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sábado, 25 de fevereiro de 2017

CRÔNICA: RACONTO DA NATIVIDADE GABARITO.

RACONTO DE NATIVIDADE
          – Senhor doutor, estou aqui no bolso com um milhão de cruzeiros de uma boiada que vendi e quero lhe comprar aquelas suas terras para cima do ribeirão. Pago à vista.
          O médico mediu de alto a baixo seu interlocutor. Era moço, feições de caboclo, vestido com decente modéstia.
          – Um milhão de cruzeiros, à vista, pelas terras? Pois o que lastimo é que elas não sejam minhas. O senhor se enganou. São de um meu primo advogado. O nome é parecido com o meu. Eu sou médico.
          Com fala mansa, o visitante pediu ao médico que interviesse no negócio. Tinha urgência em comprar as terras. Não pagava muito, mas pagava à vista. O dinheiro estava ali no bolso. Houve uma telefonada e o dono disse que não queria vender as mesmas. Nem por um, nem por dois milhões. O outro coçou a cabeça, triste. Da segunda vez que viu o rapaz, o médico estava em seu hospital. Era o único bom hospital da zona. Nessa ocasião, o caboclo vinha acompanhado da esposa que esperava o primeiro filho. O médico ofereceu um quarto pequeno, sem banheiro, com diária razoável, mas o moço indagou, com certa impertinência, se não havia nada melhor do que aquilo tudo.
         – Há. Mas é um apartamento de grande luxo. Quase nunca está ocupado. Da última vez que serviu, foi para a nora do coronel Quinzinho.
          Sim, aquele, sim, servia. Duas salas com tapetes e rádio, com terraço e até gaiola de passarinho, para não falar no telefone e no quarto de banho. Chegando à casa, o médico relatou o fato à esposa.
          – Você veja. Aqui em Goiânia tem gente de dinheiro que nem se suspeita. O apartamento de grande luxo foi ocupado por uma moça, acaboclada, mulher do homem que me procurou, não faz muito tempo, com um milhão de cruzeiros no bolso…
          A esposa do médico estava regando sua lata de gerânios. Suspendeu a operação e disse:
          – Eu vi quando aquele moço veio. Ninguém dava nada por ele. E com um milhão no bolso!
          O parto foi difícil, mas o médico era hábil. A parturiente teve a melhor assistência. Dez dias depois de ter ela dado à luz um menino forte, o pai, muito contente, procurou o diretor do hospital. Iriam embora ao dia seguinte. Acontecia que estava lá embaixo, com o carro, um irmão seu e a mulher começara a chorar com saudades de casa. Não fazia diferença que fossem àquela tarde e não na manhã seguinte?
          Claro que não fazia diferença. A cliente e a criança estavam passando muito bem. Mas o diabo era que o moço havia esquecido em casa seu talão de cheques. O médico sorriu:
          – Pois a coisa é assim. O parto vai lhe custar muito menos que um milhão.Vá embora para casa, sossegado, e venha amanhã saldar sua conta.
          Nem em uma semana, nem em duas o estranho rapaz apareceu. Ao fim desse tempo, o médico foi procurar o endereço da cliente. Tomou seu carro e rodou para lá. Fora da cidade, localizou o caboclo, de manga arregaçada, lavrando um mofino campo.
          – Que é isso, rapaz? Você se esqueceu da conta?
       O outro retrucou, manso, que não se esquecera. Nem da conta, nem de toda a gentileza de que sua esposa fora alvo. Apenas não podia pagar nem um tostão, pelo menos naquela dura época do ano. Talvez, depois da colheita, se Deus ajudasse, ele saldaria pelo menos a quinta parte da dívida. E prosseguia olhando a sua terra mesquinha.
          – Mas não posso entender! O senhor é um homem à míngua de recursos! Como é que ainda outro dia tinha um milhão no bolso?
          – Ter um milhão, eu não tinha, seu doutor. O que tinha era vontade que meu primeiro filho nascesse em quarto de gente rica e minha patroa fosse tratada a modo de mulher de fazendeiro. Por isso, maquinei aquela história das terras. Agora que a criança nasceu, se o senhor quiser me prender, me prenda.
       O médico estava furioso quando tornou à casa e contou o fato à mulher. Por coincidência, ela regava os mesmos gerânios. Estacou no gesto. Ouviu o relato inteiro e começou a chorar:
          – Se você puser aquele pobre coitado na cadeia, eu rasgo seu diploma de médico. Nunca ouvi história mais bonita em toda a minha vida!
          Eu também não. E é por isso que a passo aos leitores, à guisa de crônica de Natividade.
 (SILVEIRA, Helena. In:____Sombra Azul e Carneiro Branco. São Paulo, Cultrix, 1960)
GLOSSÁRIO
Raconto – narração, relato, narrativa
Intervir – servir de mediador
À míngua – em extrema pobreza
Mofino – infeliz, pequeno, acanhado
À guisa de –  à maneira de

Vamos, então, à análise do texto.
I – Marque com um X o sinônimo (significado) adequado das palavras grifadas, de acordo com o texto:
1. “Pois o que lastimo é que elas não sejam minhas.”
a. (   ) desejo           b. (   ) invejo     c. (   ) lamento     d.(   ) agradeço
2. “Tinha urgência em comprar as terras.”
a. (   ) pressa     b. (   ) necessidade    c. (   ) desejo     d. (   ) prazer
3. “… até que o rapaz indagou…”
a. (   ) reclamou     b. (   ) perguntou   c. (   ) resmungou   d. (   ) exclamou
4. “Por isso, maquinei aquela história das terras.”
a. (   ) apresentei    b. (   ) inventei    c. (   ) fabriquei    d.(   ) alterei
5. “O médico estava furioso quando tornou à casa…”
a. (   ) triste     b. (   ) aflito      c. (   ) curioso     d. (   ) enfurecido

II – Marque com um X a alternativa correta, de acordo com o texto:
2. Quando procurou o médico pela primeira vez, o caboclo queria:
a. (   ) internar a esposa que esperava o primeiro filho
b. (   ) comprar terras
c. (   ) comprar gado
d. (   ) vender terras
3. Quando procurou o médico pela segunda vez, o caboclo queria:
a. (   ) conversar       b. (   ) vender gado       c. (   ) internar a esposa       d. (   ) insistir na compra das terras
4. Dentre os quartos do hospital, o caboclo escolheu:
a. (   ) o mais barato     b. (   ) um quarto pequeno   c. (   ) um apartamento de luxo       d. (   ) um apartamento médio
5. O caboclo não pagou a conta do hospital porque:
a. (   ) não gostou do atendimento dado à esposa        b. (   ) não costumava pagar suas contas
c. (   ) esqueceu          d. (   ) não tinha dinheiro
6. Quando o caboclo disse que não tinha dinheiro para pagar a conta, a reação do médico foi de:
a. (   ) compaixão       b. (   ) tristeza     c. (   ) raiva       d. (   ) compreensão
7. O caboclo maquinou a história das terras porque queria:
a. (   ) dar um trote no médico.
b. (   ) queria que seu filho nascesse em quarto de gente rica e que sua  esposa fosse bem tratada.
c. (   ) que todos, na cidade, pensassem que era rico.
d. (   ) ficar com as terras e não pagar.
8. Ao saber do fato, a esposa do médico reagiu da seguinte maneira:
a. (   ) ficou furiosa e aconselhou o marido a mandar prender o caboclo
b. (   ) não se interessou pelo caso
c. (   ) chorou e disse ao marido que se mandasse prender o caboclo ela rasgaria o seu diploma
d. (   ) deu boas gargalhadas
9. Levando em consideração o atendimento que é dado às pessoas nos hospitais, o caboclo teve razão ou não para agir do modo que agiu? Por quê?
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10.
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GABARITO
1. c    2. A      3. B    4. B     5. D    6. B    7. C     8. C    9. D     10. C     11. B   12. C
13. resposta pessoal (mostre-a a um amigo ou pessoa do seu relacionamento e discuta a situação que levou o caboclo, o médico e sua esposa a terem as ações descritas)


CRONICA INTERPRETAÇÃO PORTA DE COLEGIO

Porta de Colégio
          Passando pela porta de um colégio, me veio uma sensação nítida de que aquilo era a porta da própria vida. Banal, direis. Mas a sensação era tocante. Por isto, parei, como se precisasse ver melhor o que via e previa.
           Primeiro há uma diferença de clima entre aquele bando de adolescentes espalhados pela calçada, sentados sobre carros, em torno de carrocinhas de doces e refrigerantes, e aqueles que transitam pela rua. Não é só o uniforme. Não é só a idade. É toda uma atmosfera, como se estivessem ainda dentro de uma redoma ou aquário, numa bolha, resguardados do mundo. Talvez não estejam. Vários já sofreram a pancada da separação dos pais. Aprenderam que a vida é também um exercício de separação. Um ou outro já transou droga, e com isto deve ter se sentido (equivocadamente) muito adulto. Mas há uma sensação de pureza angelical misturada com palpitação sexual, que se exibe nos gestos sedutores dos adolescentes. Ouvem-se gritos e risos cruzando a rua. Aqui e ali um casal de colegiais, abraçados, completamente dedicados ao beijo. Beijar em público: um dos ritos de quem assume o corpo e a idade. Treino para beijar o namorado na frente dos pais e da vida, como quem diz: também tenho desejos, veja como sei deslizar carícias.
          Onde estarão esses meninos e meninas dentro de dez ou vinte anos?
          Aquele ali, moreno, de cabelos longos corridos, que parece gostar de esportes, vai se interessar pela informática ou economia; aquela de cabelos loiros e crespos vai ser dona de butique; aquela morena de cabelos lisos quer ser médica; a gorduchinha vai acabar casando com um gerente de multinacional; aquela esguia, meio bailarina, achará um diplomata. Algumas estudarão Letras, se casarão, largarão tudo e passarão parte do dia levando filhos à praia e praça e pegando-os de novo à tardinha no colégio. Sim, aquela quer ser professora de ginástica. Mas nem todos têm certeza sobre o que serão. Na hora do vestibular resolvem. Têm tempo. É isso. Têm tempo. Estão na porta da vida e podem brincar.
          Aquela menina morena magrinha, com aparelho nos dentes, ainda vai engordar e ouvir muito elogio às suas pernas. Aquela de rabo-de-cavalo, dentro de dez anos se apaixonará por um homem casado. Não saberá exatamente como tudo começou. De repente, percebeu que o estava esperando no lugar onde passava na praia. E o dia em que foi com ele ao motel pela primeira vez ficará vivo na memória.

É desagradável, mas aquele ali dará um desfalque na empresa em que será gerente. O outro irá fazer doutorado no exterior, se casará com estrangeira, descasará, deixará lá um filho - remorso constante. Às vezes lhe mandará passagens para passar o Natal com a família brasileira.
          A turma já perdeu um colega num desastre de carro. É terrível, mas provavelmente um outro ficará pelas rodovias. Aquele que vai tocar rock vários anos até arranjar um emprego em repartição pública. O homossexualismo despontará mais tarde naquele outro, espantosamente, logo nele que é já um don juan. Tão desinibido aquele, acabará líder comunitário e talvez político. Daqui a dez anos os outros dirão: ele sempre teve jeito, não lembra aquela mania de reunião e diretório?
          Aquelas duas ali se escolherão madrinhas de seus filhos e morarão no mesmo bairro, uma casada com engenheiro da Petrobrás e outra com um físico nuclear. Um dia, uma dirá à outra no telefone: tenho uma coisa para lhe contar: arranjei um amante. Aconteceu. Assim, de repente. E o mais curioso é que continuo a gostar do meu marido.
           Se fosse haver alguma ditadura no futuro, aquele ali seria guerrilheiro. Mas esta hipótese deve ser descartada.
          Quem estará naquele avião acidentado? Quem construirá uma linda mansão e um dia convidará a todos da turma para uma grande festa rememorativa? Ah, o primeiro aborto! Aquela ali descobrirá os textos de Clarice Lispector e isto será uma iluminação para toda a vida. Quantos aparecerão na primeira página do jornal? Qual será o tranquilo comerciante e quem representará o país na ONU?
          Estou olhando aquele bando de adolescentes com evidente ternura. Pudesse passava a mão nos seus cabelos e contava-lhes as últimas estórias da carochinha antes que o lobo feroz os assaltasse na esquina. Pudesse lhes diria daqui: aproveitem enquanto estão no aquário e na redoma, enquanto estão na porta da vida e do colégio. O destino também passa por aí. E a gente pode às vezes modificá-lo.

(Afonso Romano de Sant`Anna)






1.Marque um X nas alternativas que indicam características do gênero textual crônica e que fazem parte do texto.
a) descreve fatos do cotidiano.
b) possui personagens comuns.
c) segue um tempo determinado.

2. Quais os personagens do texto?
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3. Onde acontecem os fatos narrados?
...................................................................................
4. Qual o tempo de duração desses fatos?
...............................................................................
5. Resuma com poucas linhas os fatos narrados.
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6. O narrador participa da história ou é um observador?  Justifique.
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7. Essa crônica é ficcional ,ou seja, inventada pelo cronista?
...................................................................................................................................................................
8. qual a finalidade desta crônica.
a) informar um acontecimento.
b) instruir sobre algo.
c) refletir sobre um assunto.
d) divertir o leitor.

9. No fragmento “Ver melhor o que via e previa”
a) que parágrafo descreve o que ele VIA.
...........................................................................
b) que parágrafo descreve o que ele PREVIA.
...........................................................................

10.  Alguns adolescentes já começam a entrar pela “porta da vida” já sofrem os primeiros impactos da vida. Que exemplo de impacto é mencionado no segundo parágrafo?
................................................................................

11.  Observe como é o futuro que o narrador prevê para cada um dos adolescentes. As previsões são todas boas?
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12. Que sentimento o narrador revela no último parágrafo?
...............................................................................

13. Banal, direis.
a) Quem é o sujeito da frase acima?
..................................................................................
b) Este sujeito é da 1º, 2º ou 3º pessoa.
................................................................................
c) Esta pessoa é quem fala, com quem se fala ou de quem se fala.
................................................................................
d) o que significa banal?
................................................................................

PARTE II MARCAR X

ALUNO: ...........................................................................................Turma..........Data...............Nº................

PROF.: DIORGES/ PORTUGUES/ D1,2,3,4,5,6,TRABALHONº 02

1. D1. De acordo com o textoa única informação incorreta é:

a) a turma já perdeu um colega num desastre de carro.

b) o adolescente moreno de cabelos longos parece gostar de esporte.

c)  provavelmente um outro ficará pelas rodovias.

d) todos têm certeza do que serão.

 

2. D2. "Isto será uma iluminação para toda vida" o pronome demonstrativo destacado no fragmento retirado do 6º parágrafo se refere a:

a) Clarice Lispector

b) Uma grande festa rememorativa

c) descobrir os textos de Clarice Lispector

d) Construção de uma linda mansão

 

3. D3. "Tão desinibido aquele, acabará líder comunitário e talvez político" De acordo com o texto a palavra em destaque só NÃO pode ser substituída por:

a) extrovertido

b) desinformado

a) desenvolto

b) descontraído

 

4. D4. "Daqui a dez anos os outros dirão: ele sempre teve jeito, não lembra aquela mania de reunião e diretório?" A partir da leitura desse fragmento podemos inferir que:

a) O cronista está decepcionado com a política atual

b) O cronista está satisfeito com a política atual

c) Desde cedo a pessoa já pode demonstrar habilidade para uma área.

d) Só a partir da vida adulta a pessoa deve se dedicar a política.

 

5.D6. Uma frase que resume o tema do texto é:

a) Como é o dia a dia dos alunos vistos na porta de um colégio.

b) O que a vida prepara para cada um de nós?

c) A educação é direito de todos e deve ser preservado.

d) A educação é para toda a vida, inclusive para os adultos.

 

6. D3. Estou olhando aquele bando de adolescentes com evidente ternura. O termo em só NÃO indica:

a) afetividade

b) afeição

c) benquerença

d) animosidade

 

7.D1. A única informação que NÃO está presente no texto é.

a) Mas a sensação era tocante.

d) É toda uma extratosfera, como se estivessem ainda dentro de uma redoma

b) parei, como se precisasse ver melhor o que via e previa

c) Primeiro há uma diferença de clima entre aquele bando de adolescentes espalhados pela calçada.

 

8. D2. "Pudesse passava as mãos nos seus cabelos e contava-lhes as últimas histórias da carochinha " O pronome pessoal destacado faz referência a:

a) aquele bando de adolescentes

b) seus cabelos

c) as últimas histórias da carochinha

d) a história do lobo feroz

 

9. D4.12. Podemos inferir que a finalidade desta crônica é:

a) informar um acontecimento.

b) instruir sobre algo.

c) refletir sobre um assunto.

d) divertir o leitor.

 

10. D14. A alternativa que não apresenta opinião é;

a) talvez não estejam

b) ouvem se gritos e risos cruzando a rua.

c) parece gostar de esportes

d) provavelmente um outro ficará pelas rodovias.

 









CRONICA INTERPRETAÇÃO OUTRO DIA

A outra noite

Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para casa de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar lindo, de Lua cheia; e que as nuvens feias que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas, uma paisagem irreal.
Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou um sinal fechado para voltar-se para mim:
– O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas, tem mesmo luar lá em cima?
Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra - pura, perfeita e linda.
– Mas, que coisa. . .
Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Depois continuou guiando mais lentamente. Não sei se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa.
– Ora, sim senhor. . .
E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um "boa noite" e um "muito obrigado ao senhor" tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe tivesse feito um presente de rei.

(BRAGA, Rubem. A outra noite. In: PARA gostar de ler: crônicas. São Paulo: Ática, 1979.

Vocabulário: 1. torpe: repugnante   2. veementes: animados

Após ler o texto, assinale a alternativa correta nas questões 1 e 3 e responda as demais:

1.Como era a noite vista pelo taxista e pelo amigo do narrador?
(   ) calor e chuva                (   ) vento e chuva                          (   ) luar lindo                       (   ) lua cheia

2. Como era a noite para o narrador?­­­­­­­__________________________________________________________
.                                   .
3. Considerando a maneira como é narrada, a reação do taxista (no final), pode-se inferir que ele ficou:
(   ) sensibilizado com a conversa                                            (   ) curioso por mais informações.
(   ) agradecido com o presente.                                              (   ) desconfiado com o pagamento

4. A outra noite a que o título se refere seria a vista somente pelo narrador ou aquela que o taxista e seu amigo enxergavam?_________________________________________________________________________

5. O que faz com que diferentes personagens vejam  diferente noites?
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6. Que fato do cotidiano a crônica que você leu explora?
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7. Nesse texto, o narrador é personagem? Justifique sua resposta copiando um trecho do texto.
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 gabarito, clique abaixo



1.(X ) vento e chuva    
2. Um luar lindo, e as nuvens lá de cima eram alvas, uma paisagem irreal.
3. ( X) sensibilizado com a conversa    
4. Vista pelo narrador
5. Cada pessoa tem seu ponto de vista, de acordo com sua visão de mundo.
6. Uma conversa banal sobre o tempo durante uma corrida de táxi.
7. Sim, é personagem, indicado pelo uso da 1ª pessoa:

“Outro dia fui a São Paulo...”
...”meu amigo”

“E, quando saltei...”

CRONICA INTERPRETAÇÃO OUSADIA

OUSADIA
Fernando Sabino

1ª parte

A moça ia no ônibus muito contente desta vida, mas, ao saltar, a contrariedade se anunciou:
- A sua passagem já está paga, disse o motorista.
- Paga por quem?
- Esse cavalheiro aí:
E apontou um mulato bem vestido que acabara de deixar o ônibus, e aguardava com um sorriso junto à calçada.
- É algum engano, não conheço esse homem. Faça o favor de receber.
- Mas já está paga...
 Faça o favor de receber! – insistiu ela, estendendo o dinheiro e falando bem alto
para que o homem ouvisse: - Já disse que não conheço! Sujeito atrevido, ainda fica ali me esperando, o senhor não está vendo? Por favor, faço questão que o senhor receba minha passagem.
O motorista ergueu os ombros e acabou recebendo: melhor para ele, ganhava duas vezes.
A moça saltou do ônibus e passou fuzilada de indignação pelo homem.
Foi seguindo pela rua sem olhar para ele.
Se olhasse, veria que ele a seguia, meio ressabiado, a alguns passos.

2ª parte

Somente quando dobrou à direita para entrar no edifício onde morava, arriscou uma espiada: lá vinha ele! Correu para o apartamento, que era no térreo, pôs-se a bater aflita:
- Abre! Abre aí!
A empregada veio abrir e ela irrompeu pela sala, contando aos pais atônitos, em termos confusos, a sua aventura.
- Descarado, como é que tem coragem? Me seguiu até aqui!
De súbito, ao voltar-se, viu pela porta aberta que o homem ainda estava lá fora, no saguão. Protegida pela presença dos pais, ousou enfrentá-lo
- Olha ele ali! É ele, venha ver! Ainda está ali, o sem-vergonha. Mas que ousadia!
Todos se precipitaram para a porta. A empregada levou as mãos à cabeça.
- Mas a senhora, como é que pode! É o Marcelo.
- Marcelo? Que Marcelo? – a moça se voltou surpreendida.
- Marcelo, o meu noivo. A senhora conhece ele, foi quem pintou o apartamento.
A moça só faltou morrer de vergonha:
- É mesmo, é o Marcelo! Como é que não reconheci! Você me desculpe, Marcelo, por favor.
No saguão, Marcelo torcia as mãos encabulado:
- A senhora é que me desculpe, foi muita ousadia.

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Após ler o texto com atenção, responda:

1.Qual é o tema desta crônica?

2. Quem são as personagens principais da crônica?

3.
a)O  foco narrativo é:
 (  ) 1ª pessoa ( também é personagem)
 (  ) 3ª pessoa (observador – conta apenas o observa)
 (  ) 3ª pessoa onisciente (sabe também o que as personagens pensam)

b)Justifique a sua resposta com um trecho da crônica.

4.
 a)A linguagem empregada no texto é:
(   )   formal                   (   )  informal
b) Transcreva um trecho do texto que justifique sua resposta.

5.Identifique no enredo da crônica a sequência dos fatos e enumere-os:
(1) Situação inicial
(2) Complicação ou conflito
(3) Clímax
(4) Desfecho

( ) Ao subir para seu apartamento, a moça percebe que o homem que a estava seguindo está no saguão do prédio.
(  )Surpreende-se ao saber que a passagem já foi paga por um rapaz que a espera.
(  ) Uma moça, no ônibus, vai pagar a passagem.
( ) A  moça só faltou morrer de vergonha  porque descobre que o homem não era suspeito e sim o noivo de sua empregada, ela não o havia reconhecido.

6.A descrição física do moço é importante para a construção do mal-entendido na história? Por quê?

7.As personagens transitam por vários lugares ao longo da história. Quais?

     8.
     a)Que tipo de discurso predominou na crônica?
     b) Que efeito esse recurso provoca no leitor?

9.
a)Justifique o título da crônica:

b)Em sua opinião, a crônica “Ousadia” faz alguma crítica a algum comportamento humano muito presente em nossa sociedade?


     10. De que recursos se serviu o autor para criar o humor presente na crônica?  

CRONICA INTERPRETAÇÃO O HOMEM TROCADO

O HOMEM TROCADO
O homem acordada anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de recuperação. Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.
- Tudo perfeito - diz a enfermeira, sorrindo.
- Eu estava com medo desta operação...
- Por quê? Não havia risco nenhum.
- Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos... E conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca de bebês no berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de orientais, que nunca entenderam o fato de terem um filho claro com olhos redondos. Descoberto o erro, ele fora viver com seus verdadeiros pais. Ou com sua verdadeira mãe, pois o pai abandonara a mulher depois que esta não soubera explicar o nascimento de um bebê chinês.
- E o meu nome? Outro engano.
- Seu nome não é Lírio?
- Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e...
Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não fazia. Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na universidade. O computador se enganara, seu nome não apareceu na lista.
- Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês passado tive que pagar mais de R$ 3 mil.
- O senhor não faz chamadas interurbanas?
- Eu não tenho telefone!
Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram felizes.
- Por quê?
- Ela me enganava.
Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas que não fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico dizer:
- O senhor está desenganado.
Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma simples apendicite.
- Se você diz que a operação foi bem...
A enfermeira parou de sorrir.
- Apendicite? - perguntou hesitante.
- É. A operação era para tirar o apêndice.
- Não era para trocar de sexo?

1) Nas crônicas de humor, é comum haver uma situação inicial ou uma fala que gera outras situações de humor. Na crônica "O homem trocado", a partir de que fala do protagonista são introduzidas as várias situações engraçadas que ocorreram com ele?...............................................................................................................................................

2)A crônica  é quase sempre um texto curto, como poucas personagens. O tempo e o espaço são limitados. Na crônica em estudo:
a) Quais são as personagens principais envolvidas na história?.............................................................................
b) O protagonista é tratado de modo superficial, como se fosse um indivíduo comum, ou é tratado de modo mais aprofundado psicologicamente? Por quê?.............................................................................................................
c) Onde a história acontece?......................................................................................
d) Qual é o tempo de duração da história?.........................................................................
3) A crônica normalmente apresenta situações rápidas, em que a fala das personagens assume um papel importante para a construção da história.
a) Que tipo de discurso predomina na crônica lida: o direto ou indireto?........................................................................
b) O que o emprego desse tipo de discurso confere à narrativa? ...........................................................................
4)Na crônica o narrador pode ser observador ou personagem. Qual é o tipo de narrador presente na crônica O homem trocado? Justifique a sua resposta.................................................................................................................................
5) A crônica  normalmente se encaminha para um desfecho inesperado.
a) Na crônica "O homem trocado", qual é a surpresa final?................................................................................................
b) Há, antes do final da história, alguma pista explícita desse desfecho?...........................................................................
c) Se houvesse antecipação do desfecho, o texto continuaria engraçado?..........................................................
d) Essa característica da crônica   aproxima-se de outro gênero textual cuja finalidade é divertir. Que gênero é esse?
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6)Nas crônicas, o registro de fatos dia-a-dia ou veiculados em notícias de jornal é feito de modo a levar o leitor a se divertir ou refletir criticamente sobre a vida e os comportamentos humanos. Na sua opinião, a narrativa feita de humor lida apresenta esses mesmos objetivos? Justifique sua resposta...........................................................................................
7) Observe a linguagem empregada na crônica lida. Que tipo de variedade linguística é adotado na crônica de humor: a variedade padrão formal ou a variedade padrão informal?...................................................................................................


CRONICA INTERPRETAÇÃO MAIS GENTILEZA POR FAVOR

MAIS GENTILEZA, POR FAVOR!
Outro dia – numa roda de amigos – surgiu um assunto que me fez pensar: já repararam que nesses tempos modernos, deixamos a gentileza de lado e nos desculpamos pelos maus modos, colocando a culpa no estresse? Pode ser uma resposta atravessada por conta do trânsito caótico. Pode ser o prazo curto. A falta de dinheiro. A falta de tempo. A falta de saúde. A falta de graça na vida. Os motivos são muitos e não param. Mas será que – em nome das nossas “faltas” – temos o direito de sermos MENOS humanos? Onde foi parar a delicadeza, a gentileza, a educação e o respeito? Onde foi parar o que nós SOMOS?
Desculpe-me, mas é difícil responder. Estamos tão individualistas que mal percebemos o outro. Eu, pessoalmente, acho uma falta de inteligência privilegiar apenas o SABER e não valorizar quem tem uma visão generosa do mundo. Para mim, a combinação dos dois – conhecimento e sensibilidade – são um prato cheio para vivermos melhor. E crescermos tanto pessoal, quanto profissionalmente.
Infelizmente, não é isso que vemos por aí. O respeito parece ter saído de moda. Gentileza, então, virou gíria das nossas avós. Nada de “bom dia”, “boa tarde”, nem um olhar que te perceba como indivíduo.
Importante esclarecer: não gosto de generalizar. Conheço pessoas que – no meio do salve-se quem puder! – continuam a ser PESSOAS.  Enxergam, em seus olhos, o outro. Oferecem – sem o menor constrangimento – um abraço sincero. Uma ajuda inesperada. Um elogio. Um silêncio na hora certa.
Isso, para mim, não é frescura. É apenas a boa e velha educação pedindo passagem... Implorando para não ser esquecida, dentro do carro, na hora do rush.
Claro que não é preciso dizer “obrigada!” a cada minuto. Mas antes uma palavra doce do que deixar nosso lado brucutu (acredite, todo mundo tem um!) falar mais alto e acabar com a CORDIALIDADE que ainda nos resta.
Você acha esse papo ultrapassado? Chegou, então, a hora de me desculpar. DE NOVO.
Sei que pode parecer ingenuidade minha, mas eu continuo com fé no ser humano. (E em mim). Acho que a pessoa que desenvolve sua sensibilidade para perceber o outro (seja no trabalho, em casa, na rua ou na fazenda), só tem a ganhar. Uma promoção. Um trabalho melhor. Um amigo de verdade. Um dia mais feliz. Ou apenas um sorriso que – a meu entender – já vale o esforço.
Por isso, venho escrever esse texto para tirar meu nó da garganta e alertar aos que ainda sabem ouvir: o mundo precisa de mais gentileza. E menos – muito menos! – cara amarrada.
(Fernanda Mello)

1) “Desculpe-me, mas é difícil responder.” De acordo com o contexto, a conjunção coordenada grifada no período se classifica como:
a) explicativa, pois marca uma explicação.
b) aditiva, porque marca uma adição.
c) adversativa, já que marca uma oposição
d) conclusiva, uma vez que marca conclusão.


2) “Gentileza, então, virou gíria das nossas avós.” Podemos afirmar sobre o fragmento sublinhado que:
a) é um período composto.
b) é um período simples.
c) possui duas orações.
d) não possui orações.

3) Em um dos fragmentos abaixo retirados do texto houve um equivoco no uso do da conjunção MAS e do advérbio MAIS assinale-o.
a) “Sei que pode parecer ingenuidade minha, mais eu continuo com fé no ser humano.”
b) “O mundo precisa de mais gentileza.”
c) “Claro que não é preciso dizer “obrigada!”a cada minuto. Mas antes uma palavra doce...”
d) “Um dia mais feliz”.

4) “Sei que pode parecer ingenuidade minha” O tipo de sujeito do fragmento do texto se classifica como:
a) composto
b) indeterminado
c) oculto
d) composto e simples

5) Em uma das alternativas abaixo cometeu-se um erro ao grifar o sujeito, indique-a:
a) O mundo precisa de mais gentileza.
b) Os motivos são muitos.
c) Gentileza, então, virou gíria das nossas avós.
d) Surgiu um assunto.


Gabarito 1c, 2b, 3a, 4c, 5d.

CRONICA INTERPRETAÇÃO 9ºANO COMO COMECEI A ESCREVER

Como comecei a escrever
                                               Fernando Sabino
Quando eu tinha 10 anos, ao narrar a um amigo uma história que havia lido, inventei para ela um fim diferente, que me parecia melhor. Resolvi então escrever as minhas próprias histórias.
Durante o meu curso de ginásio, fui estimulado pelo fato de ser sempre dos melhores em português e dos piores em matemática — o que, para mim, significava que eu tinha jeito para escritor.
Naquela época os programas de rádio faziam tanto sucesso quanto os de televisão hoje em dia, e uma revista semanal do Rio, especializada em rádio, mantinha um concurso permanente de crônicas sob o titulo "O Que Pensam Os Rádio-Ouvintes". Eu tinha 12, 13 anos, e não pensava grande coisa, mas minha irmã Berenice me animava a concorrer, passando à máquina as minhas crônicas e mandando-as para o concurso. Mandava várias por semana, e era natural que volta e meia uma fosse premiada.
Passei a escrever contos policiais, influenciado pelas minhas leituras do gênero. Meu autor predileto era Edgar Wallace. Pouco depois passaria a viver sob a influência do livro mais sensacional que já li na minha vida, que foi o Winnetou de Karl May, cujas aventuras procurava imitar nos meus escritos.
A partir dos 14 anos comecei a escrever histórias "mais sérias", com pretensão literária. Muito me ajudou, neste início de carreira, ter aprendido datilografia na velha máquina Remington do escritório de meu pai. E a mania que passei a ter de estudar gramática e conhecer bem a língua me foi bastante útil.
Mas nada se pode comparar à ajuda que recebi nesta primeira fase dos escritores de minha terra Guilhermino César, João Etienne filho e Murilo Rubião - e, um pouco mais tarde, de Marques Rebelo e Mário de Andrade, por ocasião da publicação do meu primeiro livro, aos 18 anos.
De tudo, o mais precioso à minha formação, todavia, talvez tenha sido a amizade que me ligou desde então e pela vida afora a Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos, tendo como inspiração comum o culto à Literatura.
Texto ex traído do livro "Para Gosta r de Ler - Volume 4 - Crônicas", Editora Ática - São Paulo, 1980, pág. 8.
Atividades:
1) O texto “Como comecei a escrever” é narrador em 1ª ou 3ª pessoa? Justifique sua resposta com um trecho do texto.
2) Quando foi que o “eu” do texto “Como comecei a escrever” iniciou suas próprias produções textuais? E o que motivou essa produção?
3) Na escola:
a) Em qual disciplina o “eu” se considerava melhor? E pior?
b) E por que ele achou que tinha jeito para escritor?
4) Retire do texto elementos que mostram que a história narrada aconteceu há muito tempo.
5) Quem é Berenice? E qual a importância dela na vida do “eu” do texto?
6) Qual foi a mudança ocorrida na vida literária do “eu” quando este completou seus 14 anos?
7) Em “Muito me ajudou, neste início de carreira, ter aprendido datilografia na velha máquina Remington do escritório de meu pai.”, o trecho destacado nos dias atuais poderei ser substituído por:
8) No trecho: “Naquela época os programas de rádio faziam tanto sucesso quanto os de televisão hoje em dia, e uma revista semanal do Rio, especializada em rádio, mantinha um concurso permanente de crônicas sob o titulo ‘O Que Pensam Os Rádio-Ouvintes’.”
Os elementos destacados indicam uma:

( ) conclusão ( ) explicação ( ) comparação ( ) oposição