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quinta-feira, 10 de março de 2022

VIOLÊNCIA CONTRA MULHER - CONTO - EM DEZEMBRO - LUIZ VILELA

 

CONTO - EM DEZEMBRO – LUIZ VILELA

       Após as questões o textocom o trecho suprimido.


       Em dezembro, mangas maduras eram vistas da janela — mas, antes disso, já tínhamos comido muita manga verde com sal, tirado escondido da cozinha.

       Verde por fora e branca por dentro, a manga ringia com o canivete — o caroço branco e mole atirado fora e descoberto depois:

       — Quem comeu manga verde? Vamos, confesse, já.

       Nenhum confessava: os dois de castigo.

       Mostrei para Neusa a manga amoitada no capim: começava a amarelar. Ela cheirou, apertou contra o rosto, me pediu.

       — Eu dou um pedaço.

       — Eu quero a manga inteira.

       — A manga inteira, não; um pedaço.

       — A manga inteira.

       — Um pedaço.

       — A manga inteira ou nada.

       — Então nada.

       Quando entrei na cozinha, Vovó estava me esperando:

       — Pode ir direto para o quarto, já sei de tudo.

       Fiquei fechado, de castigo, até a hora da janta.

       — Se tornar a comer manga verde, da próxima vez vai é apanhar de vara, viu?

       Quem apanhou de vara foi Neusa. Cerquei-a no fundo do quintal com uma vara:

       — Você enredou, agora vai pagar.

       Ela disse que gritaria. Eu disse que se ela gritasse, apanhava mais ainda. Se não gritasse, apanhava menos. (...)

       — Não.

       — Então vai apanhar.

       Ela pediu pelo amor de Deus. Perguntei se ela gostava de mim. Ela disse que gostava. Pedi que ela dissesse: “Eu te amo.” Ela disse. “Te amo mais que tudo no mundo.” Ela disse.

       Eu disse que era mentira, que ela gostava era do Marcelo. Então ela disse que era mentira mesmo, que tinha era nojo de mim — e eu desci uma varada nas pernas dela.

       Em vez de correr, ela ficou parada, encolhida contra o muro, enquanto eu, de vara na mão, gritava:

       — Pede perdão, senão eu bato de novo!

       Ela não pediu, e eu bati de novo. Ela escondeu o rosto no braço e começou a chorar.

       — Pede!

       Ameacei com a vara, mas ela só chorava. Então bati de novo, e dessa vez ela nem se mexeu, como se não tivesse sentido dor.

       Ela foi andando em direção à casa, e eu fiquei parado, vendo-a afastar-se.

       Vovó me perguntou o que tinha havido com ela, que ela não queria contar (da cozinha, eu ouvia os seus soluços no quarto).

       — Estávamos brincando, ela caiu e se machucou.

       Vovó foi ao quarto:

       Molenga, só porque esfolou um pouco a perna tem de chorar desse jeito?

       Ao voltar para casa, deixei três moranguinhos na mesinha do quarto onde ela, deitada, havia adormecido.

No dia seguinte recebi uma caixinha, embrulhada. Dentro, os três moranguinhos e um bilhete: “Eu gostava é de você mesmo, mas agora nunca mais.”

 fonte: https://zlivro.com.br/download-pdf/5473pj82jerz/a-feijoada-e-outros-contos?hash=4e8622fb9a99ff54dba8371daa1de777 abrirá uma janela de conversão aguarde um pouco e clic em download

 Elementos da narrativa.

1. Qual o espaço da narrativa? (onde aconteceu a história?)

2. Qual o tempo da narrativa? ( Quando aconteceu a história?)

2. Quais são as personagens?

3. O texto é narrado em 1ª pessoa (O narrador participa da história). Que marcas gramaticais comprovam isso.

 

Estrutura da narrativa.

1. Qual é a situação inicial. (Como começa a história?)

2. Qual é o conflito. (Que problema vai mudar a situação inicial?)

3. Qual o clímax da história. (O ponto que causa mais impacto.)

4. Qual o desfecho? (Como termina?)

 

Compreensão e interpretação

1. Como a vovó descobriu que as crianças haviam comido manga verde?

2. Por que ela não queria que eles comessem manga com sal?

3. O menino e a menina comiam mangas juntos. Que pedido a menina fez ao menino?

4. Por que só o menino ficou de castigo?

5. Por que o narrador bateu na Neusa?

6. Qual foi a ameaça que a avó fez ao menino?

7. O que a menina diz ao menino antes de apanhar a primeira vez?

8. O menino exige que a menina peça perdão. Perdão pelo que: por tê-lo denunciado ou pelo que ela disse?

9. Por que ele não acreditou nela quando ele a disse que ela gostava dele?

10. A violência do menino contra a menina teve resultado positivo?

11. Você acha que a menina deveria ter perdoado o menino? Por que?

12. Você acha que a menina deveria ter contado que o menino bateu nela? Por quê?

13. Em que momento o narrador descobre os verdadeiros sentimentos de Neusa em relação a ele?


CONTO COMPLETO - EM DEZEMBRO – LUIZ VILELA

        Em dezembro, mangas maduras eram vistas da janela — mas, antes disso, já tínhamos comido muita manga verde com sal, tirado escondido da cozinha.

       Verde por fora e branca por dentro, a manga ringia com o canivete — o caroço branco e mole atirado fora e descoberto depois:

       — Quem comeu manga verde? Vamos, confesse, já.

       Nenhum confessava: os dois de castigo.

       Mostrei para Neusa a manga amoitada no capim: começava a amarelar. Ela cheirou, apertou contra o rosto, me pediu.

       — Eu dou um pedaço.

       — Eu quero a manga inteira.

       — A manga inteira, não; um pedaço.

       — A manga inteira.

       — Um pedaço.

       — A manga inteira ou nada.

       — Então nada.

       Quando entrei na cozinha, Vovó estava me esperando:

       — Pode ir direto para o quarto, já sei de tudo.

       Fiquei fechado, de castigo, até a hora da janta.

       — Se tornar a comer manga verde, da próxima vez vai é apanhar de vara, viu?

       Quem apanhou de vara foi Neusa. Cerquei-a no fundo do quintal com uma vara:

       — Você enredou, agora vai pagar.

       Ela disse que gritaria. Eu disse que se ela gritasse, apanhava mais ainda. Se não gritasse, apanhava menos. E se suspendesse a roupa, não apanhava nada e eu a deixava ir embora.

       — Não.

       — Então vai apanhar.

       Ela pediu pelo amor de Deus. Perguntei se ela gostava de mim. Ela disse que gostava. Pedi que ela dissesse: “Eu te amo.” Ela disse. “Te amo mais que tudo no mundo.” Ela disse.

       Eu disse que era mentira, que ela gostava é de Marcelo. Então ela disse que era mentira mesmo, que tinha é nojo de mim — e eu desci uma varada nas pernas dela.

       Em vez de correr, ela ficou parada, encolhida contra o muro, enquanto eu, de vara na mão, gritava:

       — Pede perdão, senão eu bato de novo!

       Ela não pediu, e eu bati de novo. Ela escondeu o rosto no braço e começou a chorar.

       — Pede!

       Ameacei com a vara, mas ela só chorava. Então bati de novo, e dessa vez ela nem se mexeu, como se não tivesse sentido dor.

       Ela foi andando em direção à casa, e eu fiquei parado, vendo-a afastar-se.

       Vovó me perguntou o que tinha havido com ela, que ela não queria contar (da cozinha, eu ouvia os seus soluços no quarto).

       — Estávamos brincando, ela caiu e se machucou.

       Vovó foi ao quarto:

       — Molenga, só porque esfolou um pouco a perna tem de chorar desse jeito?

       Ao voltar para casa, deixei três moranguinhos na mesinha do quarto onde ela, deitada, havia adormecido.

No dia seguinte recebi uma caixinha, embrulhada. Dentro, os três moranguinhos e um bilhete: “Eu gostava é de você mesmo, mas agora nunca mais.”


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