentimento

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5. “A turma tem linguagem própria, ” Retire do parágrafo 9 dois exemplos de palavras que retratam a linguagem jovem INFORMAL utilizada pelo narrador.

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6. Ao comentar certos hábitos, como dançar usar tatuagens ou piercings, o narrador aborda a relação do indivíduo com o grupo a que ele pertence. De acordo com esses exemplos:
a) O adolescente que faz parte da turma tem uma opinião ou um gosto próprio? Por quê?
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7. O narrador é uma pessoa já adulta ou jovem? Justifique.

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8. O texto A TURMA  foi publicado em 2004. E narra alguns comportamentos de turma do narrador. Atualmente quais seriam os comportamentos de turma que você conhece?

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terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

CRÔNICA - APELO - MACHISMO

 

APELO

          Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.

          Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.

          Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.

Dalton Trevisan.

 

 

 

1. Qual o tema central do conto que você leu

a) Um homem que narra e descreve sua rotina após ser abandonado.

b) Um homem que narra e descreve sua sede de amar.

c) Um homem que narra e descreve a briga pelo sal no tomate.

d) Um homem que narra e descreve a primeira vez que o leite coalhou.

 

2. A narrativa do conto acontece em

a) 3ª pessoa narrador onisciente.

b) 2ª pessoa.

c) 1ª pessoa.

d) 3ª pessoa narrador observador.

 

 

 

3. O trecho abaixo que confirma que a narração do conto acima está em 1ª pessoa, narrador-personagem é

a) “(...) o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho (...)”

b) “(...) Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou(...)”

c) “(...) Uma hora da noite, eles se iam e eu ficava só. (...)”

d) “(...)Amanhã faz um mês(...)”

 

 

4.  Em “Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina.”, o narrador:

a) faz uma crítica à Senhora.

b) faz uma queixa à Senhora.

c) faz uma confissão à Senhora.

d) faz uma denúncia à senhora.

 

5.  No segmento “A notícia de sua perda veio aos poucos […]”, a expressão grifada poderia ser substituída por:

a) paulatinamente.

b) incessantemente.

c) esporadicamente.

d) rapidamente.

 

6. No fragmento “Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou.”, o termo “Senhora” desempenha a função de:

a) sujeito.

b) aposto.

c) vocativo.

d) objeto direto.

 

7. “[…] ninguém os guardou debaixo da escada.” (2º par.), o pronome destacado foi empregado para retomar:

a) jornais

b) escada

c) dias

d) amigos

 

 

 

 

8.  No período “Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham.”, a conjunção “e” tem valor:

a) aditivo.

b) alternativo.

c) adversativo.

d) conclusivo

 

 

 

9. Na parte “Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando.”, os dois-pontos introduzem um fragmento que:

a) explica o fato anterior.

b) contradiz o fato anterior.

c) complementa o fato anterior.

 

 

 

Questão 9 – O narrador encerra o texto com:

 

(     ) um apelo à senhora.

 

(     ) uma ordem à Senhora.

 

(     ) um conselho à Senhora.

 

 

Entendendo a crônica:

01 – A pessoa que escreve a carta chama-se remetente e a pessoa a quem se destina a carta chama-se destinatário.

No texto “Apelo”:

a)   Quem é o remetente?

É o narrador-personagem.

 

b)   Quem é o destinatário?

A Senhora.

 

02 – Qual é o tema dessa crônica?

      Apelo de Dalton Trevisan. A crônica tematiza a solidão de um homem em razão da separação da mulher. O leitor toma conhecimento do rompimento pelo relato o narrador-personagem.

 

 

03 – De que gênero o autor se apropria para construir o texto?

      O autor se apropria do gênero carta. O narrador-personagem se dirige à "Senhora" somo se estivesse lhe escrevendo uma carta, por meio da qual dá notícias a respeito de como ficou sua vida sem ela.

 

04 – Na frase “a pilha de jornais ali no chão ninguém os guardou debaixo da escada”, o pronome oblíquo os, se refere ao que?

      Refere-se a pilha de jornais.

 

05 – Identifique o narrador e o seu interlocutor.

      O narrador é alguém que se dirige à "Senhora", a mulher com quem ele vivia.

 

06 – Que sentimentos do narrador podem ser percebidos em relação à interlocutora?

      Inicialmente, ele tem um sentimento de liberdade. À medida que o tempo passa e a casa fica desorganizada ele sente falta da mulher, que desempenhava o papel de mãe e dona de casa, pois o narrador sente mais falta da mulher-objeto do que da amante ou companheira.

 

07 – Que imagem de mulher o narrador constrói por meio do relato?

 

      A imagem de uma mãe e dona de casa, pois relata as privações sofridas por ele e pelo restante da família com a ausência dela.

 

08 – Toda carta possui um determinado objetivo. Qual o objetivo desta carta?

      Reclamar da falta que a mulher está fazendo e pedindo para que ela volte.

 

09 – Como você interpreta as duas últimas frases do texto?

    "Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor".

      Pode-se inferir que há na residência outras pessoas (além de um canário e de violetas) que estão desamparados, com a ausência da mulher. É importante ressaltar que essas frases, marcam uma ruptura em relação aos sentimentos expressos anteriormente, pois o narrador declaradamente expressa sentir falta das qualidades afetiva da Senhora, e não só da dona de casa.

 

10 – Explique o uso da inicial maiúscula em "Senhora".

      Trata-se, possivelmente, de uma deferência respeitosa à mulher. Por outro lado pode revelar, subjetivamente, uma atitude machista (arcaica), no sentido de que ela é colocada como uma "Senhora ou Rainha do Lar".

CRÔNICA - A ESTRANHA PASSAGEIRA

 

A estranha passageira
Stanislaw Ponte Preta

 

 

- O senhor sabe? É a primeira vez que eu viajo de avião. Estou com zero hora de voo - e riu nervosinha, coitada.

 

Depois pediu que eu me sentasse ao seu lado, pois me achava muito calmo e isto iria fazer-lhe bem. Lá se ia a oportunidade de ler o romance policial que eu comprara no aeroporto, para me distrair na viagem. Suspirei e fiz de educado respondendo que estava às suas ordens. 

 

Madama entrou no avião sobraçando um monte de embrulhos, que segurava desajeitadamente. Gorda como era, custou a se encaixar na poltrona e arrumar todos aqueles pacotes. Depois não sabia como amarrar o cinto e eu tive de realizar essa operação em sua farta cintura.

 

Afinal estava ali pronta para viajar. Os outros passageiros estavam já se divertindo às minhas custas, a zombar do meu embaraço antes as perguntas que aquela senhora me fazia aos berros, como se estivesse em sua casa, entre pessoas íntimas. A coisa foi ficando ridícula:

 

- Para que esse saquinho aí? – foi a pergunta que fez, num tom de voz que parecia que ela estava no Rio e eu em São Paulo.

 

- É para a senhora usar em caso de necessidade – respondi baixinho.

 

Tenho certeza de que ninguém ouviu minha resposta, mas todos adivinharam qual foi, porque ela arregalou os olhos e exclamou: 

 

- Uai ...as necessidades neste saquinho? No avião não tem banheiro? Alguns passageiros riram, outros – por fineza – fingiram ignorar o lamentável equívoco da incômoda passageira de primeira viagem. Mas ela era um azougue ( embora com tantas carnes parecesse mais um açougue) e não parava de badalar. Olhava para trás, olhava para cima, mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás e esparramando embrulhos por todos os lados 

 

O comandante já esquentara os motores e a aeronave estava parada, esperando ordens para ganhar a pista de decolagem. Percebi que minha vizinha de banco apertava os olhos e lia qualquer coisa. Logo veio a pergunta: 

 

- Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra ela?

 

Expliquei que emergência não era ninguém, a porta é que era de emergência, isto é, em caso de necessidade, saía-se por ela.

 

Madama sossegou e os outros passageiros já estavam conformados com o término do “show”. Mesmo os que mais se divertiam com ele resolveram abrir jornais, revistas ou se acomodarem para tirar uma pestana durante a viagem.

 

Foi quando madama deu o último vexame. Olhou pela janela (ela pedira para ficar do lado da janelinha para ver a paisagem) e gritou:

 

- Puxa vida !!!

 

Todos olharam para ela, inclusive eu. Madama apontou para a janela e disse:

 

- Olha lá embaixo. 

 

Eu olhei. E ela acrescentou: - Como nós estamos voando alto, moço.

 

Olha só ... o pessoal lá embaixo parece formiga.

 

Suspirei e lasquei:

 

- Minha senhora, aquilo são formigas mesmo. O avião ainda não levantou voo.

 

VOCABULÁRIO

1) Substitua os termos sublinhados por sinônimos, reescrevendo as frases e fazendo as alterações necessárias.

a) “Lá se ia a oportunidade de ler o romance policial.”

b) “Para me distrair na viagem.”

c) “Suspirei e fiz o bacana.”

d) “Tive que realizar essa operação em sua farta cintura.”

e)” .. a zombar do meu embaraço ...”

f) “Aquela senhora me fazia perguntas aos berros.”

g) “Fingiram ignorar o lamentável equívoco da incômoda passageira.”

h) “Caindo para trás e esparramando embrulhos para todos os lados.”

i) “...para tirarem uma pestana durante a viagem.”

j) “Madama sossegou e os outros passageiros já estavam conformados com o término do show.”

 

INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

 

1. “ É a primeira vez que viajo de avião.” Esta afirmação iria se comprovar durante toda a crônica, tais os “vexames” dados pela senhora. Assinale a frase que não demonstre um deles:

a) “Para que esse saquinho aí?”

b) “No avião não tem banheiro?”

c) “Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra ela?”

d) “Gorda como era, custou a se encaixar na poltrona...”

e) “...mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás...”

 

2. Por que a senhora pediu que o moço se sentasse ao seu lado?

 

3. “Para que esse saquinho aí?” – Ao fazer essa pergunta, a passageira:

( ) fez em tom brando para que os outros passageiros não a ouvissem.

( ) fez em tom bem alto para chamar a atenção dos outros passageiros.

( ) fez em tom alto porque ela realmente não sabia sua utilidade.

( ) fez em tom alto para irritar o companheiro que estava ao seu lado

 

4. “ Suspirei e fiz de educado respondendo que estava às suas ordens”. Os suspiros demonstram nesta passagem:

a) conformação;

b) contrariedade;

c) arrependimento;

d) aborrecimento;

e) raiva.

 

5. No título da crônica, a passageira é chamada de “estranha”. Outras qualificações podem ser dadas a ela depois que lemos integralmente a crônica. Assinale a que não lhe corresponde:

a) inexperiente;

b) envergonhado;

c) incômoda;

d) embaraçante;

e) ridícula.

 

6. “Madama entrou no avião sobraçando um monte de embrulhos... “. Com o verbo “sobraçar” o autor- narrador quer dizer que a madama:

a) levava mais embrulhos do que era possível;

b) levava embrulhos de baixo do braço;

c) carregava um monte de embrulhos que eram abraçados por ela;

d) trazia um monte de embrulhos que eram abraçados por ela;

e) trazia a quantidade de embrulhos que era possível levar nas mãos.

 

7. “...minha vizinha apertava os olhos e lia qualquer coisa. ”. Com a expressão “apertar os olhos” o narrador quer dizer-nos que a senhora:

a) não enxergava direito;

b) não sabia ler;

c) estava com sono;

d) que a porta de emergência estava longe de onde estavam sentados;

e) que sentia dores nos olhos.

 

8. Podemos afirmar que a passageira do avião era:

Marque a opção verdadeira.

 

1- uma elegante senhora 

2- uma senhora gorda e desajeitada.

3- uma dama acostumada a viajar de avião.

4- uma senhora muita acanhada.

5- uma mulher simples, mas curiosa 

6- uma mulher introvertida

 

( ) somente o item 1 e o item 4 são falsos.

( ) o item 2 e 5 são verdadeiros

( ) o item 2 e 6 são verdadeiros

( ) somente o item 5 é o verdadeiro

( ) o itens 2 ,3, e 4 são falsos

( ) nenhumas das opções estão corretas.

 

9. De acordo com o texto podemos afirmar que:

( ) todos os passageiros riram da passageira quando esta perguntou sobre a serventia do saquinho.

( ) a passageira falava tão baixo que nem seu amigo da poltrona a escutava direito.

( ) a passageira era muito ingênua, pois não colocava maldades nas perguntas que ela fazia.

( ) a passageira não sabia mesmo a serventia dos saquinhos e nem o que era emergência.

( )a passageira estava se fazendo de ingênua para sacanear os demais passageiros.

( ) o companheiro de banco da passageira era uma senhora muito elegante.

 

10. Por que o título do texto é “A estranha passageira”?

 

11. O narrador do texto é um narrador-observador ou narrador-personagem? Comprove com um trecho do texto.

 

12. Quem são os personagens do texto?

 

13. Qual é o enredo do texto?