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domingo, 16 de junho de 2024

TANTÃS - GÊNIO

 

TANTÃS – GÊNIO

        Naquele sábado, Tutu tinha uma festa importante, sua primeira festa à fantasia.

       Logo de manhã cedo, a avó o levou a uma loja para comprar o traje. Hum, nada de Batmam, de Super-Homem ou Homem-Aranha. Muito comum. Tutu fuçou a loja inteira, mas não achou nada de interessante. Provou uma fantasia de Aladim do gênio da lâmpada, e, depois de pintar um bigode e um cavanhaque com lápis de olho, acabou concordando em levá-la por insistência da avó, que disse que estava ótima.

       — E a lâmpada maravilhosa? — perguntou a avó para a vendedora. — Não vem junto?

       — Não, o que vem agora é uma lata de spray fixador de cabelo para fazer o penteado estilo Aladim.

       Avó e neto voltaram para casa e, no fim da tarde, Lá estava Tutu fantasiado na frente do espelho, Olhando arrependido a blusinha curta e brilhante, as calças bufantes e os sapatos enrolados na ponta. Ia pagar mico, mas agora era tarde para mudar. Bem, o jeito era espetar o cabelo para ficar, pelo menos, um Aladim moderno.

       Apertou a válvula do spray, mas o que saiu de lá não foi o que ele esperava. Tutu arregalou os olhos.

       — Credo, o que é isso? Quem é você?

       — Eu? — perguntou a figurinha gasosa que tinha sido espirrada pelo bico do fixador. — Eu sou o gênio da lata de spray.

       — Gênio da lata de spray? Uau! Que doido! Posso fazer um pedido? — exclamou Tutu animado, já pensando em pedir urna fantasia de viking, coisa que não tinha na loja.

       —Você só pode pedir penteados — foi avisando o gênio com voz frisante. — Tenho penteados de três tipos: trança dread, topete Elvis Presley ou moicano.

       — Penteados?! — exclamou Tutu decepcionado. — Isso. E aí, vai querer ou não?

      Tutu se olhou no espelho. Um penteado bacana podia melhorar o traje.

      — Hum... quero um moicano... vermelho. Aqui, ó — disse apontando o alto da cabeça.

       O gênio apertou o bico do spray e começou a sair de lá uma meleca grossa, brilhosa e esverdeada.

       Ei! Para com isso, gênio! Essa gosma não é um moicano! — gritou Tutu.  

        — Eu sei que não é! Foi mal! Desculpa, cara! Não era pra isso acontecer.    

        A meleca que saiu da lata cobriu-lhe a cabeça, as costas, a barriga, as pernas, arruinando por completo o traje de Aladim.

       — Desculpa! — disse o gênio numa voz pipilante. — Essa é a minha primeira tarefa da escola e eu me dei mal. O professor vai acabar comigo.

       Tutu se olhou no espelho.

       — Uau! Estou parecendo o Abominável Monstro do Esgoto! Genial! Adorei! Ficou demais! Obrigada!

       Tutu foi para a festa feliz da vida, e o pequeno gênio foi embora confuso. Ele tinha errado a lição, mas será que, mesmo errando, ele tinha acertado?

 

 

1. Qual era o pedido que o gênio atendia?

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2. Por que o gênio não conseguiu atender o pedido do penteado?

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3. Escreva o significado das palavras abaixo com as sugestões: convincente, volumosas, que pia,

a) pipilante ______________________________

b) bufantes ______________________________

c) frisante ______________________________

 

4. Qual fantasia tutu pensou em pedir ao gênio?

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TANTÃS – CUCO

 

TANTÃS – CUCO

        Às sete horas da manhã o cuco do relógio do Neuso não saiu da casinha para cantar. Ele aguardou até às oito e viu que, de novo, o passarinho  não saiu. Nem às nove, nem às dez, nem à noite, nem no dia seguinte. Neuso ficou preocupado: o que estaria acontecendo? Falou do problema a Um amigo e ele o aconselhou a levar o relógio para o relojoeiro do bairro, o Xulo, mas ele não quis.

       Neuso não gostava do estilo dele. Sua oficina era uma bagunça.Tinha garfo, lixa de unha, ovos, furadeira, mas o pior era que ele tinha uma porção de passarinhos em gaiolas. Quem garantia que eles não eram cucos de relógios quebrados?

        Não, definitivamente Neuso não confiava em Xulo e não ia deixar seu cuco de estimação nas mãos dele. Tentaria resolver o problema de outro jeito.

        Subiu numa escada, bateu na portinhola do passarinho e aguardou. Nada. Bateu mais urna vez e, de novo, nada. Neuso não ia forçar a porta, preferiu conversar pelo lado de fora mesmo. Disse que estava sentindo falta dele, perguntou gentilmente qual era o problema e se podia ajudar.

       Deu certo, porque, em seguida, às 4 da tarde em ponto, o cuco saiu pela portinhola e ele, que só piava, tossiu e espirrou quatro vezes.

       Ah, então era isso. Ele estava gripado! Pronto, resolvido. O Neuso ia consertar o relógio com xarope!

 

 

1. Por que Neuso não confiava em Xulo?

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2. Retire do texto um fragmento que comprove que Neuso respeitava a privacidade do cuco.

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3. Por que Neuso estava preocupado?

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TANTÃS – NENO O CARNEIRO 6º ANO

 

TANTÃS – NENO O CARNEIRO

         Neno, o carneiro, estava com insônia e foi deitar no pasto para apreciar a noite estrelada.

        — Uau, uma estrela carente na abóbora celeste! Espera um porquinho, vou pensar num pedido.

        Neno  queria muitas coisas, mas a principal era que ele queria parar de trocar letras. As pessoas não entendiam bem o que ele falava e isso dava muita confusão. Então, com certeza, o que ele mais queria na vida era ser um carneiro que falasse tudo corretamente.

        — Ó estrela carente! Tenho um pedido! — gritou para o alto. Quero ser um carteiro que fala tudo certinho! A estrela cadente, que não sabia do problema da troca de letras, atendeu o pedido exatamente do jeito como foi feito. E então, pela magia estelar celeste, Neno se transformou num carteiro, um carteiro que falava com perfeição.

        Até boje, Neno agradece a sua estrela da sorte. Ele virou um carteiro bem-sucedido. Agora fala tudo certinho e entrega cartas nas fazendas da redondeza.

 

1. Qual era o problema de  Neno?

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2. Por que o problema de Neno o atrapalhava?

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 2. A estrela cadente fez o que Neno pediu? Por quê?

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quinta-feira, 13 de junho de 2024

O MENINO QUE CAIU NO BURACO CAPÍTULO 2 - BURACO

 

Buraco

       A mochila cheia de livros e cadernos, amorteceu a queda. Sentia muita dor na nuca e no cotovelo do braço esquerdo. Tinha as duas mãos esfoladas.

       Estava escuro. A poeira não assentara; ainda caia terra lá do alto. Seus olhos ardiam e não conseguia respirar direito.

       Caíra num poço.

       Apavorado, a primeira coisa que fez foi gritar.

       Gritou feito um doido. Berrou pela mãe, pelo pai, berrou o nome de amigos e até palavrões. Não adiantou nada. Ele sabia. Ninguém passava por ali.

       Gritar e ficar com a cabeça para cima, olhando desesperadamente para a boca do poço, só piorou a dor na nuca e encheu sua garganta de barro. Enfiou o dedo entre os cabelos para ver se havia sangue, mas encontrou apenas um caroço já grande.

       Conseguiu se controlar, conversando consigo mesmo, dizendo que era melhor pensar na situação com calma.

    Passou a mão no fundo do poço para ver se havia água. Não. Estava só um pouco úmido num dos cantos. Ajeitou a mochila no chão.

       O ar foi ficando mais limpo, embora respirar continuasse difícil. Ali embaixo os pulmões tinham de fazer mais força.

       O poço era fundo e não havia nenhum pedaço de pau atravessado na borda, nenhum resto de corda, só um tufo de capim ressecado tombando para dentro. Nada que pudesse usar para subir. Apenas as paredes nuas, com um barro duro e liso.

       Ali era tão silencioso que ele podia ouvir seu coração, como se batesse do lado de fora do peito. Seu pai ia gostar daquele silêncio. Foi só lembrar do pai que começou a chorar.

       O menino sentou no chão, abraçou dom força as próprias pernas, apoiou a testa nos joelhos e chorou bastante. Chegou a engasgar, com soluços que faziam todo o seu corpo tremer. Só parou quando sentiu um calor estranho na ponta do tênis. Era um raio de sol.

       Enxugou os olhos na manga do casaco e olhou para cima. À medida que o dia avançava, o sol ia entrando no poço. Aquilo era uma coisa boa. O sol pas-saria justamente sobre o buraco. Ele teria luz e calor. Ia ver bem onde estava. Talvez pudesse pensar em algum jeito de sair dali.

       Ficou louco com ele mesmo, parecia um idiota chorão encolhido no fundo de um buraco. Daquele jeito só ia piorar as coisas. A situação era a seguinte: ninguém o procuraria até o final do dia.

       A mãe achava que ele estava na escola e só volta-ria no final da tarde, como sempre. O pai... bem, o pai não saía da cama, talvez nem lembrasse do filho. Nem se falavam mais, então não dava para contar com ele.

       Na escola iam achar que ele matara aula. Como não tinham os dois primeiros horários, muitos alunos iam fazer isso, ainda mais por ser sexta-feira e o pessoal gostar de emendar com o fim de semana.

       Só dariam pela falta dele à noite. Imaginou então o que ia acontecer. A mãe, aflita, procuraria na casa dos vizinhos, dos amigos, da tia, dos colegas da escola e ia saber que não, ninguém tinha visto o menino aquele dia, que ele não fora ao colégio nem aparecera em lugar algum. Aí ficaria mesmo desesperada, iria à polícia, ao hospital, os vizinhos ajudariam, os professores, os amigos.

       O menino se sentiu importante, imaginando tanta gente preocupada com ele.

       Mas sabia que ninguém ia lembrar de procurar por ele ali, naquele fim de mundo mal-assombrado, tão longe da estrada, dentro de um poço abandonado no meio de um capinzal alto.

       O que tinha de fazer era se preparar, porque naquela noite com certeza dormiria no fundo do buraco.

       A primeira coisa que fez foi aproveitar a luz do sol para ver o que havia dentro da mochila. Talvez pudesse usar algo, ter alguma ideia que o tirasse dali ou descobrir um jeito de avisar onde estava, fazer uma espécie de sinal.

       Virou a mochila no chão.

       Havia o lanche que sua mãe preparara. Era quase sempre a mesma coisa, mas abriu, só para conferir: dois sanduíches de mortadela; cinco biscoitos de água e sal; uma laranja; e uma garrafa pequena de refrigerante, cheia de leite, com uma rolha de sabugo de milho. Teve vontade de chorar de novo, porque lembrou de como sua mãe acordava cedo para preparar aquilo. Mas não era hora de piorar a situação, ficando triste com outras coisas, porque já estava bem encrencado.

       Não sabia quanto tempo levariam para encontrá-lo, por isso, se não quisesse morrer de fome, teria de poupar aquele lanche ao máximo. Comeria aos bocadinhos, como uma formiga. Guardou tudo na sombra, no canto mais úmido do buraco, bem embrulhado no papel e no plástico.

       Dentro da mochila havia também dois livros grossos e grandões, um de História do Brasil, outro de Ciências. E dois cadernos de cem folhas, presas com espirais de arame.

       Corno ia ter aula de Desenho, lá estavam a régua de cinquenta centímetros, o esquadro e o compasso. o menino sentia vergonha deles. Não era um material de desenho como o dos outros colegas. A régua e o esquadro não eram de plástico transparente. O compasso não era de aço brilhante, com uma lapiseira fina numa das pontas. Não. Como não havia dinheiro e precisavam poupar cada moeda, ele usava as ferramentas de trabalho do pai, que já não serviam para nada. Por isso, a régua e o esquadro do menino eram enormes, de aço escuro e duro, e tão gastos que quase já não se enxergavam os números. E o compasso media mais de um palmo, com duas hastes de madeira dura e ensebada, um prego numa ponta e um toco de lápis enfiado na outra.

       Colocara na mochila o conjunto de lápis de cor, presente da tia no seu aniversário. Aqueles, sim, eram bonitos de mostrar para os outros e ele os poupava o quanto podia, para ver se duravam enquanto estivesse na escola. Trinta e seis lápis, de todas as cores, dentro de uma embalagem de plástico, parecida com um envelope. Sempre que olhava para eles sentia vontade de abrir e cheirar. Nem os usava, muito menos emprestava. Só gostava de cheirar. E foi o que ele fez. Cheirar os lápis era uma coisa boa de fazer, apesar da situação.

       Encontrou a caneta esferográfica; a pequena tesoura de pontas arredondadas; e um tubo de cola.

       E lá estavam os lápis grandes, os que ele mais detestava, os que o faziam morrer de vergonha. O professor de Desenho pedira lápis com grafite grosso e sua mãe lhe empurrara quatro lápis de carpinteiro, enormes, da grossura de dois dedos, tão grandes e vermelhos que a turma toda reparava e ria dele. Só um tinha ponta. Os outros três nunca tinham sido usados.

       Havia mais uma coisa de seu pai ali: os óculos que ele usava para enxergar de perto. A armação era grossa e preta e as lentes pareciam fundos de garrafa, grossas como lentes de aumento. Uma delas estava partida. O pai já não usava aqueles óculos havia muito tempo, nem mesmo para ler livros, como fazia aos domingos, na cadeira da varanda. O pai nem trabalhava nem lia mais, só ficava na cama. Mas a mãe cismara de trocar a lente quebrada, para ver se animava o marido, e por isso pedira para o menino levar os óculos para a escola... talvez a professora de Matemática desse um jeito neles, de graça, porque o irmão dela trabalhava na única óptica que havia na vila.

       Os óculos já estavam na mochila havia quase um mês, mas o menino não tinha coragem de pedir aquele favor à professora.

       Nos bolsos da parte de fora da mochila achou o pequeno canivete que usava para descascar a laranja; duas moedas; três tampinhas de refrigerante; dois elásticos; uma caixa de chiclete vazia; três coquinhos secos; seis pregos; uma flor já murcha que ele não teve coragem de dar a uma menina; uma carcaça velha de relógio; duas cartas de baralho; e uma foto bastante dobrada de uma artista de televisão, de biquini, que ele achava muito, muito bonita.

        O menino ficou olhando todos aqueles objetos espalhados no fundo do poço. O sol batia bem em cima deles, cada vez mais forte. Olhou, olhou e não lhe ocorreu ideia alguma. Era um bando de coisas inúteis. Custava ter uma corda comprida e um daqueles ganchos de açougue para jogar para fora do buraco, fincar no chão e escalar? Ou então custava ter uns dez morteiros e uma caixa de fósforos para avisar ao resto do mundo que ele estava ali, dentro do poço da fábrica de panelas? Ou melhor, custava ter um telefone celular, daqueles que anunciavam na televisão e que muitos meninos da escola tinham, para ele ligar para a mãe vir tirá-lo do buraco e pronto?

       Mas a família do menino não tinha telefone nenhum. Nem liquidificador, nem geladeira. Na verdade eles já não tinham nem televisão.

       O menino continuou olhando para as suas coisas ali espalhadas, distraído, lembrando como era bom quando havia televisão em casa, porque ela às vezes fazia sua mãe rir.

        E como, por mais que olhasse e mexesse nas coisas, continuasse sem ter ideias, acabou esticando a foto da atriz que ele achava muito bonita e a prendeu com um prego na parede do poço.

       Sabia que aquilo não ia ajudá-lo a sair do buraco, mas se sentiu menos só.

 

 

Capitulo 2- Buraco

 

1. Qual foi a primeira coisa que o menino fez? P. 15

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2. O que ele fez para se controlar?

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3. Após lembrar do pai o menino começou a chorar. Quando ele parou? P.16

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4. Por que a mãe só iria sentir falta do menino à noite? P.17

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5. Por que o menino se sentiu importante?

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6. Que alimentos havia dentro da bolsa? P.18

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7. Por que havia uma régua havia uma régua, um esquadro e um compasso na bolsa? P.19

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8. Dos materiais escolares qual que o menino sentia orgulho em possuir?

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9. Por que a mãe do menino pediu para ele falar com a professora sobre o óculos quebrado?P.20

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10. O que o menino desejou ter em das coisas inúteis que havia na bolsa?

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segunda-feira, 10 de junho de 2024

CONTO - AS MÃO DOS PRETOS - ATIVIDADES - CONTOS AFRICANOS

 Contexto histórico

          A independência de Moçambique, proclamada em 25 de junho de 1975, foi um evento de extrema importância na história do país africano. Após séculos de colonização, o povo moçambicano conquistou sua liberdade e soberania, iniciando um novo capítulo em sua trajetória como nação.

          O conto abaixo foi inserido na obra publicada em 1964, denominada: Nós matamos o cão tinhoso, composta por sete contos e escrita pelo autor Luís Bernardo Honwana

 

AS MÃOS DOS PRETOS

 

        Já nem sei a que propósito é que isso vinha, mas o Senhor Professor disse um dia que as palmas das mãos dos pretos são mais claras do que o resto do corpo porque ainda há poucos séculos os avós deles andavam com elas apoiadas ao chão, como os bichos do mato, sem as exporem ao sol, que lhes ia escurecendo o resto do corpo.

        Lembrei-me disso quando o Senhor Padre, depois de dizer na catequese que nós não prestávamos mesmo para nada e que até os pretos eram melhores do que nós, voltou a falar nisso de as mãos deles serem mais claras, dizendo que isso era assim porque eles, às escondidas, andavam sempre de mãos postas, a rezar.

        Eu achei um piadão tal a essa coisa de as mãos dos pretos serem mais claras que agoraé ver-me a não largar seja quem for enquanto não me disser porque é que eles têm as palmas das mãos assim tão claras. A Dona Dores, por exemplo, disse-me que Deus fez-lhes as mãos assim mais claras para não sujarem a comida que fazem para os seus patrões ou qualquer outra coisa que lhes mandem fazer e que não deva ficar senão limpa.

        O Senhor Antunes da Coca-Cola, que só aparece na vila de vez em quando, quando as coca-colas das cantinas já tenham sido todas vendidas, disse-me que tudo o que me tinham contado era aldrabice. Claro que não sei se realmente era, mas ele garantiu-me que era. Depois de eu lhe dizer que sim, que era aldrabice, ele contou então o que sabia desta coisa das mãos dos pretos. Assim:

        “Antigamente, há muitos anos, Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, Virgem Maria São Pedro, muitos outros santos, todos os anjos que nessa altura estavam no céu e algumas pessoas que tinham morrido e ido para o céu, fizeram uma reunião e decidiram fazer pretos. Sabes como? Pegaram em barro, enfiaram-no em moldes usados e para cozer o barro das criaturas levaram-nas para os fornos celestes; como tinham pressa e não houvesse lugar nenhum, ao pé do brasido, penduraram-nas nas chaminés. Fumo, fumo, fumo e aí os tens escurinhos como carvões. E tu agora queres saber porque é que as mãos deles ficaram brancas? Pois então se eles tiveram de se agarrar enquanto o barro deles cozia?!”.

        Depois de contar isto o Senhor Antunes e os outros Senhores que estavam à minha volta desataram a rir, todos satisfeitos.

        Nesse mesmo dia, o Senhor Frias chamou-me, depois de o Senhor Antunes se ter ido embora, e disse-me que tudo o que eu tinha estado para ali a ouvir de boca aberta era uma grandessíssima pêta. Coisa certa e certinha sobre isso das mãos dos pretos era o que ele sabia: que Deus acabava de fazer os homens e mandava-os tomar banho num lago do céu. Depois do banho as pessoas estavam branquinhas. Os pretos, como foram feitos de madrugada e a essa hora a água do lago estivesse muito fria, só tinham molhado as palmas das mãos e as plantas dos pés, antes de se vestirem e virem para o mundo.

        Mas eu li num livro que por acaso falava nisso, que os pretos têm as mãos assim mais claras por viverem encurvados, sempre a apanhar o algodão branco de Vírginia e de mais não sei aonde. Já se vê que a Dona Estefânia não concordou quando eu lhe disse isso. Para ela é só por as mãos desbotarem à força de tão lavadas.

Bem, eu não sei o que vá pensar disso tudo, mas a verdade é que ainda que calosas e gretadas, as mãos dum preto são sempre mais claras que todo o resto dele. Essa é que é essa!

        A minha mãe é a única que deve ter razão sobre essa questão de as mãos de um preto serem mais claras do que o resto do corpo. No dia em que falámos disso, eu e ela, estava-lhe eu ainda a contar o que já sabia dessa questão e ela já estava farta de se rir. O que achei esquisito foi que ela não me dissesse logo o que pensava disso tudo, quando eu quis saber, e só tivesse respondido depois de se fartar de ver que eu não me cansava de insistir sobre a coisa, e mesmo assim a chorar, agarrada à barriga como quem não pode mais de tanto rir. O que ela me disse foi mais ou menos isto:

        “Deus fez os pretos porque tinha de os haver. Tinha de os haver, meu filho, Ele pensou que realmente tinha de os haver... Depois arrependeu-se de os ter feito porque os outros homens se riam deles e levavam-nos para as casas deles para os pôr a servir como escravos ou pouco mais. Mas como Ele já não os pudesse fazer ficar todos brancos porque os que já se tinham habituado a vê-los pretos reclamariam, fez com que as palmas das mãos deles ficassem exactamente como as palmas das mãos dos outros homens. E sabes porque é que foi? Claro que não sabes e não admira porque muitos e muitos não sabem. Pois olha: foi para mostrar que o que os homens fazem, é apenas obra dos homens... Que o que os homens fazem, é feito por mãos iguais, mãos de pessoas que se tiverem juízo sabem que antes de serem qualquer outra coisa são homens. Deve ter sido a pensar assim que Ele fez com que as mãos dos pretos fossem iguais às mãos dos homens que dão graças a Deus por não serem pretos”.

        Depois de dizer isso tudo, a minha mãe beijou-me as mãos.

        Quando fugi para o quintal, para jogar à bola, ia a pensar que nunca tinha visto uma pessoa a chorar tanto sem que ninguém lhe tivesse batido.

 

 

 

 

Podemos observar, através da leitura do texto, que o autor se utiliza da voz ingênua de uma criança para mostrar, através de uma ironia sutil, os discursos racistas que circulavam no mundo colonialista.

 

Qual a resposta dada por cada personagem sobre as mãos dos pretos?

 

1. O senhor professor – ciência:

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2. O senhor padre – religião:

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3. A Dona Dores – escravidão:

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4. O Senhor Antunes – Coca-Cola- império econômico:

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5. O narrador da crônica é branco ou negro? Justifique sua resposta com elementos do texto.

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6. O autor questiona os discursos racistas das classes dominantes através da voz de uma criança, sabemos que eles foram construídos ao longo dos anos e se perpetuaram por meio de piadas, troças, etc. Na sua opinião, como podemos desconstruir estes discursos?

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7. Qual a explicação foi dada pela mãe do menino sobre o assunto?

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8. A mãe ria das explicações que o menino lhe contava que tinha ouvido. Por quê?

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9. Por que quando o menino foi jogar bola a mãe chorou?

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10. Você acha que no Brasil há discursos racistas? Explique.

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PAPAI BATE EM MAMÃE - FILOSOFIA - ATIVIDADES VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

 Papai bate em mamãe - Rosângela Trajano

       Lá em casa todos os dias quando papai chega da rua ele já vai brigando com mamãe e batendo nela. Todos os dias papai bate em mamãe e todos os dias mamãe apanha de papai.    

       Acontece que meu irmão mais velho está começando a ficar com raiva disso e outro dia ele quase partiu para cima de papai com raiva porque ele bateu em mamãe. É tanto grito, tanto choro, tanto barulho. Fico com pena da minha mãe, tadinha! Ela senta na cadeira da cozinha e começa a chorar baixinho toda se tremendo. Enquanto papai janta e vai para o quarto dormir como se nada tivesse acontecido. Eu sofro muito ao ver mamãe apanhar de papai. Se ao menos ela fizesse alguma coisa, denunciasse ele, mas ela tem medo.

 

Exercícios para compreensão textual.

1. Qual o tema principal do texto?

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2. O que o pai faz todos os dias com a mãe do personagem do texto?

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3. O que está acontecendo com o irmão mais velho do personagem do texto?

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4. O que tem tanto na casa do personagem do texto quando o pai começa a bater na sua mãe?

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5. O que o personagem do texto gostaria que a sua mãe fizesse?

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Exercícios para o bom pensar.

1. A mãe da criança não denuncia as agressões sofridas. Por que você acha que ela não denuncia?

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2. A violência contra a mãe está afetando o filho mais velho. O que você acha que pode acontecer com uma criança que presencia a mãe ser agredida pelo pai?

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3. Qual deve ser a posição de alguém que tem um vizinho que bate na mulher?

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4. Por que será que alguns homens batem em suas mulheres?

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5. Há algum caso que justificaria um homem agredir uma mulher. Comente.

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6. Além da agressão física de que outras formas um homem pode agredir uma mulher?

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7. Você acha que uma mulher que for agredida pelo marido deve perdoá-lo? Por quê?

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8. Que orientação você daria a uma filha para que ela não fosse vítima da violência contra a mulher?

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domingo, 9 de junho de 2024

ATIVIDADES - O MENINO QUE CAIU NO BURACO – CAPITULO I – BORBOLETA AZUL

 ATIVIDADES -  O MENINO QUE CAIU NO BURACO – CAPITULO I – BORBOLETA AZUL

 FONTE DO TEXTO: 

https://img.travessa.com.br/capitulo/EDICOES_SM/MENINO_QUE_CAIU_NO_BURACO_O-9788598457215.pdf

1.Por que o menino custou a sair da cama?

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2. O menino se sentia culpado ao comer, por quê?

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3. Qual a explicação médica para o fato de o pai do menino ficar na cama?

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4. O menino não teria as duas primeiras aulas, por que mesmo assim ele saiu cedo?

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5. O que ele encontrou no caminho?

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6. O menino conhecia o lugar, seu pai o levava lá para fazer o quê?

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7.  O pai do menino o ensinou a voar de que maneira?

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8. O que a mãe do menino dizia para ele não entrar na antiga fábrica?

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9. O que o menino viu quando estava na pequena clareira?

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10.  Onde o menino caiu?

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• Borboleta azul

           O menino acordou cedo para ir à aula. Muito cedo. O galo cacarejava nos fundos da casa. Pela janela do quarto podia ver o sol despontando atrás das montanhas. O dia prometia ser lindo, com o céu de inverno muito azul e quase sem nuvens, os passarinhos cantando e o cheiro da cerca de eucaliptos que seu pai plantara havia muito tempo.

           O menino tinha treze anos, mas já sabia que um dia bonito não queria dizer nada. Em dias bonitos também aconteciam coisas ruins, porque a natureza não podia ficar prestando atenção à vida das pessoas.

          Custou a sair da cama. Tinha a forte impressão de que nada de bom ia acontecer depois que fizesse isso. Seria melhor continuar ali, afundando cada vez mais para debaixo dos cobertores, com as pernas dobradas e as duas mãos entre elas, naquele mundo quente, escuro e quieto.

          O grito da mãe o acordou de verdade. Pulou da cama, vestiu o uniforme do colégio às pressas, pegou a mochila, que já estava arrumada, calçou os tênis ainda sujos da lama das chuvas da semana anterior e correu para o banheiro.

          Sua mãe já colocara o copo de café com leite e os biscoitos em cima da mesa da cozinha. Ela estava como sempre: os cabelos desgrenhados, as rugas profundas, os olhos inchados de uma noite maldormida, vestindo aquele roupão ensebado amarrado na cintura por um pedaço de corda de varal.

          A mãe apontou um pequeno embrulho sobre a mesa, dentro de um saco plástico. Era o lanche. Ele o colocou dentro da mochila. Precisava dele. Passava quase o dia todo fora e na escola não davam comida. Mas sentia-se culpado: cada pão, cada grão de feijão, cada pedaço de carne que ele comia vinha do trabalho da mãe, lavando e passando, de manhã até a noite, as roupas dos turistas que vinham se divertir nos sítios do outro lado do rio.

          O pai não tinha ido embora, abandonado a família, se acabado com bebida, sumido no mundo, nada disso. O pai do menino vivia lá no quarto, na cama. E não estava nem doente do corpo.

          Tinha sido um marceneiro muito bom, com muitos clientes. Fazia móveis, prateleiras, armários, escadas, sabia montar toda a armação de um telhado e chegou a fazer um chalé inteiro de madeira. Conhecia o nome das árvores, tinha uma bolsa de couro cheia de ferramentas bem tratadas, procurava deixar tudo perfeito e usava uns óculos de lentes muito grossas, de tanto que se preocupava com os pequenos detalhes.

          Naquele tempo o menino sentia muito orgulho do pai. Aos sábados, ia na garupa da bicicleta, com a bolsa das ferramentas no colo, ajudar nos serviços. Todos tratavam seu pai com muito respeito. Era um homem sério, que trabalhava calado e em silêncio. Chegava a pedir que desligassem um rádio, por exemplo, porque precisava “ouvir” a madeira. Quando alguém reclamava que assim, sem distração, o trabalho pesava mais, ele dizia que era só questão de se acostumar.

          — O silêncio primeiro é um problema, depois uma solução — falava ele.

           O menino gostava muito das frases do pai.

           Mas agora o pai vivia na cama. Havia quase um ano. Ninguém sabia o que estava acontecendo. Sem forças para trabalhar. Os médicos alegavam que ele não tinha nada, que se quisesse poderia levantar e fazer as coisas, mas o problema era que ele não queria. Depois de um longo período sem trabalho, ele simplesmente desistiu e ficou no quarto.

          O menino lembrava de uma noite, quando o pai chegou da vila e sentou na cadeira da varanda, olhando os vaga-lumes. Lembrava da mãe perguntando o que havia acontecido, e o pai repetindo:

          — Muito barulho. Muito barulho.

          No dia seguinte, não saiu da cama.

          Tiveram de vender as ferramentas melhores, para comprar comida.

          Se alguém entrasse no quarto e perguntasse o que estava sentindo, a resposta era sempre a mesma:

          — Estou triste.

          E depois o silêncio.

          Agora ninguém falava mais sobre isso naquela casa.

          O menino botou a mochila nas costas e saiu sem dizer nada.

          Havia muito tempo que naquela casa ninguém gostava de falar, muito menos de sorrir.

          O dia estava mesmo bonito. O sol refletia no orvalho e o menino ia pisando pequenos arco- -íris na grama rala do caminho. Havia uma única nuvem, muito branca, sobre as montanhas, parecida com as bolas de algodão que ele tirava de dentro dos vidros de remédio que davam para o seu pai, mas que não adiantavam nada.

           A escola ficava a três quilômetros de distância e ele normalmente levava uma meia hora até lá, porém naquele dia estava sem pressa nenhuma. Não teria as duas primeiras aulas. Podia até ter continuado na cama. Mas a verdade é que qualquer coisa era melhor do que ficar em casa.

          A primeira parte do caminho eram duas faixas de barro paralelas que cortavam o mato ralo de um pasto, feitas pelas rodas das charretes e dos carros de boi. Por ali se chegava a uma estrada mais larga, de barro socado e cheia de buracos, em que às vezes passava algum automóvel, porém o mais comum era o menino andar até a escola sem cruzar com ninguém.

           O pasto continuava do outro lado da estrada, onde uma trilha estreita levava a uma fábrica de panelas de barro.

          A fábrica já não funcionava. Estava parada havia muitos anos. Diziam que o lugar era assombrado. Vários bois e cavalos foram encontrados mortos no pasto em volta, com marcas de garras afiadas no pescoço. Logo espalharam que por ali vivia um lobisomem e a fábrica acabou abandonada.

          O menino costumava ir bem distraído. Seus pensamentos chegavam à escola mais cedo do que ele… o dever de casa feito às pressas, uma lição mal decorada, a menina da outra turma que ele queria que gostasse dele, a nota da prova de matemática… nunca prestava atenção no caminho. Mas naquele dia, como estava mesmo sem pressa, ia observando uma grande borboleta azul que o acompanhava.

          A borboleta não virou à direita, em direção à escola. Ela atravessou a estrada e o menino achou uma boa ideia fazer o mesmo.

         A escola só abriria dali a umas duas horas. Podia dar um passeio. Aproveitar aquela manhã ensolarada. Passaria pela antiga fábrica, atravessaria a pinguela sobre o ribeirão e alcançaria a estrada, lá do outro lado. Uma hora de caminhada, no máximo. E ele conhecia bem o lugar. Seu pai o levara por ali algumas vezes, quando era criança, para pescar os cascudos que saíam de debaixo das pedras depois das chuvas.

          O menino continuou em frente. A borboleta azul desapareceu logo depois.

          Era o mesmo pasto, mas agora não se via nem um só cavalo ou boi. Um bando de maritacas passou voando, depois o silêncio voltou. O silêncio lembrava o seu pai.

          Andou por meia hora, até avistar as paredes caídas da velha fábrica de panelas de barro. Haviam tirado as telhas, as portas e as janelas; os caibros apodreceram; o vento derrubara os tijolos, que se desfaziam. Agora o mato crescia entre as ruínas e a construção aos poucos voltava a ser terra.

          A única coisa que resistia ao tempo era o grande forno de barro, no centro do terreiro. Parecia uma casa de cupins gigante, com uma pequena abertura na frente, como uma gruta. Quando era pequeno, seu pai o colocou lá em cima e o fez pular em seus braços. O menino custou muito a tomar coragem, mas por fim se jogou, de braços abertos. Depois, disse para os amigos que seu pai o ensinara a voar.

          Havia muito tempo não passava por ali e resolveu olhar o forno, onde colocavam as panelas para assar e endurecer o barro. Por dentro era muito largo, oco e escuro, ainda preto de fuligem. Sua mãe não queria que ele passasse por ali e o assustava, dizendo que o lobisomem dormia dentro daquele forno.

          O menino jogou uma pedra lá dentro. Ela quicou nas paredes de barro e o vazio produziu um eco triste. Ouviu um barulho a suas costas e se virou. Viu alguma coisa se mexer perto das ruínas da fábrica. Um bicho peludo saiu dos escombros e sumiu no mato.

          Devia ser um gambá ou um gato. Foi ver mais de perto.

          Contornou as paredes desabadas e, mais adiante, voltou a ver o mato se mexer. O capim estava alto, mas não resistiu à curiosidade e avançou alguns passos.

          O bicho continuava sempre a sua frente. Podia ver seus movimentos pelo mato, afastando-se um pouco quando o menino o perseguia, parando quando ele parava.

          Um pouco adiante, abriu-se uma pequena clareira, com uma grama rala queimada de sol sobre pequenos montes de terra revolvida. Ao lado, um galho partido, muito comprido, ainda com algumas folhas, ressecadas.

          O menino viu o vulto do animal peludo passar atrás de uma goiabeira. Pareceu maior do que havia imaginado. Talvez um cachorro. Ficou com medo, mas mesmo assim deu um passo à frente.

         A terra sob o seu pé cedeu.

           Ele esticou os braços, tentando segurar alguma coisa, e arranhou as mãos. Os braços bateram com força no barro duro, um pedaço de pau rasgou seu cotovelo esquerdo e os dois pés desceram. O chão se abriu embaixo dele. Paredes de terra cresceram a sua volta, o corpo girou, sentiu uma forte pancada na nuca, o peito ralou com força no barro, as pernas rasparam em pedras enquanto caía. As mãos agarraram um pedaço de raiz. O corpo parou por alguns segundos, pendurado. Gritou. Ouviu o eco na escuridão. A raiz partiu-se, ele girou e bateu de costas no fundo do buraco, com toda a força.