As formigas
Foi a coisa mais bacana a
primeira vez que as formigas conversaram com ele. Foi a que escapuliu da
procissão que conversou: ele estava olhando para ver aonde que ela ia, e aí ela
falou para ele não contar pro padre que ela tinha escapulido – o padre ele já
tinha visto que era o formigão da frente, o maior de todos, andando posudo.
Isso aconteceu numa manhã de muita chuva em
que ele ficara no quentinho das cobertas, com preguiça de se levantar, virado
para o outro canto, observando as formigas descendo em fila na parede. Tinha um
rachado ali perto por causa da chuva, era de lá que elas saíam, a casa delas.
Toda manhã aquela chuva sem parar,
pingando na lata velha lá fora no jardim, barulhinho gostoso que ele ficava
ouvindo, enrolado no cobertor, olhando as formigas e conversando com
elas, o quarto meio escuro, tudo escuro de chuva.
A conversa ficava interessante quando
ele lembrava de perguntar uma porção de coisas, e elas também perguntavam pra
ele. (Conversavam baixinho, para os outros não escutarem). Mas às vezes não
lembrava nada para conversarem, e ficava chato, ele acabava dormindo – formiga
tinha hora que era feito gente mesmo.
O bom é que ninguém precisava gritar,
nem também mentir, como as pessoas estavam sempre fazendo. E também poder
ficar olhando assim, sem falar nada, só olhando, sem precisar falar.
Gente, se tinha outra perto, logo uma
tinha que falar, ninguém aguentava ficar calado (...) logo uma falava ou ficava
fazendo hum hum e ria – ninguém aguentava. Ficar assim olhando, tão bom que nem
sabia direito se estava acordado mesmo ou sonhando, as formigas uma atrás da
outra, descendo, a fila certinha.
Uma tarde entrou no quarto e viu a
mancha de cimento novo na parede, brutal, incompreensível.
_ Pra quê que o senhor fez isso? Pra quê
que o senhor fez assim com minhas formigas?
O pai não entendia, e o menino chorando,
chorando. Então o pai deu no espalho. Mas a mãe pediu para ele ter paciência:
nesse tempo de chuva as crianças ficam muito excitadas porque não podem sair à
rua e não têm onde brincar.
De manhã o menino acordava e olhava para
a mancha de cimento na parede. Ficava olhando, até que sentia um bolo na
garganta, e cobria a cabeça com o cobertor.
VILELA,
Luiz. Contos da infância e da adolescência / Luiz Vilela. - [4. ed.]. -
São Paulo : Ática, 2015.
1.
Transcreva, do texto, um trecho que mostra que o narrador conhece os
sentimentos do menino.
______________________________________________________________________________________________________________________________
2.
O menino tem uma opinião negativa sobre os adultos. Justifique com um fragmento
do texto.
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
3.
Descreva a reação do garoto, ao ver o conserto da rachadura na parede. ______________________________________________________________________________________________________________________________
4. Conflito significa “desavença, discórdia,
briga ou discussão entre duas partes, oposição e luta entre diferentes forças”.
Considerando esses significados, explique o conflito que ocorre no conto.
______________________________________________________________________________________________________________________________
5.
Qual a diferença entre o pai e a mãe sobre o comportamento do menino?
____________________________________________________________________________________________________________________________
6.
O pai não entendia, e o menino chorando, chorando. Por que o autor do
texto repetiu a palavra chorando?
______________________________________________________________________________________________________________________________
7.
Ficava olhando, até que sentia um
bolo na garganta, e cobria a cabeça com o cobertor. Qual o significado
da expressão destacada?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________
8.
Retire do texto uma fala do menino.
_____________________________________________________________________________________________________________________________
9.
Quando aconteceu a primeira conversa do menino com as formigas?
____________________________________________________________________________________________________________________________
10.
Em que lugar aconteciam as conversas?
_______________________________________________________________
( ) Tinha um rachado ali perto por causa da
chuva
( ) olhando as formigas e conversando
com elas
( ) ela falou para ele não
contar pro padre que ela tinha escapulido
( ) o quarto meio escuro, tudo escuro de
chuva.
12. Complete com C de coloquial para as palavras
que são mais usadas no dia a dia nas conversas. E com F de formal para as palavras menos usadas
na oralidade, nas conversas diárias.
( ) posudo
( ) procissão
( ) bacana
( ) escapulido
( ) excitadas