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quarta-feira, 19 de junho de 2024

PRIMO BITÚ - CONTO AFRICANO - ATIVIDADES

 

PRIMO BITÚ - Fátima Bettencourt

https://core.ac.uk/download/pdf/38680768.pdf

 

        No dia de Ano Novo, mais fatal que o destino, chegava todos os anos Primo Bitú à nossa casa, bem de manhãzinha.

        Ainda no rescaldo do Natal, nós, os meninos da casa também madrugávamos, agarrados às cometas, bolas e bonecas de farrapos no limite do transitório encanto. Já não causavam o deslumbramento de uma semana atrás, mas havia sempre e possibilidade de se recriar a beleza perdida da boneca acoplando-lhe uma cabeleira com bonitas e frescas barbas de milho, que a nossa horta do Mato Inglês produzia praticamente todo o ano. Umas havia da cor de ouro velho, brilhantes e sedosas que logo transformavam a feia boneca de feições espalmadas numa linda vampe. Mal imaginava eu na minha infância tão simples, que tinha nas mãos e percursora da sofisticada Barbie que muitos anos mais tarde viria a encantar a meninice das minhas filhas e atrapalhar os meus orçamentos sempre deficitários de jovem mãe, as toiletes e adornos da Barbie não mais colhidos da natureza, adquiridas a peso de ouro.  

         Os meninos macho da casa, esses rapidamente descobriam que a flauta de cana com os buraquinhos vedados por finíssimas teias de aranha tinha possibilidades melódicas de longe superiores às da cometa do Pai natal. Esta então era utilizada como moeda de troca e ia deslumbrar os meninos de nhô Brás, do outro lado do pequeno vale, que em contrapartida esvaziavam os bolos de piões, guitas e botões.

        Por aí se vê que a nossa manhã do dia de Janeiro era ocupadíssima, sem espaços mortos. Como então arranjar tempo e paciência para Primo Bitú com a sua cara bexiguenta, os seus olhos aguados e nebulosos e as enormes orelhas que no ultimo Janeiro descobríramos serem transparentes?

        Primo Bitú usava sempre casaco e bengala. O seu olhar soturno condizia com a fala pousada e grave. Parecia estar sempre triste. Estendia às pessoas uma mão fria e frouxa como se estivesse apresentado condolências. Tinha a mania de nos abençoar com aquela mesma mãe de casa de morto inspirando-nos mais medo que qualquer outro sentimento.

        Meu pai então para evitar que passássemos do medo ao gozo, falava do primo com grande entusiasmo e mostrava-nos que ela era pessoa muito direita a que devíamos respeitar.

        Naquela manhã, primo Bitú chegara mais cedo que de costume. Ainda se ouvia o pilão na preparação da farinha para cuscus. Meu pai, mais madrugador, fora à fora buscar um cachinho de banana prata especialmente guardado para aquele dia de festa.

        Na verdade trata-se apenas de um subterfúgio para encobrir o seu principal objectivo que era matar um cabrito para o almoço mas isso podia dizer.

        Havia muita criação em nossa casa, e a nossa relação com os filhotes era tão íntima e cheia de ternura que matar um deles, à vista dos meninos, estava totalmente fora de questão. Cabrito, franguinha, leitão, burrinho, cada um tinha um nome próprio e era o bichinho de estimação de alguém da casa e o companheiro de brincadeira dos garotos.

        É certo que víamos a carne aparecer à nossa mesa mas sempre surgia alguma história que justificava a sua origem ou o desaparecimento de um bichinho mais querido. Só as mortes por doença eram declaradas e choradas como daquela vez que o nosso burrinho “Crêtcheu” apareceu morto e não queríamos enterrá-lo. Por fim lá assistimos ao enterro empunhando ramos de flores bravias que íamos orvalhando com as nossas lágrimas. Durante o dia ficamos meio macambúzios, aquele bichinho que parecia um boneco de pelúcia e saltava conosco pelos pilares da horta não estava mais ali e isso nos causava uma dor enorme. Foi nesse dia que a nossa galinha “dourada”, sumida havia dias, surgiu no terreiro com um bando de pintainhos felpudos atrás. Esquecemos “Crêtcheu” temporariamente e só à tarde deparamos coma mãe do burrinho, nessa manhã enterrado, de orelhas murchas, a ração intacta, toda desconsolada. Então, ocorreu-nos que se ela sentisse alguém a mamar o leite pensaria que era o filho e se sentiria melhor. Sem mais delongas passámos à acção e quando a minha mãe descobriu estávamos a mamar o leite da besta havia dias. Salvou-nos Nhô Cirilo, um dos empregados, que garantiu que o leite de burra era excelente para os pulmões e que muita doença era curada com ele.

        Salvo o devido respeito por Primo Bitú, o burrinho “Crêtcheu” tem um cantinho muito especial nas minhas recordações. Daí o parêntesis e a inesperada homenagem. Fomos logo avisar a minha mãe que achou que o melhor era oferecer-lhe uma cadeira ali mesmo no terreiro, a casa não estava ainda devidamente arrumada para a gente de fora. Era dia e os preparativos muito mais complicados.

        Da enorme mala de madeira a minha mãe já retirara uma colcha de seda quase branca e uma toalha com renda à volta e ia começar a arranjar tudo, mas essa visita tão matinal era quase um contratempo. Se bem que ela nunca tivesse falhado não anos anteriores, nos alimentávamos a esperança de poder um dia sentar-nos à mesa do café sem aquela figura sinistra mastigando lentamente e sorvendo o café com ruídos. Não era ainda dessa vez que o nosso desejo se realizava.

        A minha mãe, decidida, colocou ela própria a cadeira no terreiro com um pedido de desculpas “sabe, primo, você é de casa, eu estou a dar um jeitinho lá dentro… é um dia especial, o primo não leva a mal”. Lá se foi a minha mãe às suas tarefas deixandonos ali para fazer”sala” ao primo, eu com a minha boneca de cabeleira acobreada bem presa ao peito, os meus irmãos cochichando coisas, o mais novinho cheio de medo não conseguia parar de fitar o olho aguado e mortiço do primo, um olhar de réptil hipnotizando um passarinho.  

        Fomos salvos por meu pai que regressou da horta com um cabritinho a que já tirara a pele, não fôssemos nós reconhecer o “pintadinho” tão nosso conhecido. Como sempre meu pai recebeu primo Bitú com exageradas demonstrações de alegria completamente incompreensíveis para nós. Como poderia aquela aparição causar alegria a alguém? Meu pai, porém, não entendia isso. Primo Bitú largara de sua casa de Monte Sossego, galgara a pé os oito quilómetros até Mato Inglês para dar as Boas Festas a uns parentes muito estimados e tínhamos que o receber engalanados em arco e ser amáveis durante o tempo que ele ali estivesse.

        Quanto mais crescidos ficávamos, menos paciência tínhamos para aquele visitante, de pedra e cal na nossa mesa todo o dia de Janeiro que Deus punho no mundo, desde que a minha memoria se lembrava. Sentíamos roubados das atenções dos mais velhos, das brincadeiras habituais, a minha mãe atenta ao codé e sua preferência por catchupa guisado dentro do café, procurando conter a minha obsessão pelas boas maneiras, capaz era eu de chamar a atenção de um visitante que cometesse alguma gafe enfim um clima diferente, quase tenso, todos preocupados com o primo “esta linguiça está muito saborosa, eu mesa fiz, coma um bocadinho”, “mais café, está quentinho!” a minha mãe sempre apaparicando o primo, os três filhos ali, ao Deus dará, nem isso talvez, pois qualquer deslize era prontamente anotado e silenciosamente reprovado com uma mirada certeira. Mas que café mais comprido! E que visitante mais indesejável! Acontecimentos posteriores viriam a mostrar como estávamos enganados.

       Naquela manhã, a conversa tombou para novidades da morada. Primo Bitú animou-se. Uma centelha pareceu soltar dos seus olhos pois ele trazia uma grande novidade. Tinham desencadeado uma grande campanha de vacina. A varíola que grassava pela costa africana ameaçava atingir-nos. Tudo inútil, dizia ele, aqueles doutores, todos uns ignorante nada entendiam daquela doença.

       – Imagine – dizia desdenhoso – querem curar bexiga com uma canetinha de arranhar nos braços das pessoas. Eles deviam era vir ter comigo porque eu já tive bexiga em Santo Antão, até que já ninguém contava que eu conseguisse sobreviver. Basta dizer que me puseram num casinhoto para morrer e até os pássaros brancos já andavam por ali a rondar. Estão a ver que eu conheço esta doença. Os doutores se quiserem saber alguma coisa sobre bexigas, eu vou ditando e eles vão escrevendo – aí meu pai não se conteve e caiu no riso. Mais impressionados estávamos nós com o calor e a animação que de repente se revelara naquele homem via de regra tão circunspecto. Aquele que estava ali explanando originais teorias sobre varíola era certamente alguém que não conhecíamos. A sua supremacia sobre a ciência médica nos animava a dar largas a nossa curiosidade. Acabámos descobrindo que o Primo Bitú era um falador interessantíssimo com resposta pronta para tudo e mil teorias pessoais elaborados numa vida longa e próxima e cheia de peripécias. Afinal ele não era soturno nem triste. Não era pois necessário programar a próxima visita para dali a um ano. Podia ser já no próximo Domingo. Insistimos até arrancar-lhe a promessa de passar a visitar-nos semanalmente. Aceitou logo e foi acrescentando que apesar de estarmos a crescer no campo éramos uns meninos espertos e sobretudo muito educados.

        O sol começava a descer para o Monte Cara quando o primo Bitú deixou o Mato inglês em direcção à cidade depois de um lanchinho de chá de cidreira, batata assada, queijo e doce caseiro. Despediu-se com muitos abraços e vénias, a mão um pouco mais quente, o coração também. Partiu segurando a bengala, pela vereda que ligava a nossa casa à estrada. Ficámos no terreiro vendo a sua pontinha de saudade. Felizmente só faltavam quatro dias para ele voltar.

        À noite, à volta da mesa, olhando a chama trémula do candeeiro a petróleo, o nosso silêncio era cheio de subentendidos e uma compreensão nascente das coisas da vida. Naquele dia crescêramos um pouco mais.

 

1. Qual o assunto principal do texto?

Visita do Primo Bitú à casa dos pais da narradora.

 

2. Quais são as personagens do texto?

Primo Bitú, a narradora, os dois irmãos, a mãe e o pai da narradora, Nhô Cirilo e Nho Brás (personagem figurante).

 

3. Onde se passou esta história?

Em Cabo Verde, Mato Inglês.

 

4. Quando aconteceu esta história?

1º de Janeiro – Dia do Ano Novo.

 

5. Qual foi a alternativa que a narradora encontrou para restaurar a boneca?

 A narradora fez uma cabeleira com bonitas e frescas barbas de milho.

 

6. As crianças não suportavam o primo Bitú. Retire do texto uma frase que justifique essa afirmação.

Não tinham tempo e nem paciência.

 

7. Por que as crianças mamaram o leite da burra?

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8. Por que motivo o pai trouxe o cabrito já sem a pele?

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9. No final os meninos acabam gostando do primo, por quê?

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10. Qual o nome do conto e o nome da autora?

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O ENTERRO DA BICICLETA - CONTO AFRICANO - ATIVIDADES

 

O enterro da bicicleta

Nelson Saúte

 

        A aldeia foi sacudida com a notícia da morte do deputado. Todas as mortes são notícia em nossa terra, mas aquela foi invulgar. A consternação colheu também as aldeias mais próximas. Sem dúvida que aquele era um acontecimento para se escrever nos armoriais da povoação em que ele era a única personalidade carismática. Não era a primeira vez que empreendia aquela viagem de bicicleta até à vila, onde apanhava o machimbombo[1] que o levava ao distrito e, de lá, para a capital da província, de onde se situava o parlamento. Nenhum dos habitantes daquelas terras alguma vez ouvira falar de leões. Falava-se, sim, de crocodilos que, não raro, devoravam crianças desprevenidas que tentavam atravessar para a margem adversa do rio. Contava-se inclusive a história de uma mãe que velou a cabeça do filho, dado que o corpo fora engolido por um crocodilo no rio. Aquele leão foi o primeiro de que se ouviu falar e, provavelmente, ouvir-se-á falar por muitos anos. Parece que o deputado ainda revelou alguma bravura quando se confrontou com a situação. Não fugiu, olhou frontalmente o animal, sem medo da sua juba e dos seus rugidos. Mas não estavam em igualdade de circunstâncias: as forças e armas eram tremendamente desiguais. O leão levou a melhor, tanto mais que do homem apenas restou uma bicicleta retorcida e alguns farrapos da sua roupa. A aldeia parou durante dias para os seus funerais.

        Quando deputado seguia para a capital, a aldeia parava para saudá-lo. A cerimônia decorria nas primeiras horas da manhã. Os habitantes da aldeia eram formalmente convidados para dele se despedirem na véspera. Havia aqueles que mesmo assim madrugavam para ir à machamba[2], mas à hora dos cumprimentos estavam na fila. Formavam-se duas longas filas por onde ele passava saudando os seus eleitores. Ninguém poderia duvidar: estava ali uma figura da aldeia, talvez a maior. Via-se na forma como o homem era celebrado, com cantos corais, coreografias populares, batuque e dança que levanta poeira.

        O homem era conhecido por possuir uma extensa biografia, mas sobretudo sublinhava-se a sua passagem heroica pela luta armada. Aliás, o momento fundador da nacionalidade tinha sido esse para os seus exaltadores. Era um homem predestinado, indubitavelmente: não teve uma infância como as outras, cedo os seus ombros carregaram a pátria. Não se falava, como os outros meninos, de uma pueril passagem pela profissão de pastor de gado. Fora professor, isso sim, dizia-se com ênfase, uma profissão nobre. Cedo havia de se envolver em atividades políticas. Teve que abandonar a sua aldeia e rumar a Norte, para juntar-se à luta. Regressou com a independência e não quis experimentar a vida da grande cidade, não que temesse seus perigos, as tentações que devoraram os revolucionários, a miragem que viu soçobrar muitos dos seus companheiros. Retornou à sua aldeia porque acreditava que era um homem do campo e lá tinha uma missão. Na verdade, aquela já não era a aldeia que deixara, mas muitos dos habitantes eram ainda do seu tempo. Vivia agora numa aldeia comunal e destacava-se nas atividades políticas.

        Caserna e os sonhos. Agora estavam distantes. Olhava e sorria. Tinha uma corrosiva ironia no olhar, mas não perdia a modéstia nem a fleuma nas longas reuniões do partido, no parlamento ou na aldeia.

        Muito se dizia também do deputado. Não foi ele que escolheu a mulher, foi-lhe atribuída pelo chefe. Isso lá no mato.

        "Queres chegar à independência? Não vês que estão ali muitas camaradas?"

        A pontaram para uma solteira. Assim desposara a mulher com quem vivia e partilhava sua vida. Acontece que o homem vivia alheio a esses boatos e prosseguia animado com a sua atividade. Frequentemente descia para a capital, hospedava-se no hotel do partido. Ali não faltava nada, mesmo quando lá fora tudo escasseava. Era o tempo das bichas[3] e do cartão do racionamento. O prato de que mais gostava no hotel era caldeirada de cabrito. Um Lada[4] vinha apanhá-lo e dirigia-se ao parlamento.

        Na aldeia onde vivia o deputado não havia um único automóvel. Por aquela rua, a única, de poeira e sem árvores, por vezes passavam bicicletas. Era uma rua sem o sobressalto dos motores, apenas com crianças que brincavam debaixo do sol quando não tinham aulas. Nos dias em que o deputado regressava da capital, a rua enganalava-se. Duas crianças eram preparadas para oferecer uma coroa de flores, que lhe era colocada sobre o pescoço. Muito gostava de vê-las a marchar, com passos sincronizados, como se fazia nos dias festivos da capital. O deputado cumprimentava toda a gente com delicadeza. O seu regresso era não só motivo de festa na aldeia, mas também de frenesim.

        O homem, depois dos cumprimentos da aldeia, dirigia-se à casa, onde lhe esperavam um balde de água quente para se banhar e comida diligentemente preparada pela mulher. Enquanto isso, os seus inúmeros filhos não o largavam, tentando saber que prensas o pai trouxera da grande cidade. mais tarde reunia-se com as personalidades da aldeia e fazia uma longa banja[5], contando episódios das viagens, as pessoas com quem falara, o contato com os altos dirigentes do partido e da Nação. O deputado repetia fielmente os discursos proferidos na tribuna do parlamento, argumentando sobre as vitórias da revolução, vituperando o inimigo. Os seus olhos cresciam, os gestos eram largos, a sua eloquência transformava-o numa figura mítica. Quem o ouvisse apenas poderia convencer-se de que estava ali o presidente, fazendo um daqueles seus discursos.

        O homem era o orgulho daquela remota aldeia, que vivia das machambas, de algum gado, mais do que nada. A água escasseava, mas havia um rio não muito longe, pelo qual as mulheres percorriam aqueles quilómetros com bidões à cabeça. As casas de adobe[6], muitas delas caiadas, hieráticas. Na varanda uma cama feita de palha, onde os homens se deitavam na modorra das tardes do tempo de calor. Havia ali um posto sanitário, muito precário, onde a velha parteira atendia a todo tipo de doentes. A árvore mais frondosa tinha uma gigantesca copa que fazia uma sombra enorme, capaz de albergar todas as crianças que aprendiam acocoradas. Era uma aldeia pobre, mas os seus habitantes eram felizes. O deputado gostava de o referir nos encontros em que participava quando relatava os progressos da sua terra.

        No dia em que foi conhecida a notícia da morte do deputado, os miúdos não tiveram aulas, as mamanas[7] regressaram cedo da machamba, os homens se reuniram na casa do mais velho dos aldeões. O deputado era um homem de uma certa idade, mas havia anciãos na aldeia, que tinham outra autoridade. A rua de poeira, onde perfilavam os habitantes da aldeia para receber a figura singular da terra, era um horizonte de tristeza e desolação. Os meninos recolheram-se. Não se ouviam as gargalhadas que atravessavam os dias, nem os gritos dos que chamavam pelos seus, apenas um ou outro galo cacarejava extemporâneo. Um profundo silêncio baixara com a poeira da rua.

        A velha parteira fechara o posto sanitário. Não tinha muitos doentes. Era uma situação de emergência. Foi encarregue de acompanhar e amparar a viúva. Outras mamanas também assomaram à porta da casa do deputado com a mesma missão, enquanto os homens tentavam uma saída para aquele imbróglio. Os filhos do falecido foram distribuídos pelas famílias mais próximas para brincarem com outras crianças.

        Os madodas[8] foram unânimes: um funeral condigno impunha-se. Mas antes de tudo era preciso resgatar o que sobrara do infausto encontro entre o homem e o animal naquela viagem fatídica do deputado. As notícias não eram animadoras. Só havia a bicicleta para testemunhar a violência da refrega. Mesmo a bicicleta, havia quem asseverasse, já vinha muito desfigurada. A peleja tinha sido de meter medo. Mas tinha que haver um funeral. Porém, não havia corpo para enterrar. O mais-velho por vezes rompia o seu silêncio proverbial e falava olhando para a imensidão do céu:

        "A alma do morto só descansa quando enterramos o seu corpo."

        Um outro, do grupo, interrogou-se:

        "Como havemos de vestir o luto se não enterrarmos o homem?

        A despeito formaram-se várias comissões. As reuniões e a azáfama se haviam apoderado de todos. A aldeia preparava-se para se curvar à memória e em homenagem ao seu mais ilustre filho, o deputado da Nação.

        "Ele merece um funeral de Estado!"

        Quase ninguém entendeu aquela frase desabrida, aquela enfática proclamação. As ideias sucediam-se:

        "Temos que construir um mausoléu."

        Também ninguém sabia o que significava aquela palavra que encerrava uma evidente grandiloquência. Apenas o professor, que era uma lenda da aldeia, se recordava do significado daquela estranha coisa que tinha sido invocada. Ele explicaria complicando:

        "Mausoléu é um sepulcro suntuoso."

        Mais confusão. O homem do partido, que fizera aquela eloquente proposta, encheu os pulmões de orgulho e rematou:

        "Mausoléu é um lugar onde se enterram os grandes. Enterram é um força de expressão. Na verdade, eles são depositados em gavetas."

        Sem discordar, houve quem atalhasse:

        "Os grandes, afinal, não estão depositados numa cripta?"

        "Sim, os nossos grandes descansam na cripta, mas esses são os grandes nacionais, outros assim como o deputado merecem também o nosso respeito, mas é um exagero fazer uma estrela como aquela construída na praça dos heróis à entrada da capital. Por isso, a ideia do mausoléu. podíamos propor às autoridades que se fizesse um mausoléu para a ilustre figura da nossa aldeia."

        O proponente di-lo com tamanho entusiasmo que ficara depois a olhar em volta à espera da anuência dos outros. O mais-velho, dono da casa, confirmou que era um homem sensato, coisa que se atinge também com a idade. Interrogou, derrubando os argumentos do homem que representava o partido:

        "Essa coisa de cripta faz-se com adobe e se cobre com capim?"

 

        A ideia de construir seja o que fosse estava deitada por terra. Foram discutidas outras hipóteses. A verdade é que toda a gente estava de acordo: o deputado teria umas exéquias fúnebres à sua altura, uma homenagem sentida de toda a população, mais nada de ideias estapafúrdias, nada de proselitismos.

        Depois, viriam certamente representantes de outras povoações, até da vila e da cidade, quem sabe um representante da própria Nação? Afinal, tratava-se de um eleito do povo. Era preciso providenciar alojamento para essas visitas insignes e seu respectivo acompanhamento. foram organizadas casas para os receber e uma comissão dos madodas avançou para recuperar a bicicleta ou aquilo que dela sobrava: os despojos da guerra.

        Estava decidido: seria sepultada a bicicleta, far-se-ia uma urna, que seria velada e enterrada como se o próprio dono se tratasse.

        "Só assim a alma do homem descansará."

        Ninguém se opôs e pareceu que a ideia era mesmo brilhante. A comissão das exéquias já estava no terreno, a comissão da logística e responsável por visitas desdobrava-se. Começaram os ensaios dos cânticos pela comissão das atividades culturais que funcionava na aldeia nos dias festivos como a data da independência e outras ocasiões. Sempre que uma figura importante desembarcava naquele lugar, mesmo o próprio deputado tinha sido agraciado inúmeras vezes com aqueles cânticos. Era uma mamana da OMM[9] que cuidava do assunto e, ao que parece, mostrava uma indubitável competência. A comissão da ornamentação tratou de colher flores silvestres das mais variadas. À entrada da casa do deputado havia uma coroa enorme e o percurso que foi traçado do lugar onde sairia a urna até ao cemitério foi igualmente enganalado.

        Nenhum pormenor escapou. Havia duas bandeiras apenas na aldeia. Uma por estrear, que viera com o administrador do distrito e fora guardada para ocasiões solenes; a outra estava rota. Ambas foram postas a meia haste. Os miúdos desenharam bandeiras nas folhas centrais dos cadernos e prenderam-nas com paus de caniço à entrada das casas. Vieram visitas de longe: o administrador, representantes de outras aldeias, uma alta figura que ninguém sabia identificar. A aldeia toda compareceu na manhã do funeral e concentrou-se junto do palanque que ficava num descampado que servia de campo de futebol para os miúdos. Quase todos envergavam roupa que denunciava o luto e tinham os rostos compungidos de dor e tristeza.

        A urna impunha num pequeno estrado. Foi coberta por capulanas[10], as bandeiras, as duas únicas que existiam não eram suficientes para todo o féretro. Os convidados tinham lugares sentados, assim como as autoridades locais e aqueles que se haviam deslocado para a cerimônia. A viúva e os nove filhos do deputado estavam sentados na primeira fila, do lado esquerdo, num banco sem costas, por onde passaria a enorme fila dos que lhes prestavam homenagem.

        O velório tinha sido marcado para as primeiras horas, o sol foi célere a atingir o rosto dos presentes. As mulheres cantavam. O chefe da célula do partido fez o elogio fúnebre, seguiram-se mensagens, antes de os homens da aldeia carregarem, compungidos, aquela enorme e disforme urna. O cortejo percorreu o trajeto indicado, os cantos e os acenos dos que se despediam do deputado são insequecíveis. Chegados ao cemitério houve mais elogios antes de a urna descer à terra.

 

        No final, houve lavagem de mão, em casa do defunto. A cerimônia do chá tinha muita gente e aí as conversas, nos círculos dos homens, já denunciavam que havia alguma descontração. os forasteiros começaram a despedir-se a meio da tarde para empreenderem a viagem de regresso. De repente, surgiu um burburinho e começaram a juntar-se pessoas. Chegara, não muito tempo antes, um mensageiro. O homem fizera tudo para chegar antes dos funerais da defunta bicicleta. Poré, houve percalços que o atrasaram pelo caminho. À sua volta estavam apenas os homens que haviam comparecido àquele último ritual de despedida do deputado. As mulheres mantinham-se num grupo à parte. O mensageiro caiu fatigado, sempre com a língua de fora. Ainda tentaram reanimá-lo. Estava morto antes de revelar o que lhe trouxera de tão longe.

 

 

1. Onde se passa a história?

A história inteira se passa em uma aldeia (sem localização especifica no livro.)

 

2. Em que tempo se passa o conto?

O tempo do é: passado. O tempo passado é retratado quando o narrador conta a história do falecido deputado e o que ele fez.

 

3. Clímax

 

O clímax do conto acontece quando os moradores da aldeia descobrem que no lugar do corpo do falecido deputado há uma bicicleta, item que retratava muito bem o mesmo.

 

4. Como o deputado morreu?

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5. Qual grande feito tornou o deputado muito conhecido?

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6. O que era oferecido ao deputado quando ele voltava à vila?

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7. O que sobrou da luta do deputado com o leão?

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8. Retire do texto uma frase que comprove a pobreza da vila.

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9. Quais eram as características do deputado.

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10. O mensageiro morre de exaustão sem dar a mensagem que trazia. Qual seria a notícia?

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A TERRA DOS MENINOS PELADOS - ATIVIDADES - PAGINA 07 A 27

FONTE:

https://armazemdetexto.blogspot.com/2021/05/conto-terra-dos-meninos-peldos.html#google_vignette

UM

         HAVIA UM MENINO diferente dos outros meninos. Tinha o olho direito preto, o esquerdo azul e a cabeça pelada. Os vizinhos mangavam dele e gritavam:

         — Ó pelado!

        Tanto gritaram que ele se acostumou, achou o apelido certo, deu para se assinar a carvão, nas paredes: Dr. Raimundo Pelado. Era de bom gênio e não se zangava; mas os garotos dos arredores fugiam ao vê-lo, escondiam-se por detrás das árvores da rua, mudavam a voz e perguntavam que fim tinham levado os cabelos dele. Raimundo entristecia e fechava o olho direito. Quando o aperreavam demais, aborrecia-se, fechava o olho esquerdo. E a cara ficava toda escura.

P.7 

        Não tendo com quem entender-se, Raimundo Pelado falava só, e os outros pensavam que ele estava malucando.

        Estava nada! Conversava sozinho e desenhava na calçada coisas maravilhosas do país de Tatipirun, onde não há cabelos e as pessoas têm um olho preto e outro azul.

P.8         

DOIS

         UM DIA EM QUE ele preparava, com areia molhada, a serra de Taquaritu e o rio das Sete Cabeças, ouviu os gritos dos meninos escondidos por detrás das árvores e sentiu um baque no coração.

        — Quem raspou a cabeça dele? perguntou o moleque do tabuleiro.

        — Como botaram os olhos de duas criaturas numa cara? berrou o italianinho da esquina.

        — Era melhor que me deixassem quieto, disse Raimundo baixinho. Encolheu-se e fechou o olho direito. Em seguida, foi fechando o olho esquerdo, não enxergou mais a rua. As vozes dos moleques desapareceram, só se ouvia a cantiga das cigarras. Afinal as cigarras se calaram.

P.9

        Raimundo levantou-se, entrou em casa, atravessou o quintal e ganhou o morro. Aí começaram a surgir as coisas estranhas que há na terra de Tatipirun, coisas que ele tinha adivinhado, mas nunca tinha visto. Sentiu uma grande surpresa ao notar que Tatipirun ficava ali perto de casa. Foi andando na ladeira, mas não precisava subir: enquanto caminhava, o monte ia baixando, baixando, aplanava-se como uma folha de papel. E o caminho, cheio de curvas, estirava-se como uma linha. Depois que ele passava, a ladeira tornava a empinar-se e a estrada se enchia de voltas novamente.

P.10

    TRÊS

    — QUEREM VER que isto por aqui já é a serra de Taquaritu? pensou Raimundo.

    — Como é que você sabe? roncou um automóvel perto dele.

        O pequeno voltou-se assustado e quis desviar-se, mas não teve tempo. O automóvel estava ali em cima, pega não pega. Era um carro esquisito: em vez de faróis, tinha dois olhos grandes, um azul, outro preto.

        — Estou frito, suspirou o viajante esmorecendo.

        Mas o automóvel piscou o olho preto e animou-o com um riso grosso de buzina:

        — Deixe de besteira, seu Raimundo. Em Tatipirun nós não atropelamos ninguém.

        Levantou as rodas da frente, armou um salto, passou por cima da cabeça do

P.11 

menino, foi cair cinquenta metros adiante e continuou a rodar fonfonando. Uma laranjeira que estava no meio da estrada afastou-se para deixar a passagem livre e disse toda amável:

        — Faz favor.

        — Não se incomode, agradeceu o pequeno. A senhora é muito educada.

        — Tudo aqui é assim, respondeu a laranjeira.

        — Está se vendo. A propósito, por que é que a senhora não tem espinhos?

        — Em Tatipirun ninguém usa espinhos, bradou a laranjeira ofendida. Como se faz semelhante pergunta a uma planta decente?

        — É que sou de fora, gemeu Raimundo envergonhado. Nunca andei por estas bandas. A senhora me desculpe. Na minha terra os indivíduos de sua família têm espinhos.

        — Aqui era assim antigamente, explicou a árvore. Agora os costumes são outros. Hoje em dia, o único sujeito que ainda conserva esses instrumentos per-

P.12 

-furantes é o espinheiro-bravo, um tipo selvagem, de maus bofes. Conhece-o?

        — Eu não senhora. Não conheço ninguém por esta zona.

        — É bom não conhecer. Aceita uma laranja?

        — Se a senhora quiser dar, eu aceito.

        A árvore baixou um ramo e entregou ao pirralho uma laranja madura e grande.

        — Muito agradecido, dona Laranjeira. A senhora é uma pessoa direita. Adeus! Tem a bondade de me ensinar o caminho?

        — É esse mesmo. Vá seguindo sempre. Todos os caminhos são certos.

        — Eu queria ver se encontrava os meninos pelados.

        — Encontra. Vá seguindo. Andam por aí.

        — Uns que têm um olho azul e outro preto?

        — Sem dúvida. Toda gente tem um olho azul e outro preto.

        — Pois até logo, dona Laranjeira. Passe bem.

        — Divirta-se.

P.13,

Imagem

p.14

     QUATRO

        RAIMUNDO CONTINUOU a caminhada, chupando a laranja e escutando as cigarras, umas cigarras graúdas que passeavam sobre discos de vitrola enormes. Os discos giravam, soltos no ar, as cigarras não descansavam — e havia em toda a parte músicas estranhas, como nunca ninguém ouviu. Aranhas vermelhas balançavam-se em teias que se estendiam entre os galhos, teias brancas, azuis, ama-relas, verdes, roxas, cor das nuvens do céu e cor do fundo do mar. Aranhas em quantidade. Os discos moviam-se, sombras redondas   projetavam-se no chão, as teias agitavam-se como redes. Raimundo deixou a serra de Taquaritu e chegou à beira do rio das Sete Cabeças,

p.15

        onde se reuniam os meninos pelados, bem uns quinhentos, alvos e escuros, grandes e pequenos, muito diferentes uns dos outros. Mas todos eram absolutamente calvos, tinham um olho preto e outro azul.

p.16 

CINCO

        O VIAJANTE RONDOU por ali uns minutos, receoso de puxar conversa, pensando nos garotos que zombavam dele na rua. Foi-se chegando e sentou-se numa pedra, que se endireitou para recebe-lo. Um rapazinho aproximou-se, examinando-lhe, admirado, a roupa e os sapatos. Todos ali estavam descalços e cobertos de panos brancos, azuis, amarelos, verdes, roxos, cor das nuvens do céu e cor do fundo do mar, inteiramente iguais às teias que as aranhas vermelhas fabricavam.

        — Eu queria saber se isto aqui é o país de Tatipirun, começou Raimundo.

        — Naturalmente, respondeu o outro. Donde vem você?

p.19

        Raimundo inventou um nome atrapalhado para a cidade dele que ficou importante:

        — Venho de Cambacará. Muito longe.

        — Já ouvimos falar, declarou o rapaz. Fica além da serra, não é isto?

        — É isso mesmo. Uma terra de gente feia, cabeluda, com olhos de uma cor só. Fiz boa viagem e tive algumas aventuras.

        _ Encontrou  a Caralâmpia?

        É uma laranjeira?

        Que laranjeira! É menina.

        _ Como ele é bobo! Gritaram todos rindo e dançando. Pensa que Caralâmpia é laranjeira.

p.20

SEIS

        RAIMUNDO LEVANTOU-SE  trombudo e saiu à pressa, tão encabulado que não enxergou o rio. Ia caindo dentro dele, mas as duas margens se aproximaram, a água desapareceu, e o menino com um passo chegou ao outro lado, onde se escondeu por detrás dum tronco. A terra se abriu de novo, a correnteza tornou a aparecer, fazendo um barulho grande.

        — Por que é que você se esconde? perguntou o tronco baixinho. Está com medo?

        — Não senhor. É que eles caçoaram de mim porque eu não conheço a Caralâmpia.

        O tronco soltou uma risada e pilheriou:

         — Deixe de tolice, criatura. Você se afogando em pouca água! As crianças estavam brincando. É urna gente boa.

p.21

        — Sempre ouvi dizer isso. Mas debicaram comigo porque eu não conheço a Caralâmpia.

        — Bobagem. Deixe de melindres.

        — É mesmo, concordou Raimundo. Eu pensava nos moleques que faziam tro-ça de mim, em Cambacará. O senhor está descansando, heim?

        — É. Estou aposentado, já vivi demais.

        Raimundo levantou-se:

        — Bem, seu Tronco. Eu vou chegando.

        — Espera aí. Um instante. Quero apresentá-lo à aranha vermelha, amiga velha que me visita sempre. Está aqui, vizinha. Este rapaz é nosso hóspede.

p.22 

SETE

        A ARANHA VERMELHA balançou-se no fio, espiando o menino por todos os lados. O fio se estirou até que o bichinho alcançou o chão. Raimundo fez um cumprimento:

        — Boa tarde, dona Aranha. Como vai a senhora?

        — Assim, assim, respondeu a visitante. Perdoe a curiosidade. Por que é que você põe esses troços em cima do corpo?

        — Que troços? A roupa? Pois eu havia de andar nu, dona Aranha? A senhora não está vendo que é impossível?

        — Não é isso, filho de Deus. Esses arreios que você usa são medonhos. Tenho ali umas túnicas no galho onde moro. Muito bonitas. Escolha uma.

p.25 

        Raimundo chegou-se à árvore próxima e examinou desconfiado uns vestidos feitos daquele tecido que as aranhas vermelhas preparam. Apalpou a fazenda, tentou rasgá-la, chegou-a ao rosto para ver se era transparente. Não era.

        — Eu nem sei se poderei vestir isto, começou hesitando. Não acredito.

        — Que é que você não acredita? perguntou a proprietária da alfaiataria.

        — A senhora me desculpa, cochichou Raimundo. Não acredito que a gente possa vestir roupa de teia de aranha.

        — Que teia de aranha! rosnou o tronco. Isso é seda e da boa. Aceite o presente da moça.

        — Então muito obrigado, gaguejou o pirralho. Vou experimentar.

p.26

OITO

        ESCOLHEU UMA TÚNICA AZUL, escondeu-se no mato e, passados minutos, tornou a mostrar-se vestido como os habitantes de Tatipirun. Descalçou-se e sentiu nos pés a frescura e a maciez da relva. Lá em cima os discos enormes das vitrolas giravam; as cigarras chiavam músicas em cima deles, músicas como ninguém ouviu; sombras redondas espalhavam-se no chão.

        — Este lugar é ótimo, suspirou Raimundo. Mas acho que preciso voltar. Preciso estudar a minha lição de geografia.

        Nisto ouviu uma algazarra e viu através dos ramos a população de Tatipirun correndo para ele:

        — Cadê o menino que veio de Cambacará?

p.27 

RAMOS, Graciliano. Alexandre e outros heróis. São Paulo: Record, 1991.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 8º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 133-7.

 Entendendo o conto:

01 – Como eram fisicamente as pessoas e seres de Tatipirun?

      A maioria dos habitantes se assemelhava ao menino, pois tinha a cabeça pelada e um olho preto e outro azul. Até mesmo o automóvel tinha, no lugar dos faróis, dois olhos parecidos com os do menino e a laranjeira não tinha espinhos.

 

02 – Identifique e copie o trecho em que Raimundo passa de seu lugar de origem para a terra de Tatipirun.

     “Raimundo levantou-se, entrou em casa, atravessou o quintal e ganhou o morro. Aí começaram a surgir as coisas estranhas que há na terra de Tatipirun, coisas que ele tinha adivinhado, mas nunca tinha visto.”

 

03 – Ao chegar àquele novo mundo, Raimundo conhece várias personagens. Como elas agem com o menino? Transcreva um trecho do texto que possa ter como tema uma atitude de gentileza.

      Elas eram dóceis, compreensivas e gentis, ofereciam a ele todo tipo de assistência que contribuísse para o seu bem-estar. Um exemplo disso está no seguinte trecho:

        “[...] Uma laranjeira que estava no meio da estrada afastou-se para deixar a passagem livre e disse toda amável:

        — Faz favor.

        — Não se incomode, agradeceu o pequeno. A senhora é muito educada.”

04 – Releia o que diz a aranha a respeito das roupas de Raimundo:

        “[...] Esses arreios que você usa são medonhos. [...]”.

a)   O que a aranha quis dizer com essa frase?

 Que as roupas eram desagradáveis, não eram nada confortáveis; impediam os movimentos do menino e não o deixavam à vontade.

 b)   O que a frase revela sobre a maneira como viviam os habitantes da terra visitada pelo menino?

 Revela que os habitantes de Tatipirun viviam mais confortavelmente e com maior liberdade e harmonia do que os do lugar de origem de Raimundo.

 c)   Raimundo gostou do estilo de vida daquele lugar? Como você chegou a essa resposta?

 Sim, ele manifestou várias vezes seu encantamento enquanto ia conversando com os habitantes que encontrava. Exemplo possível: “Este lugar é ótimo, suspirou Raimundo.”

 

05 – Releia o diálogo a seguir, retirado do texto:

        “[...] Uma laranjeira que estava no meio da estrada afastou-se para deixar a passagem livre e disse toda amável:

        — Faz favor.

        — Não se incomode, agradeceu o pequeno. A senhora é muito educada.

         — Tudo aqui é assim, respondeu a laranjeira.

        — Está se vendo. A propósito, por que é que a senhora não tem espinhos?

        — Em Tatipirun ninguém usa espinhos, bradou a laranjeira ofendida. Como se faz semelhante pergunta a uma planta decente?”

·        Releia a última frase do diálogo e identifique o trecho em que há emprego de linguagem metafórica. Em seguida, explique a metáfora.

A linguagem metafórica é usada no trecho “ninguém usa espinhos”. A metáfora se dá pela comparação entre o espinho, que é algo que machuca, fere, e as atitudes agressivas dos meninos de onde Raimundo morava. Em Tatipirun as pessoas não eram indelicadas umas com as outras, não havia troca de ofensas.

 06 – Quais eram as reações dos meninos da rua onde Raimundo morava diante da aparência do garoto? Em sua opinião, por que isso ocorria?

      A aparência de Raimundo gerava discriminação, gozarão e maus-tratos por parte dos outros meninos. Provavelmente, isso acontecia porque eles não aceitavam o fato de Raimundo ser diferente deles.

 07 – E em Tatipirun? De que modo a aparência de Raimundo era encarada pelos habitantes desse lugar?

      Em Tatipirun, a aparência de Raimundo era o motivo de sua identificação com os habitantes do lugar, já que os meninos de lá tinham as mesmas características e ele se sentia acolhido por todos.

 08 – Identifique no texto quais personagens estão relacionadas aos universos indicados a seguir:

 a)   Ao mundos dos humanos. 

Os outros meninos.

 b)   Ao universo dos objetos materiais (inanimados que se tornaram animados na história).

 O automóvel.

 c)   Ao mundo animal.

 A aranha.

 d)   Ao mundo vegetal.

 A laranjeira e o tronco.

 09 – De que forma os elementos mágicos estão presentes na terra dos meninos pelados?

      Seres do mundo animal e vegetal e objetos inanimados que adquirem características humanas (agem e conversam com o menino); automóvel, aranha, laranjeira, ladeira; havia discos e vitrolas que giravam no ar, músicas estranhas, túnicas feitas de teia de aranha, cigarras chiando músicas que nunca ninguém ouviu, sombras redondas espalhadas no chão.

10 – Localize no texto e copie um trecho que você considere belo e poético, que lhe chame a atenção pela maneira como o autor seleciona e combina as palavras. Explique por que escolheu esse trecho.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: “Descalçou-se e sentiu nos pés a frescura e a maciez da relva. Lá em cima os discos enormes das vitrolas giravam; as cigarras chiavam músicas em cima deles, músicas como ninguém ouviu; sombras redondas espalhavam-se no chão.”.


ALUNO:____________________________________________________Turma:_____Data:____

A TERRA DOS MENINOS PELADOS – SALA DE LEITURA- Prof:_________________________

RESPONDA:

 

1. Como eram as pessoas em Tatipirun? p.8

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

2. Por que as crianças faziam Bullying com Raimundo?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

3. Por que não era preciso subir as ladeiras em Tatipirun? P.10

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. O que havia no lugar dos faróis nos carros em Tatipirun? P.11

______________________________________________________________________________

 

5. “Em Tatipirun ninguém usa espinhos” Qual o significado da expressão usar espinhos?p.12

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6. Aproximadamente quantos meninos Raimundo encontrou Na beira do Rio das Sete Cabeças? P.16

___________________________________________________________________________

 

7. Qual o nome da cidade em que Raimundo disse que morava? P.17

__________________________________________________________________________

 

8. Por que os meninos de Tatipirun riram de Raimundo? P.19

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

9. O que os moradores de Tatipirun achava da aparência das pessoas de Cambacará? P.p.20

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10. Do que a Aranha chamou as roupas de Raimundo?

___________________________________________________________________________

 

11. Por que Raimundo precisava voltar?

_________________________________________________________________________

 

12. Retire do texto uma frase em que se utilizou a linguagem FICCIONAL, fantasiosa.

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13. Qual o significado das palavras presentes no texto?

a) alvos p.16 _____________________________________

b) calvos p.16  ______________________________________

c) trombudo p.21 __________________________________

d) fazenda p.26 _____________________________________

e) berrou  p.9 _____________________________________

 

13. Qual o título do livro?

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segunda-feira, 17 de junho de 2024

A HISTÓRIA DE CLARICE - A MUDANÇA

 

A HISTÓRIA DE CLARICE - ANNA CLAUDIA RAMOS 

 

CAPÍTULO 1 - A MUDANÇA

         Eram onze e meia da noite quando o telefone tocou. Luciana levou um susto e correu para atender. Uma voz estranha procurava por ela. Parecia aflita.

         Não é possível!?! Como é que isso foi acontecer? E as crianças? Como estão? Como receberam a notícia?

         As crianças estão muito assustadas. Ficaram horas sozinhas até eu descobrir e ir buscá-las. Clarice não fala nada. Está muda desde o acontecido. André chora muito, fica chamando pela mãe o tempo todo. Também, pudera, não é?, onde já se viu Andreia fazer uma coisa dessas...

        Mas como é que ela teve coragem de fazer isso?

        Pois é... não sei o que deu na cabeça da Andreia para fazer isso com as crianças! Mas sabe como é, desde que sua avó morreu as coisas não estavam bem por aqui. E só pioraram quando o Michel foi embora.

        Eu sei, eu sei... Mas a senhora pode deixar que amanhã bem cedo eu tô aí. Eu só não desço agora porque tenho medo de pegar estrada à noite.

        Não se preocupe, venha amanhã, com calma. Pegar essa estrada à noite é muito perigoso. Não vale a pena se arriscar. Ainda mais agora que as crianças vão precisar muito de você.

        E assim, Luciana deixou sua casa na serra e desceu para o Rio de Janeiro numa quarta-feira quente e abafada. A primeira coisa que fez foi procurar Dona Cacilda, agradecer por ter ficado com seus sobrinhos e pedir que ficasse com eles durante o dia. Pelo menos enquanto ela resolvia os problemas e arrumava a papelada para tentar conseguir a guarda das crianças. Luciana imaginou que isso não seria tão complicado, já que Andreia havia deixado uma carta registrada em cartório pedindo que os filhos ficassem com a irmã, sua única parenta viva.

        Nos últimos anos, as crianças tiveram pouco contato com a tia. Luciana e Andreia não se davam muito bem. Luciana chegou a acompanhar o crescimento da sobrinha até os seis anos, época em que André nasceu e ela se mudou de vez para uma cidade pequena.

        O menino tinha visto a tia algumas vezes nesse meio tempo, principalmente nos aniversários da Bisa e nos Natais. Na verdade, a Bisa das crianças ainda era o único elo entre as irmãs. É que Andreia fazia questão de dizer que Luciana não tinha mais nada a ver com sua vida. Muito menos com a educação que ela dava para os filhos. E que se arrependia amargamente de ter deixado a irmã escolher o nome da filha.

        Depois que a Bisa faleceu, elas se separaram completamente. Vez ou outra, quando ia ao Rio, Luciana ligava para Andreia, via os sobrinhos, mas tudo muito rápido, sem grandes afetos. Luciana morria de pena das crianças, mas não podia fazer muita coisa.

        E, sendo assim, quando tia e sobrinhos se encontraram pela primeira vez desde o acontecido, foi tudo muito estranho. Todos estavam sem saber o que falar ou o que fazer. Então, Luciana abraçou as crianças, disse que tudo ia ficar bem, que eles não estavam mais sozinhos, que agora ela estava ali e que os levaria pra morar com ela, que eles não ficariam abandonados de jeito nenhum, mas teriam que se acostumar com uma nova vida, num sitio, cheio de plantas e bichos.

       André, meio que chorando, abraçou bem apertado a tia. Luciana achou que morar num sítio seria muito bom para um menino de quase cinco anos. Talvez ajudasse a não pensar tanto na mãe. Clarice não esboçou nenhuma reação em relação ao sítio. Apenas falou:

        — Ela não me abandonou. Eu já nasci abandonada. E se calou.

        Luciana engoliu em seco aquela frase, afinal, sabia que tinha um fundo de verdade. Mas como era duro escutar essas palavras na boca de uma menina de apenas dez anos de idade. Luciana, ou tia Lu, como André começou a chamá-la, mal sabia que o silêncio de Clarice duraria muito tempo.

        Enfim, após alguns dias, Luciana se despediu de Dona Cacilda e agradeceu pelo que ela tinha feito por seus sobrinhos. Depois colocou tudo que as crianças tinham na mala de seu carro e partiu rumo à serra.  

        Durante a viagem a tia tentou puxar conversa, contou que morava numa casa cheia de plantas e que tinha três cachorros: Ferrugem, Nata e Trovão. André quis saber por que os cachorros tinham esses nomes. Luciana explicou que Ferrugem ganhou este nome por conta de sua cor, que parecia enferrujada. Ele era bem esperto e adorava crianças. E que Nata chegou no sítio vindo não se sabe de onde. Era uma noite de chuva e Luciana acolheu a cadelinha. Naquela mesma noite descobriu que a cachorrinha adorava comer a nata do leite, então começou a chamá-la de Nata, mas o mais engraçado era que ela era uma cadela bem pretinha. Trovão também chegou num dia de chuva, tremia feito vara verde, como se diz lá na roça, e acabou ganhando esse nome porque morria de medo de chuvas e trovoadas. Todo mundo achava que ele se chamava Trovão porque era forte, mas que nada, ele tem medo de qualquer chuvinha. É só começar e chover que ele se esconde debaixo da mesa, da cama, de qual, quer lugar onde se sinta protegido.

        E o Ferrugem, tia?

        Gente o que é que tem o Ferrugem?

        Como é que ele chegou no sítio?

        Ah! o Ferrugem eu ganhei do meu amigo Fábio.

        Depois Luciana contou que nos sítios vizinhos tinha muitas crianças e que lá era bem diferente da cidade grande, dava Pra correr solto, pra brincar sem medo, soltar pipa, tomar banho de rio, andar a cavalo no sítio do Seu Jeremias, que é bem pertinho.

        André estava achando tudo uma beleza, perguntou se ia poder jogar bola no quintal, se ia poder brincar com os meninos, se ia ter escola, se poderia brincar com os cães. Luciana achou graça da euforia do menino, mas no fundo sabia que essa alegria era momentânea, que quando ele se lembrasse da mãe iria chorar e sentir muitas saudades. Pensou que nada seria muito fácil, principalmente para Clarice, que passou a viagem toda muda.

        No fundo, Luciana sabia que não seria fácil para ninguém, nem para ela, que estava acostumada com uma vida calma e sem horários predeterminados, mas que de um dia para o outro acabou ganhando dois sobrinhos para cuidar.  

        Já estavam subindo a serra, quando se lembrou que teria que matricular as crianças na escola. Mas teria tempo. As férias mal tinham começado. Foi em meio a tantos pensamentos que Luciana foi interrompida por André.

       Tia Lu, a Clarice podia ficar muda pra sempre.

        — Que história é essa, André?

        É, tia Lu, ela fica mais legal quando tá muda. Quando ela tava falando, ela me enchia o tempo todo. Ficava me mandando fazer um monte de coisa e brigava comigo toda hora. Ela não gosta de mim.

        Ô, meu querido, o que é isso? A Clarice gosta de você sim, é que ela tá triste, e às vezes, quando a gente tá triste, a gente fica confusa. Daqui a pouco ela tá conversando outra vez e vai ficar tudo bem. Eu prometo.

        Prefiro ela assim, tia Lu, sem falar nada.

        Luciana olhou pelo espelho retrovisor e viu a cara fechada da menina, num misto entre emburrada e triste.

 

1. Qual o nome das personagens?

a)  As crianças __________________________________________

b) A mãe das crianças_____________________________________

c) A tia das crianças_______________________________________

d) O pai das crianças que foi embora__________________________

 

2. Qual a idade das crianças:

a) Clarice ____________________

b) André ____________________

 

 

3. Por que Luciana não teria problemas para conseguir a guarda das crianças?

____________________________________________________________________________________________________________________________

 

4. Como era a relação entre as irmãs?

____________________________________________________________________________________________________________________________

 

5. Qual o nome dos cachorros de Luciana?

______________________________________________________________

 

6. Explique o motivo do nome de cada um dos cachorros.

a) Ferrugem

____________________________________________________________________________________________________________________________

b) Nata

____________________________________________________________________________________________________________________________

c) Trovão

____________________________________________________________________________________________________________________________

 

7. Onde morava cada uma das irmãs?

a) Luciana

_____________________________________________________________

b) Andreia

_____________________________________________________________

 

8. Por que André preferia a irmã muda?

_______________________________________________________________

 

9. Como Clarice se sentia em relação à mãe?

______________________________________________________________

 

10. Como Andre estava imaginando que seria a nova vida?

____________________________________________________________________________________________________________________________

domingo, 16 de junho de 2024

TANTÃS - GÊNIO

 

TANTÃS – GÊNIO

        Naquele sábado, Tutu tinha uma festa importante, sua primeira festa à fantasia.

       Logo de manhã cedo, a avó o levou a uma loja para comprar o traje. Hum, nada de Batmam, de Super-Homem ou Homem-Aranha. Muito comum. Tutu fuçou a loja inteira, mas não achou nada de interessante. Provou uma fantasia de Aladim do gênio da lâmpada, e, depois de pintar um bigode e um cavanhaque com lápis de olho, acabou concordando em levá-la por insistência da avó, que disse que estava ótima.

       — E a lâmpada maravilhosa? — perguntou a avó para a vendedora. — Não vem junto?

       — Não, o que vem agora é uma lata de spray fixador de cabelo para fazer o penteado estilo Aladim.

       Avó e neto voltaram para casa e, no fim da tarde, Lá estava Tutu fantasiado na frente do espelho, Olhando arrependido a blusinha curta e brilhante, as calças bufantes e os sapatos enrolados na ponta. Ia pagar mico, mas agora era tarde para mudar. Bem, o jeito era espetar o cabelo para ficar, pelo menos, um Aladim moderno.

       Apertou a válvula do spray, mas o que saiu de lá não foi o que ele esperava. Tutu arregalou os olhos.

       — Credo, o que é isso? Quem é você?

       — Eu? — perguntou a figurinha gasosa que tinha sido espirrada pelo bico do fixador. — Eu sou o gênio da lata de spray.

       — Gênio da lata de spray? Uau! Que doido! Posso fazer um pedido? — exclamou Tutu animado, já pensando em pedir urna fantasia de viking, coisa que não tinha na loja.

       —Você só pode pedir penteados — foi avisando o gênio com voz frisante. — Tenho penteados de três tipos: trança dread, topete Elvis Presley ou moicano.

       — Penteados?! — exclamou Tutu decepcionado. — Isso. E aí, vai querer ou não?

      Tutu se olhou no espelho. Um penteado bacana podia melhorar o traje.

      — Hum... quero um moicano... vermelho. Aqui, ó — disse apontando o alto da cabeça.

       O gênio apertou o bico do spray e começou a sair de lá uma meleca grossa, brilhosa e esverdeada.

       Ei! Para com isso, gênio! Essa gosma não é um moicano! — gritou Tutu.  

        — Eu sei que não é! Foi mal! Desculpa, cara! Não era pra isso acontecer.    

        A meleca que saiu da lata cobriu-lhe a cabeça, as costas, a barriga, as pernas, arruinando por completo o traje de Aladim.

       — Desculpa! — disse o gênio numa voz pipilante. — Essa é a minha primeira tarefa da escola e eu me dei mal. O professor vai acabar comigo.

       Tutu se olhou no espelho.

       — Uau! Estou parecendo o Abominável Monstro do Esgoto! Genial! Adorei! Ficou demais! Obrigada!

       Tutu foi para a festa feliz da vida, e o pequeno gênio foi embora confuso. Ele tinha errado a lição, mas será que, mesmo errando, ele tinha acertado?

 

 

1. Qual era o pedido que o gênio atendia?

______________________________________________________________

 

2. Por que o gênio não conseguiu atender o pedido do penteado?

_______________________________________________________________

 

3. Escreva o significado das palavras abaixo com as sugestões: convincente, volumosas, que pia,

a) pipilante ______________________________

b) bufantes ______________________________

c) frisante ______________________________

 

4. Qual fantasia tutu pensou em pedir ao gênio?

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TANTÃS – CUCO

 

TANTÃS – CUCO

        Às sete horas da manhã o cuco do relógio do Neuso não saiu da casinha para cantar. Ele aguardou até às oito e viu que, de novo, o passarinho  não saiu. Nem às nove, nem às dez, nem à noite, nem no dia seguinte. Neuso ficou preocupado: o que estaria acontecendo? Falou do problema a Um amigo e ele o aconselhou a levar o relógio para o relojoeiro do bairro, o Xulo, mas ele não quis.

       Neuso não gostava do estilo dele. Sua oficina era uma bagunça.Tinha garfo, lixa de unha, ovos, furadeira, mas o pior era que ele tinha uma porção de passarinhos em gaiolas. Quem garantia que eles não eram cucos de relógios quebrados?

        Não, definitivamente Neuso não confiava em Xulo e não ia deixar seu cuco de estimação nas mãos dele. Tentaria resolver o problema de outro jeito.

        Subiu numa escada, bateu na portinhola do passarinho e aguardou. Nada. Bateu mais urna vez e, de novo, nada. Neuso não ia forçar a porta, preferiu conversar pelo lado de fora mesmo. Disse que estava sentindo falta dele, perguntou gentilmente qual era o problema e se podia ajudar.

       Deu certo, porque, em seguida, às 4 da tarde em ponto, o cuco saiu pela portinhola e ele, que só piava, tossiu e espirrou quatro vezes.

       Ah, então era isso. Ele estava gripado! Pronto, resolvido. O Neuso ia consertar o relógio com xarope!

 

 

1. Por que Neuso não confiava em Xulo?

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2. Retire do texto um fragmento que comprove que Neuso respeitava a privacidade do cuco.

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3. Por que Neuso estava preocupado?

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