POEMA: NO MUNDO HÁ MUITAS ARMADILHAS
Ferreira Gullar
No mundo há muitas
armadilhas
e o que é armadilha pode ser
refúgio
e o que é refúgio pode ser
armadilha
Tua janela por exemplo
aberta para o céu
e uma estrela a te dizer que o
homem é nada
ou a manhã espumando na praia
a bater antes de Cabral, antes de
Troia
(há quatro séculos Tomás Bequimão
tomou a cidade, criou uma milícia
popular
e depois foi traído, preso,
enforcado)
No mundo há muitas armadilhas
e muitas bocas a te dizer
que a vida é pouca
que a vida é louca
E por que não a Bomba? te
perguntam.
Por que não a Bomba para acabar
com tudo, já
que a vida é louca?
Contudo, olhas o teu filho, o
bichinho
que não sabe
que afoito se entranha à vida e
quer
a vida
e busca o sol, a bola, fascinado
vê
o avião e indaga e indaga
A vida é pouca
a vida é louca
mas não há senão ela.
E não te mataste, essa é a
verdade.
Estás preso à vida como numa
jaula.
Estamos todos presos
nesta jaula que Gagárin foi o
primeiro a ver
de fora e nos dizer: é azul.
E já o sabíamos, tanto
que não te mataste e não vais
te matar
e aguentarás até o fim.
O certo é que nesta jaula há os
que têm
e os que não têm
há os que têm tanto que sozinhos
poderiam
alimentar a cidade
e os que não têm nem para o
almoço de hoje
A estrela mente
o mar sofisma. De fato,
o homem está preso à vida e
precisa viver
o homem tem fome
e precisa comer
o homem tem filhos
e precisa criá-los
Há muitas armadilhas no mundo e é
preciso quebrá-las.
GULLAR, Ferreira. Melhores poemas de Ferreira
Gullar. Seleção e apresentação de Alfredo Bosi. 6. ed. São Paulo: Global, 2000.
p. 58-59.
Fonte: Livro – APROVA BRASIL- Língua Portuguesa – 9º
Ano - Editora Moderna;editora responsável, Thaís Ginícolo
Cabral. --São Paulo : Moderna, 2019, p.48-51
1. Denomina-se
eu lírico a voz que fala no poema. No poema, que sentimentos são manifestados
pelo eu lírico na comparação que faz nos versos a seguir?
“No mundo há muitas
armadilhas
e o que é armadilha pode ser
refúgio
e o que é refúgio pode ser
armadilha”
O
eu lírico compara o mundo (a vida) a uma armadilha e a um refúgio. Como armadilha,
o mundo é visto negativamente, trazendo problemas, surpresas desagradáveis;
como refúgio, ele é visto como proteção.
2. Na estrofe citada
na questão anterior, a palavra refúgio tem o sentido de
a) esconderijo.
b) perigo.
c) abrigo.
d) fuga.
3. Assinale a alternativa
que expressa uma possível interpretação para a estrofe a seguir.
“Contudo, olhas o teu
filho, o bichinho
que não sabe
que afoito se entranha à vida e
quer
a vida
e busca o sol, a bola, fascinado
vê
o avião e indaga e indaga”
a) As crianças são deslumbradas
porque não conhecem a vida.
b) As crianças são ingênuas
porque jogam bola e admiram o sol e os aviões.
c) As crianças não se sentem
presas e são ávidas por conhecer o novo.
d) As crianças aproveitam a
vida porque ela é pouca e louca.
4.A linguagem dos poemas
geralmente é figurada, metafórica. Que metáfora é empregada na estrofe a seguir
para referir-se à Terra?
Lembre: metáfora é o
emprego de uma palavra ou expressão em lugar de outra, com a qual guarda alguma
semelhança.
“Estás preso à
vida como numa jaula.
Estamos todos presos
nesta jaula que Gagárin foi o
primeiro a ver
de fora e nos dizer: é azul.
E já o sabíamos, tanto
que não te mataste e não vais
te matar
e aguentarás até o fim.”
No
poema, a palavra jaula é utilizada como metáfora para Terra; “Estamos todos
presos / nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver / de fora e nos dizer: é
azul”.
5.Extraia do poema a
estrofe em que o eu lírico aborda as desigualdades sociais.
“O certo
é que nesta jaula há os que têm / e os que não têm / há os que têm tanto que
sozinhos poderiam / alimentar a cidade / e os que não têm nem para o almoço de
hoje”.
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