Pedro Malasartes e a Sopa de Pedra
Um dia, Pedro Malasartes vinha
pela estrada com fome e chegou a uma casa onde morava uma velha muito pão-dura.
- Sou um pobre viajante faminto e
cansado. Venho andando de muito longe, há três anos, três meses, três semanas,
três dias, três noites, três horas…
- Pare com isso e diga logo o que
quer – interrompeu a mulher.
- É que estou com fome. Será que
a senhora podia me ajudar?
- Não tem nada de comer nesta
casa – foi logo dizendo a velha.
Ele olhou em volta, viu um curral
cheio de vacas, um galinheiro cheio de galinhas, umas gaiolas cheias de
coelhos, um chiqueiro cheio de porcos. E mais uma horta muito bem cuidada, um
pomar com árvores carregadinhas de frutas, um milharal viçoso, uma roça de
mandioca.
- Não, a senhora entendeu mal. Eu
não preciso de comida, não. Só queria era uma panela emprestada e um pouco
d’água. Se a senhora me deixar usar seu fogão, eu já estou satisfeito. Porque
aqui no chão tem muita pedra, e isso me basta. Eu faço uma sopa de pedra
maravilhosa e nunca preciso de mais nada, já fico de barriga cheia.
Desse jeito, ela não tinha como
negar. Então deixou. Meio de má vontade, mas deixou. Só repetiu:
- Sopa de pedra?
- É… – disse ele, se abaixando
para pegar uma pedra no chão. – Com esta pedra aqui eu faço a sopa mais
deliciosa do mundo. O importante é lavar bem, esfregar bem esfregadinho e
deixar a pedra bem limpa antes de botar na panela.
E Malasartes então tratou de
lavar bem a pedra, como disse. Em seguida, encheu a panela com água, pôs a
pedra dentro e botou tudo no fogo. Quando a água começou a ferver, ele provou e
disse:
- É… até que não está ruim… Só
não ficar boa mesmo, de verdade, porque não tem sal.
- Não seja por isso – disse a
velha. – Eu tenho e lhe dou uma pitada.
- Ótimo. Com um pouquinho de
cebola e alho, fica melhor ainda.
- Não seja por isso – disse ela.
– Eu lhe arrumo.
-E um temperinho verde, de horta,
será que não tem? Dá gostinho especial na sopa…
- Vá lá, não é por isso que essa
sua sopa vai ficar sem gosto.
Foi pegar tudo o que Pedro
Malasartes pediu e voltou depressa para o lado dele. Estava louca para
aprendera a fazer aquela sopa. Podia ser mesmo uma sorte receber aquele
viajante em casa. Se ele lhe ensinasse a se alimentar só com uma sopa feita de
pedra e água, com certeza ela ia economizar muito daí por diante.
Mas não pôde ficar muito tempo na
beira do fogão, observando. Porque logo que Pedro jogou os ingredientes na
panela e deu uma mexida, ele tornou a provar e fez uma cara de quem estava em
dúvida.
- O que foi? – perguntou a
mulher.
- Não sei bem. Parece que falta
alguma coisa neste caldo. Talvez um pedacinho de carne ou de lingüiça…
- Não seja por isso – respondeu
ela. – Se é uma sopa tão maravilhosa e tão econômica assim, não vai ser por um
pedacinho de carne que vamos perder essa maravilha.
Foi lá dentro e voltou com um
pedaço de carne, outro de paio e uma lingüiça. Malasartes jogou tudo dentro da
panela. Deixou cozinhar mais um pouquinho e então respirou fundo:
- Está começando a ficar cheirosa,
não acha?
- É mesmo – concordou a velha,
interessada.
- O problema é que vai ficar meio
sem graça assim branquela, sem cor. O gosto está bom, mas fica sempre melhor
quando a gente tem um pouco de colorido para enfeitar. Um pedaço de abóbora,
umas folhas de couve, de repolho, uma cenourinha, uma batatinha… mas isso não é
mesmo muito importante, a senhora não acha? É só aparência…
A mulher, louca para aprender bem
a fazer aquela sopa preciosa, foi dizendo:
- Não seja por isso. Vou ali na
horta buscar.
Voltou carregada de tudo o que
ele pediu e mais um nabo, dois maxixes, uma batata-doce, um chuchu, uma espiga
de milho. Até uma banada-da-terra. A essa altura, ela já não se limitava ficar
olhando. Tratava de ajudar mesmo, para andar depressa e também para ela ter
certeza de que não estava perdendo nenhuma etapa da preparação daquele prato
tão maravilhoso e econômico. Por isso, foi logo lavando todas as verduras para
tirar a terra e limpar bem, descascou o que era de descascar, e foi passando
para Pedro, que cortava e jogava na panela.
E o fogo, ó, ia esquentando. E a
água, ó, ia fervendo. E a sopa, ó, ia borbulhando.
Os dois esperavam, sentindo
aquele cheiro ótimo. De vez em quando Malasartes provava. E suspirava:
- Hum! Está ficando gostosa…
- Está mesmo um cheiro delicioso
– concordava a velha.
Daí a pouco, ele provou de novo e
concluiu:
- Pronto! Agora está perfeita!
Uma delícia! É só tomar.
A velha trouxe dois pratos
fundos, e ele serviu. Ela ficou olhando, para ver o que ele fazia com a pedra,
mas Pedro deixou a pedra na panela.
-E a pedra? – perguntou.
- A gente joga fora.
(Conto Brasileiro por Ana Maria Machado)
1. IDENTIFIQUE OS PERSONAGENS.
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2. DESCREVA:
A. SITUAÇÃO INICIAL;
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B. O CONFLITO;
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C. O DESFECHO.
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3. TRANSCREVA MARCADORES TEMPORAIS.
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4. INDIQUE A
CARACTERÍSTICA MAIS MARCANTE:
A. DE PEDRO MALASARTES E JUSTIFIQUE;
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B. DA VELHA E JUSTIFIQUE.
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5. PODE-SE AFIRMAR QUE ESTE TEXTO PERTENCE AO GÊNERO CONTO
POPULAR? ENUMERE ELEMENTOS PARA JUSTIFICAR-SE.
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6. OS CONTOS POPULARES, MUITAS VEZES, TRAZEM, EM MEIO À
NARRATIVA, ENSINAMENTOS DA CULTURA POPULAR. QUAL PODERIA SER O DESTA NARRATIVA?
EXPLIQUE.
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7. QUAL O FOCO NARRATIVO? TRANSCREVA UM TRECHO PARA
COMPROVAR.
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8. IDENTIFIQUE O TEMPO DOS VERBOS NO INDICATIVO:
a. chegou:......................................................................
b.morava:....................................................................
c. estou:......................................................................
d. venho:...................................................................
e. pediu:..................................................................
f. estava:................................................................
9. Passe os verbos destacados nas frases abaixo para o futuro
do presente e para o futuro do pretérito:
a) Chegou em casa.
.................................................................................................
b) Ele olhou em volta.
....................................................................................................
c) A senhora entendeu mal.
....................................................................................................
d) Pedro repetiu a frase.
................................................................................................
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