CONTO - EM DEZEMBRO – LUIZ VILELA
Após as questões o textocom o trecho suprimido.
Em dezembro, mangas maduras eram vistas
da janela — mas, antes disso, já tínhamos comido muita manga verde com sal,
tirado escondido da cozinha.
Verde por fora e branca por dentro, a
manga ringia com o canivete — o caroço branco e mole atirado fora e descoberto
depois:
— Quem comeu manga verde? Vamos,
confesse, já.
Nenhum confessava: os dois de castigo.
Mostrei para Neusa a manga amoitada no capim:
começava a amarelar. Ela cheirou, apertou contra o rosto, me pediu.
— Eu dou um pedaço.
— Eu quero a manga inteira.
— A manga inteira, não; um pedaço.
— A manga inteira.
— Um pedaço.
— A manga inteira ou nada.
— Então nada.
Quando entrei na cozinha, Vovó estava me
esperando:
— Pode ir direto para o quarto, já sei
de tudo.
Fiquei fechado, de castigo, até a hora
da janta.
— Se tornar a comer manga verde, da
próxima vez vai é apanhar de vara, viu?
Quem apanhou de vara foi Neusa.
Cerquei-a no fundo do quintal com uma vara:
— Você enredou, agora vai pagar.
Ela disse que gritaria. Eu disse que se
ela gritasse, apanhava mais ainda. Se não gritasse, apanhava menos. (...)
— Não.
— Então vai apanhar.
Ela pediu pelo amor de Deus. Perguntei
se ela gostava de mim. Ela disse que gostava. Pedi que ela dissesse: “Eu te
amo.” Ela disse. “Te amo mais que tudo no mundo.” Ela disse.
Eu disse que era mentira, que ela
gostava era do Marcelo. Então ela disse que era mentira mesmo, que tinha era
nojo de mim — e eu desci uma varada nas pernas dela.
Em vez de correr, ela ficou parada, encolhida
contra o muro, enquanto eu, de vara na mão, gritava:
— Pede perdão, senão eu bato de novo!
Ela não pediu, e eu bati de novo. Ela
escondeu o rosto no braço e começou a chorar.
— Pede!
Ameacei com a vara, mas ela só chorava.
Então bati de novo, e dessa vez ela nem se mexeu, como se não tivesse
sentido dor.
Ela foi andando em direção à casa, e eu
fiquei parado, vendo-a afastar-se.
Vovó me perguntou o que tinha havido com
ela, que ela não queria contar (da cozinha, eu ouvia os seus soluços no
quarto).
— Estávamos brincando, ela caiu e se
machucou.
Vovó foi ao quarto:
— Molenga, só porque esfolou um pouco
a perna tem de chorar desse jeito?
Ao voltar para casa, deixei três
moranguinhos na mesinha do quarto onde ela, deitada, havia adormecido.
No dia seguinte recebi uma
caixinha, embrulhada. Dentro, os três moranguinhos e um bilhete: “Eu gostava é
de você mesmo, mas agora nunca mais.”
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Elementos da narrativa.
1. Qual o espaço da narrativa?
(onde aconteceu a história?)
2. Qual o tempo da narrativa? ( Quando aconteceu a história?)
2. Quais são as personagens?
3. O texto é narrado em 1ª pessoa (O narrador participa da história). Que marcas gramaticais comprovam isso.
Estrutura da narrativa.
1. Qual é a situação inicial. (Como começa a história?)
2. Qual é o conflito. (Que problema vai mudar a situação inicial?)
3. Qual o clímax da história. (O ponto que causa mais impacto.)
4. Qual o desfecho? (Como
termina?)
Compreensão e interpretação
1. Como a vovó descobriu que as
crianças haviam comido manga verde?
2. Por que ela não queria que
eles comessem manga com sal?
3. O menino e a menina comiam
mangas juntos. Que pedido a menina fez ao menino?
4. Por que só o menino ficou de
castigo?
5. Por que o narrador bateu na
Neusa?
6. Qual foi a ameaça que a avó
fez ao menino?
7. O que a menina diz ao menino antes
de apanhar a primeira vez?
8. O menino exige que a menina
peça perdão. Perdão pelo que: por tê-lo denunciado ou pelo que ela disse?
9. Por que ele não acreditou nela
quando ele a disse que ela gostava dele?
10. A violência do menino contra a menina teve resultado positivo?
11. Você acha que a menina
deveria ter perdoado o menino? Por que?
12. Você acha que a menina
deveria ter contado que o menino bateu nela? Por quê?
13. Em que momento o narrador
descobre os verdadeiros sentimentos de Neusa em relação a ele?
CONTO COMPLETO - EM
DEZEMBRO – LUIZ VILELA
Em dezembro, mangas maduras eram vistas
da janela — mas, antes disso, já tínhamos comido muita manga verde com sal,
tirado escondido da cozinha.
Verde por fora e branca por dentro, a
manga ringia com o canivete — o caroço branco e mole atirado fora e descoberto
depois:
— Quem comeu manga verde? Vamos,
confesse, já.
Nenhum confessava: os dois de castigo.
Mostrei para Neusa a manga amoitada no
capim: começava a amarelar. Ela cheirou, apertou contra o rosto, me pediu.
— Eu dou um pedaço.
— Eu quero a manga inteira.
— A manga inteira, não; um pedaço.
— A manga inteira.
—
Um pedaço.
— A manga inteira ou nada.
— Então nada.
Quando entrei na cozinha, Vovó estava me
esperando:
— Pode ir direto para o quarto, já sei
de tudo.
Fiquei fechado, de castigo, até a hora
da janta.
— Se tornar a comer manga verde, da
próxima vez vai é apanhar de vara, viu?
Quem apanhou de vara foi Neusa.
Cerquei-a no fundo do quintal com uma vara:
— Você enredou, agora vai pagar.
Ela disse que gritaria. Eu disse que se
ela gritasse, apanhava mais ainda. Se
não gritasse, apanhava menos. E se suspendesse a roupa, não apanhava nada e eu
a deixava ir embora.
— Não.
— Então vai apanhar.
Ela pediu pelo amor de Deus. Perguntei
se ela gostava de mim. Ela disse que gostava. Pedi que ela dissesse: “Eu te
amo.” Ela disse. “Te amo mais que tudo no mundo.” Ela disse.
Eu disse que era mentira, que ela
gostava é de Marcelo. Então ela disse que era mentira mesmo, que tinha é nojo
de mim — e eu desci uma varada nas pernas dela.
Em
vez de correr, ela ficou parada, encolhida contra o muro, enquanto eu, de vara
na mão, gritava:
— Pede perdão, senão eu bato de novo!
Ela não pediu, e eu bati de novo. Ela
escondeu o rosto no braço e começou a chorar.
— Pede!
Ameacei com a vara, mas ela só chorava.
Então bati de novo, e dessa vez ela nem se mexeu, como se não tivesse sentido
dor.
Ela foi andando em direção à casa, e eu
fiquei parado, vendo-a afastar-se.
Vovó me perguntou o que tinha havido com
ela, que ela não queria contar (da cozinha, eu ouvia os seus soluços no
quarto).
— Estávamos brincando, ela caiu e se
machucou.
Vovó foi ao quarto:
— Molenga, só porque esfolou um pouco a
perna tem de chorar desse jeito?
Ao voltar para casa, deixei três
moranguinhos na mesinha do quarto onde ela, deitada, havia adormecido.
No dia seguinte recebi uma
caixinha, embrulhada. Dentro, os três moranguinhos e um bilhete: “Eu gostava é
de você mesmo, mas agora nunca mais.”