POEMA: VENTO PERDIDO / NA CARREIRA DO VENTO
1. Ao pensar no
vento, que lembranças e sentimentos são despertados em você?
2. Para você, o que
seria um “ vento perdido”?
LEITURA
Texto A
Vento perdido
Vem que vem o vento,
Vem que sopra num
momento;
vou, montado num
jumento,
cavalgar o
arco-íris.
Vem que vem cantar,
vem que vem sobrar,
vem que vai voltar,
vem que vai trazer
tudo aquilo que eu
tive
e que o vento
carregou,
quando eu estava
distraído
a olhar pro meu
umbigo,
e o momento já
passou.
Vem que o vento
volta,
devolvendo o meu
sonho;
Pesadelo tão medonho
que eu não quero nem
lembrar.
Vem que vai ventar,
vem que vai voltar,
vento vai ventar,
apagando num momento
todo o
arrependimento
de um vento tão
ventado,
de um momento tão
demais,
de um vento tão
perdido
que não vai ventar
jamais...
BANDEIRA,
Pedro. Cavalgando o arco-íris.
São
Paulo: Moderna, 2002.
TEXTO B
Na carreira do vento
Lá vem o vento
correndo
montado no seu
cavalo.
Nas asas do seu
cavalo
vem um mundo de
vassalos,
vem a desgraça
gemendo,
vem a bonança
sorrindo,
vem um grito
reboando,
reboando, reboando.
Lá vem o vento
correndo
montado no seu
cavalo.
Nas asas do seu
cavalo
vem a tristeza do
mundo,
vem a camisa molhada
de suor dos
desgraçados,
vem um grito
reboando,
reboando, reboando.
Lá vem o vento
correndo
montado no seu
cavalo.
Nas asas do seu
cavalo
vem um mundo
amanhecendo
vem outro mundo
morrendo.
Ligando um mundo a
outro mundo
vem um grito
reboando,
reboando, reboando.
Lá vem o vento
correndo,
os séculos correndo
atrás.
Lá vem um grito de
Deus
e um grito de
Satanás.
Ligando um grito a
outro grito
vem o vento
reboando,
reboando, reboando.
Lá vem o vento
reboando
com seus
cavalos-motores
voando nos aviões.
Lá vem progresso,
poeira,
carreira,
velocidade.
Lá vem nas asas do
vento
o lamento da saudade
reboando, reboando.
Lá vem o vento
correndo
montado no seu
cavalo.
Quem vem agora é um
menino
montado no seu
carneiro.
Parai, ó vento,
deixai
repousar o
cavaleiro.
Mas o vento vem
danado
reboando, reboando.
LIMA,
Jorge de. Poesia completa.
Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. v. 1.
SOBRE O TEXTO A
1. Releia o poema “Vento perdido”.
a) No poema, a palavra vento foi empregada no seu
sentido literal, ou seja, no seu sentido próprio?
b) Em sua opinião, por que o eu lírico fala sobre o
vento?
2. Como o eu lírico se sente em relação às
transformações provocadas pelo vento? Justifique sua resposta com fragmentos do
poema.
3. Na última estrofe, o que o eu lírico quer dizer
com “um momento tão demais”?
4. O que os versos a seguir, da segunda estrofe,
revelam sobre o eu lírico?
quando eu estava distraído
a olhar pro meu umbigo
e o momento já passou
5. Você já viveu a situação de ter notado a
importância de um momento só depois que ele passou?
6. Como você entende o título do poema depois da sua
leitura?
SOBRE O TEXTO B
1. A leitura do poema nos leva a pensar em algumas
imagens. Explique o que as imagens destacadas em cada um dos itens a seguir
sugerem.
a) vem um mundo de vassalos, / vem a desgraça
gemendo, / vem a bonança sorrindo
b) vem a tristeza do mundo, / vem a camisa molhada /
de suor dos desgraçados
c) vem um mundo amanhecendo / vem outro mundo
morrendo.
d) Lá vem o vento correndo, / os séculos correndo
atrás.
e) Lá vem um grito de Deus / e um grito de Satanás.
f) Lá vem nas asas do vento / o lamento da saudade /
reboando, reboando.
g) Quem vem agora é um menino / montado no seu
carneiro / [...] / Parai, ó vento, deixai / repousar o cavaleiro.
2. No final das três primeiras estrofes, o eu lírico
fala de um grito que vem reboando. O que esse grito pode representar?
• Nas três últimas estrofes, a saudade e o vento
tomam o lugar desse grito. Por quê?
3. A palavra
carreira tem vários significados, como: 1) caminho; 2) fileira;3) corrida
veloz; 4) correnteza. Em que sentido ela foi usada no título do poema?
SOBRE OS TEXTOS A E B
1. Observe o modo como o eu lírico de cada um dos poemas se
refere ao vento.
a) A postura deles em relação aos efeitos do vento é a
mesma?
b) Quais são as conclusões a que eles chegam sobre o vento?
2. Nos dois poemas, são construídas imagens para expressar
os sentimentos do eu lírico. Em qual deles essas imagens expressam emoções
pessoais? Em qual deles elas apresentam as mudanças que ocorrem no mundo?
DE OLHO NA CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS
1. Observe o seguinte fragmento do poema “Vento perdido”.
Vem que vem cantar,
vem que vem sobrar,
vem que vai voltar,
vem que vai trazer
a) Considerando o contexto do poema, explique qual é o
efeito produzido pela
repetição da expressão “vem que vem” no início dos versos.
b) Que imagens vêm à sua cabeça quando você lê somente esses
versos?
2. Ao final das estrofes do poema de Jorge de Lima é
repetida a palavra reboando.
Após consultar o glossário, escreva qual é a relação
existente, nesse poema,
entre a palavra reboando e o vento.
• Em sua opinião, essa repetição foi intencional? Justifique
sua resposta.
3. Releia os seguintes versos do poema de Jorge de Lima:
“Nas asas do seu cavalo
vem um mundo amanhecendo
vem outro mundo morrendo.”
“Lá vem o vento correndo,
os séculos correndo atrás.
Lá vem um grito de Deus
e um grito de Satanás.”
a) Nesses versos, o poeta trabalha com ideias opostas.
Escreva as palavras que representam essa oposição.
O recurso estilístico por meio do qual se aproximam ideias
de sentidos opostos é chamado de antítese. Pode haver antítese entre palavras,
pensamentos, imagens e, de forma mais complexa, entre frases e orações.
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b) Transcreva dos poemas outros pares de palavras que
expressem antíteses.
c) No poema “Na carreira do vento”, que trata de mudanças
rápidas, que impressões o uso de antíteses pode causar na leitura?
4. No poema de Jorge de Lima, no verso “vem um mundo
amanhecendo”, o verbo amanhecer foi usado no sentido de “ter início o dia”?
Explique.
De acordo com o contexto e a intenção de quem escreve, as
palavras podem ser empregadas em sentido denotativo (ou literal) ou em
sentido conotativo (ou figurado).
O emprego de palavras em sentido conotativo é um recurso
para a construção de imagens, principalmente em poemas.
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5. Nos dois poemas, alguns versos sugerem imagens por meio
de palavras. Qual dessas imagens mais o impressionou? Por quê?
Um dos recursos da poesia é trabalhar com imagens criadas
por meio de palavras.
Às vezes, a imagem é uma cena objetiva, real. Outras
vezes, é uma criação poética de
algo idealizado, possível apenas na imaginação.
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6. Do modo como é retratado nos dois poemas, o vento
apresenta características
de um ser humano.
a) Aponte um exemplo desse recurso em cada um dos poemas.
A personificação ou prosopopeia é uma figura de linguagem
por meio da qual características humanas são atribuídas a seres não humanos ou
inanimados (animais, objetos, elementos da natureza etc.).
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b) Que sentido a personificação do vento dá aos poemas
lidos?
7. A comparação é um dos recursos usados para a criação de
imagens.
Consiste em aproximar duas ideias, dois seres ou dois
objetos com
base em uma característica que lhes seja comum. Das frases a
seguir,
transcreva aquela em que ocorre uma comparação.
I. Um novo dia amanhece.
II. Vem vindo um mundo novo como o amanhecer de um novo dia.
III. “vem um mundo amanhecendo”.
Na atividade 7, a primeira e a segunda frases são enunciados
independentes, em que se atribui uma mesma característica (novo) a seres
diferentes (respectivamente, ao dia e ao mundo).
Na terceira frase, o enunciado atribui uma característica a
um ser em relação à mesma característica em outro ser. Nele há uma comparação
explícita (novo como o amanhecer) entre mundo e dia.
Quando, por meio de uma relação de semelhança, para se
referir a um objeto ou a uma qualidade dele, usa-se uma palavra que se refere
a outro objeto ou qualidade, ocorre a metáfora.
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8. Nos versos “Nas asas do seu cavalo” e “Lá vem nas asas do
vento”, a palavra asas está empregada em seu sentido literal?
a) Que sentido ela pode emprestar a esses versos?
b) Qual é a relação desse sentido com as ideias sugeridas
por vento e cavalo?
A metáfora é uma criação subjetiva, isto é, depende das
intenções e da imaginação do autor. Às vezes, o sentido dela é mais evidente.
Mas há metáforas sobre as quais podemos fazer muitas suposições.
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A metáfora é quase uma comparação. Quando o eu lírico, no
primeiro poema, diz “eu estava distraído / a olhar pro meu umbigo”, ele faz
como que uma comparação entre não ter consciência do momento vivido e estar
distraído olhando para o próprio umbigo.
A metáfora não é um recurso exclusivo da literatura.
Ocorre também na linguagem cotidiana, em expressões
populares e em gírias. Exemplo:
Ela é fera em Matemática!
Está um gelo lá fora.
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9. Releia os versos de “Na carreira do vento”.
vem a camisa molhada
de suor dos desgraçados
a) A que se pode associar “camisa molhada de suor”?
b) Como podemos fazer essa associação?
Metonímia é a figura de linguagem em que se emprega um
termo em lugar de outro, havendo uma relação objetiva de afinidades entre o
termo substituído e o termo substituto.
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Na metonímia, diferentemente da metáfora, associam-se dois
elementos que guardam entre si uma relação direta, objetiva. Veja um exemplo
nestes versos de um poema de Fernando Pessoa.
Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando
PESSOA, Fernando. Cancioneiro.
Domínio público.
O termo azul (cor) está empregado no lugar de céu, uma vez
que existe uma relação direta, objetiva, entre ambos.
A metonímia é um recurso de linguagem muito usado no dia a
dia. Há vários tipos de metonímia. Veja os mais comuns.
• A parte pelo todo: Comprou dez cabeças de gado. (cabeças
está no lugar do animal)
• O continente pelo conteúdo: Estava com muita fome: comi
dois pratos cheios. (pratos está no lugar de comida)
• O efeito pela causa: “De repente do riso fez-se o pranto”
(riso e pranto, no verso de Vinicius de Moraes, podem ser lidos respectivamente
como alegria e tristeza)
• A causa pelo efeito: Sou alérgica a gatos. (a alergia vem
do pelo do gato)
• O autor pela obra: Já li Machado de Assis. (o nome do
autor é uma referência aos seus livros)
10. Leia este trecho de um poema de Olavo Bilac.
A alvorada do amor
Rosas te brotarão da boca, se cantares!
Rios te correrão dos olhos, se chorares!
BILAC, Olavo. In: Olavo Bilac:
obra reunida.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1996. (Fragmento).
a) A que imagem o eu lírico associa o canto da amada?
b) E as lágrimas da amada, a que imagem estão associadas?
c) Como o leitor pode interpretar esse canto e esse choro a
partir das imagens criadas pelo eu lírico?
d) Que características das rosas e dos rios podem ser
atribuídas ao canto e ao choro?
e) Há exagero nessas imagens propostas pelo eu lírico?
f) Releia o título do poema. Para o eu lírico, as associações
que ele faz são próprias do sentimento amoroso em qualquer tempo?
Hipérbole é a figura de linguagem que ocorre quando
expressamos uma ideia de modo exagerado.
A hipérbole ocorre frequentemente na linguagem cotidiana,
em expressões como:
• Estou morta de fome!
• Já te falei isso mais de um milhão de vezes!
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GABARITO:
1. Resposta pessoal.
2. Resposta pessoal.
Sobre o texto A
1. a) Não foi empregada no seu
sentido literal: o vento está relacionado à passagem do tempo.
b) Resposta pessoal.
2. Arrependido. Por não ter
aproveitado a vida e tudo ter sido levado pelo vento.
3. Resposta pessoal.
4. Que o eu lírico se preocupava
mais consigo mesmo do que com os acontecimentos ao seu redor e, por isso, não aproveitava
a vida.
5 e 6. Respostas pessoais.
Sobre o texto B
1. a) Os vassalos podem representar
a escravidão ou a servidão – gemem em desgraça e sentem a esperança de uma
“bonança”; ou seja, do fim do seu sofrimento.
b) O eu lírico pode estar falando de
ter de lutar para garantir a sobrevivência.
c) Referência aos processos
relacionados às transformações históricas.
d) O tempo corre tão rápido que
deixa tudo para trás.
e) Uma alusão ao fato de que as
mudanças trazidas pelo vento ora são construtivas, ora destrutivas.
f) A saudade dos tempos anteriores
ao progresso, da vida em menor velocidade, com menos poeira etc.
g) O menino representa uma nova
época, que também será levada pelo tempo.
2. Ele pode representar o sofrimento
da servidão, as mudanças, os embates entre o bem e o mal e o desejo de sair desse
sofrimento.
• O lamento da saudade toma o lugar
do sofrimento anterior, porque até então se tratava de um passado mais remoto;
a saudade que se sente é de um passado recente.
O vento toma o lugar do grito, do
impulso por mudar, porque as transformações tornam-se fortes, independentes, irrefreáveis.
3. No título do poema, carreira tem
o sentido de “corrida veloz”. Aceitar outra leitura, desde que justificada.
Sobre os textos A e B
1. a) Não.
b) Sugestão: para o eu lírico do
primeiro poema, o vento apresenta uma oportunidade de reflexão sobre a vida;
para o eu lírico do segundo poema, o vento tem ação implacável sobre a vida das
pessoas.
2. No primeiro poema, as imagens
tratam de emoções pessoais; no segundo, abordam as mudanças que ocorrem no
mundo.
De olho na construção dos sentidos
1. a) Por meio da repetição, cria-se
a ideia de que a ação do vento é certa, ninguém pode detê-lo.
b) Resposta pessoal.
2. Considerando o significado do
verbo reboar, a forma nominal reboando explicita uma característica do vento,
indicando que ele soprava com muita intensidade, produzindo eco.
• A repetição da palavra reboando,
cria a ideia de continuidade, mostrando que as mudanças provocadas pelo vento
não cessam, vão se sucedendo e se acumulando.
Essa repetição lembra também o
galope de um cavalo e marca o ritmo do poema.
3. a) As palavras que apresentam a
ideia de oposição nas estrofes são: amanhecendo e morrendo; Deus e Satanás.
b) No texto A: sonho/pesadelo; vai
trazer/carregou. No texto B: desgraça/bonança; gemendo/sorrindo; amanhecendo/ morrendo.
c) o uso de antíteses contribui para
a impressão (ou efeito de sentido) de alternâncias, de mudanças rápidas, de
movimento, de velocidade.
4. Não; o verbo amanhecer foi usado
com o significado de “nascer”.Com esse significado,
amanhecendo opõe-se a morrendo, do
verso seguinte, confirmando o jogo de oposições no poema.
5. Respostas pessoais.
6. a) Possibilidades: no primeiro
poema: cantar, trazer, carregar, devolver (o sonho) e as características
“ventado” e “perdido”; no segundo poema: correr, montar, voar em aviões, parar,
deixar (repousar) e as características com cavalos-motores” e “danado”.
b) Sugestão de resposta: A
personificação atribui ao vento a responsabilidade pelas mudanças, como se as
pessoas não tivessem o controle delas.
7. Vem vindo um mundo novo como o
amanhecer de um novo dia.
8. Não, não está empregada em
sentido literal.
a) Asas, lembrando “voo”, empresta
aos versos o sentido de algo muito veloz, aéreo, difícil de se apanhar.
b) Tanto vento como cavalo expressam
a velocidade do tempo, que não se pode apanhar, deter.
9.
a) A trabalho.
b) O suor é provocado pelo trabalho
braçal, por exemplo. Lembrar que a palavra suor,
em sentido figurado, significa
“trabalho”: Comprei esta casa com o meu suor.
10. a) O canto da amada é associado
à imagem de rosas brotando de sua boca.
b) Estão associadas à imagem de
rios.
c) As imagens sugerem um canto
suave, delicado, bonito, encantador, e um choro farto, intenso, muito
emocionado.
d) A beleza das rosas e a suavidade
e delicadeza de suas pétalas podem ser atribuídas ao canto, enquanto o aspecto
líquido e de água que corre dos rios pode ser associado ao choro.
e) Sim, particularmente no segundo
verso, no qual há uma hipérbole, empregada com frequência.
f) As associações feitas pelo eu lírico
são próprias da “alvorada” do sentimento amoroso, ou seja, quando ainda é novo.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Araribá mais: interdisciplinar: língua portuguesa e arte:
manual do professor / organizadora Editora Moderna; obra coletiva concebida,
desenvolvida e produzida pela Editora Moderna; editora responsável Marisa
Martins Sanchez. – 1. ed. – São Paulo : Moderna, 2018.P165-171.