PáginasDESCRITOR

quarta-feira, 18 de março de 2020

CONTO, CHAPEUZINHO ESFARRAPADO, O KOW DE HEDLEY, INTERPRETAÇÃO, 6º ANO

GABARITO:
https://drive.google.com/file/d/1rL6swUI2PrtzqUIjOE65y7ZHmOu75dqh/view?usp=sharing
 O conto popular que você vai ler foi publicado em uma coletânea que reúne narrativas com per­sonagens femininas corajosas e determinadas no papel principal. O texto é uma adaptação de uma versão da história publicada no século XIX na Inglaterra. Leia o título e responda: Considerando os contos populares que você já conhece, o que poderia ser o kow de Hedley? Que relação a protago­nista desse conto, ou seja, a personagem principal, poderia ter com ele?



O kow de Hedley
         Era uma vez uma velhinha que ganhava a vida fazendo alguns
servicinhos para as esposas dos fazendeiros da aldeia onde morava.
Embora só recebesse um almoço e um pouco de pão e queijo  para o jantar por seu trabalho, estava sempre alegre, como se não  precisasse de mais nada no mundo.
       Todos os dias, ela levantava  cedo para catar galhos e pinhas. Deixava-os perto da lareira e, quando voltava para o chalé à noite, fazia uma fogueira para se esquentar.
O chalé era pequeno e tinha poucos móveis. Ficava isolado nos arredores da aldeia, mas a velhinha dizia que não se incomodava de morar sozinha e não se importava de ter de caminhar tanto tempo para chegar em casa.
Mesmo assim, as mulheres de Hedley sempre faziam questão de mandá-la para casa antes do pôr do sol. Quando ficava escuro, o kow de Hedley zanzava por lá, aterrorizando os aldeões desde tempos imemoriais. Se era um bicho-papão ou um trasgo, ninguém na aldeia conseguia decidir, mas todos sabiam que podia se transformar em criaturas amedrontadoras e fazer as pessoas enlouquecerem de pavor. O kow perseguia suas vítimas, gritando, uivando e dando gargalhadas, e, às vezes, as deixava furiosas com as peças que pregava.
No fim de uma tarde de verão, quando já estava escurecendo e a velhinha se encaminhava depressa para casa, ela encontrou uma panela enorme jogada na beira da estrada.
— Seria perfeita para mim se eu tivesse alguma coisa para colocar dentro —disse ela, abaixando para dar uma olhada. — Quem será que a largou aqui?
A velhinha olhou para todos os lados para ver se havia alguém em volta que pu­desse ter perdido a panela, mas não tinha ninguém nem nos campos nem na estrada.
Talvez esteja furada disse. — É, deve ser por isso que deixa­ram aqui. Mesmo assim posso colocar alguma coisa dentro. Acho que vou levar para casa.
Ela dobrou as costas doloridas e ergueu a tampa para ver dentro da panela.
     Minha nossa! exclamou a velhinha, dando um pulo para trás. Está cheia de moedas de ouro!
Durante algum tempo, ela ficou só andando em volta do tesouro, admirando o ouro amarelo, impressionada com sua sorte e pensando: "Ora, mas se eu não fiquei rica e importante agora!". Logo começou a se perguntar como faria para levar aquilo para casa. O único jeito que lhe ocorreu foi amarrar uma ponta do xale na panela e arrastá-la pela estrada.
   Tenho a noite toda para pensar no que fazer com o ouro dis­se para si mesma. — Posso comprar uma casa enorme e viver como uma rainha; ou talvez enterre tudo num buraco no jardim; posso colocar um pouco na chaminé perto da chaleira, como se fosse um enfeite. Ah, estou me sentindo tão importante que nem sei!
A essa altura, a velhinha já estava bem cansada de arrastar tanto peso, por isso parou para descansar um minuto e se virou para ver se o tesouro estava são e salvo.
Mas, quando foi olhá-lo, viu que na panela não havia moedas de ouro, mas um enorme bloco de prata.
Olhou para a panela, esfregou os olhos e olhou de novo, mas ainda era um enorme bloco de prata.
     Eu jurava que eram moedas de ouro disse, afinal. Devo ter sonhado. Ora, melhor ainda: vai dar muito menos trabalho cuidar da prata, que não vai chamar tanto a atenção dos ladrões. É compli­cado cuidar de moedas de ouro. Que bom que me livrei delas. Com esse bloco de prata, continuo rica como nunca!
E ela voltou a caminhar para casa, planejando alegremente todas as coisas maravilhosas que ia fazer com• a prata. Depois de pouco tempo, no entanto, ficou cansada de novo e parou para descansar.
A velhinha voltou a virar para olhar seu tesouro e, assim que pou­sou os olhos nele, soltou uma exclamação de espanto:
     Minha nossa! Agora é um bloco de ferro! Ora, não podia ser melhor. É muito conveniente. Vou vender isso fácil, fácil e conseguir várias moedinhas por ele. Sim, é muito mais prático que um monte de ouro e prata que ia me deixar acordada de noite, com medo de ser roubada. Um bloco de ferro é uma coisa boa de ter em casa: a gente nunca sabe quando vai precisar dele.
E lá se foi ela, rindo e se sentindo muito sortuda, até que olhou por cima do ombro só para ter certeza de que o ferro ainda estava ali.
     Ora, o que é isso? O ferro virou uma pedra enorme! Como é que ele sabia que eu estava mesmo precisando de uma para segurar a porta? Foi uma mudança boa. Tenho muita sorte.
E, numa pressa danada de ver como a pedra ia ficar em seu can­tinho perto da porta, a velhinha foi descendo a ladeira e só parou lá embaixo, no portão de casa.
Então ela se virou para desamarrar o xale. A pedra permanecia lá, quietinha. A velhinha podia vê-la muito bem ao dobrar as costas doídas.
Mas, de repente, a pedra deu um pulo e soltou um guincho. Num segundo, ficou do tamanho de um cavalo enorme. Esticou quatro pernas finas, sacudiu duas orelhas compridas e fez brotar uma cauda. Então deu um coice no ar, com uma gargalhada.
A velhinha ficou olhando, espantada, enquanto aquele bicho galo­pava, guinchava e revirava os olhos vermelhos.
   Ora! disse ela, afinal. Eu sou mesmo muito sortuda! O kow de Hedley apareceu só para mim e ainda está me dando a maior pelota!
m kow de Hedley parou de galopar e gritar para olhar para a velhi­nha, irritado.
Não está com medo? perguntou.
   Eu, não! respondeu ela, rindo. O senhor é uma coisa rara de se ver!
  A maioria grita e me xinga disse ele. E ainda sai correndo e gritando!
   Mas você não me fez nenhum mal disse a velhinha, alegre. Eu ainda tenhO um pouco de pão e queijo para o jantar.
Ela se cobriu com o xale e abriu seu portãozinho. Quando voltou a olhar, em vez de um cavalo enorme, viu um homenzinho de chapéu pontudo arrastando os pés. Ele era moreno como uma maçã assada e tinha uma barba branca toda emaranhada.
   Ora disse a velhinha, bondosamente. — Não tenho muita coisa, mas o senhor pode entrar e jantar comigo, se quiser.
   Muito obrigado disse o kow de Hedley.
Então ele jantou com a velhinha e, de algum jeito, o pedacinho de queijo se transformou num pedaço imenso, e de repente apareceram na mesa alguns ovos cozidos e uns bolinhos para acompanhar o chá.
A refeição foi bastante alegre. Quando os dois terminaram de co­mer, sentaram diante da lareira, e o kow de Hedley distraiu a velhi­nha com histórias das peças qtie tinha pregado. Ela riu tanto que até chorou, e declarou que nunca uma noite tinha passado tão depressa.
m homenzinho moreno foi visitá-la várias outras vezes. Jantavam e passavam a noite conversando. A velhinha passou a encontrar lenha suficiente para a fogueira e o armário cheio de comida, mas, sabia­mente, não contou nada para ninguém.
m povo da aldeia ainda falava com medo do kow de Hedley, ou praguejava contra ele por causa de suas travessuras. Mas a velhinha só ria e dizia:
   Ele não é mau. Só gosta de rir um pouco, só isso.
O kow de Hedley. Em: Ethet Johnston Phelps (Org.). Chapeuzinho Esfarrapado e outros contos feministas do folclore mundial. Tradução de Jutia Romeu. São Pauto: Seguinte, 2016. p. 43-47.

1. Antes da leitura, você respondeu a duas questões presentes no boxe O que vem a seguir. Retome as respostas dadas para verificar se, após a leitura, elas se confirmam ou não.
......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
2. A história se passa em uma aldeia na Inglaterra.
a)     Qual o nome dessa aldeia?
........................................................................................................................................................
b)     Que características da aldeia podem ser percebidas no texto?
.......................................................................................................................................................
c)     Como é o clima na aldeia? Justifique sua resposta com informações do texto.
........................................................................................................................................................
3. O texto que você leu tem uma protagonista.
a)     De que modo ela é denominada?
.......................................................................................................................................................
b)     Quais são suas características físicas?
.................................................................................................................................................
c)     Que marcas de sua personalidade são percebidas no texto?
..................................................................................................................................................
4. O conto descreve a moradia da personagem principal.
a)     Em que tipo de moradia ela vive?
....................................................................................................................................................
b)     Quais são as características dessa moradia?
......................................................................................................................................................
5. A protagonista desse conto popular é retratada como uma trabalhadora.
a)     Qual é a ocupação dela?
......................................................................................................................................................
b)     Para quem ela trabalha?
............................................................................................................................................
c)     Copie no caderno o fragmento do texto que indica qual é o pagamento que ela recebe por seu trabalho.
.....................................................................................................................................................
d)     Você acha justo esse pagamento? Explique.
............................................................................................................................................
6. O que acontece de extraordinário, no início do conto, que complica a volta da velhinha para sua casa?
7. Além da protagonista, há outra personagem importante na história.
a)     Que personagem é essa?
...................................................................................................................................................
b)     Como ela é caracterizada no texto?
..................................................................................................................................................
c)     Durante a história, o que muda na vida dessa personagem?
......................................................................................................................................................
d)     O que ocasiona essa mudança?
.....................................................................................................................................................
e)     Considerando o encontro dessa personagem com a velhinha, o temor do povo da aldeia em relação a ela se justifica? Explique.
..........................................................................................................................................................
8. No fim do conto, é possível perceber que a vida da protagonista está diferente do que era no início da narrativa.
a)     O que mudou na vida dela?
......................................................................................................................................................
b)     Que atitude da personagem principal possibilitou essa mudança? Copie no caderno o parágrafo que mostra essa atitude.
.......................................................................................................................................................

ANOTE AÍ

Para compreender uma história, é essencial identificar as características dos espaços da narrativa, das personagens e perceber as mudanças pelas quais elas passam ao longo da história. Também é fundamental identificar a complicação: o acontecimento que provoca as transformações na narrativa.


O CONTEXTO DE PRODUÇÃO j

9. Leia este trecho da introdução do livro do qual foi extraído o conto lido.
Na verdade, a única certeza que temos em relação a contos folclóricos tradicionais é que eles são constantemente adaptados, com novos contadores mudando alguns detalhes e enfatizando outros, de maneira a se amoldar tanto à época quanto à plateia local. Existem diversas versões ou variações da maioria dos contos, que muitas vezes surgem em países diferentes ou regiões diferentes do mesmo país. Não existe uma versão "autêntica" de um conto folclórico.
Ethet Johnston Phelps (Org.). Chapeuzinho Esfarrapado e outros contos feministas do folclore mundial. Tradução de Julia Romeu. São Pauto: Seguinte, 2016. p. 19.
a)     Quem inventou as histórias que compõem o livro?
...................................................................................................................................................
b)     Como as histórias que compõem o livro chegaram até os dias de hoje? 1 0. No conto, algo passa por quatro transformações mágicas.
.............................................................................................................................................

10. No conto algo passa por quatro transformações mágicas.
a) No caderno, organize um quadro semelhante a este, com quatro linhas, e complete-o com as transformações ocorridas.
...............................................se transformou em...................................................................
...............................................se transformou em...................................................................
...............................................se transformou em...................................................................
...............................................se transformou em...................................................................

b)     Qual é a reação da personagem principal diante dessas transformações?
..........................................................................................................................................
c)     Como os contos populares circulam em geral oralmente, você acha que estru¬turas repetitivas como essa ajudam o contador a contar a história? Por quê?
..............................................................................................................................................
11. Observe que, na narrativa, há diferentes opiniões sobre o kow de Hedley.
a)     Sintetize as opiniões sobre ele indicando de quem são.
...........................................................................................................................................
b)     Essas opiniões estão ligadas a um ensinamento transmitido pelo conto. Qual é esse ensinamento?
..................................................................................................................................................
c)     A forma como a protagonista é chamada nos indica um valor da comunidade que gerou esse conto. Explique essa afirmação.
......................................................................................................................................................

ANOTE AÍ
A repetição de desafios e ações é frequente em contos populares. Esse recurso mantém a atenção do leitor e facilita a memorização das histórias.
Além disso, muitos desses contos transmitem um ensinamento, isto é, procuram orientar o leitor ou ouvinte quanto a um comportamento, de acordo com os valores, tradições e saberes da comunidade que deu origem à história.

A LINGUAGEM DO TEXTO
12. Releia esta fala da velhinha no conto:
— Ora! — disse ela, afinal. — Eu sou mesmo muito surtuda! O kow de Hedley apareceu só para mim e ainda está me dando a maior pelota!
a)     Por que a palavra mesmo foi destacada na fala da velhinha?
.........................................................................................................................................
b)     O que significa a expressão "está me dando a maior pelota"?
..............................................................................................................................................
c)     Essa expressão se relaciona a uma situação formal ou informal?
........................................................................................................................................
13. Hedley fica no norte da Inglaterra. Ao traduzir o conto para o português, o tradutor manteve kow na língua original. Pelo contexto, qual é o sentido desse termo?
..................................................................................................................................................

CONTO OS DOIS PAPUDOS INTERPRETAÇÃO 6º ANO







CONTO OS DOIS PAPUDOS

    Ruth Guimarães

        Vivia numa povoação um alegre papudo, estimado de todos, muito folgazão e boêmio. Não o impedia o papo de soltar grandes risadas. Pouco se lhe dava que o achassem feio, ou o chamassem de papudo. A verdade é que o tal papo o incomodava, mas o que não tem remédio remediado está, filosofava ele. E vamos tocar viola, e vamos amanhecer nos fandangos, viva a alegria, minha gente, que se vive uma vez só.
        Certo dia, foi ao povoado vizinho, a uma festa de casamento, levando embaixo do braço a inseparável viola. Demorou mais que de costume, bebeu uns tragos a mais, porém não deixou de voltar para casa, pois era tão trabalhador quanto festeiro, e tinha que pegar no serviço no outro dia bem cedo.
       Havia luar. Num grande estirão avistava a estrada larga, as touceiras de mato. Passava o gambá por perto dele, e o tatu, roncando, e voava baixo, silenciosamente, a corujinha campeira. O papudo não sentia medo. Andava em paz com Deus e com os Homens. Os animais, que adivinham nele um homem de coração compassivo, também não tinham medo dele.
       De repente, ao virar numa curva, viu embaixo da figueira brava, ramalhuda, uma roda de anões cantando. Todos com capuzes vermelhos, cachimbo com a brasa luzindo, a barba branca comprida, descendo até a altura do peito.
        -- O que será aquilo?
       Por um instante teve algum temor. Mas era tarde para fugir. Os foliões já o tinham visto. E, se se tratava de festa, isto era com ele. Saltou decidido para o meio da roda, empunhando a viola.
       -- Eu também sei cantar.
       Enquanto pinicava as cordas, prestava atenção às palavras dos dançarinos. Eles entoavam:
      Segunda, terça
      Quarta, quinta...
      E tornavam ao começo:
      Segunda, terça
      Quarta, quinta...
      E assim sempre, numa musiquinha muito cacete. Acostumado aos desafios, a improvisar, o papudo esperou a sua deixa. Assim que os anões começaram:
      Segunda, terça
      Quarta, quinta...
      Ele emendou:
      Sexta, sábado
      Domundo também.
      A roda pegou fogo. Os pequenos duendes barbudos gostaram da novidade. Rodopiavam cantando numa animação delirante, e foi assim a noite toda. E o papudo tocando e dançando.
      De madrugada, ao primeiro cantar do galo, a roda se desfez. O mais velho deles, e que parecia o chefe, perguntou-lhe:
       -- Que é que você quer, em paga de ter tocado para nós?
       -- Eu até que me diverti com esta festa - replicou o papudo.
       -- Mas peça qualquer coisa.
       -- Posso pedir seja o que for?
       -- Pode.
       -- Eu queria - disse ele, meio hesitante - queria me ver livre deste papo, que me incomoda muito.
      Um anãozinho agarrou o papo com as duas mãos, subiu pelo peito do papudo, firmou bem os pés, deu um arrancão.
      O papudo fechou os olhos.
      -- Agora eles me matam.
      De repente sentiu o pescoço leve. Abriu os olhos. Os anõezinhos tinham sumido. Não ouviu mais nada. Meio cinzento, despontava o dia.
       "Sonhei", pensou ele. "Bebi demais naquele casamento."
       Passou a mão pelo pescoço, estava liso, sem excrescência nenhuma.
       "Agora fiquei mais bonito", pensou também, muito satisfeito.
       E aí deu com o papo jogado em cima do cupim.
       Agarrou a viola e foi para casa.
       Imagine-se a sensação que não foi, o papudo amanhecer, sem mais nem menos, sem o papo.
      -- Que milagre foi esse? - perguntavam.
      Papudo ria, papudo cantava, continuava folgazão como sempre, mas não contava a aventura, de medo que o chamassem de louco, e não acreditassem.
      Esse moço tinha um compadre, que também era papudo.
      E tanto apertou o amigo, e tanto falou:
      -- Eu também quero me ver livre desse aleijão. Quero ficar bonito, e arranjar uma namorada. Você não é amigo.
      Foi assim, até que o moço lhe contou tudo.
      O outro encarou, incrédulo.
      -- Verdade?
      -- Verdade.
      -- O anão falou que você podia pedir o que quisesse?
      -- Falou.
      -- E você em vez de pedir riquezas, pediu para ficar sem o papo?
      -- Ora, pobreza não me incomoda, mas o papo incomodava.
      -- Mas você é louco. Você é um burro. Pedisse riqueza. Quem é rico, que é que tem o papo? Quem se incomoda com papo? Eu, se fosse rico, me casaria com uma mulher bonita, do mesmo jeito.     Você é bobo. Onde é esse lugar, onde você encontrou os fantasmas?
      O outro preveniu:
      -- Compadre, você vai lá com esganação, vai ofender os anõezinhos, e ainda se arrepende.
      -- Nada disso. Você o que é, é um egoísta. Está formoso, que se danem os outros.
      Aí o moço encolheu os ombros e falou:
      -- Sua alma, sua palma. Vá lá, depois não se queixe.
      Ensinou onde era, o compadre invejoso agarrou a viola e foi, noite alta, direitinho como o outro tinha feito. Também era noite de luar. Também dançou a noite inteira, cantando. Ao primeiro cantar do galo a roda se desfez.
      -- Que é que você quer, em paga de ter tocado para nós?
      O papudo deu uma piscadela maliciosa para o anão e falou, esfregando o indicador e o polegar, no gesto clássico, que significa dinheiro:
      -- Eu quero aquilo que o meu compadre não quis.
      Um anãozinho foi ao cupim, tirou o papo do outro que estava lá, e grudou em cima do papo do invejoso.
      E assim, por sua louca ambição, ele ficou com dois papos.

                                                 GUIMARÃES, Ruth (org.). Lendas e fábulas do Brasil, 4. ed. São Paulo: Cultrix, 1972.

Fonte: Livro - Para Viver Juntos - Português - 6º ano - Ensino Fundamental- Anos Finais - Edições SM - p.50 a 53..


TEXTO EM ESTUDO

1. Sua hipótese sobre como eram as personagens se confirmou? Justifique.
..................................................................................................................................................
2. O conto tem como personagens dois homens com uma característica peculiar.
a) Que característica é essa? Os dois homens se sentem satisfeitos com ela?
......................................................................................................................................................
b)Como as pessoas da história reagem a essa característica das personagens?
.......................................................................................................................................................
c) Ao longo do conto, há uma oposição entre as duas personagens principais. Qual é a diferença entre elas?
.......................................................................................................................................................
3. Releia o sexto parágrafo do texto.
a)Por que os foliões provocam medo no homem?
..........................................................................................................................
b) Que estratégia a personagem usa para enfrentar a situação?
.........................................................................................................................
c) Como se caracteriza, no texto, o ambiente onde se passa a ação?
................................................................................................................................
4. Por que os anões transformaram os homens?
............................................................................................................................
5. No fim do conto, as duas personagens principais foram modificadas.
a) Que mudanças ocorrem com cada personagem?
........................................................................................................................
b) Por que elas aconteceram?
.................................................................................................................

ANOTE AÍ
Os contos populares são narrativas da tradição oral que expressam costumes, ideias, valores e tradições de um povo ou de determinada cultura. Uma característica frequente nos contos populares é a presença de seres com poderes sobrenaturais, que pronunciam palavras mágicas e lançam feitiços ou encantos.

OTEMPO NARRATIVO

6. Observe as expressões iniciais do primeiro e do segundo parágrafos: "Vivia numa povoação" e "Certo dia".
a) Qual delas indica que ocorrerá uma mudança na história?
..............................................................................................................................
b) Qual delas marca quando acontece a narrativa?
.................................................................................................................................
7. Que expressões indicam quando terminam os encontros com os anões?
........................................................................................................................
8. Se as expressões apontadas nas questões 6 e 7 não fossem utilizadas, que efeito isso causaria no conto?
.......................................................................................................................................
9. Em quanto tempo se desenvolveram as ações narradas na história?
..........................................................................................................................................................


ANOTE AÍ

       Nos contos populares não é especificado o momento histórico em que o fato acontece. Para indicar o tempo nessas narrativas, costuma-se usar expressões que sinalizam um passado distante e impreciso, como nos contos de fadas. Essas expressões temporais remetem a um tempo imaginário, e não a um tempo real.
       Nos contos também são usados marcadores de tempo, expressões que indicam o tempo narrativo, dando ideia do momento em que determinadas ações acontecem e da I ordem em que os fatos se desenvolvem na história.
       Em geral, o tempo narrativo segue uma ordem linear ou cronológica (passado - presente - futuro). No entanto, nem toda história segue essa ordem, ou seja, os fatos também podem ser apresentados de modo não linear



O CONTEXTO DE PRODUÇÃO
10. Leia uma fala de Ruth Guimarães sobre como recolher boas narrativas.
[...] "Não chegue pedindo para que te contem uma história'', dizia, "Conte uma primeiro. Os que pensarem que você é louco, irão embora. Os que têm histórias para contar, vão se aproximar e dividi-las com você."
a)  Como Ruth Guimarães descobria as histórias que registrava em livros?
............................................................................................................................................................................................................................................
b)  É possível saber, por esse trecho, se as pessoas que reagiam contando outras histórias eram necessariamente as produtoras da narrativa que contavam?
..........................................................................................................................................................................................................................................................
11. Releia este trecho do conto:
“Certo dia, foi ao povoado vizinho, a urna festa de casamento, levando embaixo do braço a inseparável viola. [...] tinha que pegar no serviço no outro dia bem cedo.”
a)  Por esse trecho, o que podemos perceber sobre a vida da personagem?
.....................................................................................................................................................................................................................................................
b)  Em que ambiente é comum a viola ter destaque?
............................................................................................................................................................................................................................................................
A LINGUAGEM DO TEXTO
12. Reescreva esta frase substituindo os termos destacados conforme indicado. Compadre, você vai lá com esganação, vai ofender os anõezinhos {...j.
a) Use termos com sentido parecido, considerando que a frase seria dita pela própria personagem do conto, mas de forma diferente.
.........................................................................................................................................................................................................................................................
b) Use termos com sentido parecido, considerando que a frase seria dita por você para um colega.
........................................................................................................................................................................................................................................................
c) Nas respostas aos itens a e b, você utilizou as mesmas palavras? Por quê?
..................................................................................................................................................................................................................................................
13. Observe o trecho a seguir: "O papudo deu uma piscadela maliciosa para o anão [...]". Ao utilizar a palavra em destaque, o narrador parece revelar que ideia sobre a personagem?
ANOTE  
Os contos populares relacionam-se à memória e à cultura de uma comunidade. São contados oralmente em situações informais. Por serem criações coletivas, não há como determinar como surgiram e quem os criou. Quem os reconta pode introduzir mudanças e também costuma manter o modo de falar das regiões e comunidades nas quais as histórias se originam, bem como as marcas da época em que as narrativas foram recolhidas.