PáginasDESCRITOR

sábado, 29 de março de 2025

O ENVIADO DE DEUS – FERNANDO SABINO - CRONICA

 

O ENVIADO DE DEUS – FERNANDO SABINO

 

         FAZIA um dia lindo. O ar ao longo da praia era desses de lavar a alma. O meu fusca deslizava dócil no asfalto, eu ia para a cidade feliz da vida. Tomara o meu banho, fizera a barba e, metido além do mais num terno novo, saíra para enfrentar com otimismo a única perspectiva sombria naquela manhã de cristal: a da hora marcada no dentista.

           Mas eis que o sinal se fecha na Avenida Princesa Isabel e um rapazinho humilde se aproxima de meu carro.

          — Moço, me dá uma carona até a cidade?

          O que mais me impressionou foi a espontaneidade com que respondi:

          — Eu não vou até a cidade, meu filho.

           Havia no meu tom algo de paternal e compassivo, mas que suficiência na minha voz! Que segurança no meu destino! Mal tive tempo de olhar o rapazinho e o sinal se abria, o carro arrancava em meio aos outros, a caminho da cidade.

          Logo uma voz que não era a minha saltou dentro de mim:

          — Por que você mentiu?

          Tentei vagamente justificar-me, alegando ser imprudente, tantos casos de assalto…

          — Assalto? A esta hora? Neste lugar? Com aquele jeito humilde? Ora, não seja ridículo.

Protestei contra a voz, mandando que se calasse: eu não admitia impertinência. E nem bem entrara no túnel, já concluía que fizera muito bem, por que diabo ele não podia tomar um ônibus? Que fosse pedir a outro, certamente seria atendido.

          Mas a voz insistia: eu bem vira pelo espelho retrovisor que alguém mais, atrás de mim, também havia recusado, despachando-o com um gesto displicente. Nem ao menos dera uma desculpa qualquer, como eu. Não contaria com ninguém, o pobre diabo. Como os mais afortunados podem ser assim insensíveis! Era óbvio que ele não dispunha de dinheiro para o ônibus e ficaria ali o dia todo.

         E eu no meu carro, de corpo e alma lavada, todo feliz no meu terninho novo. Comecei a aborrecer o terno, já me parecia mesmo ligeiramente apertado. Dentro do túnel a voz agora ganhara o eco da própria voz de Deus:

         — Não custava nada levá-lo.

         Não, Deus não podia ser tão chato: que importância tinha conceder ou negar uma simples carona?

         Ah, sim? Pois então eu ficasse sabendo que aquele era simplesmente o teste, o Grande Teste da minha existência de homem. Se eu pensava que Deus iria me esperar numa esquina da vida para me oferecer solenemente numa bandeja a minha oportunidade de Salvação, eu estava muitíssimo enganado: ali é que Ele decidia o meu destino. Pusera aquele sujeitinho no meu caminho para me submeter à prova definitiva. Era um enviado Seu, e a humildade do pedido fora só para disfarçar — Deus é muito disfarçado.

         Agora o terno novo me apertava, a gravata me estrangulava, e eu seguia diretamente para as profundas do inferno, deixando lá atrás o último Mensageiro, como um anjo abandonado. Ao meu lado, no carro, só havia lugar para o demônio.

        — Não tem dúvida: aquele cara me estragou o dia — resmunguei, aborrecido, acelerando mais o carro a caminho da cidade.

          Quando dei por mim, já em Botafogo, entrava no primeiro retorno à esquerda, sem saber por quê, de volta em direção ao túnel.

Imediatamente me revoltei contra aquela tolice, que apenas me faria perder o dentista — o que, aliás, não seria mau. Mas era tarde, e o fluxo do tráfego agora me obrigaria a refazer todo o percurso.

         Como explicar-lhe, sem perda de dignidade, que havia mentido e voltara para buscá-lo? Certamente ele nem estaria mais lá.

          Estava. Foi só fazer a volta na praia, e pude vê-lo no mesmo lugar, ainda postulando condução. Detive o carro a seu lado. Justificando meu regresso, gaguejei uma desculpa qualquer, que ele mal escutou. Aceitou logo a carona que eu lhe oferecia: sentou-se a meu lado como se fosse a coisa mais natural do mundo eu ter voltado para buscá-lo.

          Era mesmo alguém que pedia condução simplesmente porque não tinha dinheiro para o ônibus. Desempregado, ia para a cidade por não saber mais para onde ir — o que já é outra história.

Só não me pareceu que fosse um enviado de Deus: não perdi o dentista e, ainda por cima, Deus houve por bem distinguir-me com um nervo exposto.

Fonte:SABINO, Fernando. Deixa o Alfredo Falar! Rio de Janeiro: Record, 1985.

 

 

1. Qual o significado das expressões “lavar a alma”  e “manhã de cristal”?

_____________________________________________________________________________

 

 Logo uma voz que não era a minha saltou dentro de mim:

          — Por que você mentiu?”

2. A quem pertence a voz que recrimina o cronista?

_________________________________________________________________________

 

3. Que passagem no primeiro parágrafo informa  ao leitor que o cronista não gosta de ir ao dentista?

__________________________________________________________________________

 

4. O texto é narrado em primeira pessoa ( o narrador é um personagem também) ou em terceira pessoa o ( o narrador só conta a história)? Justifique.

______________________________________________________________________________

 

Se eu pensava que Deus iria me esperar numa esquina da vida para me oferecer solenemente numa bandeja a minha oportunidade de Salvação, eu estava muitíssimo enganado: ali é que Ele decidia o meu destino. Pusera aquele sujeitinho no meu caminho para me submeter à prova definitiva. Era um enviado Seu

 

5. Porque os termos  Ele e Seu foram escritos com letra maiúscula?

______________________________________________________________________

 

6. O que significa a expressão “oferecer de bandeja”?

_____________________________________________________________________

 

7. Ao afirmar que “Deus é muito disfarçado” a intenção do cronista é dizer que:

a) Deus não quer se revelar aos homens

b) Deus se disfarçou para testar o cronista

c) a voz que ouve é a voz disfarçada de Deus

d) talvez Deus tivesse assumido a forma do rapaz que pediu carona

e) não são conhecidos todos os meios que deus usa para se revelar aos homens

 

8. Nessa crônica o autor;

a) expressa uma opinião

b) constrói uma narrativa

c) reflete sobre a salvação de sua alma

d) justifica a ação de não ajudar as pessoas

e) destaca aspectos poéticos do Rio de Janeiro

 

9. O tema dessa crônica é;

a) religioso

b) fantástico

c) cotidiano

d) incomum

e) engraçado

 

 

 

 

quinta-feira, 27 de março de 2025

CONJUNÇÃO CONECTIVO OPERADOR IFF

 ALUNO;_______________________________________TURMA________DATA______

No trecho “Se baixarmos um pouco a idade, veremos que 7% das crianças entre 0 e 3 anos

já possuem seu próprio celular”, Texto I, a conjunção “SE” apresenta o valor semântico de

a) consequência.

b) proporção.

c) concessão.

d) condição.

e) causa.

 

2. 2024

No trecho “Contudo, o contingente com 15 anos de idade ou mais que os frequentava era de apenas 2,2% [...]”, Texto I, a palavra destacada pode ser substituída, sem perda de sentido, pela conjunção

a) “embora”.

b) “segundo”.

c) “portanto”.

d) “enquanto”.

e) “entretanto”

 

3. 2024

Em “Billy (Vince Vaughn) e Nick (Owen Wilson) são grandes amigos e trabalham juntos como vendedores de relógios”, Texto II, a articulação entre as orações ocorre por meio da           ( obs. Há um erro, pois está articulando termos e não orações)

a) correlação dos verbos.

b) coordenação de ideias.

c) oposição de pensamentos.

d) quebra da ordem sintática.

e) subordinação de conjunções.

 

4. 2024

Considerando a função dos conectivos na construção da mensagem em um texto, assinale o

fragmento do Texto I cuja palavra ou expressão destacada introduz uma finalidade:

a) “Para falar sobre o tema, conversamos com especialistas em tecnologia e inovação [...]”.

b) “No entanto, para aproveitar todo o potencial da IA, os jovens precisam estar preparados

c) “Além disso, é importante saber coletar e analisar dados para tomar decisões informadas

e criar soluções eficientes [...]”.

d) “E as aplicações da IA no dia a dia dos jovens já são diversas.”

e) “Em resumo, a IA é uma tecnologia que promete transformar o futuro dos jovens [...]”

 

5. 2024

O termo assinalado no fragmento “Caso seja levado em conta que os pardos têm

ascendência negra, pode-se afirmar que mais da metade da população é negra ou

descendente de negros.” (Texto I, 1º parágrafo) tem a mesma função que o conectivo

a) embora.

b) também.

c) assim.

d) como.

e) se

 

6. 2023

No trecho “O Brasil produz todo o arroz que consome [...] Todavia, apenas 20% da casca é

utilizada [...]”, o termo em negrito introduz um novo período e exerce a função de operador

discursivo, podendo ser substituído, sem prejuízo de sentido, por

a) já que.

b) por fim.

c) com isso.

d) no entanto.

e) ou melhor.

 

 

7. 2022

Releia o fragmento a seguir, o qual faz parte do quinto parágrafo do Texto I: “Pessoas que fugiram de seus países em guerra relatam que as forças de segurança gregas bateram  nelas quando tentaram atravessar a fronteira [...]”. Nele, a palavra destacada introduz uma  oração que traz ao período uma noção de

a) causa. 

b) condição.

c) explicação.

d) temporalidade. 

e) consequência.

 

 

 

 

8. 2022

Os conectores são utilizados para estabelecer conexão entre as informações apresentadas em um texto, propiciando coesão e progressão textual. Considerando esse propósito, assinale a opção em que a função do conector destacado está CORRETAMENTE classificada:

a) “[...] então foi ao parlamento sueco com sua mochila e alguns lanches e começou uma

“greve de escola pelo clima [...]”. (causa)

b) “[...] ela tem faltado às aulas na maioria das sextas-feiras para realizar seus protestos

regulares”. (finalidade)

c) “Eu tentei fazer com que as pessoas se juntassem a mim, mas ninguém estava

realmente interessado [...]”. (adição)

d) “[...] Greta demonstra pouco interesse em se conformar com os limites quando se trata

do aquecimento global”. (condição)

e) “Indicamos Greta Thunberg porque, se não fizermos nada para deter, a mudança

climática será a causa de guerras [...]”. (consequência)

 

9. 2020

As conjunções têm papel essencial na elaboração e transcrição do pensamento para a forma gráfica, contribuindo para a coesão e a progressão textual. Seguindo esse princípio, o texto Frio na barriga traz, entre outros, este enunciado: “Entretanto, pequenos que são calados demais evitam atividades em grupo, falam baixo e são temerosos podem estar sofrendo.” Nesse trecho, sem nenhum prejuízo sintático ou semântico, a conjunção destacada pode ser substituída por

a) portanto.

b) mas também.

c) contudo.

d) logo.

e) à medida que.

 

10. 2019

No fragmento — No entanto, o sucesso das ações de imunização – que teve como resultado a eliminação da poliomielite, do sarampo, da rubéola e da síndrome da rubéola congênita – têm causado em parte da população e – até mesmo em alguns profissionais de saúde – a falsa sensação de que não há mais necessidade de se vacinar. “, assinale a alternativa que DIFERE do efeito de sentido pretendido pelo uso da locução conjuntiva destacada:

 

a) As coberturas vacinais ainda são heterogêneas no Brasil, desse modo podendo levar à formação de bolsões de pessoas não vacinadas.

b) Nem todos ouviram os boatos a respeito da imunização de doenças, não obstante eles crescem e tornam-se um risco à população.

c) Mensagens falsas compartilhadas nas redes sociais são denunciadas, em todo caso persiste a crença de que não há mais necessidade de se vacinar.

d) Campanhas para vacinação são intensificadas, mesmo assim esse assunto tem preocupado o Ministério da Saúde.

e) O alerta para o risco de reintrodução da poliomielite e do sarampo no Brasil tem sido dado pelas autoridades, ainda assim o número de imunizações tem caído em relação aos anos anteriores.

 

 

 

CONJUNÇÃO COORDENADA

ADITIVAS

1. ADIÇÃO

SOMA

ACRÉSCIMO

e, nem não só...mas também

não só...como também

 

ADVERSATIVAS

2. OPOSIÇÃO

CONTRASTE

mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto

não obstante , equivalem as concessivas.prof.

 

ALTERNATIVAS

3.ALTERNÃNCIA

ou...ou, ora...ora, já...já

quer...quer, seja...seja, talvez...talvez

CONCLUSIVAS

4.CONCLUSÃO

logo , então, pois, portanto, por isso, por conseguinte, assim, verbo,pois,Duas vírgulas, depois do verbo

EXPLICATIVAS

5. EXPLICAÇÃO

Que, porque, porquanto, pois verbo Uma vírgula, antes do verbo

 

CONJUNÇÃO SUBORDINADA

ADVERBIAL AL

 

CAUSAIS

1. CAUSA

Que

Porque

Porquanto

Pois,

Vistoque, dado, como,

CONDICIONAIS

2. CONDIÇÃO

Se, caso, salvo, mediante, sem

 

PROPORCIONAIS

3. PROPORÇÃO

A proporção que, a medida que

 

TEMPORAIS

4. TEMPO

Quando, enquanto, apenas, mal

FINAIS

FIM

5. FINALIDADE

Que

Para que

para

 

 









GABARITO:

1D

2E

3B

5E

6D

7D

8B

9C

10A