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sábado, 15 de outubro de 2022

PERDEDOR, VENCEDOR - INTERPRETAÇÃO ATIVIDADE CRÔNICA

 Perdedor, vencedor

       O perdedor cumprimentou o vencedor. Apertaram-se as mãos por cima da rede. Depois foram ao vestiário. Enquanto tiravam a roupa, o perdedor apontou para a raquete do outro e comentou, sorrindo:

       - Também, com essa raquete...

      Era uma raquete importada, último tipo. Muito melhor do que a do perdedor. O vencedor sorriu, mas não disse nada. Começou a descalçar os tênis. O perdedor comentou, ainda sorrindo:

      - Também, com esses tênis...

      O vencedor quieto. Também sorrindo. Os dois ficaram nus e entraram no chuveiro. O perdedor examinou o vencedor e comentou:

      - Também, com esse físico...

     O vencedor perdeu a paciência.

      - Olha aqui - disse. - Você poderia ter um físico igual ao meu, se se cuidasse. Se perdesse essa barriga. Você tem dinheiro, senão não seria sócio deste clube. Pode comprar uma raquete igual à minha e tênis melhores que os meus. Mas sabe de uma coisa? Não é equipamento que ganha jogo. É a pessoa. É a aplicação, a vontade de vencer, a atitude. E você não tem uma atitude de vencedor. Prefere atribuir a derrota à minha raquete, aos meus tênis, ao meu físico, a tudo menos a você mesmo. Se parasse de admirar tudo que é meu e mudasse de atitude, você também seria um vencedor, apesar dessa barriga.

      O perdedor ficou em silêncio por alguns segundos, depois disse:

      - Também, com essa linha de raciocínio...

Perdedor, vencedor (Luís Fernando Veríssimo)

1. Assinale a alternativa que apresenta humor.

a) - Também, com essa raquete...

b) - Também, com esses tênis...

c) - Também, com esse físico...

d) - Também, com essa linha de raciocínio...

 

2.  O perdedor cumprimentou o vencedor.A palavra destacada só NÃO pode ser substituída por;

a) congratulação

b) felicitação

c) saudação

d) tamanho

 

3. Assinale a alternativa que NÃO apresenta uma opinião.

a) O perdedor cumprimentou o vencedor.

b) E você não tem uma atitude de vencedor.

c) Você tem dinheiro, senão não seria sócio deste clube.

d) - Você poderia ter um físico igual ao meu, se se cuidasse.

 

4. “- Também, com essa raquete...” O narrador utilizou as reticências para os leitores imaginar o restante da frase. Qual das alternativas seria um final mais adequado levando em conta o contexto.

a) até eu ganharia.

b) qualquer um ganharia.

c) todo mundo ganharia.

d) até uma criança ganharia.

 

5. O texto pertence ao gênero:

a) conto

b) crônica

c) carta

d) lenda.

 

OBS. Trabalhei a leitura dos dois textos abaixo durante duas aulas.Uma turma de 6º ano tranquila e uma de 7º mais agitada. cada texto foi lido três vezes por alunos que queriam ler. Depois pedi que fizessem o cabeçalho colocando o nome no caderno, copiassem a letra da alternativa correta e o que estava escrito. Ex: D. lenda. Conforme foram terminando trouxeram o caderno e deixaram na mesa para eu corrigir. Nas duas turmas, dois  gabaritaram. A menor quantidade de acertos foi quatro. A maioria acertou entre seis e oito.

 GÊNERO TEXTUAL: CONTO - GOVERNAR (Carlos Drummond Andrade)

 

       Os garotos da rua resolveram brincar de Governo, escolheram o Presidente e pediram-lhe que governasse para o bem de todos.

       – Pois não – aceitou Martim. – Daqui por diante vocês farão meus exercícios escolares e eu assino. Clóvis e mais dois de vocês formarão a minha segurança. Januário será meu Ministro da Fazenda e pagará meu lanche.

       – Com que dinheiro? – atalhou Januário.

       – Cada um de vocês contribuirá com um cruzeiro por dia para a caixinha do Governo.

       – E que é que nós lucramos com isso? – perguntaram em coro.

       – Lucram a certeza de que têm um bom Presidente. Eu separo as brigas, distribuo tarefas, trato de igual para igual com os professores. Vocês obedecem, democraticamente.

       – Assim não vale. O Presidente deve ser nosso servidor, ou pelo menos saber que todos somos iguais a ele. Queremos vantagens.

       – Eu sou o Presidente e não posso ser igual a vocês, que são presididos. Se exigirem coisas de mim, serão multados e perderão o direito de participar da minha comitiva nas festas. Pensam que ser Presidente é moleza? Já estou sentindo como este cargo é cheio de espinhos.

       Foi deposto, e dissolvida a República.

 

1. “pediram-lhe que governasse para o bem de todos.” O pronome LHE faz referência:

a) aos garotos

b) ao governo

c) ao presidente

d) ao Martim

 

2. “Vocês obedecem, democraticamente.” O advérbio DEMOCRATICAMENTE significa.

a) de modo ditatorial

b) de modo igual

c) de modo diferente

d) de modo autoritário

 

3. “Já estou sentindo como este cargo é cheio de espinhos.” A palavra ESPINHOS no contexto está no sentido:

a) conotativo/figurado e indica dificuldades

b) conotativo/figurado e indica ponta afiada.

c) denotativo/real e indica sofrimento.

d) denotativo/real e indica problemas.

 

4.  Sobre o presidente escolhido podemos afirmar que:

a) foi um adulto

b) O texto não informa o nome.

c) foi o Martim

d) foi o narrador.

 

5. A ideia de governar, na visão do personagem presidente é governar:

a) para o bem de todos.

b) para ter privilégios.

c) com seriedade.

d) para o bem dos estudantes.

 

6. Duas expressões ou palavras ressaltam situações do mundo infantil. São elas:

a) exercícios escolares e lanches.

b) serão multados e minha comitiva.

c) escolher presidente e governar.

d) contribuição financeira e serão multados.


7. No final da história, o presidente:

a) resolveu o problema do lanche na escola.

b) resolveu o problema dos exercícios escolares.

c) conversou com os professores sobre os problemas dos alunos.

d) foi retirado do cargo.

 

 

 

GÊNERO TEXTUAL: CRÔNICA - Perdedor, vencedor (Luís Fernando Veríssimo)

 

    N   O perdedor cumprimentou o vencedor. Apertaram-se as mãos por cima da rede. Depois foram ao vestiário. Enquanto tiravam a roupa, o perdedor apontou para a raquete do outro e comentou, sorrindo:

 

    P     - Também, com essa raquete...

 

    N   Era uma raquete importada, último tipo. Muito melhor do que a do perdedor. O vencedor sorriu, mas não disse nada. Começou a descalçar os tênis. O perdedor comentou, ainda sorrindo:

 

    P  - Também, com esses tênis...

 

    N O vencedor quieto. Também sorrindo. Os dois ficaram nus e entraram no chuveiro. O perdedor examinou o vencedor e comentou:

 

    P - Também, com esse físico...

 

    N O vencedor perdeu a paciência.

 

    V - Olha aqui, você poderia ter um físico igual ao meu, se se cuidasse. Se perdesse essa barriga. Você tem dinheiro, senão não seria sócio deste clube. Pode comprar uma raquete igual à minha e tênis melhores que os meus. Mas sabe de uma coisa? Não é equipamento que ganha jogo. É a pessoa. É a aplicação, a vontade de vencer, a atitude. E você não tem uma atitude de vencedor. Prefere atribuir a derrota à minha raquete, aos meus tênis, ao meu físico, a tudo menos a você mesmo. Se parasse de admirar tudo que é meu e mudasse de atitude, você também seria um vencedor, apesar dessa barriga.

 

   N O perdedor ficou em silêncio por alguns segundos, depois disse:

 

   P   - Também, com essa linha de raciocínio...

 

8. Assinale a alternativa que apresenta humor.

a) - Também, com essa raquete...

b) - Também, com esses tênis...

c) - Também, com esse físico...

d) - Também, com essa linha de raciocínio...

 

9.  O perdedor cumprimentou o vencedor. A palavra destacada só NÃO pode ser substituída por:

a) congratulação

b) felicitação

c) saudação

d) tamanho

 

10. Assinale a alternativa que NÃO apresenta uma opinião.

a) O perdedor cumprimentou o vencedor.

b) E você não tem uma atitude de vencedor.

c) Você tem dinheiro, senão não seria sócio deste clube.

d) - Você poderia ter um físico igual ao meu, se se cuidasse.

 

11. “- Também, com essa raquete...” O narrador utilizou as reticências para os leitores imaginar o restante da frase. Qual das alternativas seria um final mais adequado levando em conta o contexto.

a) até eu ganharia.

b) qualquer um ganharia.

c) todo mundo ganharia.

d) até uma criança ganharia.

 

 

 

 

 

TEREZA INTERPRETAÇÃO ATIVIDADE CRÔNICA

 

 

TEREZA

          A Teresa voltou da praia, e estive a pique de lhe dizer que queria acabar o namoro. Mas ela estava tão contente, contando as novidades, que terminei ficando com dó e adiei a decisão. Sem contar que o sol lhe tinha feito muito bem. Os olhos de Teresa pareciam mais bonitos com a pele bronzeada.

          A Teresa não parava de falar, e eu só escutando, com vontade de estar longe dali. Mas chegou uma hora em que ela percebeu que eu estava triste e perguntou por quê.

          --- Estou triste por sua causa.

          --- Por minha causa? Por quê?

          Hesitei um pouco. Dizia ou não dizia que não gostava mais dela?

          --- Estava com saudades.

          Na hora em que disse aquilo, me senti o pior sujeito do mundo. Mas o que podia fazer, se já tinha falado?

          --- Mas eu estou aqui, Sérgio.

          --- Pois é, você voltou.

          --- O que você está querendo dizer com isso?

          --- Nada, Tereza, nada...

          --- Serginhooô...

          O difícil era que a Teresa não entendia nada do que lhe dizia. Ainda por cima, vinha com aquele jeito enjoado de dizer “Serginhooô”, que me deixava com mais raiva. Mas ela logo esqueceu do que estávamos falando e começou a contar do biquíni que havia comprado, das praias de Santos, do novo carro do pai etc. E eu com a cabeça em outro lugar, só pensando na Cybelle e nas coisas que ela tinha me dito. “Você tem razão, garota, eu não presto mesmo. Não mereço você”, falei baixinho.

          --- O que foi que você disse? --- Teresa perguntou.

          --- Nada não...

          Fiquei torcendo para que ela dissesse que eu não estava prestando atenção na conversa. Seria mais um motivo para uma briga. E dessa vez eu terminaria com aquele namoro que já me chateava. Mas a Tereza não disse nada e continuou a falar de Santos, dos passeios na praia. E eu ali a seu lado com a cabeça nas nuvens, que tomavam a forma da Cybelle, do corpo da Cybelle, do sorriso da Cybelle. “Tão bela...”

          --- Serginho, você ficou maluco?

          --- Maluco por quê?

          --- Você não para de falar sozinho.

          Olhei bem para a Teresa, para aqueles olhos verdes, e dei-lhe um beijo.

          --- Tem razão, Tereza, estou completamente maluco.

                                         Amor & cuba-libre. São Paulo, FTD, 1980.

 

1. No primeiro parágrafo há dois motivos que impedem o narrador de terminar com Tereza. Quais são?

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2. O Narrador atribui a Tereza a causa de sua tristeza. Qual a verdadeira causa da tristeza do narrador?

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3.“Na hora em que disse aquilo, me senti o pior sujeito do mundo” Porque o narrador se sentiu mal ?

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4. “Você tem razão, garota, eu não presto mesmo. Não mereço você” Quem diz essa frase no texto?

______________________________________________________________________________

 

5. No final do texto o narrado reconhece que está maluco? Por quê?

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6. Qual o tema do texto?

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7. Ressuma o tema com apenas uma palavra. (Qual o assunto?)

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8. Assinale a alternativa que apresenta um FATO.

a) Sem contar que o sol lhe tinha feito muito bem.

b) “Você tem razão, garota, eu não presto mesmo.

c) Ainda por cima, vinha com aquele jeito enjoado de dizer “Serginhooô”

d) Mas a Tereza não disse nada e continuou a falar de Santos

 

9. Serginhooô... A linguagem utilizada por Tereza ao falar o nome de Sergio é exemplo de linguagem:

a) formal                b) informal            c) culta                d) amorosa

 

          

10. “queria acabar o namoro. Mas ela estava tão contente.” Qual das palavras abaixo NÃO pode substituir a palavra destacada mantendo o mesmo sentido entre os fragmentos.

a) porém                 b) contudo             c) no entanto       d)  por isso         

 

11. “queria acabar o namoro. Mas ela estava tão contente.” A palavra destacada estabelece entre os dois fragmentos uma ideia de:

a) oposição                b) conclusão              c)  alternância            d) adição

 

 

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

POESIA: IDENTIDADE - PEDRO BANDEIRA ATIVIDADE INTERPRETAÇÃO

 

POESIA: IDENTIDADE - PEDRO BANDEIRA

Às vezes nem eu mesmo

sei quem sou.

Às vezes sou.

"o meu queridinho",

às vezes sou

"moleque malcriado".

Para mim

tem vezes que eu sou rei,

herói voador,

caubói lutador,

jogador campeão.

Às vezes sou pulga,

sou mosca também,

que voa e se esconde

de medo e vergonha.

Às vezes eu sou Hércules,

Sansão vencedor,

peito de aço

goleador!

 

Mas o que importa

o que pensam de mim?

Eu sou quem sou,

eu sou eu,

sou assim,

sou menino.

 

BANDEIRA, Pedro. Cavalgando o arco-íris. 4. Ed. São Paulo: Moderna, 2009.

Entendendo a poesia:

 

01 – Quantas linhas há na poesia “Identidade”?

 

      Vinte e cinco linhas.

 

02 – Essas linhas encontram-se agrupadas ou separadas por espaços em branco?

 

      As linhas 1 a 19 estão separadas das linhas 20 a 25 por um espaço em branco.

 

03 – Quantos versos formam a poesia “Identidade”? E quantas estrofes?

 

      A poesia é formada por 25 versos e duas estrofes.

 

04 – Leia a fonte que indica o livro do qual essa poesia foi retirada e responda às questões a seguir.

 

a)   De que livro essa poesia foi retirada?

 

Do livro Cavalgando o arco-íris.

 

b)   Qual é o nome do autor da poesia?

 

Pedro Bandeira.

 

c)   Pedro Bandeira é um autor adulto. Mas a voz que fala na poesia não é a de um adulto. Considerando essa afirmação, responda: A quem podemos atribuir a fala do texto? Qual verso traz essa indicação?

 

A um menino. O último verso.

 

05 – Releia os versos a seguir.

 

        Às vezes sou.

        "o meu queridinho",

        às vezes sou

        "moleque malcriado".

 

        Os versos destacados acima aparecem entre aspas. Isso acontece porque o eu lírico:

 

 

a)   Quer dar destaque a duas maneiras de ser que ele atribui a si mesmo.

 

b)   Pretende mostrar duas maneiras de ser que ele atribui a si mesmo e que se opõem.

 

c)   Destaca duas maneiras de ele ser na voz de outras pessoas.

 

06 – Em que situação o eu lírico é considerado “o meu queridinho”?

 

      Provavelmente, quando faz coisas boas e as pessoas elogiam o comportamento dele.

 

07 – E em qual situação ele é considerado “moleque malcriado”?

 

      Provavelmente, quando responde mal às pessoas, principalmente aos adultos.

 

08 – Reproduza a poesia “Identidade” em uma folha à parte. Escreva os itens a seguir ao lado dos versos da poesia a que cada um deles corresponde.

 

·        Como os outros veem o menino – Corresponde ao trecho que vai do 3° ao 6° verso.

 

·        Como o menino se vê – Corresponde ao trecho que vai do 7° ao 19° verso.

 

·        O menino rejeita a opinião dos outros a seu respeito – Corresponde ao 20° e 21° verso.

 

·        O menino se aceita como é – Corresponde aos quatro últimos versos.

 

09 – Na poesia que você reproduziu, circule a expressão que indica que o menino vai falar sobre como ele se vê?

 

      Os alunos deverão circular a expressão “Para mim”.

 

10 – O menino fala que é “rei”, “herói”, “caubói” e “mosca”.

 

a)   Essas identidades fazem parte da imaginação ou da realidade do menino? Por quê?

 

Elas fazem parte da imaginação dele, pois são identidades irreais.

 

b)   Podemos dizer que essas palavras estão relacionadas à identidade dele? Por quê?

 

Sim, pois o eu lírico revela que se vê dessa maneira: como rei, herói, caubói e mosca.

terça-feira, 11 de outubro de 2022

UMA VELA PARA DARIO ATIVIDADES

 

TEXTO 1. Uma Vela para Dario - Dalton Trevisan

 https://www.youtube.com/watch?v=1kcvUrpqJsM

       Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.

       Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque. Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado.

       O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.

       Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela.

       O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.

        A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado á parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.

       Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las.

       Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.

       Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.

       Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes. O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete.

       Ficou decidido que o caso era com o rabecão. A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu.   A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto. Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos. Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva. Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança.

    A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair. 

Texto extraído do livro "Vinte Contos Menores", Editora Record – Rio de Janeiro, 1979, pág. 20

 

 

 

1. Por que as pessoas concordaram em chamar a ambulância?

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2. Escreva na ordem em que aparecem no texto os objetos que foram furtados de Dario.

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3. O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos vazios. De acordo com a leitura do texto, por que a polícia não conseguiu identificar Dario?

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4. “Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver” Por que as pessoas que chagavam não conseguiam ver o que acontecia com Dario?

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5. Se as pessoas quisessem realmente fazer algo para socorrer Dário poderiam ter feito. Retire do texto um fragmento que indique que elas tiveram tempo para isso.

_______________________________________________________________________________

 

6. Que pessoa praticou um ato de solidariedade e ajudou Dario. Justifique.

_______________________________________________________________________________

 

7. De acordo com o texto qual o motivo de as pessoas quererem chegar perto de Dario?

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8. Indique uma das hipóteses levantadas sobre o que estava acontecendo com Dario?

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9. Justifique com fragmentos do texto que todo tipo de pessoa se mostrou curiosa.

_______________________________________________________________________________

10. Qual o assunto abordado no texto?

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1. O autor do texto pretende chamar a atenção PRINCIPALMENTE para:

a) a indiferença das pessoas.

b) a sensibilidade das crianças

c) a imprevisibilidade da morte.

d) os furtos dos objetos de Dario.

 

2. “Dario levara duas horas para morrer” De acordo com esse fragmento o autor do texto quer mostrar que Dario não foi socorrido por:

a) falta de tempo.

b) falta de sensibilidade

c) falta de dinheiro

d) falta de recursos.

 

3. Assinale a alternativa que comprova o descaso das pessoas diante da situação de Dario.

a) “O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.”

b) “A velhinha de cabeça grisalha grita que ele está morrendo.”

c) “Já no carro a metade do corpo, protesta o motorista: quem pagaria a corrida?”

d) “Um terceiro sugere lhe examinem os papéis, retirados - com vários objetos”.

 

4. Apenas um homem morto e a multidão se espalha, as mesas do café ficam vazias.” O emprego do vocábulo “Apenas” sugere, em relação ao homem morto:

a) irrelevância

b) remorso

c) piedade

d) revolta.

 

5. No texto, várias passagens confirmam a ideia de espetacularização da morte, exceto em:

a) “mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupava toda a rua e as calçadas...”

b) “As mesas de um café próximo foram ocupadas pelas pessoas”

c) “Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver.”

d) “Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver.”

 

6. Um gesto de solidariedade está na passagem:

a) “Um senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.”

b) “Uma velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo.”

c) “Um rapaz de bigode pediu ao grupo que se afastasse e o deixasse respirar.”

d) “Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça.

 

7. A reunião de diferentes tipos de pessoas a observar os acontecimentos em torno da morte de

Dário pode levar o leitor a concluir que as pessoas, em geral, são

a) curiosas.

b) maldosas.

c) indiferentes.

d) interesseiras.

 

8. “Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva” O pronome ELA se refere a:

a) escada

b) parede

c) chuva

d) casa

 

9. A alternativa que apresenta um verbo em sentido conotativo, ou seja,  figurado é:

a) assim que dobrou a esquina

b) Ele reclinou-se mais um pouco

c) sentou-se na calçada

d) Dario abriu a boca

 

10. Esse conto foi publicado em 1979 e aborda a indiferença das pessoas em relação ao seu próximo. Comparando com a atualidade podemos dizer que o tema está:

a) ultrapassado

b) anacrônico

c) contemporâneo

d) arcaico

 

 

PERGUNTAS SOBRE O GÊNERO TEXTUAL

 

1. Onde ocorrem os fatos narrados?

2. Quando ocorrem?

3. Quem é Dario? Descreva esse personagem.

4. Quem são os demais personagens da narrativa?

5. Qual é o foco narrativo do conto lido 1ª pessoa ou 3ª pessoa? Justifique.

 

GRAMÁTICA

1.  “Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver.”, a única alternativa que NÃO possui uma conjunção com o mesmo sentido de EMBORA é

a) ainda que

b) apesar de que

c) para que

d) mesmo que

 

2. “Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina” A conjunção destacada indica relação de :

a) causa

b) tempo

c) fim

d) condição

 

3. “Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.” Todas as conjunções abaixo fazem parte do grupo da conjunção QUANDO exceto:

a) enquanto

b) assim que

c) depois que

d) porque

 

 

 

 

 

domingo, 9 de outubro de 2022

A CAUSA DA MALDADE HUMANA - MITOS LENDAS E FÁBULAS DA TERRA SANTA.

 

A CAUSA DA MALDADE HUMANA

       Conta-se que, certa vez, Adão estava trabalhando no campo e, enquanto Eva cumpria suas obrigações domésticas, ouviu o choro de um bebê. Imediatamente correu para ver e surpreendeu-se ao encontrar um belo menino. Era (não sabemos se ela sabia) um demônio malcriado que Iblis havia deixado diante da casa ansioso em tornar a vida dos pais da raça humana ainda mais turbulenta. Eva acolheu o bebê no colo e fez de tudo para acalmá-lo.

      Quando Adão voltou para casa e viu o diabinho, imediatamente retirou-o dos braços de Eva e arremessou-o ao rio, onde o viu afundar.

      No dia seguinte, depois que Adão foi para o trabalho, Iblis voltou e chamou:
“Meu filho, onde está você?”. “Aqui estou!”, respondeu o diabinho, emergindo do rio. “Fique aqui até eu voltar”, disse o diabo-pai, colocando-o novamente à porta da casa de Eva.

      Quando Adão voltou e encontrou aquela criatura horripilante, embora simpática, imediatamente lançou-a ao fogo e queimou-a até transformá-la em cinzas.

      Na manhã seguinte Iblis retornou mais uma vez e chamou seu filho, que novamente voltou à vida, ressuscitado das cinzas.

     Quando, à tardinha, o pai da raça humana voltou do seu trabalho e encontrou o pequeno demônio — que acreditava ter afogado e queimado até virar cinzas — vivo novamente, disse a Eva:

A única maneira de nos livrarmos deste inimigo tão perigoso é matá-lo, cozinhá-lo e comê-lo”.
Dito e feito.

      Quando na manhã seguinte o Pai dos Demônios voltou e chamou: “Meu filho, onde está você?”, duas vozes em uníssono, vindas respectivamente dos corpos de Adão e Eva, responderam: “Aqui estou, e muito confortável!”. “Era exatamente isso o que eu tanto queria”, disse o Diabo Número Um. E foi assim que todo ser humano passou a ter que lidar com o demônio que tem dentro de si.

 

Fonte: Mitos, lendas e fábulas da Terra Santa. J.E. Hanauer, 2005. 

ACESSE O PDF COMPLETO NO LINK ABAIXO:

https://drive.google.com/file/d/1traAGIYfK1Zm2_rnAKBnTHenDHhIq50q/view?usp=sharing

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

O PROFETA E OS TIGRES

 

Texto 1: O profeta e os tigres


          O falso profeta chegou a aldeia e assustou a todos com ameaças de males que viriam da floresta. As pessoas, assustadas, reuniram uma enorme quantia de dinheiro e entregaram a ele para que conseguisse afastar o perigo.

          O homem comprou alguns pães velhos, e começou a espalha-los em torno da floresta, recitando palavras incompreensíveis. Um rapaz se aproximou:

         - O que está fazendo?

         - Salvando os seus pais, seus avós, e seus amigos da ameaça dos tigres.

         - Tigres? Mas não existem tigres neste país!

         - Por força da minha magia – disse o falso profeta. – Ela funciona sempre, como está vendo.

         O rapaz ainda tentou argumentar. Mas os habitantes resolveram expulsá-lo da cidade, pois ele estava atrapalhando o trabalho daquele homem santo.

 

 

 Texto 2: Cavalo e o Seu Cuidador

       O fingimento é a natureza original do Hipócrita...

        Um zeloso empregado de uma cocheira, costumava passar horas, e às vezes dias inteiros, limpando e escovando o pelo de um cavalo que estava sob seus cuidados.

        Agindo assim, passava para todos a impressão de que era gentil para com o animal, que se preocupava com o seu bem estar.

       Entretanto, ao mesmo tempo que o acariciava diante de todos, sem que ninguém suspeitasse, roubava a maior parte dos grãos de aveia destinados à alimentar o pobre animal, e os vendia às escondidas para obter lucro.

       Então o cavalo se volta para ele e diz:

        -"Acho apenas que se o senhor de fato desejasse me ver em boas condições, me acariciava menos e me alimentava mais..."

        Moral da História: Devemos desconfiar sempre dos exibicionistas que fazem questão de promover publicamente suas próprias virtudes. Os Bajuladores não são confiáveis.

 

Responda

 

1. “Agindo assim, passava para todos a impressão de que era gentil para com o animal, que se preocupava com o seu bem estar”. Nesse segmento, o pronome “todos” se refere aos:

a) leitores do texto;

b) que viam a ação do cuidador;

c) demais cavalos da cocheira;

d) outros cuidadores de cavalos;

e) compradores da aveia roubada.

 

2. Toda fábula tem uma mensagem moral; nesse caso, o que essa fábula condena é:

a) a hipocrisia;

b) a crueldade;

c) a maldade;

d) a ganância;

e) a desonestidade.

3.         - Salvando os seus pais, seus avós, e seus amigos da ameaça dos tigres. Qual o motivo do falso profeta ter se referido aos familiares e aos amigos do rapaz?

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4. Levante hipótese sobre o motivo de o autor ter utilizado a palavra RAPAZ, pois poderia ter utilizado qualquer outra como pessoa, aldeão, morador.

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5. As vozes presentes no texto são do narrador, do falso profeta e do povo. Correlacione as vozes abaixo às pessoas.

(a) Narrador                                       (   ) Mas não existem tigres neste país

(b) Falso profeta                                (   ) O falso profeta chegou a aldeia

(c) Rapaz                                           (   )  - Por força da minha magia

 

6. Mas os habitantes resolveram expulsá-lo da cidade, pois ele estava atrapalhando o trabalho daquele homem santo. O adjetivo SANTO é atribuído ao falso profeta:

a) pelo rapaz

b) pelos habitantes

c) pelo narrador

 

7. Ao utilizar as palavras “seus pais, seus avós, e seus amigos” a intenção do falso profeta era:

a) provocar emoção

b) provocar reflexão

c) provocar compreensão

d) provocar ponderação

 

8. A palavra MALES só NÃO pode ser substituída no contexto por:

a) doenças          b) enfermidades             c) benevolência            d) desgraças

 

9. Qual o significado dos adjetivos destacados.

a) falso profeta

significado_______________________________________________________________________

b) homem santo.

Significado ______________________________________________________________________________

 

10. Em qual das duas alternativas da questão 9 o adjetivo destacado perdeu seu sentido original?

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11. “O homem comprou alguns pães velhos” As palavras no contexto são pensadas. Por que o autor utilizou a expressão palavra pães velhos e não apenas pão?

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12. “resolveram expulsá-lo da cidade” O pronome destacado se refere

a) ao rapaz                b) ao falso profeta           c) ao homem santo    d) aos habitantes.

 

 

13. De acordo com o texto, qual o significado de hipocrisia?

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14. O cavalo discorda da bondade de seu tratador. Que argumento ele utiliza para comprovar a sua opinião.

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15.como você escreveria moral da história utilizando suas palavras?

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16. Qual o assunto do texto?

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17. O texto 1 e o texto dois abordam assuntos:

a) semelhantes       b) divergentes                c) contrários       d) contrastantes


quarta-feira, 28 de setembro de 2022

SER FILHO É PADECER NO PURGATÓRIO 7º ANO ESCRITA

 

    Ser filho é padecer no purgatório (Carlos Eduardo Novaes)

 

  - Psssiu, psssiu. - Eu? – virou-se Juvenal apontando para o próprio peito. - É. O senhor mesmo – confirmou o comerciante à porta da loja -, venha cá, por favor.

        Juvenal aproximou-se. O comerciante inclinou-se sobre ele e como que lhe segredando algo perguntou:

        - O senhor tem mãe? - Tenho. - Gosta dela? - Gosto.

        - Então é com o senhor mesmo que eu quero falar. Vamos entrar. Tenho aqui um presente especial para sua mãe.

        - Tem mesmo? Mas por que o senhor não entrega a ela pessoalmente?

        - Porque ela é sua mãe, não é minha. O senhor é que deve entregar o presente.

        - Está bem. Então o senhor me dá que eu dou pra ela.

        - Dar, não – corrigiu o comerciante -, infelizmente não estamos em condições. As vendas só subiram 75%. Vou ter que lhe vender presente.    

         - Mas eu não estava pensando em comprar um presente agora para minha mãe. O aniversário dela é em novembro.

         - Não é pelo aniversário. É pelo dia das mães.

         - Dia das mães? – repetiu Juvenal sempre desligado. – Mães de quem?

         - Mães de todos. É depois de amanhã, domingo. - É mesmo? E quem disse isso?

          - Bem... - Está na Bíblia?

          - Não. Ele foi criado por nós, comerciantes, para permitir que vocês manifestem seu amor e carinho por suas mães.

          - Puxa, vocês são tão legais. Eu não sabia que os comerciantes gostavam tanto da mãe da gente.

          - Pois acredite. E olhe, vou lhe contar um segredo: nós gostamos mais da mãe de vocês do que da nossa.

          - É mesmo? E por que assim?

- Porque a nossa não deixa lucro. Pelo contrário. Todo ano no dia das mães sou obrigado a desfalcar a loja para presenteá-la.

          - Ainda bem que só é um dia, hein? Se fosse, digamos um trimestre das mães, vocês estariam na maior miséria. O senhor dá presentes caros a sua mãe?

          - Bem, pra falar a verdade, tem uns dez anos que eu não dou presente pra ela no dia das mães.

          - E ela não reclama?

          - Reclamava, até o dia que lhe disse que o dia das mães que era jogada comercial e que para mim o dia dela era todos os dias.

         - Também acho.

         - Não. Você não pode achar – esbravejou o dono da loja -, eu posso porque sou comerciante. Você não, você é consumidor. Tem que comprar um presente pra ela no dia das mães.

         - Bem, já que é assim, então vamos ver o presente.

        - Ótimo, assim é que se fala. Você tinha me dito que gostava de sua mãe, não é verdade? Gosta muito?

   

 

 

 

   - Muito. Por quê? - Porque nós temos aqui presentes para todos os gostos. Para quem gosta muito, para quem gosta pouco, para quem ainda está em dúvida.

         - E o senhor dá desconto para quem gosta muito?

         - Não. Nós só damos descontos para quem tiver mais de uma mãe. Fazemos, porém, um preço especial para juiz de futebol, que tem a mãe muito sacrificada. O senhor é juiz de futebol?

          - Não. Sou bandeirinha – mentiu Juvenal.

          - O senhor já foi xingado em campo alguma vez?

          - Umas três.

           - É pouco, só damos descontos para bandeirinhas que tenham sido xingados mais de cinco vezes. Vamos ver os presentes? Pra escolhermos o tipo de presente mais adequado eu preciso saber como é sua mãe.

         - Mamãe? É uma mãe igual a qualquer outra. Não tem nada de especial. Ou melhor, de especial só tem o filho.

        - Vejamos. Quando o senhor era garoto ela costumava dizer: “Saia agasalhado meu filho”, “não vá comer agora que o jantar já vai pra mesa”, “não ande no ladrilho descalço”, “não abra a geladeira sem camisa”, “não se esfalfe”, “não chegue tarde”, “não apanhe chuva”, costumava? Costumava dizer que o senhor estava comendo pouco e lhe entulhava de remédios?

       - Exatamente – surpreendeu-se Juvenal -, parece até que o senhor foi filho da minha mãe.

       - Ou o senhor foi filho da minha. Se ela era realmente assim, o melhor presente é esta TV em cores.

       - Mas é o artigo mais caro que tem na loja. Não posso da aquela que é mais barata?

        - Que é isso, meu senhor? Sua mãe merece o melhor.

        - Mas eu não tenho dinheiro. Não posso dar o melhor.

        - Que absurdo – indignou-se o comerciante -, se o senhor não pode dar o melhor para sua mãe vai dar a quem? Será que sua mãe não merece um sacrificiozinho de sua parte?

       - Claro. Claro que merece.

        - E, então? Pense nos sacrifícios que ela já fez pelo senhor.

         - Estou pensando. - Então pense que eu espero. Ela fez muitos?

         - Muitos o quê?

         - Sacrifícios.

          - Não estou pensando nos sacrifícios. Estou pensando no preço. Juvenal perguntou se podia ver outros artigos, talvez encontrasse algo mais em conta. “Posso mexer nas mercadorias da loja?”

         - Lógico – disse o comerciante – esteja à vontade. Pode remexer o quanto quiser. Aqui vale tudo. Só não vale xingar a mãe.

       Juvenal saiu percorrendo a loja, com o comerciante atrás, matraqueando no seu ouvido sua técnica de vendedor: “O senhor sabe o que é ser mãe? Ser mãe como dizia Coelho Neto, é andar chorando num sorriso/ ser mãe é ter um mundo e não ter nada/ ser mãe é padecer num paraíso/ ser mãe é ter filho que lhe compre uma TV em cores ou um ar-condicionado ou uma geladeira, um secador de cabelos, uma cinta, um jogo de estofados, uma mobília de quarto...”

      - Mobília de quarto?

        - E por que não? Armário, penteadeira, mesinha de cabeceira de cama. [...]

       - Já resolvi – respondeu Juvenal decidido. – Não vou dar nada.

       - O quê? – vociferou o comerciante. – O senhor não vai dar nada para aquela que lhe deu tudo?

      - Vou lhe dar um beijo.

       - Um beijo? O senhor tem coragem? O senhor é realmente um filho desnaturado. Em pleno século XX, em plena sociedade de consumo, o senhor vai chegar em casa de sua mãe e com a maior cara de pau lhe dar um beijo? Um beijo? Que espécie de filho é o senhor? Um beijo?

        - Bem, talvez dois ou três.

           - Então leve ao menos esta pasta de dentes aqui. Contém genitol e mantém o hálito puro na hora de beijar sua mãe.

 

 

 

 

1. Para conseguir realizar a venda, o comerciante precisa persuadir o cliente, isto é, convencê-lo a comprar o produto. Para isso, utiliza alguns argumentos. Qual é o primeiro argumento apresentado pelo vendedor para atrair o cliente e levá-lo para dentro da loja?

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2. Questionado sobre a origem do Dia das Mães, o vendedor afirma que esse dia foi criado pelos comerciantes. Segundo a versão dos comerciantes, com que finalidade esse dia foi criado?

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3. Mas, para você, qual é a verdadeira finalidade da criação desse dia?

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4. Que fala do vendedor revela que ele tem consciência da finalidade comercial (só para vender) desse dia? Justifique.

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5. O vendedor afirma que os comerciantes gostam mais da mãe dos clientes do que da própria mãe. Por quê? Que explicação é dada pelo vendedor?

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6. O vendedor quer fazer uma sugestão de presente ao cliente. Contudo, antes de apresentá-la, “prepara o terreno” perguntando-lhe se, durante a infância, a mãe lhe dizia frases como “Saia agasalhado”, “não apanhe chuva”, entre outras. Qual era a intenção do vendedor ao citar frases como essas ao cliente?

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7. O vendedor sugeriu ao cliente, como presente para a mãe, uma TV em cores. O cliente achou essa TV muito cara e queria optar por uma mais barata. Cite dois argumentos utilizados pelo vendedor para convencer o cliente a comprar a TV mais cara.

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8. No final da história, o vendedor se dá por vencido e desiste da venda? Justifique com um fragmento do texto.

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9. Em que dia da semana o comerciante conversou com Juvenal?

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10. Pelo que se lê no texto, Juvenal costumava presentear sua mãe? Justifique sua resposta.

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