Semântica: adjetivo anteposto ou posposto ao substantivo
Os
aspectos semânticos de um texto estão associados à articulação e à utilização
correta das classes gramaticais. Também não podemos deixar de realçar que a
significação de um enunciado se relaciona com a posição desses vocábulos na
oração.
É
o caso dos adjetivos!!! Por quê, professora?!
Vejamos!!!
Os
adjetivos costumam ficar posposto ao substantivo: homem honrado, casa
maravilhosa, mulher elegante.
E
se alterarmos essa ordem: Honrado homem, maravilhosa casa, elegante mulher?
Ao
empregarmos o adjetivo antes do substantivo, atribuiremos um valor enfático à
ideia expressa.
Além
da ênfase, a ordem do adjetivo na oração (posposto ou anteposto) dará outro
valor semântico. Observe:
- Amigo velho: amigo idoso;
- Velho amigo: amizade antiga;
- Oficial alto: homem de
estatura elevada;
- Alto oficial: cargo
importante;
- Pobre criança: criança digna
de pena;
- Criança pobre: criança sem
recursos financeiros.
O adjetivo, cuja função é qualificar, geralmente fica depois
do substantivo que ele modifica. Exemplos: casa bonita, cidade maravilhosa,
mulher charmosa.
E se a ordem for alterada – bonita casa, maravilhosa cidade,
charmosa mulher –, mudará alguma coisa? Sim: a ideia será expressa de forma mais
enfática.
Além da ênfase, também pode ocorrer mudança de sentido
quando há alteração da ordem de um adjetivo. Vejam os exemplos:
1) Ele é um amigo velho. (= amigo idoso)
Ele é um velho amigo. (= amizade antiga)
2) Ele é um oficial alto. (= de estatura alta)
Ele é um alto oficial. (= importante)
3) Ela é uma mulher pobre. (= sem recursos financeiros)
Ela é uma pobre mulher. (= infeliz, digna de pena)
4) O diretor é um grande homem. (= notável)
O diretor é um homem grande. (= de tamanho grande)
5) Ele é um professor simples. (= sem luxo)
Ele é um simples professor. (= insignificante)
6) Chame qualquer pessoa. (= qualquer uma)
Não sou uma pessoa qualquer. (= insignificante)
7) O falso profeta gritava para a multidão. (= impostor)
O profeta falso gritava para a multidão. (= desleal,
mentiroso)
8) Simone é uma nova mulher. (= renovada, restaurada)
Simone é uma mulher nova. (= jovem)
9) Ele era um senhor professor. (= excelente)
Ele era um professor senhor. (= de meia-idade)
10) Ouvi uma história longa. (“Longa” é uma característica
da história)
Ouvi uma longa história. (O adjetivo “longa” pode estar
sugerindo uma impressão do emissor: além de comprida, a história pode ser
considerada complexa, por exemplo.)
ATENÇÃO!!! A depender do contexto em que o termo está
inserido, o uso do diminutivo pode acontecer para DEPRECIAR, IRONIZAR e
CRITICAR, MENOSPREZAR.
O
USO DOS DIMINUTIVOS
NO COTIDIANO DA LÍNGUA PORTUGUESA
NO COTIDIANO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Fernanda de Oliveira Marconi
da Costa (UCB)
Os homens desde os seus primórdios sempre tiveram necessidade de
se comunicarem.
Como os homens tinham uma inteligência e sensibilidade diferentes
dos outros animais, sentiram a necessidade de trocarem com outros homens as
suas experiências e as suas emoções. Começaram a criar através de gestos e
vozes uma linguagem que facilitasse essas trocas de experiências e que pudesse
beneficiá-los.
O homem é o único animal que cria, que transforma, que evolui.
Como ele evolui, a sua maneira de se comunicar com os outros homens também
evolui.
As palavras vão também evoluindo. Criam-se expressões novas,
usam-se velhas expressões mas com novas significações, modifica-se a grafia das
palavras.
A linguagem é viva e vai se modificando de acordo com as
modificações sofridas pelo homem, porque a linguagem é o próprio homem.
A linguagem é inseparável do homem e segue-o desde o seu
nascimento até sua morte.
É através da linguagem que se conhece o pensamento de um homem,
que se conhece a realidade de uma sociedade, de um país.
Como a linguagem funciona por analogias (semelhança entre coisas
diferente) ela cria, interpreta e decifra significações.
É
na linguagem que a significação se perfaz. Se o homem é a língua que fala é
todo ele que se coloca na linguagem. As frases valem pela intenção do falante,
pelo que ele quis destacar e realçar, pelo contexto da situação. (WALDECK, S.
P. e SOUZA, Luís de)
A linguagem é conotativa, onde a pluralidade de sentido das coisas
faz parte de sua própria existência
Saussure já dizia que a característica da fala é a liberdade de combinações.
Marilene Chauí diz em seu livro que a linguagem nasce das emoções,
particularmente do grito (medo, surpresa, compaixão) e do riso (prazer, bem
estar, felicidade). E mais adiante: Não é a fome ou a sede, mas o amor ou o
ódio, a piedade, a cólera, que aos primeiros homens lhe arrancaram as primeiras
vozes..
E é nesse momento de explosão que o homem utiliza os diminutivos
para poder expressar melhor as suas emoções e as suas intenções de modo
espontâneo, impulsivo e não apenas utilizá-lo como diminuição de tamanho.
Os diminutivos nem sempre indicam diminuição de tamanho.
Dependendo de como os diminutivos são colocados no contexto, eles podem assumir
as mais diversas significações e não apenas diminuição de tamanho.
O principal morfema da Língua Portuguesa para denotar o diminutivo
é “inho”(a). Os outros sufixos são:, acho,culo, ebre, eco, ejo, ela, ete, eto,
iço, im, isco, Ito, ote, ucho, ulo, únculo, usco.
Na linguagem coloquial, as formas sintéticas dos diminutivos,
tanto nos substantivos, quanto nos advérbios e adjetivos, são, na maioria das
vezes utilizadas não só como diminutivos, mas também para indicar as várias
manifestações da emoção e das intenções do falante..
A significação dos diminutivos depende do contexto e só existe em
relação a ele.
Algumas significações dos
diminutivos
Há casos em que os diminutivos têm significação de aumentativo:
1)- Casinha: Dois amigos se encontram e um deles convida o amigo para
conhecer a sua “casinha” (diminutivo afetivo, de aconchego).
Quando o amigo chegou em frente à casa, declarou admirado:
-
Que “casinha” hein!...
Na realidade, o amigo se admirou porque não era uma casinha, (no
sentido de pequena), mas uma casa grande, um casarão.
2)- Friozinho:Quando alguém diz “aquela situação me deu um
‘friozinho na barriga’”, realmente não será o aumentativo de medo?
Nos casos em que os diminutivos se referem a comida, o tom
carinhoso, afetivo, surge com muito mais intensidade.
Que
comidinha gostosa a sua mãe faz !
Hoje
o arrozinho e o feijãozinho da mamãe estavam uma delícia!
Já
provou o tutuzinho da vovó?
Gostou
do cafezinho?
Algumas palavras causam desconforto, por isso usamos o eufemismo.
O diminutivo se presta muito a isso: serve para abrandar, para atenuar uma
situação que, (segundo Veríssimo), “na sua forma original são ameaçadoras
demais”
Ex.: 1- Remedinho: Maria Paula já saiu toda arranhada por causa dos
penduricalhos usados num top. “Era de cristal e tinha várias pontas. Foi só
fazer um movimento mais brusco que, pronto, me arranhei toda. No intervalo tive
que passar um remedinho para sarar” (Revista da TV, 9/6/02.
Remedinho, neste caso, significa tratamento de rotina, coisa
simples, sem conseqüência. Já se ela usasse “um remédio”, o machucado teria
sido de maior conseqüência.
2) Operaçãozinha
“João irá fazer uma operação”
Operação é uma palavra que assusta. Uma operação certamente durará
horas e os resultados serão incertos.
Agora, quando se diz: “João irá fazer uma “operaçãozinha”,
operaçãozinha, neste caso é uma mera formalidade, é uma coisa banal, inconseqüente.
3) Torresminho: Podem-se passar horas comendo torresminho sem causar nenhum efeito
daninho para o nosso colesterol.
Deve-se tomar cuidado com o uso d as palavras no diminutivo, pois
em determinadas situações pode haver constrangimentos, ofender as pessoas,
magoá-las.
Ex.: 1) Doutorzinho
“Esse doutorzinho não acertou um diagnóstico sequer”
Esse diminutivo revela ironia, desprezo, antipatia.
2) Povinho
“Esse povinho não tem muita coragem”
Povinho- revela um grande desprezo pelas pessoas, por esse povo.
3) Vinhozinho
“Ele nos serviu um vinhozinho qualquer”
Este ”vinhozinho” conota desprezo, depreciação.
Os diminutivos nos nomes dá-lhes um significado carinhoso,
sentimental, de ternura. Aquilo que é nosso, que está, segundo Veríssimo “perto
de nós, de aconchego, familiar, à mão, é o da gente”.
Lulinha Paz e Amor,, Toninho Betinho, Bruninho, Rafaelzinho,
Rodriguinho, Terezinha, Joãozinho, Ronaldinho, Rubinho, Rosinha.
Isso não quer dizer que são pequenos, mas sim que eles são muito
amados.
2) Escolinha de Futebol: Não quer dizer que é uma escola pequena em
tamanho, mas sim uma escola para crianças
3) Casinha:
“A nossa casinha é muito bonita.”
Casinha não se refere ao tamanho, mas sim ao que ela significa.
Nos epítetos, os diminutivos são inigualáveis, pois,
carinhosamente, substituem os nomes
Ex.: 1) Terrinha:
“...mas na sexta-feira ele levou à Terrinha o Show”. J.B. 28/05/02
Terrinha = Portugal
2) Baixinho:
“Xuxa de volta para os baixinhos”
Baixinho, neste caso são as crianças
3) Pombinhos:
“Um filho para os pombinhos” (O Globo, 18/09/02)
Pombinhos = casal feliz
4) Mosquinha morta:
Amaro era como diziam os criados uma “mosquinha morta” (O Crime
do Padre Amaro. Eça de Queiroz p.23)
Mosquinha morta = Amaro, Inofensivo.
Existem diminutivos que, etimologicamente sejam considerados
diminutivos, atualmente perderam a significação de diminutivos, pois adquiriram
significados especiais, dissociado da palavra derivante. Não se pode mais a
rigor falar de diminutivos, pois são em verdade, palavras em sua acepção
normal.
Ex.: 1) Asterisco: do latim asterískos que significa
“estrela pequena”.
Atualmente: Sinal tipográfico em forma de estrela que indica uma
remissão ou chamada para citação
2) Flâmula: do latim flammula que significa “pequena chama”
Atualmente: galhardete, bandeirola.
3) Ósculo: do latim osculu, que significa “boquinha”
Atualmente: beijo.
4) Casal: Vem do latim vulgar que significa cabana, choça, choupana (casa
pequena e rústica).
Atualmente: par composto de macho-e-fêmea.
Existem palavras que embora utilizem o sufixo diminutivo, não tem
significação de diminutivo. Elas são meramente formais, não encerram a idéia de
diminutivos, desde que colocados dentro de um contexto.
Ex.:
1) Santinho: Propaganda eleitoral impressa em formato pequeno, com foto do
candidato e informações sobre ele.
2) Folhinha: Folha com o calendário impresso.
3) Patricinha: Mulher que se veste com excessivo apuro.
4) Pegadinha: Ciladas
As pegadinhas do Faustão.
5) Vaquinha (Vários amigos colaborando?
“Não tinha dinheiro, então, fez-se uma vaquinha entre os amigos
para comprar a carne para o churrasco”.
Vaquinha = ajuda mútua, caixinha.
E os diminutivos sensuais? Aquelas palavras afetuosas que se usam
para designar o que é agradável, e segundo Veríssimo, “aquelas coisas tão
afáveis que se deixam diminuir sem perder o sentido”, a sensualidade, o
excitante, a imaginação ao erótico.
Ex.:
1) Bundinha:Que bundinha bonitinha!
2) Nuinha: Ela estava nuinha, nuinha...
3) Cuequinha: “Num autdoor..., o modelo italiano Travis Timmel, vestido apenas
com uma cuequinha Calvin Klein, vem engarrafando o trânsito de Londres. JB,
16/05/02
Quando o diminutivo sugere alguma recomendação, Isto é, dar a
alguém alguma incumbência, alguma ordem, isto não indica mais lentidão ou
ligeireza da realização do fato, mas sim acentuar a recomendação, reforçar o
sentido.
Ex.:
João, vá depressinha apanhar o meu remédio na farmácia.
Maria é bom que estudes devagarinho.
Embora os verbos não admitam flexão de grau, quando aparecem no
diminutivo, eles são usados como um desvio gramatical, intencional,
estilístico.
Os diminutivos dos verbos, dando idéia de freqüência, exprimem uma
ação, uma marcha de tempo que desliza suave e incessantemente.
Ex.: A vida vai morrendo, morrendinho (Lapa,M. Rodrigues. Est.
Da Língua Portuguesa)
O vento madrugouzinho (Caliman, Plínio. O rio da minha
aldeia)
Desceu os vales caminhandozinho (Climan, Plínio. O rio da
minha aldeia)
Quero estarzinho com ela (Bopp, Raul. Cobra Norato)
Querzinho de ficar junto. (Bopp, Raul. Cobra Norato)
Na linguagem coloquial, onde as manifestações de ternura
caracterizam-se por sua intensidade e natural exagero é comum o advérbio e o
adjetivo, por afinidade com os substantivos, assumirem uma forma diminutiva,
utilizando os sufixos “inho (a)” com um valor de superlativo.
Ex.:
1) Pouquinho
“... os mais cínicos diriam hoje que se J.K fosse um pouquinho
mais medroso, o país estaria melhor” (Joaquim Ferreira dos Santos, JB, 23/10/02)
Pouquinho = menos corajoso.
2) Quietinha
“Quando os homens se separam dos meninos no entanto, o medo é uma
bola que dorme quietinha no fundo das redes” (Joaquim //Ferreira dos
santos, JB).
Quietinha: parada, paralisada, imobilizada. (quietíssima)
3) Igualzinho
“É igualzinho a você” (J.B. 4/10/02)
Igualzinho: não tem diferença alguma, são completamente iguais.
(igualíssimos)
4) Apressadinho
“Não vamos aceitar nenhuma provocação de apressadinhos que querem
botar o carro na frente dos bois” (Lula, O Globo, 11/03/03)
Apressadinhos: Neste caso, determina a circunstância de um fato,
que não medem as conseqüências. Apressadinhos: os que tem muita pressa.
Apressadíssimos.
5) Lindinha
“ Como você está lindinha” ! (JB, 19/05/02)
Lindinha = muito linda, lindíssima.
6) Cedinho
“Ele acordou cedinho para estudar”
Cedinho = muito cedo. Cedíssimo
Verificou-se que, através da diversificação desinencial, os
diminutivos se prestam para a representação de diferentes nuances:
Ex.:
Livrinho nota-se o diminutivo simplesmente
Livreco realça o caráter pejorativo.
Libelo predomina o tom agressivo
Casinha é o diminutivo de casa. Mas como no interior as instalações
sanitárias estão no quintal em pequena casa fechada, adquire novo sentido:
banheiro.
Casebre pensa-se logo em pobreza
Casulo é muito usado como termo técnico
Balancete é diminutivo de Balanço (exame de situação comercial)
Balancinho é diminutivo de balanço (objeto de deslocação sem movimento
de deslocação)
Covil e covinha, diminutivo de cova, não se pode usar um pelo outro.
Os diminutivos deverão ser sempre analisados dentro de um contexto
pois só assim se terá a noção exata de seu significado.
Ex.:
1) Jeitinho
“Ele com jeitinho, resolveu o impasse”. Aqui, jeitinho é igual a
habilidade.
“Jeans com jeitinho parisiense”. (JB, 07/05/03). Jeitinho =
modo de ser.
“Prédio com Jeitinho de chácara”. Jeitinho = igual, com
características de chácara.
“Aposentem o jeitinho” (JB, 26/10/02). Jeitinho:
maneira de burlar a lei.
2)Coisinha
“Ó coisinha tão bonitinha do pai...” Coisinha = pessoas
Ele briga por qual quer coisinha. Coisinha = motivo
“Não tive tempo de almoçar. Fui à lanchonete e comi qualquer
coisinha”. Coisinha = comida.
Esses são alguns exemplos do uso dos diminutivos no nosso
cotidiano.
São nos sufixos diminutivos que a descarga das emoções e das
intenções se dá com maior energia (Lapa, M. Rodrigues)
O sufixo diminutivo é um meio estilístico que torna a linguagem
mais flexível e mais expressiva, refletindo os nossos sentimentos e intenções
pelas coisas e pelas pessoas.
Terminando, mais um dedinho de prosa sobre os diminutivos
(Papinho)
Dia
de luz
festa
de sol
e
o barquinho a deslizar
no
macio azul do mar (Menescal e Bôscoli)
Um
cantinho e um violão
Esse
amor, uma canção
Pra
fazer feliz a quem se ama. (Tom e Vinícius)
“Preta,
preta, pretinha...” (Moraes Moreira)
“Estava
triste, tristinho...” (Zeca Baleiro)
“Vem
meu cachorrinho,
A
sua dona está chamando” (Mc Andinho)
Bibliografia
GENOUVIER, E.; PENTAR, J. Lingüística e o Ensino do
Português. Coimbra: Almedina, 1973.
GUIRAUD, P. A Semântica. Rio de Janeiro: Bertrand,
1975.
LAPA, M.R. Estilística da Língua Portuguesa. São
Paulo: Martins Fontes, 1982.
MOURA, H.M. de. Significação e contexto. Uma
introdução a Questões de Semântica e Pragmática. Santa Catarina: Insular, 2000.
NASCENTES, A. Dicionário Etimológico Resumido. Rio
de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1966.
VERGNA, W. Comunicação Nobre. Rio de
Janeiro: Sophos, 1974.