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sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

INTERPRETAÇAO CRÔNICA COBRANÇA

 Crônica: COBRANÇA (Moacyr Scliar)

      Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carregava um cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: "Aqui mora uma devedora inadimplente".

  ― Você não pode fazer isso comigo ― protestou ela.

   ― Claro que posso ― replicou ele.  ― Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.

 ― Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise...

 ― Já sei ― ironizou ele. ― Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou fazendo.

        ― Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta...

        ― Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.

        Neste momento começou a chuviscar.

        ― Você vai se molhar ― advertiu ela. ― Vai acabar ficando doente.

        Ele riu, amargo:

        ― E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.

        ― Posso lhe dar um guarda-chuva...

        ― Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.

        Ela agora estava irritada:

        ― Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.

        ― Sou seu marido ― retrucou ele ― e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é devedora. Eu avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.

        Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.

                                                         

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o tema central do texto?

      Trata-se de uma cobrança.

02 – Explique o que a personagem quis dizer com a seguinte frase: “Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta”.

      Porque o cobrador estava diante de sua casa carregando um cartaz que dizia: “Aqui mora uma devedora inadimplente”.

03 – “Acabe com isso, Aristides”. O que entendemos ao ler a expressão destacada?

      Que era para ele guardar aquele cartaz e vir para dentro de casa, pois era seu marido e morava ali.

04 – Você acha que o autor escolheu um bom título para o texto? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, pois desperta a curiosidade para saber de que se trata.

05 – Por que o cobrador insistia na cobrança?

      Porque ele trabalha numa empresa de cobrança.

06 – “Aqui mora uma devedora inadimplente”. A frase apresentada pode ser definida como fato ou opinião?

      Um fato.

07 – Que tipo de linguagem apresenta o texto lido?

      Linguagem informal, pois traz aspectos de oralidade para a escrita: expressão de conversa familiar e íntima, repetições e o pronome “você”.

08 – A quem se referem as expressões em destaque em cada frase a seguir?

a)   “Meu problema é lhe cobrar”.

A devedora.

b)   “Posso lhe dar um guarda-chuva”.

Ao cobrador.

 

09 – A atitude do cobrador é gerada por qual fato ocorrido no texto?

      Sua mulher comprou uma geladeira e estava com as prestações atrasadas.

10 – Quem são as personagens da crônica?

      O cobrador e a devedora inadimplente.

11 – Que elemento surpresa o cronista introduz na história?

      O marido cobrador, o Aristides.

12 – O texto traz um recurso de desdobramento dos papéis. Explique.

      São os papeis (marido/mulher; cobrador / devedora).

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