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sexta-feira, 20 de novembro de 2020

POEMA: VENTO PERDIDO, NA CARREIRA DO VENTO FIGURAS DE LINGUAGEM GABARITO

 
POEMA: VENTO PERDIDO / NA CARREIRA DO VENTO
 
1. Ao pensar no vento, que lembranças e sentimentos são despertados em você?
2. Para você, o que seria um “ vento perdido”?
 
LEITURA
Texto A
Vento perdido
 
Vem que vem o vento,
Vem que sopra num momento;
vou, montado num jumento,
cavalgar o arco-íris.
 
Vem que vem cantar,
vem que vem sobrar,
vem que vai voltar,
vem que vai trazer
tudo aquilo que eu tive
e que o vento carregou,
quando eu estava distraído
a olhar pro meu umbigo,
e o momento já passou.
 
Vem que o vento volta,
devolvendo o meu sonho;
Pesadelo tão medonho
que eu não quero nem lembrar.
 
Vem que vai ventar,
vem que vai voltar,
vento vai ventar,
apagando num momento
todo o arrependimento
de um vento tão ventado,
de um momento tão demais,
de um vento tão perdido
que não vai ventar jamais...
 
BANDEIRA, Pedro. Cavalgando o arco-íris.
São Paulo: Moderna, 2002.
 
TEXTO B
Na carreira do vento
 
Lá vem o vento correndo
montado no seu cavalo.
Nas asas do seu cavalo
vem um mundo de vassalos,
vem a desgraça gemendo,
vem a bonança sorrindo,
vem um grito reboando,
reboando, reboando.
 
Lá vem o vento correndo
montado no seu cavalo.
Nas asas do seu cavalo
vem a tristeza do mundo,
vem a camisa molhada
de suor dos desgraçados,
vem um grito reboando,
reboando, reboando.
 
Lá vem o vento correndo
montado no seu cavalo.
Nas asas do seu cavalo
vem um mundo amanhecendo
vem outro mundo morrendo.
Ligando um mundo a outro mundo
vem um grito reboando,
reboando, reboando.
 
Lá vem o vento correndo,
os séculos correndo atrás.
Lá vem um grito de Deus
e um grito de Satanás.
Ligando um grito a outro grito
vem o vento reboando,
reboando, reboando.
 
Lá vem o vento reboando
com seus cavalos-motores
voando nos aviões.
Lá vem progresso, poeira,
carreira, velocidade.
Lá vem nas asas do vento
o lamento da saudade
reboando, reboando.
 
Lá vem o vento correndo
montado no seu cavalo.
Quem vem agora é um menino
montado no seu carneiro.
Parai, ó vento, deixai
repousar o cavaleiro.
Mas o vento vem danado
reboando, reboando.
 
LIMA, Jorge de. Poesia completa.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. v. 1.
 
 
 
SOBRE O TEXTO A
1. Releia o poema “Vento perdido”.
a) No poema, a palavra vento foi empregada no seu sentido literal, ou seja, no seu sentido próprio?
b) Em sua opinião, por que o eu lírico fala sobre o vento?
 
2. Como o eu lírico se sente em relação às transformações provocadas pelo vento? Justifique sua resposta com fragmentos do poema.
 
3. Na última estrofe, o que o eu lírico quer dizer com “um momento tão demais”?
4. O que os versos a seguir, da segunda estrofe, revelam sobre o eu lírico?
quando eu estava distraído
a olhar pro meu umbigo
e o momento já passou
 
5. Você já viveu a situação de ter notado a importância de um momento só depois que ele passou?
 
6. Como você entende o título do poema depois da sua leitura?
 
SOBRE O TEXTO B
1. A leitura do poema nos leva a pensar em algumas imagens. Explique o que as imagens destacadas em cada um dos itens a seguir sugerem.
a) vem um mundo de vassalos, / vem a desgraça gemendo, / vem a bonança sorrindo
b) vem a tristeza do mundo, / vem a camisa molhada / de suor dos desgraçados
c) vem um mundo amanhecendo / vem outro mundo morrendo.
d) Lá vem o vento correndo, / os séculos correndo atrás.
e) Lá vem um grito de Deus / e um grito de Satanás.
f) Lá vem nas asas do vento / o lamento da saudade / reboando, reboando.
g) Quem vem agora é um menino / montado no seu carneiro / [...] / Parai, ó vento, deixai / repousar o cavaleiro.
 
2. No final das três primeiras estrofes, o eu lírico fala de um grito que vem reboando. O que esse grito pode representar?
Nas três últimas estrofes, a saudade e o vento tomam o lugar desse grito. Por quê?
 
3. A palavra carreira tem vários significados, como: 1) caminho; 2) fileira;3) corrida veloz; 4) correnteza. Em que sentido ela foi usada no título do poema?
 
SOBRE OS TEXTOS A E B
1. Observe o modo como o eu lírico de cada um dos poemas se refere ao vento.
a) A postura deles em relação aos efeitos do vento é a mesma?
b) Quais são as conclusões a que eles chegam sobre o vento?
 
2. Nos dois poemas, são construídas imagens para expressar os sentimentos do eu lírico. Em qual deles essas imagens expressam emoções pessoais? Em qual deles elas apresentam as mudanças que ocorrem no mundo?
 
DE OLHO NA CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS
1. Observe o seguinte fragmento do poema “Vento perdido”.
Vem que vem cantar,
vem que vem sobrar,
vem que vai voltar,
vem que vai trazer
a) Considerando o contexto do poema, explique qual é o efeito produzido pela
repetição da expressão “vem que vem” no início dos versos.
b) Que imagens vêm à sua cabeça quando você lê somente esses versos?
 
2. Ao final das estrofes do poema de Jorge de Lima é repetida a palavra reboando.
Após consultar o glossário, escreva qual é a relação existente, nesse poema,
entre a palavra reboando e o vento.
• Em sua opinião, essa repetição foi intencional? Justifique sua resposta.
 
3. Releia os seguintes versos do poema de Jorge de Lima:
“Nas asas do seu cavalo
vem um mundo amanhecendo
vem outro mundo morrendo.”
“Lá vem o vento correndo,
os séculos correndo atrás.
Lá vem um grito de Deus
e um grito de Satanás.”
 
a) Nesses versos, o poeta trabalha com ideias opostas. Escreva as palavras que representam essa oposição.

O recurso estilístico por meio do qual se aproximam ideias de sentidos opostos é chamado de antítese. Pode haver antítese entre palavras, pensamentos, imagens e, de forma mais complexa, entre frases e orações.

 
b) Transcreva dos poemas outros pares de palavras que expressem antíteses.
c) No poema “Na carreira do vento”, que trata de mudanças rápidas, que impressões o uso de antíteses pode causar na leitura?
 
4. No poema de Jorge de Lima, no verso “vem um mundo amanhecendo”, o verbo amanhecer foi usado no sentido de “ter início o dia”? Explique.
 

De acordo com o contexto e a intenção de quem escreve, as palavras podem ser empregadas em sentido denotativo (ou literal) ou em sentido conotativo (ou figurado).

O emprego de palavras em sentido conotativo é um recurso para a construção de imagens, principalmente em poemas.

 
5. Nos dois poemas, alguns versos sugerem imagens por meio de palavras. Qual dessas imagens mais o impressionou? Por quê?

Um dos recursos da poesia é trabalhar com imagens criadas por meio de palavras.

Às vezes, a imagem é uma cena objetiva, real. Outras vezes, é uma criação poética de

algo idealizado, possível apenas na imaginação.

 
6. Do modo como é retratado nos dois poemas, o vento apresenta características
de um ser humano.
a) Aponte um exemplo desse recurso em cada um dos poemas.
 

A personificação ou prosopopeia é uma figura de linguagem por meio da qual características humanas são atribuídas a seres não humanos ou inanimados (animais, objetos, elementos da natureza etc.).

 
b) Que sentido a personificação do vento dá aos poemas lidos?
7. A comparação é um dos recursos usados para a criação de imagens.
Consiste em aproximar duas ideias, dois seres ou dois objetos com
base em uma característica que lhes seja comum. Das frases a seguir,
transcreva aquela em que ocorre uma comparação.
I. Um novo dia amanhece.
II. Vem vindo um mundo novo como o amanhecer de um novo dia.
III. “vem um mundo amanhecendo”.
 
Na atividade 7, a primeira e a segunda frases são enunciados independentes, em que se atribui uma mesma característica (novo) a seres diferentes (respectivamente, ao dia e ao mundo).
Na terceira frase, o enunciado atribui uma característica a um ser em relação à mesma característica em outro ser. Nele há uma comparação explícita (novo como o amanhecer) entre mundo e dia.
 

Quando, por meio de uma relação de semelhança, para se referir a um objeto ou a uma qualidade dele, usa-se uma palavra que se refere a outro objeto ou qualidade, ocorre a metáfora.

 
8. Nos versos “Nas asas do seu cavalo” e “Lá vem nas asas do vento”, a palavra asas está empregada em seu sentido literal?
a) Que sentido ela pode emprestar a esses versos?
b) Qual é a relação desse sentido com as ideias sugeridas por vento e cavalo?
 

A metáfora é uma criação subjetiva, isto é, depende das intenções e da imaginação do autor. Às vezes, o sentido dela é mais evidente. Mas há metáforas sobre as quais podemos fazer muitas suposições.

 
A metáfora é quase uma comparação. Quando o eu lírico, no primeiro poema, diz “eu estava distraído / a olhar pro meu umbigo”, ele faz como que uma comparação entre não ter consciência do momento vivido e estar distraído olhando para o próprio umbigo.
 

A metáfora não é um recurso exclusivo da literatura.

Ocorre também na linguagem cotidiana, em expressões populares e em gírias. Exemplo:

Ela é fera em Matemática!

Está um gelo lá fora.

 
9. Releia os versos de “Na carreira do vento”.
vem a camisa molhada
de suor dos desgraçados
a) A que se pode associar “camisa molhada de suor”?
b) Como podemos fazer essa associação?
 

Metonímia é a figura de linguagem em que se emprega um termo em lugar de outro, havendo uma relação objetiva de afinidades entre o termo substituído e o termo substituto.

 
Na metonímia, diferentemente da metáfora, associam-se dois elementos que guardam entre si uma relação direta, objetiva. Veja um exemplo nestes versos de um poema de Fernando Pessoa.
Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando
PESSOA, Fernando. Cancioneiro. Domínio público.
 
O termo azul (cor) está empregado no lugar de céu, uma vez que existe uma relação direta, objetiva, entre ambos.
 
A metonímia é um recurso de linguagem muito usado no dia a dia. Há vários tipos de metonímia. Veja os mais comuns.
• A parte pelo todo: Comprou dez cabeças de gado. (cabeças está no lugar do animal)
• O continente pelo conteúdo: Estava com muita fome: comi dois pratos cheios. (pratos está no lugar de comida)
• O efeito pela causa: “De repente do riso fez-se o pranto” (riso e pranto, no verso de Vinicius de Moraes, podem ser lidos respectivamente como alegria e tristeza)
• A causa pelo efeito: Sou alérgica a gatos. (a alergia vem do pelo do gato)
• O autor pela obra: Já li Machado de Assis. (o nome do autor é uma referência aos seus livros)
 
10. Leia este trecho de um poema de Olavo Bilac.
A alvorada do amor
Rosas te brotarão da boca, se cantares!
Rios te correrão dos olhos, se chorares!
BILAC, Olavo. In: Olavo Bilac: obra reunida.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. (Fragmento).
 
a) A que imagem o eu lírico associa o canto da amada?
b) E as lágrimas da amada, a que imagem estão associadas?
c) Como o leitor pode interpretar esse canto e esse choro a partir das imagens criadas pelo eu lírico?
d) Que características das rosas e dos rios podem ser atribuídas ao canto e ao choro?
e) Há exagero nessas imagens propostas pelo eu lírico?
f) Releia o título do poema. Para o eu lírico, as associações que ele faz são próprias do sentimento amoroso em qualquer tempo?
 

Hipérbole é a figura de linguagem que ocorre quando expressamos uma ideia de modo exagerado.

A hipérbole ocorre frequentemente na linguagem cotidiana, em expressões como:

• Estou morta de fome!

• Já te falei isso mais de um milhão de vezes!

 
GABARITO:
1. Resposta pessoal.
2. Resposta pessoal.
Sobre o texto A
 
1. a) Não foi empregada no seu sentido literal: o vento está relacionado à passagem do tempo.
b) Resposta pessoal.
 
2. Arrependido. Por não ter aproveitado a vida e tudo ter sido levado pelo vento.
 
3. Resposta pessoal.
4. Que o eu lírico se preocupava mais consigo mesmo do que com os acontecimentos ao seu redor e, por isso, não aproveitava a vida.
 
5 e 6. Respostas pessoais.
 
Sobre o texto B
1. a) Os vassalos podem representar a escravidão ou a servidão – gemem em desgraça e sentem a esperança de uma “bonança”; ou seja, do fim do seu sofrimento.
b) O eu lírico pode estar falando de ter de lutar para garantir a sobrevivência.
c) Referência aos processos relacionados às transformações históricas.
d) O tempo corre tão rápido que deixa tudo para trás.
e) Uma alusão ao fato de que as mudanças trazidas pelo vento ora são construtivas, ora destrutivas.
f) A saudade dos tempos anteriores ao progresso, da vida em menor velocidade, com menos poeira etc.
g) O menino representa uma nova época, que também será levada pelo tempo.
 
2. Ele pode representar o sofrimento da servidão, as mudanças, os embates entre o bem e o mal e o desejo de sair desse sofrimento.
• O lamento da saudade toma o lugar do sofrimento anterior, porque até então se tratava de um passado mais remoto; a saudade que se sente é de um passado recente.
O vento toma o lugar do grito, do impulso por mudar, porque as transformações tornam-se fortes, independentes, irrefreáveis.
 
3. No título do poema, carreira tem o sentido de “corrida veloz”. Aceitar outra leitura, desde que justificada.
 
Sobre os textos A e B
1. a) Não.
b) Sugestão: para o eu lírico do primeiro poema, o vento apresenta uma oportunidade de reflexão sobre a vida; para o eu lírico do segundo poema, o vento tem ação implacável sobre a vida das pessoas.
 
2. No primeiro poema, as imagens tratam de emoções pessoais; no segundo, abordam as mudanças que ocorrem no mundo.
 
De olho na construção dos sentidos
1. a) Por meio da repetição, cria-se a ideia de que a ação do vento é certa, ninguém pode detê-lo.
b) Resposta pessoal.
 
2. Considerando o significado do verbo reboar, a forma nominal reboando explicita uma característica do vento, indicando que ele soprava com muita intensidade, produzindo eco.
• A repetição da palavra reboando, cria a ideia de continuidade, mostrando que as mudanças provocadas pelo vento não cessam, vão se sucedendo e se acumulando.
Essa repetição lembra também o galope de um cavalo e marca o ritmo do poema.
 
3. a) As palavras que apresentam a ideia de oposição nas estrofes são: amanhecendo e morrendo; Deus e Satanás.
b) No texto A: sonho/pesadelo; vai trazer/carregou. No texto B: desgraça/bonança; gemendo/sorrindo; amanhecendo/ morrendo.
c) o uso de antíteses contribui para a impressão (ou efeito de sentido) de alternâncias, de mudanças rápidas, de movimento, de velocidade.
 
4. Não; o verbo amanhecer foi usado com o significado de “nascer”.Com esse significado,
amanhecendo opõe-se a morrendo, do verso seguinte, confirmando o jogo de oposições no poema.
 
5. Respostas pessoais.
6. a) Possibilidades: no primeiro poema: cantar, trazer, carregar, devolver (o sonho) e as características “ventado” e “perdido”; no segundo poema: correr, montar, voar em aviões, parar, deixar (repousar) e as características com cavalos-motores” e “danado”.
 
b) Sugestão de resposta: A personificação atribui ao vento a responsabilidade pelas mudanças, como se as pessoas não tivessem o controle delas.
 
7. Vem vindo um mundo novo como o amanhecer de um novo dia.
 
8. Não, não está empregada em sentido literal.
a) Asas, lembrando “voo”, empresta aos versos o sentido de algo muito veloz, aéreo, difícil de se apanhar.
b) Tanto vento como cavalo expressam a velocidade do tempo, que não se pode apanhar, deter.
 
9.
a) A trabalho.
b) O suor é provocado pelo trabalho braçal, por exemplo. Lembrar que a palavra suor,
em sentido figurado, significa “trabalho”: Comprei esta casa com o meu suor.
 
10. a) O canto da amada é associado à imagem de rosas brotando de sua boca.
b) Estão associadas à imagem de rios.
c) As imagens sugerem um canto suave, delicado, bonito, encantador, e um choro farto, intenso, muito emocionado.
d) A beleza das rosas e a suavidade e delicadeza de suas pétalas podem ser atribuídas ao canto, enquanto o aspecto líquido e de água que corre dos rios pode ser associado ao choro.
e) Sim, particularmente no segundo verso, no qual há uma hipérbole, empregada com frequência.
f) As associações feitas pelo eu lírico são próprias da “alvorada” do sentimento amoroso, ou seja, quando ainda é novo.
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Araribá mais: interdisciplinar: língua portuguesa e arte: manual do professor / organizadora Editora Moderna; obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna; editora responsável Marisa Martins Sanchez. – 1. ed. – São Paulo : Moderna, 2018.P165-171.

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