PáginasDESCRITOR

domingo, 2 de fevereiro de 2025

CONTO - VACAS QUE ESCREVEM A MÁQUINA.

 

Teque Teque Muu! Vacas que escrevem à máquina

 Obs: Apesar do conto ser ndicado para crianças de 6 a 8 anos, é possível usar com alunos do fundamental II.

          O fazendeiro Geraldo tem um problema: Suas Vacas gostam de escrever à máquina. Ele ouve o dia inteiro:

          TEQUE, TEQUE MUU!

          TEQUE, TEQUE MUU!

          TEREQUI TEQUI, TEQUI MUU!

          A princípio, ele não confia em seus ouvidos:

          — Vacas que escrevem à máquina? Impossível!

         TEQUE, TEQUE MUU!

         TEQUE, TEQUE MUU!

         TEREQUI TEQUI, TEQUI MUU!

         Depois, ele não acredita em seus olhos:

         “Prezado Fazendeiro Geraldo, o galpão é muito frio à noite. Queremos cobertores elétricos. Atenciosamente, as Vacas.”

         — Já não basta as Vacas terem encontrado a velha máquina de escrever no galpão, agora elas querem cobertores elétricos? Nem pensar! — disse o fazendeiro Geraldo. Cobertores elétricos coisa nenhuma!

          Então, as Vacas entram em greve. Deixam um bilhete na porta do galpão: “Desculpe o galpão está fechado. Não haverá leite hoje!”

         — Não haverá leite hoje? — berrou o fazendeiro Geraldo.

        Ao fundo ele podia ouvir as Vacas:

       TEQUE, TEQUE MUU!

       TEQUE, TEQUE MUU!

       TEREQUI TEQUI, TEQUI MUU!

       No dia seguinte, recebe outro bilhete:

       “Prezado fazendeiro Geraldo, as Galinhas também estão com frio. Elas querem cobertores elétricos. Atenciosamente, as Vacas.”

         As Vacas estão cada vez mais impacientes com o fazendeiro. Elas deixam um outro bilhete na porta do galpão: “Fechado, não haverá leite. Não haverá ovos.”

         — Não haverá ovos? — berrou o fazendeiro Geraldo.

         Ao fundo ele podia ouvir as Vacas:

         TEQUE, TEQUE MUU!

         TEQUE, TEQUE MUU!

         TEREQUI TEQUI, TEQUI MUU!

         Vacas que escrevem? Galinhas em greve? Quem já ouviu uma coisa dessas? Como posso tocar a fazenda sem leite e sem ovos? — o fazendeiro Geraldo estava furioso.

         O fazendeiro pega a sua própria máquina de escrever: “Prezadas Vacas e Galinhas: Não haverá cobertores elétricos. Vocês são apenas Vacas e Galinhas. Eu exijo leite e ovos. Atenciosamente, fazendeiro Geraldo.”

         O Pato, que não tinha tomado partido, leva o ultimato para as Vacas.

         As Vacas convocam uma reunião de emergência. Todos os animais reúnem-se em volta do galpão para bisbilhotar, mas nenhum deles conseguem entender um “MUU” sequer.

         O fazendeiro Geraldo espera pela resposta a noite inteira.

         Na manhã seguinte, bem cedinho, o Pato bate na porta e entrega um bilhete ao fazendeiro Geraldo: “Prezado fazendeiro Geraldo, nós aceitamos trocar a máquina de escrever por cobertores elétricos. Deixe-os na porta do galpão, do lado de fora, e nós enviaremos a máquina pelo Pato. Atenciosamente, as Vacas.”

         O fazendeiro Geraldo acha a troca um bom negócio. Ele deixa os cobertores próximo à porta do galpão e aguarda a chegada do Pato com a máquina de escrever.

         Na manhã seguinte, ele recebe um bilhete: “Prezado fazendeiro Geraldo, o lago está muito chato. Queremos um trampolim. Atenciosamente, os Patos.”

        TEQUE, TEQUE QUACK!

        TEQUE, TEQUE QUACK!

(Doreen Cronin)

1. Quais dos sentidos o fazendeiro Geraldo utilizou?

a) olfato

b) paladar

c) visão

d) audição

e) tato

 

2. O que permitiu que as vacas lutassem por melhores condições de trabalho?

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

3. O fazendeiro Geraldo acha a troca um bom negócio. Por que troca da máquina pelos cobertores é uma bom negócio para o fazendeiro?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

4.  Quais sinais de pontuação foram utilizados para introduzir as falas das personagens no texto?

_____________________________________________________________________________

 

5. TEQUE, TEQUE MUU! Por que o narrador usou caixa alta nesse fragmento?

____________________________________________________________________________

 

6.  Qual dos assuntos abaixo é abordado no texto?

a) Violência contra os animais.

b) Relações de trabalho.

c) Preconceito.

d) Proteção ao meio ambiente.

 

 

 

sábado, 1 de fevereiro de 2025

CONTO - BRUXAS NÃO EXISTEM – PRECONCEITO - EMPATIA

 

BRUXAS NÃO EXISTEM 

          Quando eu era garoto, acreditava em bruxas, mulheres malvadas que passavam o tempo todo maquinando coisas perversas. Os meus amigos também acreditavam nisso. A prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua. Seu nome era Ana Custódio, mas nós só a chamávamos de "bruxa".

          Era muito feia, ela; gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era comprido, ela tinha uma enorme verruga no queixo. E estava sempre falando sozinha. Nunca tínhamos entrado na casa, mas tínhamos a certeza de que, se fizéssemos isso, nós a encontraríamos preparando venenos num grande caldeirão.

          Nossa diversão predileta era incomodá-la. Volta e meia invadíamos o pequeno pátio para dali roubar frutas e quando, por acaso, a velha saía à rua para fazer compras no pequeno armazém ali perto, corríamos atrás dela gritando "bruxa, bruxa!".

          Um dia encontramos, no meio da rua, um bode morto. A quem pertencera esse animal nós não sabíamos, mas logo descobrimos o que fazer com ele: jogá-lo na casa da bruxa. O que seria fácil.

          Ao contrário do que sempre acontecia, naquela manhã, e talvez por esquecimento, ela deixara aberta a janela da frente. Sob comando do João Pedro, que era o nosso líder, levantamos o bicho, que era grande e pesava bastante, e com muito esforço nós o levamos até a janela. Tentamos empurrá-lo para dentro, mas aí os chifres ficaram presos na cortina.

          – Vamos logo – gritava o João Pedro –, antes que a bruxa apareça. E ela apareceu. No momento exato em que, finalmente, conseguíamos introduzir o bode pela janela, a porta se abriu e ali estava ela, a bruxa, empunhando um cabo de vassoura. Rindo, saímos correndo. Eu, gordinho, era o último.

          E então aconteceu. De repente, enfiei o pé num buraco e caí. De imediato senti uma dor terrível na perna e não tive dúvida: estava quebrada. Gemendo, tentei me levantar, mas não consegui. E a bruxa, caminhando com dificuldade, mas com o cabo de vassoura na mão, aproximava-se. Àquela altura a turma estava longe, ninguém poderia me ajudar. E a mulher sem dúvida descarregaria em mim sua fúria.

          Em um momento, ela estava junto a mim, transtornada de raiva. Mas aí viu a minha perna, e instantaneamente mudou. Agachou-se junto a mim e começou a examiná-la com uma habilidade surpreendente.

          – Está quebrada – disse por fim. – Mas podemos dar um jeito. Não se preocupe, sei fazer isso. Fui enfermeira muitos anos, trabalhei em hospital. Confie em mim.

          Dividiu o cabo de vassoura em três pedaços e com eles, e com seu cinto de pano, improvisou uma tala, imobilizando-me a perna. A dor diminuiu muito e, amparado nela, fui até minha casa. – "Chame uma ambulância", disse a mulher à minha mãe. Sorriu.

          Tudo ficou bem. Levaram-me para o hospital, o médico engessou minha perna e em poucas semanas eu estava recuperado. Desde então, deixei de acreditar em bruxas. E tornei-me grande amigo de uma senhora que morava em minha rua, uma senhora muito boa que se chamava Ana

Custódio. Moacyr Scliar Fonte: http://www.escolakids.com/contos-curtinhos.htm

 

1. O texto “Bruxas não existem”, se encaixa no GÊNERO textual:

a) Lenda.

b) Mito.

c) Conto.

d) Fábula.

 

2. Esse texto “Bruxas não existem”, se encaixa na TIPOLOGIA textual de:

a) Descrição.

b) Narração.

c) Dissertação.

d) Injunção.

 

 

3. O texto só NÃO ABORDA o assunto:

a) Superstição

b) Preconceito

c) Crendice popular

d) Saúde

 

4. O título do conto é “Bruxas não existem” porque:

a) O menino não acreditava que bruxas podiam existir.

b) O menino aprende que Ana Custódio não era uma bruxa, e sim, uma boa mulher.

c) Em toda a história não aparece nenhuma bruxa.

d) Nenhuma das alternativas.

 

5. O narrador do texto é:

a) um adulto.

b) um menino.

c) Moacyr Scliar.

d) João Pedro.

 

6. A única alternativa que NÃO apresenta a ideia de lugar é:

a) numa casinha caindo aos pedaços

b) naquela manhã

c) trabalhei em hospital

d) fui até minha casa.

 

 

PARTE II https://armazemdetexto.blogspot.com/2020/11/conto-bruxas-nao-existem-moacyr-scliar.html

 

Após ler o conto com atenção, responda às questões a seguir:

 

1) O narrador conta que, quando era garoto, acreditava em bruxas. Para ele, o que era uma bruxa?

 

     Para o narrador, bruxas eram “mulheres malvadas que passavam o tempo todo maquinando coisas perversas”.

 

2) Qual era a prova concreta, para o narrador e seus amigos, de que as bruxas existiam?

 

     A prova para eles era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim da rua.

 

3) Como ele descreve sua vizinha, Ana Custódio?

 

     Segundo ele, ela era muito feia, gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era comprido, tinha uma enorme verruga no queixo e estava sempre falando sozinha.

 

 4) Qual era a diversão predileta dos meninos?

 

    ( X ) Incomodar a senhora, fazendo travessuras.

 

    (     ) Ajudar a velha a fazer compras no pequeno armazém.

 

   (      ) Entrar na casa da “bruxa” e vê-la preparando venenos no caldeirão.

 

  5) Um dia, ao tentar jogar um bode morto na casa da senhora pela janela da frente, a velha apareceu empunhando um cabo de vassoura. Os meninos saíram correndo, e o narrador enfiou o pé num buraco, caiu e quebrou a perna. O que aconteceu após isso?

 

    (   ) Os colegas voltaram para ajudá-lo.

 

   (    ) A mulher o alcançou e descarregou nele sua raiva.

 

   ( X ) A mulher, que já foi enfermeira, ajudou-o, cuidando de sua perna.

 

  6)  Por que o título do conto é “Bruxas não existem”? Relacione o título ao final da história.

 

      Porque o narrador deixou de acreditar em bruxas desde que a senhora o ajudou quando ele quebrou a perna; a partir dessa ocasião, ele tornou-se grande amigo dela.

 

 Observe as palavras empregadas no conto e marque a opção correta.

 

  7) Releia o trecho:

 

Era muito feia, ela; gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era comprido, ela tinha uma enorme verruga no queixo.

 

As palavras em destaque apresentam características, modificando outras palavras. Tais palavras ajudam a criar cenários, paisagens e são muito importantes nos textos descritivos. Por isso, com relação à classe gramatical, podemos dizer que são exemplos de:

 

( X ) adjetivos.

 

( ) advérbios.

 

( ) pronomes.

 

( ) substantivos.

 

  8) No mesmo fragmento, encontramos a palavra “ela”, utilizada para se referir à mulher: “Era muito feia, ela; [...] ela tinha uma enorme verruga no queixo”. Essa palavra pode ser classificada como um:

 

     (   ) adjetivo.

 

     (   ) advérbio.

 

    ( X ) pronome.

 

    (   ) substantivo.

 

9)  No trecho:

 

De repente, enfiei o pé num buraco e caí. De imediato senti uma dor terrível na perna e não tive dúvida: estava quebrada. Gemendo, tentei me levantar, mas não consegui.

 

Essas palavras indicam os acontecimentos, as sequências de ações, a passagem de tempo e dão movimento ao texto. Não há como contar uma história ou narrar um fato sem elas. Essas palavras são:

 

       ( X ) verbos.

 

       (   ) artigos.

 

       (   ) adjetivos.

 

      (    ) pronomes.

 

10) Observe os substantivos destacados e numere a 2ª coluna de acordo com a 1ª:

 

     ( 1 ) “Quando eu era garoto, acreditava em bruxas”.

 

     ( 2 ) “Fui enfermeira muitos anos, trabalhei em hospital”.

 

     ( 3 ) “Sob comando do João Pedro, que era o nosso líder, levantamos o bicho”.

 

     ( 4 ) “De imediato senti uma dor terrível na perna e não tive dúvida: estava quebrada”.

 

        ( 4 ) Substantivos abstratos.

 

        ( 3 ) Substantivo próprio e substantivo comum.

 

        ( 2 ) Substantivo derivado e substantivo primitivo.

 

       ( 1 ) Substantivos concretos (ser real / ser imaginário).

 

11)  Releia e observe as palavras destacadas:

 

A prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua.

 

Nesse trecho, o narrador apresenta a mulher, que ele achava que era uma bruxa, ao leitor. Os termos destacados são:

 

     ( ) pronomes demonstrativos, pois indicam a posição de um ser ou objeto.

 

     ( ) artigos definidos, pois designam um ser já conhecido do leitor ou ouvinte.

 

    ( X ) artigos indefinidos, pois designam um ser ao qual não se fez menção anterior.

 

 12) Analise o fragmento:

 

[...] a velha saía à rua para fazer compras no pequeno armazém ali perto.

 

Os termos em destaque designam uma circunstância de lugar; fazem referência a onde era o armazém. Por isso, esses termos podem ser considerados:

 

      (   ) verbos.

 

     (    ) artigos.

 

    ( X ) advérbios.

 

    (    ) substantivos.

 

    13)  As palavras que acompanham o substantivo normalmente concordam com ele em gênero (masculino/ feminino) e número (singular/plural). Veja:

 

A prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua.

 

Reescreva o trecho acima, trocando a palavra mulher pela palavra homem e fazendo as alterações necessárias.

 

A prova para nós era um homem muito velho, um solteirão que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

O MENINO QUE CAIU NO BURACO LIVRO

 

O MENIN O MARROM LIVRO

 

O MISTERIO DA ILHA LIVRO

 

A FACE OCULTA LIVRO

 

A TERRA DOS MENINOS PELADOS ATIVIDADES

 

A terra dos meninos pelados – Fragmento  Graciliano Ramos

UM

         HAVIA UM MENINO diferente dos outros meninos. Tinha o olho direito preto, o esquerdo azul e a cabeça pelada. Os vizinhos mangavam dele e gritavam:

         — Ó pelado!

        Tanto gritaram que ele se acostumou, achou o apelido certo, deu para se assinar a carvão, nas paredes: Dr. Raimundo Pelado. Era de bom gênio e não se zangava; mas os garotos dos arredores fugiam ao vê-lo, escondiam-se por detrás das árvores da rua, mudavam a voz e perguntavam que fim tinham levado os cabelos dele. Raimundo entristecia e fechava o olho direito. Quando o aperreavam demais, aborrecia-se, fechava o olho esquerdo. E a cara ficava toda escura.

P.7

 

        Não tendo com quem entender-se, Raimundo Pelado falava só, e os outros pensavam que ele estava malucando.

        Estava nada! Conversava sozinho e desenhava na calçada coisas maravilhosas do país de Tatipirun, onde não há cabelos e as pessoas têm um olho preto e outro azul.

P.8       

 

DOIS

         UM DIA EM QUE ele preparava, com areia molhada, a serra de Taquaritu e o rio das Sete Cabeças, ouviu os gritos dos meninos escondidos por detrás das árvores e sentiu um baque no coração.

        — Quem raspou a cabeça dele? perguntou o moleque do tabuleiro.

        — Como botaram os olhos de duas criaturas numa cara? berrou o italianinho da esquina.

        — Era melhor que me deixassem quieto, disse Raimundo baixinho. Encolheu-se e fechou o olho direito. Em seguida, foi fechando o olho esquerdo, não enxergou mais a rua. As vozes dos moleques desapareceram, só se ouvia a cantiga das cigarras. Afinal as cigarras se calaram.

P.9

        Raimundo levantou-se, entrou em casa, atravessou o quintal e ganhou o morro. Aí começaram a surgir as coisas estranhas que há na terra de Tatipirun, coisas que ele tinha adivinhado, mas nunca tinha visto. Sentiu uma grande surpresa ao notar que Tatipirun ficava ali perto de casa. Foi andando na ladeira, mas não precisava subir: enquanto caminhava, o monte ia baixando, baixando, aplanava-se como uma folha de papel. E o caminho, cheio de curvas, estirava-se como uma linha. Depois que ele passava, a ladeira tornava a empinar-se e a estrada se enchia de voltas novamente.

P.10

    TRÊS

    — QUEREM VER que isto por aqui já é a serra de Taquaritu? pensou Raimundo.

    — Como é que você sabe? roncou um automóvel perto dele.

        O pequeno voltou-se assustado e quis desviar-se, mas não teve tempo. O automóvel estava ali em cima, pega não pega. Era um carro esquisito: em vez de faróis, tinha dois olhos grandes, um azul, outro preto.

        — Estou frito, suspirou o viajante esmorecendo.

        Mas o automóvel piscou o olho preto e animou-o com um riso grosso de buzina:

        — Deixe de besteira, seu Raimundo. Em Tatipirun nós não atropelamos ninguém.

        Levantou as rodas da frente, armou um salto, passou por cima da cabeça do

P.11

 

menino, foi cair cinquenta metros adiante e continuou a rodar fonfonando. Uma laranjeira que estava no meio da estrada afastou-se para deixar a passagem livre e disse toda amável:

        — Faz favor.

        — Não se incomode, agradeceu o pequeno. A senhora é muito educada.

        — Tudo aqui é assim, respondeu a laranjeira.

        — Está se vendo. A propósito, por que é que a senhora não tem espinhos?

        — Em Tatipirun ninguém usa espinhos, bradou a laranjeira ofendida. Como se faz semelhante pergunta a uma planta decente?

        — É que sou de fora, gemeu Raimundo envergonhado. Nunca andei por estas bandas. A senhora me desculpe. Na minha terra os indivíduos de sua família têm espinhos.

        — Aqui era assim antigamente, explicou a árvore. Agora os costumes são outros. Hoje em dia, o único sujeito que ainda conserva esses instrumentos per-

P.12

 

-furantes é o espinheiro-bravo, um tipo selvagem, de maus bofes. Conhece-o?

        — Eu não senhora. Não conheço ninguém por esta zona.

        — É bom não conhecer. Aceita uma laranja?

        — Se a senhora quiser dar, eu aceito.

        A árvore baixou um ramo e entregou ao pirralho uma laranja madura e grande.

        — Muito agradecido, dona Laranjeira. A senhora é uma pessoa direita. Adeus! Tem a bondade de me ensinar o caminho?

        — É esse mesmo. Vá seguindo sempre. Todos os caminhos são certos.

        — Eu queria ver se encontrava os meninos pelados.

        — Encontra. Vá seguindo. Andam por aí.

        — Uns que têm um olho azul e outro preto?

        — Sem dúvida. Toda gente tem um olho azul e outro preto.

        — Pois até logo, dona Laranjeira. Passe bem.

        — Divirta-se.

P.13,

Imagem

p.14

 

     QUATRO

        RAIMUNDO CONTINUOU a caminhada, chupando a laranja e escutando as cigarras, umas cigarras graúdas que passeavam sobre discos de vitrola enormes. Os discos giravam, soltos no ar, as cigarras não descansavam — e havia em toda a parte músicas estranhas, como nunca ninguém ouviu. Aranhas vermelhas balançavam-se em teias que se estendiam entre os galhos, teias brancas, azuis, amarelas, verdes, roxas, cor das nuvens do céu e cor do fundo do mar. Aranhas em quantidade. Os discos moviam-se, sombras redondas   projetavam-se no chão, as teias agitavam-se como redes. Raimundo deixou a serra de Taquaritu e chegou à beira do rio das Sete Cabeças,

p.15

        onde se reuniam os meninos pelados, bem uns quinhentos, alvos e escuros, grandes e pequenos, muito diferentes uns dos outros. Mas todos eram absolutamente calvos, tinham um olho preto e outro azul.

p.16

 

CINCO

        O VIAJANTE RONDOU por ali uns minutos, receoso de puxar conversa, pensando nos garotos que zombavam dele na rua. Foi-se chegando e sentou-se numa pedra, que se endireitou para recebe-lo. Um rapazinho aproximou-se, examinando-lhe, admirado, a roupa e os sapatos. Todos ali estavam descalços e cobertos de panos brancos, azuis, amarelos, verdes, roxos, cor das nuvens do céu e cor do fundo do mar, inteiramente iguais às teias que as aranhas vermelhas fabricavam.

        — Eu queria saber se isto aqui é o país de Tatipirun, começou Raimundo.

        — Naturalmente, respondeu o outro. Donde vem você?

p.19

        Raimundo inventou um nome atrapalhado para a cidade dele que ficou importante:

        — Venho de Cambacará. Muito longe.

        — Já ouvimos falar, declarou o rapaz. Fica além da serra, não é isto?

        — É isso mesmo. Uma terra de gente feia, cabeluda, com olhos de uma cor só. Fiz boa viagem e tive algumas aventuras.

        _ Encontrou  a Caralâmpia?

        É uma laranjeira?

        Que laranjeira! É menina.

        _ Como ele é bobo! Gritaram todos rindo e dançando. Pensa que Caralâmpia é laranjeira.

p.20

 

SEIS

        RAIMUNDO LEVANTOU-SE  trombudo e saiu à pressa, tão encabulado que não enxergou o rio. Ia caindo dentro dele, mas as duas margens se aproximaram, a água desapareceu, e o menino com um passo chegou ao outro lado, onde se escondeu por detrás dum tronco. A terra se abriu de novo, a correnteza tornou a aparecer, fazendo um barulho grande.

        — Por que é que você se esconde? perguntou o tronco baixinho. Está com medo?

        — Não senhor. É que eles caçoaram de mim porque eu não conheço a Caralâmpia.

        O tronco soltou uma risada e pilheriou:

         — Deixe de tolice, criatura. Você se afogando em pouca água! As crianças estavam brincando. É uma gente boa.

p.21

 

        — Sempre ouvi dizer isso. Mas debicaram comigo porque eu não conheço a Caralâmpia.

        — Bobagem. Deixe de melindres.

        — É mesmo, concordou Raimundo. Eu pensava nos moleques que faziam troça de mim, em Cambacará. O senhor está descansando, heim?

        — É. Estou aposentado, já vivi demais.

        Raimundo levantou-se:

        — Bem, seu Tronco. Eu vou chegando.

        — Espera aí. Um instante. Quero apresentá-lo à aranha vermelha, amiga velha que me visita sempre. Está aqui, vizinha. Este rapaz é nosso hóspede.

p.22

 

SETE

        A ARANHA VERMELHA balançou-se no fio, espiando o menino por todos os lados. O fio se estirou até que o bichinho alcançou o chão. Raimundo fez um cumprimento:

        — Boa tarde, dona Aranha. Como vai a senhora?

        — Assim, assim, respondeu a visitante. Perdoe a curiosidade. Por que é que você põe esses troços em cima do corpo?

        — Que troços? A roupa? Pois eu havia de andar nu, dona Aranha? A senhora não está vendo que é impossível?

        — Não é isso, filho de Deus. Esses arreios que você usa são medonhos. Tenho ali umas túnicas no galho onde moro. Muito bonitas. Escolha uma.

p.25

 

        Raimundo chegou-se à árvore próxima e examinou desconfiado uns vestidos feitos daquele tecido que as aranhas vermelhas preparam. Apalpou a fazenda, tentou rasgá-la, chegou-a ao rosto para ver se era transparente. Não era.

        — Eu nem sei se poderei vestir isto, começou hesitando. Não acredito.

        — Que é que você não acredita? perguntou a proprietária da alfaiataria.

        — A senhora me desculpa, cochichou Raimundo. Não acredito que a gente possa vestir roupa de teia de aranha.

        — Que teia de aranha! rosnou o tronco. Isso é seda e da boa. Aceite o presente da moça.

        — Então muito obrigado, gaguejou o pirralho. Vou experimentar.

p.26

OITO

        ESCOLHEU UMA TÚNICA AZUL, escondeu-se no mato e, passados minutos, tornou a mostrar-se vestido como os habitantes de Tatipirun. Descalçou-se e sentiu nos pés a frescura e a maciez da relva. Lá em cima os discos enormes das vitrolas giravam; as cigarras chiavam músicas em cima deles, músicas como ninguém ouviu; sombras redondas espalhavam-se no chão.

        — Este lugar é ótimo, suspirou Raimundo. Mas acho que preciso voltar. Preciso estudar a minha lição de geografia.

        Nisto ouviu uma algazarra e viu através dos ramos a população de Tatipirun correndo para ele:

        — Cadê o menino que veio de Cambacará?

p.27

 

 

 

RAMOS, Graciliano. Alexandre e outros heróis. São Paulo: Record, 1991.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 8º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 133-7.

 

 

Entendendo o conto:

01 – Como eram fisicamente as pessoas e seres de Tatipirun?

      A maioria dos habitantes se assemelhava ao menino, pois tinha a cabeça pelada e um olho preto e outro azul. Até mesmo o automóvel tinha, no lugar dos faróis, dois olhos parecidos com os do menino e a laranjeira não tinha espinhos.

 

02 – Identifique e copie o trecho em que Raimundo passa de seu lugar de origem para a terra de Tatipirun.

 

     “Raimundo levantou-se, entrou em casa, atravessou o quintal e ganhou o morro. Aí começaram a surgir as coisas estranhas que há na terra de Tatipirun, coisas que ele tinha adivinhado, mas nunca tinha visto.”

 

03 – Ao chegar àquele novo mundo, Raimundo conhece várias personagens. Como elas agem com o menino? Transcreva um trecho do texto que possa ter como tema uma atitude de gentileza.

 

      Elas eram dóceis, compreensivas e gentis, ofereciam a ele todo tipo de assistência que contribuísse para o seu bem-estar. Um exemplo disso está no seguinte trecho:

 

        “[...] Uma laranjeira que estava no meio da estrada afastou-se para deixar a passagem livre e disse toda amável:

 

        — Faz favor.

 

        — Não se incomode, agradeceu o pequeno. A senhora é muito educada.”

 

04 – Releia o que diz a aranha a respeito das roupas de Raimundo:

 

        “[...] Esses arreios que você usa são medonhos. [...]”.

 

a)   O que a aranha quis dizer com essa frase?

 

Que as roupas eram desagradáveis, não eram nada confortáveis; impediam os movimentos do menino e não o deixavam à vontade.

 

b)   O que a frase revela sobre a maneira como viviam os habitantes da terra visitada pelo menino?

 

Revela que os habitantes de Tatipirun viviam mais confortavelmente e com maior liberdade e harmonia do que os do lugar de origem de Raimundo.

 

c)   Raimundo gostou do estilo de vida daquele lugar? Como você chegou a essa resposta?

 

Sim, ele manifestou várias vezes seu encantamento enquanto ia conversando com os habitantes que encontrava. Exemplo possível: “Este lugar é ótimo, suspirou Raimundo.”

 

05 – Releia o diálogo a seguir, retirado do texto:

 

        “[...] Uma laranjeira que estava no meio da estrada afastou-se para deixar a passagem livre e disse toda amável:

 

        — Faz favor.

 

        — Não se incomode, agradeceu o pequeno. A senhora é muito educada.

 

        — Tudo aqui é assim, respondeu a laranjeira.

 

        — Está se vendo. A propósito, por que é que a senhora não tem espinhos?

 

        — Em Tatipirun ninguém usa espinhos, bradou a laranjeira ofendida. Como se faz semelhante pergunta a uma planta decente?”

 

·        Releia a última frase do diálogo e identifique o trecho em que há emprego de linguagem metafórica. Em seguida, explique a metáfora.

 

A linguagem metafórica é usada no trecho “ninguém usa espinhos”. A metáfora se dá pela comparação entre o espinho, que é algo que machuca, fere, e as atitudes agressivas dos meninos de onde Raimundo morava. Em Tatipirun as pessoas não eram indelicadas umas com as outras, não havia troca de ofensas.

 

06 – Quais eram as reações dos meninos da rua onde Raimundo morava diante da aparência do garoto? Em sua opinião, por que isso ocorria?

 

      A aparência de Raimundo gerava discriminação, gozarão e maus-tratos por parte dos outros meninos. Provavelmente, isso acontecia porque eles não aceitavam o fato de Raimundo ser diferente deles.

 

07 – E em Tatipirun? De que modo a aparência de Raimundo era encarada pelos habitantes desse lugar?

 

      Em Tatipirun, a aparência de Raimundo era o motivo de sua identificação com os habitantes do lugar, já que os meninos de lá tinham as mesmas características e ele se sentia acolhido por todos.

 

08 – Identifique no texto quais personagens estão relacionadas aos universos indicados a seguir:

 

a)   Ao mundos dos humanos.

 

Os outros meninos.

 

b)   Ao universo dos objetos materiais (inanimados que se tornaram animados na história).

 

O automóvel.

 

c)   Ao mundo animal.

 

A aranha.

 

d)   Ao mundo vegetal.

 

A laranjeira e o tronco.

 

09 – De que forma os elementos mágicos estão presentes na terra dos meninos pelados?

 

      Seres do mundo animal e vegetal e objetos inanimados que adquirem características humanas (agem e conversam com o menino); automóvel, aranha, laranjeira, ladeira; havia discos e vitrolas que giravam no ar, músicas estranhas, túnicas feitas de teia de aranha, cigarras chiando músicas que nunca ninguém ouviu, sombras redondas espalhadas no chão.

 

10 – Localize no texto e copie um trecho que você considere belo e poético, que lhe chame a atenção pela maneira como o autor seleciona e combina as palavras. Explique por que escolheu esse trecho.

 

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: “Descalçou-se e sentiu nos pés a frescura e a maciez da relva. Lá em cima os discos enormes das vitrolas giravam; as cigarras chiavam músicas em cima deles, músicas como ninguém ouviu; sombras redondas espalhavam-se no chão.”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ALUNO:____________________________________________________Turma:_____Data:____

A TERRA DOS MENINOS PELADOS – SALA DE LEITURA- Prof:_________________________

RESPONDA:

 

1. Como eram as pessoas em Tatipirun? p.8

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

2. Por que as crianças faziam Bullying com Raimundo?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

3. Por que não era preciso subir as ladeiras em Tatipirun? P.10

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. O que havia no lugar dos faróis nos carros em Tatipirun? P.11

______________________________________________________________________________

 

5. “Em Tatipirun ninguém usa espinhos” Qual o significado da expressão usar espinhos?p.12

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6. Aproximadamente quantos meninos Raimundo encontrou Na beira do Rio das Sete Cabeças? P.16

___________________________________________________________________________

 

7. Qual o nome da cidade em que Raimundo disse que morava? P.17

__________________________________________________________________________

 

8. Por que os meninos de Tatipirun riram de Raimundo? P.19

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

9. O que os moradores de Tatipirun achava da aparência das pessoas de Cambacará? P.p.20

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

10. Do que a Aranha chamou as roupas de Raimundo?

___________________________________________________________________________

 

11. Por que Raimundo precisava voltar?

_________________________________________________________________________

 

12. Retire do texto uma frase em que se utilizou a linguagem FICCIONAL, fantasiosa.

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

13. Qual o significado das palavras presentes no texto?

a) alvos p.16 _____________________________________

b) calvos p.16  ______________________________________

c) trombudo p.21 __________________________________

d) fazenda p.26 _____________________________________

e) berrou  p.9 _____________________________________

 

13. Qual o título do livro?

_____________________________________________________________________