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quarta-feira, 1 de novembro de 2023

ROMANCE - OS VIZINHOS - ATIVIDADES

 

ROMANCE CAPíTULO OS VIZINHOS

Luiz Antonio Aguiar

        Havia uma coisa com que Túlio não se conformava: morar colado ao cemitério. Principalmente quando tinha de voltar para casa já tarde da noite. Não dava para evitar passar por aqueles muros, que eram como uma larga ferradura, envolvendo a vila de casas em que Túlio vivia.

        Quando queriam implicar com Túlio, perguntavam o endereço dele: “Sepultura, número...?”.

        Ou: “Na fachada da sua casa você tem placa com número, ou uma lápide?”.

        Túlio só fazia arreganhar os dentes, num sorriso tipo sardônico, ou seja, quase uma careta – por coincidência, embora Túlio não conhecesse o significado da palavra sardônico, um sorriso desses que se diz que é sorriso de morto. No instante final. Sorriso de quem não acha graça nenhuma em morar dentro do cemitério.

        — Não exagera, Túlio. Dentro, não! — E a mãe dava uma risadinha. — Somos só vizinhos!

        — ...dos defuntos! — completava Túlio.

        Era uma discussão que não acabava. Já durava anos. Túlio tinha seus dezesseis anos, agora. Mas continuava se arrepiando quando acordava no meio da noite com uma janela batendo, ou quando o vento uivava ao entrar por uma fresta — e sempre que tinha de passar em frente aos portões do cemitério, de noite, naquela rua escura, muito escura, onde morava. — Quem já está morto não faz mal à gente — resmungava o pai de Túlio, mecânico de automóveis dono da oficina nos fundos da vila. — Tá achando que um deles vai se levantar da sepultura e... fazer o quê? Ora, garoto, francamente! Eles não estão mais interessados nas coisas deste mundo.

         Mas e se...?

         Naquela noite, então, voltando de bicicleta para casa, já bem depois das onze horas, o garoto tinha mais uma razão para estar atormentado. Dali a menos de duas semanas, ia enfrentar a prova do “livro do bimestre”. Teria de ler Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

       Túlio havia passado a tarde no treino de vôlei — ele jogava de ponta na seleção do colégio Depois, saiu com a turma, já escurecendo; ficaram de papo, rolando de bicicleta para cima e para baixo pelo centro da cidade, e quando viu já eram onze horas.

        — Puxa, e eu ia começar a ler o livro esta noite. Agora, não vai dar!

        Então, tomou o caminho para casa. E foi quando o livro, sepultado fazia tempo no fundo da sua mochila, começou a incomodar. Principalmente no que o garoto entrou na sua rua e se lembrou do cemitério. Era o póstumas do título. Se fossem perguntar, Túlio ia logo, de preguiça, responder que não sabia o que queria dizer essa palavra. Só que em alguma ocasião já a escutara. E, caso se esforçasse um pouco, ia se lembrar de que tinha a ver com defunto. Póstumo: depois da morte. Memórias póstumas: as memórias contadas por um morto.

          Mas isso é absurdo. Como assim?... Um morto renasce, vira para a

gente e... Não, não renasce. Continua morto. Só que vira escritor, depois de morto. E para escrever suas memórias...

         E aí, quer ver um morto contando sua história? Quer descobrir como é a vida vista por um defunto? E um defunto com um jeito todo dele de ver e se lembrar dos vivos, que tal?

        Quem sabe esse papo sem palavras estivesse acontecendo na cabeça do Túlio? Assim, de ouvir dizer, de alguém já ter comentado algo sobre o livro, perto dele? Quem sabe o professor, num momento em que Túlio estava mais ou menos distraído? No entanto, o garoto não saberia dizer nem onde nem quando ouvira isso.

        Só sabia que continuava se recusando a pensar a respeito de mortos. Principalmente na hora de passar junto ao paredão, e depois diante do portão de ferro do cemitério. “Aqui terás tua eterna morada!”, estava escrito em letras forjadas também em ferro, no alto do portão.

Túlio fez uma careta ao se lembrar disso. E quase, bem naquela hora, respondia: “Nunca! Morar aí, nunca!”.

AGUIAR, Luiz Antonio. O voo do hipopótamo. 2. ed. São Paulo: Ática, 2008. p. 11-13.

 

 

1. Qual o nome do autor do romance?

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2. Qual o nome do livro de onde foi retirado  o capítulo Os Vizinhos?

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3. Que fato incomodava Túlio?

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4. Quais as zoações que faziam com Túlio?

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5. De acordo com o texto qual das características abaixo não se referem a Tulio.

a) sardônico

b) sardento

c) irônico

d) medroso

 

6. A palavra lápide significa.

a) túmulo

b) fachada

c) endereço

d) moradia

 

7. A palavra sardônico indica uma pessoa:

a) pintada

b) irônica

c) humorada

d) invejosa

 

8. assinale a alternativa que apresenta um descrição.

a) eram como uma larga ferradura, envolvendo a vila de casas em que Túlio vivia.

b) Naquela noite, então, voltando de bicicleta para casa, já bem depois das onze horas

c) Depois, saiu com a turma, já escurecendo; ficaram de papo

d) Quando queriam implicar com Túlio, perguntavam o endereço dele

 

9. Qual dos fragmentos abaixo indica uma fala da mãe de Túlio.

a) “Na fachada da sua casa você tem placa com número, ou uma lápide?”.

b)  Túlio havia passado a tarde no treino de vôlei

c) — Não exagera, Túlio. Dentro, não!

d) Quem já está morto não faz mal à gente

 

10. Há presença de humor no fragmento “Nunca! Morar aí, nunca!”. devido ao fato de:

a) Túlio já morar ao lado do cemitério

b) Túlio ser muito medroso.

c) Túlio fazer uma careta.

d) Túlio não pensar a respeito dos mortos.

 

 

 Leia as informações e responda abaixo para responder as próximas questões.

       Narrar é contar uma história. Há diferentes gêneros textuais que se organizam em narrativas, como romance, contos, crônicas, lendas, fábulas, mitos, entre outros.

     Nas narrativas ficcionais há:

      Narrador – relator dos fatos, dos quais pode ser participante como narrador-personagem (primeira pessoa), observador (somente observa) e onisciente (terceira pessoa), quando observa e tem acesso até aos pensamentos dos personagens.

     Personagens – protagonista (personagem principal) e antagonista/forças antagônicas (vilão ou situação que atrapalha os desejos do protagonista) e secundários (participam de forma secundária nas ações).

      Espaço – ambiente em que os fatos acontecem.

      Tempo – quando ocorrem as ações ou quanto duram. O tempo pode ser cronológico (medido elo relógio ou calendário) ou psicológico (como o personagem o percebe no pensamento).

       Enredo – conjunto de episódios que compõem a narrativa, dividido em: apresentação dos fatos e personagens, situação-problema ou conflito (o que gera os fatos), clímax (momento de maior tensão da história) e desfecho (conclusão/resolução do conflito).

 

11. Quem é o personagem protagonista desse romance? Explique.

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12. Qual é a situação-problema na qual o menino está envolvido?

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13. Há um vilão ou uma força antagônica que atrapalha o desejo do protagonista? O que ou quem seria? Explique.

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14. Quem são os personagens secundários?

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15. Quando ocorre essa passagem da história?

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16. Onde ocorre a história? Como é possível supor essa informação?

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