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domingo, 16 de fevereiro de 2025

FATO OPINIÃO CAUSA CONSEQUÊNCIA MARCAR X

 

A PRINCESA ROSA CHOQUE

BéatriceGarel e Muzo

 

       Do alto da torre de seu castelo, a princesa Rosa-Choque sonhava com o príncipe encantado.

      – Como vou encontrá-lo? – perguntou ela, suspirando. – A Bela Adormecida, a Cinderela, a Branca de Neve, todas elas se casaram com o príncipe de seus sonhos. O que elas fizeram?

Rosa Choque foi perguntar à sua fada-madrinha. E ela lhe respondeu num tom misterioso:

      – Tudo o que posso lhe dizer é que antigamente os príncipes apareciam para salvar as princesas que corriam perigo.

      A princesa pensou, pensou...

      – Tenho uma ideia! – exclamou ela. – Vou pedir ao velho dragão, que mora no meio da floresta, para me sequestrar. Assim, vou correr perigo!

      Rosa-Choque foi imediatamente encontrar o dragão e lhe contou o que desejava. O dragão respirou fundo:

      – Ah! Estou velho e cansado demais para sequestrar você. Mas se me der um tablete de chocolate, talvez eu consiga lançar uma chama ou duas.

       – Combinado! – disse Rosa Choque.

      O dragão rugiu e com muito esforço lançou uma chama.

      – É tudo o que posso fazer – disse ele.

      – Socorro! Socorro! – gritou a princesa.

      Não demorou muito e se ouviu um barulho bem alto de alguém gritando.

      E surgiu um cavaleiro fantástico com sua brilhante armadura.

      Mas, assim que o príncipe tirou seu capacete, Rosa Choque só faltou desmaiar: o príncipe tinha cara de sapo, era horrível de feio.

      – Linda princesa, salvei você das garras do dragão. Quer casar comigo?

     Então a princesa se lembrou das histórias que lia quando era criança.

      “Um beijinho e tudo fica resolvido!”

 

1. D14 O trecho que apresenta uma opinião é:

(A) o príncipe tinha cara de sapo, era horrível de feio.

(B) do alto da torre de seu castelo:

(C) O dragão respirou fundo;

(D) O dragão rugiu e com muito esforço lançou uma chama.

 

2. D14 O fragmento do texto que mostra um fato é:

(A) estou velho e cansado demais para sequestrar você;

(B) talvez eu consiga lançar uma chama ou duas;

(C) um beijinho e tudo fica resolvido;

(D) Rosa-Choque foi imediatamente encontrar o dragão.

 

O PRÍNCIPE DESENCANTADO

 

       O primeiro beijo foi dado por um príncipe em uma princesa que estava dormindo encantada havia cem anos. Assim que foi beijada, ela acordou e começou a falar:

       PRINCESA – Muito obrigada, querido príncipe. Você por acaso é solteiro?

       PRÍNCIPE – Sim, minha querida princesa.

       PRINCESA – Então nós temos que nos casar, já! Você me beijou, e foi na boca, afinal de contas não fica bem, não é mesmo?

       PRÍNCIPE – É... querida princesa.

       PRINCESA – Você tem um castelo, é claro.

       PRÍNCIPE – Tenho... princesa.

       PRINCESA – E quantos quartos tem o seu castelo, posso saber?

       PRÍNCIPE – Trinta e seis.

       PRINCESA – Só? Pequeno, hein! Mas não faz mal, depois a gente faz umas reformas... Deixa eu pensar quantas amas eu vou ter que contratar... Umas quarenta eu acho que dá!

       PRÍNCIPE – Tantas assim?

       PRINCESA – Ora, meu caro, você não espera que eu vá gastar as minhas unhas varrendo, lavando e passando, não é?

       PRÍNCIPE – Mas quarenta amas!

       PRINCESA – Ah, eu não quero nem saber. Eu não pedi para ninguém vir aqui me beijar, e já vou avisando que quero umas roupas novas, as minhas devem estar fora de moda, afinal passaram-se cem anos, não é mesmo? E quero uma carruagem de marfim, sapatinhos de cristal e... e... joias, é claro! Eu quero anéis, pulseiras, colares, tiaras, coroas, cetros, pedras preciosas, semipreciosas, pepitas de ouro e discos de platina!

        PRÍNCIPE – Mas eu não sou o rei das Arábias, sou apenas um príncipe...

       PRINCESA – Não me venha com desculpas esfarrapadas! Eu estava aqui dormindo e você veio e me beijou e agora vai querer que eu ande por aí como uma gata borralheira? Não, não e não, e outra vez não e mais uma vez não!

Tanto a princesa falou que o príncipe se arrependeu de ter ido lá e beijado. Então teve uma ideia. Esperou a princesa ficar distraída, se jogou sobre ela e deu outro beijo, bem forte. A princesa caiu imediatamente em sono profundo, e dizem que até hoje está lá, adormecida. Parece que a notícia se espalhou, e os príncipes passam correndo pela frente do castelo onde ela dorme, assobiando e olhando para o outro lado.

 

3. D14 Um fato expresso no texto o Príncipe Desencantado é:

(A) Então nós temos que nos casar, já! Você me beijou;

(B) Eu quero anéis, pulseiras, colares, tiaras, coroas...;

(C) Pequeno, hein! Mas não faz mal, depois a gente faz umas reformas;

(D) Umas quarenta eu acho que dá.

 

4. A alternativa que indica uma opinião no texto o Príncipe desencantado é:

(A) eu estava aqui dormindo

(B) as minhas devem estar fora de moda;

(C) então teve uma ideia;

(D) a notícia se espalhou.

 

5. D11 O fragmento que expressa relação de causa e consequência é:

(A) Só? Pequeno, hein! Mas não faz mal, depois a gente faz umas reformas;

(B) Tanto a princesa falou que o príncipe se arrependeu de ter ido lá e beijado;

(C) Muito obrigada, querido príncipe. Você por acaso é solteiro?

(D) os príncipes passam correndo pela frente do castelo onde ela dorme.

 

Por que minha voz soa estranha quando a escuto numa gravação?

       Por que, quando escutamos a própria voz em uma gravação, ela soa estranha? Minha voz não parece ser a minha. LucivaldoSaccardo, Quirinópolis, GO.

 

       A sua voz de verdade – a que todo mundo escuta – é a que está no gravador, Lucivaldo.

Você acha sua voz diferente desta porque escuta a mistura de dois sons: a voz propagada pelo ar e a que reverbera dentro do seu corpo. Esta é conduzida da garganta aos ossos cranianos e captada pelo ouvido interno – para escutá-la de forma isolada basta tapar as orelhas. Já a segunda não passa pelos ossos, então soa mais aguda do que você espera. Mas calma: ela nunca é tão horrível quanto você pensa.

Fonte: Livro Barulho, Água e Carne: a História do Som nas Artes, de Douglas Khan

 

6. D11 A causa de estranharmos o som da nossa voz é:

(A) porque parece não ser a nossa;

(B) porque escutamos a mistura de dois sons;

(C) porque é uma gravação;

(D) porque ela é diferente.

 

Saiba como os mosquitos escolhem as pessoas que vão picar

       Uma maneira de diminuir a quantidade de picadas de mosquitos é saber o que atrai estes insetos em primeiro lugar. Basicamente, a picada depende do cheiro da pessoa. Os mosquitos têm receptores de odores em suas antenas, e eles podem cheirar qualquer humano dentro de 100 metros.

       Outro fator determinante para as picadas é a genética. 85% das pessoas que os mosquitos preferem picar têm uma genética capaz de atrair o inseto. É por isso que eles picam mais algumas pessoas, e menos outras pessoas.(...)

Fontehttp://www.sitedecuriosidades.com/curiosidade/saiba-como-os-mosquitos-escolhem-as-pessoas-que-vao-picar.html


7. D11 A causa de algumas pessoas sofrerem mais com mosquitos que outras é:

(A)o cheiro e a genética;

(B) os receptores de odores;

(C) eles podem cheirar qualquer humano dentro de 100 metros

(D) não saber o que atrai o mosquito.

 

DEPRESSÃO

       A depressão é caracterizada pela perda ou diminuição de interesse e prazer pela vida, gerando angústia e prostração, algumas vezes sem um motivo evidente. Hoje é considerada a quarta principal causa de incapacitação, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

        Esse transtorno psiquiátrico atinge pessoas de qualquer idade — embora seja mais frequente entre mulheres — e exige avaliação e tratamento com um profissional. O desânimo sem fim é fruto de desequilíbrios na bioquímica cerebral, como a diminuição na oferta de neurotransmissores como a serotonina, ligada à sensação de bem-estar.

        Hoje se sabe que a depressão não promove apenas uma sensação de infelicidade crônica, mas incita alterações fisiológicas, como baixas no sistema imune e o aumento de processos inflamatórios. Por essas e outras, já figura como um fator de risco para condições como as doenças cardiovasculares.

 

8. D11 A alternativa que NÃO apresenta uma consequência da depressão:

(A) desânimo sem fim;

(B) sensação de infelicidade crônica;

(C) diminuição de interesse e prazer pela vida;

(D) atinge pessoas de qualquer idade

 

DESODORANTES E ANTITRANSPIRANTES: QUAL A DIFERENÇA?

 

      Você pode até pronunciar os dois juntos referindo-se a apenas um tipo de produto: desodorantes antitranspirantes. A verdade é que existe uma enorme diferença, quimicamente falando, entre eles.

        Desodorantes: o princípio ativo está nas fragrâncias, elas disfarçam os odores. Possuem também agentes antibacterianos para eliminar as bactérias presentes no suor.

Descrição: https://t.dynad.net/pc/?dc=5550003218;ord=1495500628408     Os desodorantes podem conter ainda, peróxido de zinco para promover a reação química de quebra (oxidação) dos ácidos graxos e aminas (presentes no suor) em compostos menores e com menos mau cheiro.

Antitranspirantes: os mais comuns são compostos por Cloridrato de Alumínio, Cloreto de Alumínio ou outras substâncias derivadas do alumínio. Eles agem inibindo a transpiração, deste modo, são mais eficientes no controle de odores.

      A ação adstringente dos antitranspirantes consiste em comprimir as glândulas sudoríparas de modo que elas passem a não produzir mais suor. Entretanto, estudos alertam para possíveis tumores na região das axilas, provenientes do uso deste tipo de produto.

 

9. D11 Os antitranspirantes combatem o odor porque:

(A) comprimem as glândulas sudoripas;

(B) disfarçam o odor;

(C) eliminam as bactéris presentes no suor;

(D) produzem mais suor.

 

CONTO DO VIGÁRIO

 

       O conto do vigário aconteceu no século XVIII na cidade de Ouro Preto entre duas paróquias: a de Pilar e a da Conceição que queriam a mesma imagem de Nossa Senhora.

      Um dos vigários propôs que amarrassem a santa no burro ali presente e o colocasse entre as duas igrejas. A igreja que o burro tomasse direção ficaria com a santa. Acontece que, o burro era do vigário da igreja de Pilar e o burro se direcionou para lá deixando o vigário vigarista com a imagem.

 

10. D11 O vigário vencedor conseguiu esta façanha porque:

(A) o burro era da igreja dePilar;

(B) era dono do burro;

(C) foi uma disputa entre duas igrejas;

(D) as duas igrejas queriam a imagem.

 

 

 

 

 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

FILME LUCA - UMA AVENTURA EMBAIXO D'ÁGUA - ATIVIDADES

 

ALUNO:______________________________________________TURMA____DATA:_____

Atividade sobre o filme Luca.

 

1. Os pais geralmente proíbem os filhos de fazerem algumas coisas. O que é PROIBIDO para o Luca?

_______________________________________________________________________

 

 

2. Os pais de Luca conversam com ele sobre o motivo da PROIBIÇÃO? O que eles poderiam fazer?

_____________________________________________________________________________

 

 

3. A PROIBIÇÃO funcionou? Por quê?

_____________________________________________________________________________

 

 

4. Ercole pratica bullying contra as crianças menores. Qual dos tipos de bullying ele NÃO faz?

a) Bullying verbal: Insultar, ofender, chamar apelidos...

b) Bullying físico: Bater, empurrar, beliscar...

c) Bullying psicológico: Humilhar, excluir, discriminar,intimidar...

d) Cyberbullying: Mensagens ofensivas, divulgação de fotos...

 

 

5. O tio de Luca não gosta de Alberto. O que você acha da amizade entre Luca e Alberto?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

6. Qual o nome do time formado por Giulia, Luca e Alberto?

a) Os incluídos

b) Os excluídos

c) Os mercenários

 

7. Qual o lema do grupo os excluídos no filme?

a) Nós excluídos, devemos cuidar uns dos outros.

b) Nós excluídos, devemos oprimir os outros.

c) Nós excluídos, devemos chamar os outros de estúpido

 

8.  Qual TEMA abaixo não é abordado no filme.

a) Diversidade

b) Preconceito,

c) Religião

d) Inclusão

 

9. O filme Luca aborda a INCLUSÃO. O respeito às DIFERENÇAS. Qual a deficiência do pai de Giulia? Como ele ficou com essa deficiência?

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10. A frase SILÊNCIO BRUNO significa que:

a) Devemos ficar em silêncio.

b) Devemos enfrentar nossos medos.

c) Devemos compartilhar.

 

 

 

11. O que os pais de Luca fazem para tentar encontrar o filho ao chegarem a vila?

__________________________________________________________________________

 

 

12. Ercole sempre ganha a corrida. Qual a idade aproximada dele? Qual a idade aproximada das outras personagens?

______________________________________________________________________________

 

13. Luca descobre que gosta de que durante o filme?

______________________________________________________________________________

 

 

14. Durante o filme qual dos sentimentos abaixo NÃO é vivenciado pelas personagens principais?

a) Raiva

b) Tristeza

c) Alegria

d) Carência

 

 15. Qual era o sonho das personagens?

a) Giulia ___________________________________________________________________

c) Alberto __________________________________________________________________

 

 

16. Por que Alberto vivia sozinho em um farol abandonado?

______________________________________________________________________________

 

 

17.  No final do filme Alberto fica com o pai de Giulia. Por que os dois se completam no final?

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18. Com qual das personagens do filme você se identifica mais?

______________________________________________________________________________

 

 

19. Se você fosse uma personagem em um filme, Qual seria o seu sonho?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

 

20. O que você achou do filme? De uma nota de 0 a 10 ao filme.

____________________________________________________________________________

 

 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

CONTO: UM PEIXE

 

CONTO: UM PEIXE - LUIZ VILELA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Conto: Um Peixe TEMAS: MORTE, HUMOR.

         Luiz Vilela

 

        Virou a capanga de cabeça para baixo, e os peixes espalharam-se pela pia. Ele ficou olhando, e foi então que notou que a traíra ainda estava viva. Era o maior peixe de todos ali, mas não chegava a ser grande: pouco mais de um palmo. Ela estava mexendo, suas guelras mexiam-se devagar, quando todos os outros peixes já estavam mortos. Como que ela podia durar tanto tempo assim fora d'água? ...

        Teve então uma ideia: abrir a torneira, para ver o que acontecia. Tirou para fora os outros peixes: lambaris, chorões, piaus; dentro do tanque deixou só a traíra. E então abriu a torneira: a água espalhou-se e, quando cobriu a traíra, ela deu uma rabanada e disparou, ele levou um susto – ela estava muito mais viva do que ele pensara, muito mais viva. Ele riu, ficou alegre e divertido, olhando a traíra, que agora tinha parado num canto, o rabo oscilando de leve, a água continuando a jorrar da torneira. Quando o tanque se encheu, ele fechou-a.

 

        – E agora? – disse para o peixe. – Quê que eu faço com você? ...

 

        Enfiou o dedo na água: a traíra deu uma corrida, assustada, e ele tirou o dedo depressa.

        – Você tá com fome? ... E as minhocas que você me roubou no rio? Eu sei que era você; devagarzinho, sem a gente sentir... Agora está aí, né? ... Tá vendo o resultado? ...

 

        O peixe, quieto num canto, parecia escutar. Podia dar alguma coisa para ele comer. Talvez pão. Foi olhar na lata: havia acabado. Que mais? Se a mãe estivesse em casa, ela teria dado uma ideia – a mãe era boa para dar ideias. Mas ele estava sozinho. Não conseguia lembrar de outra coisa. O jeito era ir comprar um pão na padaria. Mas sujo assim de barro, a roupa molhada, imunda.

        – Dane-se – disse, e foi.

        Era domingo à noite, o quarteirão movimentado, rapazes no footing, bares cheios. Enquanto ele andava, foi pensando no que acontecera. No começo fora só curiosidade; mas depois foi bacana, ficou alegre quando viu a traíra bem viva de novo, correndo pela água, esperta. Mas o que faria com ela agora? Matá-la, não ia; não, não faria isso. Se ela já estivesse morta, seria diferente; mas ela estava viva, e ele não queria matá-la. Mas o que faria com ela? Poderia criá-la; por que não? Havia o tanquinho do quintal, tanquinho que a mãe uma vez mandara fazer para criar patos. Estava entupido de terra, mas ele poderia desentupi-lo, arranjar tudo; ficaria cem por cento. É, é isso o que faria. Deixaria a traíra numa lata d'água até o dia seguinte e, de manhã, logo que se levantasse, iria mexer com isso.

        Enquanto era atendido na padaria, ficou olhando para o movimento, os ruídos, o vozerio do bar em frente. E então pensou na traíra, sua trairinha, deslizando silenciosamente no tanque da pia, na casa escura. Era até meio besta como ele estava alegre com aquilo. E logo um peixe feio como traíra, isso é que era o mais engraçado.

 

        Toda manhã – ia pensando, de volta para casa – ele desceria ao quintal, levando pedacinhos de pão para ela. Além disso, arrancaria minhocas, e de vez em quando pegaria alguns insetos. Uma coisa que podia fazer também era pescar depois outra traíra e trazer para fazer companhia a ela; um peixe sozinho num tanque era algo muito solitário.

        A empregada já havia chegado e estava no portão, olhando o movimento.

        – Que peixada bonita você pegou...

        – Você viu?

        – Uma beleza... Tem até uma trairinha.

        – Ela foi difícil de pegar, quase que ela escapole; ela não estava bem fisgada.

        – Traíra é duro de morrer, hem?

        – Duro de morrer? ...

        Ele parou.

         – Uai, essa que você pegou estava vivinha na hora que eu cheguei, e você ainda esqueceu o tanque cheio d'água... Quando eu cheguei, ela estava toda folgada, nadando. Você não está acreditando? Juro. Ela estava toda folgada, nadando.

        – E aí?

        – Aí? Uai, aí eu escorri a água para ela morrer; mas você pensa que ela morreu? Morreu nada! Traíra é duro de morrer, nunca vi um peixe assim. Eu soquei a ponta da faca naquelas coisas que faz o peixe nadar, sabe? Pois acredita que ela ainda ficou mexendo? Aí eu peguei o cabo da faca e esmaguei a cabeça dele, e foi aí que ele morreu. Mas custou, ô peixinho duro de morrer! Quê que você está me olhando?

        – Por nada.

        – Você não está acreditando? Juro; pode ir lá na cozinha ver: ela está lá do jeitinho que eu deixei.

        Ele foi caminhando para dentro.

        – Vou ficar aqui mais um pouco – disse a empregada. – depois vou arrumar os peixes, viu?

        – Sei.

        Acendeu a luz da sala. Deixou o pão em cima da mesa e sentou-se. Só então notou como estava cansado.

 

  Luiz Vilela. O violino e outros contos. 7. ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 36-38.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·Capanga: bolsa pequena, de tecido, couro ou plástico, usada a tiracolo.

 

·        Footing: passeio a pé, com o objetivo de arrumar namorado(a).

 

·Guelra: estrutura do órgão respiratório da maioria dos animais aquáticos.

·        Rabanada: movimento brusco com o rabo.

·        Vozerio: som de muitas vozes juntas.

 

02 – Qual é o foco narrativo do conto? Justifique com elementos do texto.

      O texto é narrado em terceira pessoa. Os verbos e pronomes na terceira pessoa justificam essa resposta.

 

03 – Quais são as características do narrador dessa história?

      É um narrador em terceira pessoa, que não participa da história, mas sabe de tudo sobre as personagens, incluindo o que estão pensando.

 

 

04 – Releia o trecho a seguir: “[...] Como que ela podia durar tanto tempo assim fora d’água? ...”. De quem é essa voz?

      É a voz do narrador onisciente, que conhece até mesmo os pensamentos das personagens.

 

05 – O conto é um gênero de narrativa no qual se desenvolve um único conflito envolvendo o(s) protagonista(s). Nesse conto, assistimos a um conflito interior, que se passa no íntimo do protagonista.

a)Qual é esse conflito?

O conflito é o que fazer com o peixe que não havia morrido.

 

b)Que fato provoca tal conflito?

O fato de a traíra ainda estar viva quando a personagem principal despeja os peixes na pia.

 

06 – O conflito interior do protagonista se inicia e vai se desenvolvendo até a decisão final.

a)Qual é a decisão do protagonista a respeito do peixe?

A decisão é criar a traíra no tanquinho do quintal.

 

b)Quais são as etapas desde o conflito até a tomada de decisão?

No começo, a personagem principal fica apenas curiosa, mas depois se anima com a ideia de o peixe estar vivo. Resolve sair para comprar comida para o peixe e decide limpar o tanquinho para ele cria-lo.

 

07 – Reproduza o trecho que corresponde ao clímax desse conto e explique por que você considera esse o momento de maior tensão da história.

      O clímax se dá no momento em que a empregada diz “—Traíra é duro de morrer, hem?”; porque, então, a personagem principal vê desmoronar seu sonho de criar a traíra como um peixe de estimação.

 

08 – A escolha do foco narrativo em terceira pessoa permite que exista um diálogo, como o que se dá entre a personagem principal e a empregada, carregado de tensão. Se esse conto fosse narrado em primeira pessoa, isso seria possível? Por quê?

      Não. Se o narrador fosse o menino, ele diria o que pensou ao ouvir a empregada, e todo o clima de tensão desapareceria.

 

09 – Considerando o que foi estudado neste capítulo sobre os determinantes do substantivo, podemos dizer que, no início da narrativa, a traíra era realmente “um peixe” para a personagem principal, mas, no final, o menino já poderia se referir a ela como “o peixe”. Por quê?

      No início da narrativa, o uso do artigo um mostra que o peixe é desconhecido, um peixe qualquer, igual a outros que o menino já viu. No fim, o artigo o individualiza esse peixe: não se trata mais de qualquer peixe, mas daquele ao qual a personagem se afeiçoou.

 

10 – Nos primeiros parágrafos, o narrador descreve a cena em que a personagem principal volta de uma pescaria. Logo em seguida, esse mesmo narrador oferece ao leitor uma informação que vai alterar a situação inicial da história.

a)Que informação é essa?

Trata-se da informação de que a traíra estava viva.

 

b)Por que essa informação vai alterar o rumo da trama?

Porque, a partir deste momento, a traíra mostra-se realmente viva. E o que fazer com ela é a questão que se segue.

 

11 – A personagem começa a gostar do peixe. Como isso aparece no texto?

      A personagem começa a conversar com o peixe.

 

12 – Releia: “[...] E então pensou na traíra, sua trairinha, deslizando silenciosamente no tanque da pia, na casa escura.”

a)O que o diminutivo trairinha revela sobre os sentimentos da personagem?

O diminutivo mostra que a personagem já estava se afeiçoando à traíra.

 

b)Como a personagem encara essa relação com a traíra?

O menino acha curioso se interessar pela traíra, afeiçoar-se a um peixe que nem bonito era.

 

13 – Releia:

        “– Traíra é duro de morrer, hem?

        – Duro de morrer? ...

        Ele parou.

         – Uai, essa que você pegou estava vivinha na hora que eu cheguei, e você ainda esqueceu o tanque cheio d'água... Quando eu cheguei, ela estava toda folgada, nadando. Você não está acreditando? Juro. Ela estava toda folgada, nadando.”

 

a)Em vez de dizer tudo o que a personagem sentiu ao ouvir a empregada, o narrador limitou-se a uma frase curta e seca: “Ele parou”. Que efeito esse recurso provoca no leitor?

Frases curtas e secas são mais diretas. Neste caso, a frase cria um suspense, deixando o leitor na expectativa do que poderia ter de fato acontecido ao peixe.

 

b)O que a personagem pode ter pensado naquele momento?

Resposta pessoal do aluno.

 

c)Explique o uso do diminutivo vivinha nesse trecho.

O diminutivo, nesse trecho, intensifica a ideia de vivacidade e vitalidade; vivinha quer dizer “muito viva, bem viva”.

 

14 – Há no texto perguntas não indicadas por travessão. Observe:

        “[...]No começo fora só curiosidade; mas depois foi bacana, ficou alegre quando viu a traíra bem viva de novo, correndo pela água, esperta. Mas o que faria com ela agora? Matá-la, não ia; não, não faria isso. Se ela já estivesse morta, seria diferente; mas ela estava viva, e ele não queria matá-la. Mas o que faria com ela? Poderia criá-la; por que não?”

 

a)Essas perguntas estão relacionadas à voz de qual personagem?

À voz da personagem principal, o menino.

 

b)Que informações essas perguntas revelam ao leitor?

Essas perguntas permitem que o leitor conheça as dúvidas, os sentimentos e pensamentos da personagem principal.

FABULA O HOMEM DAS ISCAS

 

FABULA O HOMEM DAS ISCAS

 

          "Um homem tinha uma fazenda perto de um rio. Certo dia o rio começou a subir e ele percebeu que sua fazenda ia ficar submersa. Transferiu toda sua família e todo seu gado e todos seus utensílios e móveis para o alto da montanha mais próxima.

          Havia, na sua fazenda, exatamente 284 quilômetros de cerca de arame farpado. Era um arame de sete farpas por metro, num total de sete mil farpas por quilômetro e, portanto, toda cerca somava 1.988.000 farpas. O homem arranjou um empregado, que, sem comer nem dormir, colocou em cada uma dessas farpas um pedacinho de carne, uma isca qualquer. Quando terminou, mal teve tempo de subir a montanha. Veio o dilúvio.

          Durante noventa e três horas choveu ininterruptamente. Durante noventa e seis horas o rio esteve três metros acima da cerca. Mas logo as águas cederam, e rapidamente o rio voltou ao normal. O homem desceu e examinou a cerca. Encontrou, maravilhado, um peixe pendente de cada farpa, exceto três. Ou seja, um total de 1.987.997 peixes. Havia tainhas, e havia robalos, corvinas, namorados, galos e muitas outras espécies que ele nunca vira.

          Cada peixe pesava, em média, duzentas e cinqüenta gramas, de modo que o homem tinha um total de 496.099.250 gramas de peixe fresco, ou seja, 496.999 quilos de peixe. Isso tudo, vendido a 200 cruzeiros o quilo, vocês façam a conta e Ah, naturalmente o empregado foi despedido porque colocou mal as iscas nas três farpas que falharam.

 

        Entendendo a fábula:

 01 – A história narrada por Millôr Fernandes refere-se a um fato:

      (   ) Real.          (   ) Histórico.        (X) Fictício.

 

 02 – Transcreva do quinto parágrafo a frase que nos informa a causa de o rio ter começado a subir:

      Durante noventa e três horas choveu ininterruptamente.

 

 03 – O fazendeiro transferiu sua família e pertences para o alto da montanha, por que?

      Percebeu que sua fazenda ia ficar submersa.

 

 04 – Por fazer isso, o fazendeiro mostrou seu um homem:

          a)   Ambicioso.

          b)   Prevenido. X

          c)   Precipitado.

          d)   Medroso.

 

 05 – Assinale as afirmações absurdas (fatos impossíveis):

      (   ) Transferiu todo o seu gado para o alto da montanha mais próxima.

      (X) O homem, sem comer, sem dormir, colocou em cada uma das farpas um pedacinho de carne.

      (   ) Durante 93 horas choveu ininterruptamente.

      (X) Encontrou, maravilhado, um peixe pendente de cada farpa, exceto três.

 

   06 – Por que a segunda afirmação do item 5 é absurda?

      Porque para colocar um pedacinho de carne nas farpas todos os dois homens levariam, pelo menos, um mês. Ora, ninguém é capaz de aguentar tanto tempo sem comer nem dormir.

 

   07 – O fazendeiro agiu bem, despedindo o empregado? Justifique a sua resposta:

      Não, agiu mal, foi injusto, porque despediu o empregado por um motivo à-toa.

CONTO FANTÁSTICO O HOMEM CUJA ORELHA CRESCEU

 

CONTO FANTÁSTICO O HOMEM CUJA ORELHA CRESCEU (Ignácio de Loyola Brandão)

 9º ano

          Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora-extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão.  Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam à cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro.  Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.

           Quando chegou na pensão, a orelha saía pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite?  Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero. 

          Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para lá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fora da cama. Dormiu.

          Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na  manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da  cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hóspedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua.

Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro  cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram os favelados, as organizações  de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta  do estádio, donas de casa. Vinham com cestas, carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição racional.

          E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar.  Encheram silos, frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne de orelha, chamaram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.

E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial:  "Por que o senhor não mata o dono da orelha?”

 

 Publicado em "Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão”, Global Editora, 1993, pág. 135.

 

1. Qual é o foco narrativo empregado no texto?

 

2. No primeiro parágrafo é possível obter várias informações sobre a personagens. Identifique-as.

 

3. Na história é desenvolvida em vários ambientes. Numere os espaços na ordem que aparecem na narrativa.

(  ) rua   (   ) quintal    (   )escritório     (    ) quarto da pensão      (   ) corredor

 

4.A única personagem do texto que ataca o problema na causa é:

( A) o dono da orelha  ( B) o presidente.        (C) os açougueiros.   (D) o menino.

 

5. No começo,como o homem justifica a sensação que sua orelha estava crescendo? 

 

6. Assinale V

(verdadeiro) ou F (falso) e justifique cada resposta.

(    ) A princípio, a carne de orelha torna-se um benefício para a sociedade.

(    ) O caso do crescimento tornou-se um problema nacional.

(    ) A reação das demais personagens ao crescimento da orelha é de aceitação.

(    ) O escriturários tinha vários amigos no trabalho.

 

7. O crescimento contínuo das orelhas da personagem é um recurso usado pelo autor para produzir o efeito de humor ou desconforto? Justifique sua resposta.

 

8. Qual foi a atitude das pessoas quando já tinham se fartado da carne de orelha?

 

9. Por que a pergunta do menino é o mais tenso da narrativa?

 

10. Na sua opinião, qual é a intenção do autor ao não definir o que vai acontecer com a personagem?

 

11. Uma palavra pode ter vários significados, dependendo do contexto. Dê o significado para “perna” em cada frase:

 A orelha saía pela perna da calça.

Não quero nenhum perna-de-calça cercando minhas filhas.

As belas pernas enlouquecem os homens.

Cuidado, a mesa está com a perna quebrada.

A casa está de pernas para o ar.

 

12. Na sua opinião, esse conto pode ser uma crítica à sociedade?

domingo, 2 de fevereiro de 2025

CONTO - NEGOCIO DE MENINA COM MENINO – 6 ANO

 CONTO - NEGOCIO DE MENINA COM MENINO – 6 ANO -   Ivan Ângelo

 FONTE:https://armazemdetexto.blogspot.com/2022/04/conto-negocio-de-menino-com-menina-ivan.html#google_vignette

        O menino, de uns dez anos, pés no chão, vinha andando pela estrada de terra da fazenda com a gaiola na mão. Sol forte de uma hora da tarde. A menina, de uns nove anos, ia de carro com o pai, novo dono da fazenda. Gente de São Paulo. Ela viu o passarinho na gaiola e pediu ao pai:

        – Olha que lindo! Compra pra mim?

        O homem parou o carro e chamou:

        – Ô menino.

        O menino voltou, chegou perto, carinha boa. Parou do lado da janela da menina. O homem:

        – Esse passarinho é pra vender?

        – Não senhor.

        O pai olhou para a filha com cara de deixa pra lá. A filha pediu suave como se o pai tudo pudesse:

        – Fala pra ele vender.

        O pai, mais para atendê-la, apenas intermediário:

        – Quanto você quer pelo passarinho?

        – Não tou vendendo, não, senhor.

        A menina ficou decepcionada e segredou:

        – Ah, pai, compra.

        Ela não considerava, ou não aprendera ainda, que negócio só se faz quando existe um vendedor e um comprador. No caso, faltava o vendedor. Mas o pai era um homem de negócios, águia da Bolsa, acostumado a encorajar os mais hesitantes ou a virar a cabeça dos mais recalcitrantes:

        – Dou dez mil.

        – Não senhor.

        – Vinte mil.

        – Vendo não.

        O homem meteu a mão no bolso, tirou o dinheiro, mostrou três notas, irritado.

        – Trinta mil.

        – Não tou vendendo, não, senhor.

        O homem resmungou “que menino chato” e falou pra filha:

        – Ele não quer vender. Paciência.

        A filha, baixinho, indiferente às impossibilidades de transação:

       – Mas eu queria. Olha que bonitinho.

        O homem olhou a menina, a gaiola, a roupa encardida do menino, com um rasgo na manga, o rosto vermelho de sol.

        – Deixa comigo.

        Levantou-se, deu a volta, foi até lá. A menina procurava intimidade com o passarinho, dedinho nas gretas da gaiola. O homem, maneiro, estudando o adversário:

        – Qual é o nome deste passarinho?

        – Ainda não botei nome nele, não. Peguei ele agora.

        O homem, quase impaciente:

        – Não perguntei se ele é batizado não, menino. É pintassilgo, é sabiá, é o quê?

        – Aaaah. É bico-de-lacre.

 

        A menina, pela primeira vez, falou com o menino:

        – Ele vai crescer?

        O menino parou os olhos pretos nos olhos azuis.

        – Cresce nada. Ele é assim mesmo, pequenininho.

        O homem:

        – E canta?

        – Canta nada. Só faz chiar assim.

        – Passarinho besta, hein?

        – É. Não presta pra nada, é só bonito.

        – Você pegou ele dentro da fazenda?

        – É. Aí no mato.

        – Essa fazenda é minha. Tudo que tem nela é meu.

        O menino segurou com mais força a alça da gaiola, ajudou com a outra mão nas grades. O homem achou que estava na hora e falou já botando a mão na gaiola, dinheiro na outra mão.

        – Dou quarenta mil! Toma aqui.

        – Não senhor, muito obrigado.

        O homem, meio mandão:

        – Vende isso logo, menino. Não tá vendo que é pra menina?

        – Não, não tou vendendo, não.

        – Cinquenta mil! Toma! – e puxou a gaiola.

        Com cinquenta mil se comprava um saco de feijão, ou dois pares de sapatos, ou uma bicicleta velha.

       O menino resistiu, segurando a gaiola, voz trêmula.

        – Quero, não, senhor. Tou vendendo não.

        – Não vende por quê, hein? Por quê?

        O menino, acuado, tentando explicar:

        – É que eu demorei a manhã todinha pra pegar ele e tou com fome e com sede, e queria ter ele mais um pouquinho. Mostrar pra mamãe.

        O homem voltou para o carro, nervoso. Bateu a porta, culpando a filha pelo aborrecimento.

        – Viu no que dá mexer com essa gente? É tudo ignorante, filha. Vam’bora.

        O menino chegou pertinho da menina e falou baixo, para só ela ouvir:

        – Amanhã eu dou ele para você.

        Ela sorriu e compreendeu.

 

ÂNGELO, Ivan. O ladrão de sonhos e outras histórias. São Paulo: Ática, 1994. p. 9-11.

 

Fonte: Livro – PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 5ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 173-6.

 

Entendendo o conto:

 

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

 

·        Águia (figurado): pessoa de grande talento e perspicácia, notável.

 

·        Encorajar: dar coragem a, animar, estimular.

 

·        Greta: fenda, abertura estreita.

 

·        Hesitante: que hesita, indeciso, vacilante.

 

·        Intermediário: que está de permeio, que intervém, mediador, árbitro.

 

·        Maneiro: hábil, jeitoso.

 

·        Recalcitrante: obstinado, teimoso.

 

·        Transação: combinação, ajuste, operação comercial.

 

02 – O texto trata de uma “negociação” entre pessoas de nível social diferente: o menino, de um lado, e o homem e a menina, de outro.

 

a)   Que dados do texto comprovam que o menino é pobre?

 

O menino está de pés no chão, sua roupa está encardida e com um rasgo na manga; seus pais, provavelmente, são lavradores na fazenda, empregados do homem que quer comprar o passarinho.

 

b)   Que dados do texto comprovam que o homem e sua filha são ricos?

 

O homem é o dono da fazenda, tem carro, mora em São Paulo, trabalha na Bolsa de Valores, vai oferecendo cada vez mais dinheiro ao menino para satisfazer um capricho de sua filha, que provavelmente tem todos os seus desejos satisfeitos.

 

c)   Supostamente, quem tem mais força para vencer na negociação? Por quê?

 

O homem, porque pode amedrontar o menino, intimidá-lo, tem poder, é rico, é o dono, o patrão.

 

03 – Mesmo diante das negativas do menino, a menina insiste em que o pai compre o passarinho. O que esse comportamento revela sobre o tipo de mundo em que ela vive?

 

      Esse comportamento revela que a menina é mimada e vive num mundo em que o dinheiro pode comprar tudo, satisfazer todos os seus desejos ou caprichos.

 

04 – O pai, homem experiente no mundo dos negócios, usa estratégias para convencer o menino e, nessas tentativas, vai ficando cada vez mais irritado.

 

a)   Quais são as primeiras estratégias?

 

Oferecer dinheiro; primeiro, dez mil; depois, vinte, trinta.

 

b)   Já desistindo da compra, diante da insistência da filha o pai tenta novamente. Que novas estratégias ele usa?

 

Ele conversa de forma amistosa com o menino, buscando intimidade, estudando-o como adversário num negócio.

 

c)   Com que argumento o pai da menina pretendia encerrar a negociação?

 

Dizendo que tudo na fazenda lhe pertencia.

 

05 – No final do texto, no auge da irritação, o homem dia à filha: “Viu no que dá mexer com essa gente? É tudo ignorante, filha. Vam’bora”.

 

a)   Podemos comparar o homem do texto com a raposa da fábula “A raposa e as uvas”. Por quê?

 

Porque, tal como ocorre na fábula, em que a raposa, não conseguindo apanhar as uvas, diz que elas estão verdes, o homem, não conseguindo convencer o menino, diz que ele é ignorante.

 

b)   O que revela em relação ao menino e à sua gente essa fala do homem?

 

Revela desprezo; ou que o homem se acha mais importante do que o menino; ou que, para ele, o menino e sua gente não passam de gentalha, são pessoas socialmente inferiores a ele.

 

06 – O passarinho tem um valor ou um significado diferente para cada uma das personagens.

 

a)   Que valor o passarinho tem para o pai da menina?

 

Para o pai da menina, o passarinho tem o valor de mercadoria e, além disso, representa um desafio; porém ele é vencido nesse desafio.

 

b)   E que valor ele tem para o menino e para a menina?

 

As crianças querem o passarinho pelo que ele é, para brincar com ele.

 

07 – Pelo final da história, você acha que o menino deu uma lição na menina e n pai dela? Por quê?

 

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, pois pai e filha tiveram uma lição de que o dinheiro não compra tudo, de que é preciso respeitar o desejo das outras pessoas, etc.

 

08 – Observe algumas falas das personagens do texto:

 

        “— Você pegou ele dentro da fazenda?” (Pai da menina).

 

        “— Fala pra ele vender.” (Menina).

 

        “— Ainda não botei nome nele, não. Peguei ele agora.” (Menino)

 

a)   Para se comunicar, as personagens usam a variedade padrão da língua ou uma variedade não padrão?

 

Usam uma variedade não padrão.

 

b)   Na situação em que eles se encontram – uma conversa entre um adulto e duas crianças –, o uso dessa variedade é adequado? Por quê?

 

Sim, pois eles estão numa situação informal e apenas um é adulto; a situação não exige o emprego da variedade padrão.

 

c)   Como você acha que o pai da menina diria a primeira frase se ele estivesse trabalhando na Bolsa?

 

Provavelmente ele empregaria a variedade padrão. Ficaria assim: Você o pegou dentro da fazenda?