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terça-feira, 23 de junho de 2020

CONTO: HISTÓRIA PARA O REI 6º ANO


Histórias para o Rei
       Nunca podia imaginar que fosse tão agradável a função de contar histórias, para a qual fui nomeado por decreto do Rei. A nomeação colheu-me de surpresa, pois jamais exercitara dotes de imaginação, e até me exprimo com certa dificuldade verbal. Mas bastou que o rei confiasse em mim para que as histórias me jorrassem da boca à maneira de água corrente. Nem carecia inventá-las. Inventavam-se a si mesmas.
       Este prazer durou seis meses. Um dia, a Rainha foi falar ao Rei que eu estava exagerando. Contava tantas histórias que não havia tempo para apreciá-las, e mesmo para ouvi-las. O Rei, que julgava minha facúndia uma qualidade, passou a considerá-la um defeito, e ordenou que eu só contasse meia história por dia, e descansasse aos domingos. Fiquei triste, pois não sabia inventar meia história. Minha insuficiência desagradou, e fui substituído por um mudo, que narra por meio de sinais, e arranca os maiores aplausos.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Histórias para o Rei. Rio de Janeiro: Record, 1999.

1 – Entendendo elementos contextuais.
a) Quem é o autor do texto?
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b) Quando o texto foi escrito?
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c) Para quem você acha que o texto foi escrito?
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d) Que outras pessoas poderiam ler um texto como este?
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e) Para que você acha que o texto foi escrito? Ou seja, qual é o objetivo do texto?
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f) Onde podemos encontrar um texto como este?
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g) Onde este texto foi publicado? É possível reconhecer isto no texto?
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2 – Entendendo a organização da história e como ela pode ser escrita.
1) Leia o texto novamente e faça as atividades abaixo.
a) Quantos parágrafos há no texto?
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b) Que tipo de informações aparecem em cada parágrafo?
1º. Parágrafo:
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2º. Parágrafo:
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c) Quem participa da história, ou, a quem a história se refere?
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d) A história é contada por alguém? Quem?
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e) Onde a história acontece?
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f) Quando a história acontece?
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g) Que palavras mostram o tempo em que acontece a história?
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h) Como a história se inicia?
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i) Qual é a situação problema da história?
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j) Como a história termina ou como o personagem resolve o problema na história?
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2) Volte ao texto e relacione as informações de acordo com cada parágrafo:
1º. Parágrafo.
2º. Parágrafo
( ) A rainha reclamou ao rei que o contador de historias estava exagerando e este foi substituído por um mudo.
( ) O personagem é convidado a narrar histórias para o rei.
( ) A confiança do rei fez com que a personagem desenvolvesse a habilidade de contar histórias.
( ) O personagem ficou muito triste ao ver sua qualidade se tornar um defeito.

3) Você saberia dizer por que a palavra “pois” está sendo usada no 1º e 2º parágrafos  do texto? Ela está sendo usada para fazer o que no texto?
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4) E qual o sentido da palavra “mas” no 1º parágrafo? Por que ela está sendo usada ali?
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5) Você acha que a história está sendo contada em um tempo presente, passado ou futuro?
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6) Como podemos reconhecer isto? Identifique cinco palavras que podem nos mostrar em que tempo a história está sendo contada.
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7) Vamos identificar quais os tempos verbais que aparecem na história para melhor entendermos em que tempo ela é contada. Identifique no texto e copie abaixo os verbos que pertencem a cada tempo diferente:
TEMPO PRESENTE
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TEMPO PASSADO
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OUTROS
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8) Como podemos identificar as ações ocorridas em uma história? Pelos verbos, pois a maioria dos verbos são palavras que indicam ação nos textos. Para relacionarmos as ações acontecidas na história às personagens, identifique as palavras correspondentes às ações de cada personagem:
a) O narrador
(1ª. Pessoa do singular, eu)
Ação:
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b) O Rei (3ª. Pessoa do singular)
Ação:
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c) A Rainha (3ª. Pessoa do singular)
Ação:
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d) O mudo (3ª. Pessoa do singular)
Ação:
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9) Quais outras palavras fazem uma referência aos personagens?
a) O narrador (1ª. Pessoa do singular, eu)
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b) O Rei (3ª. Pessoa do singular)
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c) A Rainha (3ª. Pessoa do singular)
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d) O mudo (3ª. Pessoa do singular)
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10) Qual voz aparece mais no texto? Por quê?
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11) Você concorda com o desfecho da história? Por quê?
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12) Se você pudesse daria um outro fim à história? Por quê?
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13) Que outro fim você daria à história? Justifique sua opinião.
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PARTE B - ENTENDENDO A ORGANIZAÇÃO TEXTUAL DO GÊNERO CONTO



1- Leia o texto abaixo, observando a estrutura e os elementos narrativos deste pequeno conto e responda as questões que se seguem.



1) Quanto ao personagem que conta a história, trata-se de um narrador-personagem, que participa da história, ou de um narrador-observador (onisciente), que conta o que se passou com outros personagens? Identifique uma frase que exemplifique isto.
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2) Quem são os personagens?
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3) Que palavras ou expressões indicam quando aconteceu a história?
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4) Em que lugar os fatos aconteceram?
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5) Qual é a situação inicial da história?
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6) Em que momento essa situação se complica? Por quê?
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7) O que deixou o personagem principal triste?
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8) Como o narrador termina sua história?
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3 – Recontando a história.
1) Se você pudesse recontar esta história, como você faria para que ela tivesse uma linguagem mais atual? Leia cada parágrafo e reescreva-o abaixo.

     Nunca podia imaginar que fosse tão agradável a função de contar histórias, para a qual fui nomeado por decreto do Rei. A nomeação colheu-me de surpresa, pois jamais exercitara dotes de imaginação, e até me exprimo com certa dificuldade verbal. Mas bastou que o rei confiasse em mim para que as histórias me jorrassem da boca à maneira de água corrente. Nem carecia inventá-las. Inventavam-se a si mesmas.
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       Este prazer durou seis meses. Um dia, a Rainha foi falar ao Rei que eu estava exagerando. Contava tantas histórias que não havia tempo para apreciá-las, e mesmo para ouvi-las. O Rei, que julgava minha facúndia uma qualidade, passou a considerá-la um defeito, e ordenou que eu só contasse meia história por dia, e descansasse aos domingos. Fiquei triste, pois não sabia inventar meia história. Minha insuficiência desagradou, e fui substituído por um mudo, que narra por meio de sinais, e arranca os maiores aplausos.
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fonte: http://www.qnlsaojudas.seed.pr.gov.br/redeescola/escolas/5/2130/209/arquivos/File/textos/cleunice/modelo_didatico.pdf


POEMA: MINHAS FILHAS - PATATIVA DO ASSARÉ- 7º ANO


ISPINHO E FULÔ Patativa do Assaré:

Cresci entre os campos belos
De minha adorada Serra,
Compondo versos singelos
Brotados da própria terra,
Inspirados nos primores*
Nos campos com suas flores
De variados formatos
Que pra mim são obras-primas,
Sem nunca invejar as rimas
Dos poetas literatos.
(Ispinho e fulô. Fortaleza: UECE, 2001.)
*Primores: Perfeição, excelência. 2. Beleza; encanto.

01. O poema lido tem a finalidade de:
a) contar uma história de vida.
b) caracterizar a Serra, onde vivia o poeta.
c) destacar a importância da criação de versos.
d) criticar a obra dos poetas literatos.
e) falar de emoções.

02. Em todos os versos, nota-se a marca da 1ª pessoa, exceto em:
a) “Cresci entre os campos belos”.
b) “De minha adorada Serra”.
c) “Brotados da própria terra”.
d) “Que pra mim são obras-primas”.

03. Identifique a alternativa em que um substantivo rima com um adjetivo:
a) “belos” e “singelos”.
b) “primores” e “flores”.
c) “formatos” e “literatos”.
d) “obras-primas” e “rimas”.
e) “ serra” e “terra”.

04. Registra-se um traço da linguagem informal em:
a) “Cresci entre campos belos”
b) “Compondo versos singelos”.
c) “Inspirados nos primores”.
d) “De variados formatos”.
e) “Que pra mim são obras-primas”.

MINHAS FILHAS
Minhas filhas eu vejo que são três
E cada qual é da beleza irmã,
Se eu quero Lúcia, muito quero Inês
Da mesma forma quero Miriam.
Vendo a meiguice da primeira filha,
Vejo a segunda que me prende e encanta
A mesma estrela que reluz e brilha,
Se olho a terceira, vejo a mesma santa.
Se a cada uma com fervor venero*,
Fico confuso sem saber das três
Qual a mais linda e qual mais eu quero
Se é Miriam, se é Lúcia ou se é Inês.
E já velho, a pensar de quando em quando
Que brevemente voltarei ao pó,
Eu sou feliz e morrerei pensando
Que as três filhas que tenho é uma só.
(PATATIVA DO ASSARÉ. Antologia Poética. 4. ed. rev. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2004. p.233.)

*Venerar: Tributar grande respeito a; reverenciar. 2.Ter em grande consideração.

05. Para o velho, a primeira filha se destaca pela
a) beleza.
 b) comportamento
c) meiguice.
d) obediência
e) inteligência.

06. Ao dizer “brevemente voltarei ao pó”, o velho revela que:
a) reconhece que seu fim está próximo.
b) sabe das dificuldades da sua sobrevivência.
c) sente necessidade de se afastar de casa.
d) vai percorrer estradas empoeiradas.
e) é um velho muito solitário.

07. “Minhas filhas” é um poema porque está organizado em:
a) orações e versos.
b) versos e estrofes.
c) parágrafos e estrofes.
d) períodos e parágrafos.
e) parágrafos e versos.

08. O velho acha que suas filhas são igualmente:
a) belas.
b) dedicadas.
c) meigas
d) obedientes.
e) inteligentes.

09. O poema trata especialmente
a) das preferências de um pai.
b) de uma relação familiar harmoniosa.
c) do afeto de um homem por suas filhas.
d) do respeito das filhas pelo pai.
e) do amor de um pai para uma só filha.

10. Copie do 1º poema exemplos de rimas.
belos e singelos; Serra e terra; primores e flores; formatos e literatos; obras-primas e rimas

11. Circule as sílabas tônicas de:
a) Cresci entre os campos belos
b) Inspirados nos primores
c) Nos campos com suas flores
d) Sem nunca invejar as rimas
e) Dos poetas literatos.
f) Minhas filhas eu vejo que são três
g) E cada qual é da beleza ir,
h) A mesma estrela que reluz e brilha,
i) Se a cada uma com fervor venero,
j) Se é Miriam, se é Lúcia ou se é Inês.
k) E já velho, a pensar de quando em quando
l) Que as três filhas que tenho é uma .

12. Copie do 2º poema exemplos de rimas.
três e Inês;
irmã e Miriam;
filha e brilha;
encanta e santa;
Venero e quero;
quando e pensando;
pó e só.

13. Quantos versos há no 1º poema? E no 2°?
No 1º há 10 versos e no 2° há 16 versos.

14. Quantas estrofes têm os poemas?
No 1° há apenas uma estrofe e no 2° há 4 estrofes.

15. No 1° poema há uma comparação. O que ele compara?
Os campos com suas flores variadas são como as obras-primas dos poetas.

16. A que o poeta compara cada uma das suas três filhas?
A 1ª é meiga; a 2ª é brilhante como uma estrela e a 3ª é uma santa.

17. Explique a expressão destacada em “Que brevemente voltarei ao pó”.
Ele morrerá.

18. Agora é sua vez: Escreva um parágrafo de 8 a 10 linhas em que você fale sobre:
_ Como deve ser “envelhecer”;
_ Use uma personificação;
_ Faça uma comparação entre a infância e a velhice;
_ Fale dos sentimentos possíveis ao fim da vida.

CONTOSDE FADAS E CONTOS MARAVILHOSOS TEORIA


Contos de Fadas e Contos Maravilhosos


De origem celta, os contos de fadas são uma variação do conto popular ou fábula. Partilham com estes o fato de serem uma narrativa curta, transmitida oralmente, e onde o herói ou heroína tem de enfrentar grandes obstáculos antes de triunfar contra o mal. Caracteristicamente envolvem algum tipo de magia, metamorfose ou encantamento, e apesar do nome, animais falantes são muito mais comuns neles do que as fadas propriamente ditas. Alguns exemplos: "Rapunzel", "Branca de Neve e os Sete Anões" e "A Bela e a Fera".

Características dos contos de fadas

Podem contar ou não com a presença de fadas, mas fazem uso de magia e encantamentos; Seu núcleo problemático é existencial (o herói ou a heroína buscam a realização pessoal); Os obstáculos ou provas constituem-se num verdadeiro ritual de iniciação para o herói ou heroína;

Os contos maravilhosos têm origem oriental, e diferentemente dos contos de fadas, lidam com uma temática social: o herói (ou anti-herói), que é uma pessoa de origem humilde ou que passa por grandes privações, triunfa ao conquistar riqueza e poder. Por exemplo: "Ali Babá e os 40 Ladrões", "Aladim e a Lâmpada Maravilhosa" e "Simbad, o Marujo".




CONVERSA SOBRE OS CONTOS DA TRADIÇÃO
1-O que são contos de fadas?
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2-O que são contos maravilhosos?
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3-Qual é a diferença entre contos de fadas e contos maravilhosos?
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4-Quais contos das narrativas de tradição oral que você já leu?
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5-Você gosta de ler esse tipo de narrativa? Por quê?
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6-O que você lembra dos contos que você já leu?
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7-Você sabe o nome de alguns escritores de contos de fadas? E nome de
personagens?
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8-Quais tipos de personagens sempre aparecem nos contos de fadas?
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9-O que os contos das narrativas de tradição oral têm em comum?
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10-Quais são as expressões que iniciam a maioria dos contos das narrativas de tradição oral?
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RECONHECENDO AS VELHAS HISTÓRIAS

1-Quem usou “sapatinhos de cristal” no baile oferecido pelo príncipe?
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2-Quem teve que dormir nas cinzas do fogão por ordem da madrasta?
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3-Quem era a moça que tinha longas tranças e ficou presa em uma torre?
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4-Quem era o personagem que queria pegar os três porquinhos?
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5-Qual personagem de contos maravilhosos se transforma em um boneco de
madeira?
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6-Que personagem de contos é devorada pelo lobo?
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7-Que personagem de história usa botas sete léguas?
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8-Que personagem de história teve que morar com uma fera?
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9-Quem foi parar na casa dos sete anões?
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10-Quem foi roubada pela bruxa quando era bebê?
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CONTO MARAVILHOSO: O IRMÃOZINHO E A IRMÃNZINHA

CONTO MARAVILHOSO – IRMÃOZINHO E IRMÃZINHA
(Irmãos Grimm)

      O irmãozinho pegou a irmãzinha pela mão e disse: - "Desde que a nossa mãezinha morreu não fomos mais felizes, e a nossa madrasta bate em nós todos os dias, e se tentamos nos aproximar dela, ela nos expulsa com os pés. A nossa refeição são os pedaços de pães duros que sobram, e o cachorrinho que fica debaixo da mesa tem mais sorte, porque para ele ela joga pedaços melhores. Tomara que o céu tenha pena de nós. Se a nossa mãe soubesse! Venha, vamos sair e andar pelo mundo."
[...]
     Quando eles chegaram no próximo riacho a irmã ouviu quando ele também
disse: - "Quem beber de mim será um lobo, quem beber de mim será um lobo." Então a irmã gritou: - "Por favor, querido irmão, não beba essa água, ou você vai ser tornar um lobo, e irá me devorar." O irmão não bebeu, e disse: - "Eu vou esperar até quando chegarmos na próxima fonte, mas eu então eu vou beber, diga você o que disser, porque a minha sede é grande demais."
[...]
      E quando eles tinham percorrido uma grande parte do caminho, eles chegaram, finalmente, em uma pequena cabana, e a garota olhou dentro, e a cabana estava vazia, então ela pensou: - "Nós poderíamos ficar aqui e morar." Então ela começou a procurar folhas e musgos para fazer uma cama macia para o cabrito, e todas as manhãs ela saía para colher raízes, frutas e nozes para ela, e trazia grama verde para o cabrito, que comia tudo na mão dela, e estava contente e ficava brincando em volta dela. À noite, quando a irmãzinha estava cansada, e após ter feito as suas orações, ela punha a sua cabeça nas costas do cabritinho, que ficava como travesseiro, e ela dormia suavemente sobre ele. E se o seu irmão adquirisse de volta a sua forma humana, a vida se tornaria maravilhosa.
[...]
      Mas a madrasta perversa, a qual era a culpada pelas crianças terem saído pelo mundo, achava o tempo todo que a irmãzinha tinha sido reduzida a pedacinhos pelos animais selvagens da floresta, e que o irmão tinha sido morto como cabritinho pelos caçadores. Então quando ela soube que eles estavam tão felizes, e passavam bem, a inveja e o ódio tomaram conta do seu coração e ela não conseguia ter paz, e ela não queria pensar em nada que não fosse trazer infelicidade a vida deles novamente. A sua própria filha, que era tão feia quanto um filhote de cruz credo com Deus me livre, era caolha, e disse resmungando para ela: "Rainha, eu é que devia ser a rainha."
     - "Pode ficar sossegada," respondeu a velhinha, e a consolava dizendo: "quando chegar a hora eu estarei preparada."
[...]
    Então ela contou ao rei a maldade que a bruxa perversa e a sua filha eram culpadas do que tinha acontecido com ela. O rei ordenou que elas fossem apresentadas diante do tribunal, e o julgamento foi decidido em condenação para elas.

      A filha dela foi levada para a floresta onde ela foi feita em pedacinhos pelos animais selvagens, mas a bruxa foi atirada no fogo e queimada até virar brasa. E quando ela era queimada, o cabritinho mudou o seu aspecto e tomou a forma humana novamente, então a irmãzinha e o irmãozinho viveram felizes juntos até o fim dos seus dias.

1) Hoje ainda existem muitas crianças abandonadas?
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2) Por que há tantas crianças abandonadas nas ruas?
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3) Quem são os personagens principais da história?
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4) Quem seria a bruxa?
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5) Por que as crianças saíram de casa?
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6) Que solução as crianças encontraram para se abrigar?
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7) Quem apareceu e salvou as crianças?
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8) O que aconteceu com a linda jovem, a irmãzinha?
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9) Qual foi o feitiço que a bruxa praticou com a rainha?
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10) Nos contos as bruxas praticam a metamorfose, isto é mudam de forma. Quais as formas que a bruxa se apresenta no texto?
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11) No final da narrativa, o que aconteceu com a bruxa perversa e sua filha?
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12) Em que momento da narrativa acontece a magia, o elemento sobrenatural, onde o feitiço é desfeito?
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13) Você considera as crianças do conto espertas? Comente.
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14) Releia a história “Irmãozinho e Irmãzinha” e complete os itens  a seguir:
a)situação inicial
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b) conflito
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c) desenvolvimento
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d) clímax
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e) desfecho
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VERSÃO COMPLETA DO TEXTO 




Contos Infantis dos Irmãos Grimm
O irmãozinho e a irmãzinha
       O irmãozinho pegou a irmãzinha pela mão e disse: — “Desde que a nossa mãezinha morreu não fomos mais felizes, e a nossa madrasta bate em nós todos os dias, e se tentamos nos aproximar dela, ela nos expulsa com os pés. A nossa refeição são os pedaços de pães duros que sobram, e o cachorrinho que fica debaixo da mesa tem mais sorte, porque para ele ela joga pedaços melhores. Tomara que o céu tenha pena de nós. Se a nossa mãe soubesse! Venha, vamos sair e andar pelo mundo.”
       Eles andaram o dia todo pelas pradarias, campos, e lugares cheios de pedras, e quando chovia a irmãzinha dizia: — “O céu e os nossso corações estão chorando juntos.” À noite, eles chegaram a uma grande floresta, e eles estavam tão cansados de tristeza e fome, e também por causa da longa caminhada, que eles se deitaram numa árvore oca e dormiram.
      No dia seguinte quando eles acordaram, o sol já ía alto no céu, e lançava seus raios escaldantes sobre as árvores. Então, o irmão disse: — “Irmãzinha, estou com sede, se eu conhecesse algum riacho por aqui, eu iria para pegar água para beber, acho que estou ouvindo um aqui perto.” O irmão se levantou e pegou a irmãzinha pela mão, e partiram para encontrar o riacho.
     Mas a madrasta malvada era uma bruxa, e ela viu quando as crianças foram embora, e saiu às escondidas atrás deles sem que eles notassem, como as bruxas costumam fazer, e ela tinha enfeitiçado todos os riachos da floresta.
      Ora, quando eles haviam encontrado um pequeno riacho pulando alegremente por sobre as pedras, o irmão ia beber um pouco de água, mas a irmã escutou uma voz que vinha do riacho: — “Quem beber de mim será um tigre, quem beber de mim será um tigre.” Então a irmã exclamou: — “Por favor, querido irmão, não beba, ou você se transformará num animal selvagem, e vai me rasgar em pedaços.” O irmão não bebeu, embora ele estivesse com muita sede, mas ele disse, — “Saberei esperar pela próxima fonte.”
         Quando eles chegaram no próximo riacho a irmã ouviu quando ele também disse: — “Quem beber de mim será um lobo, quem beber de mim será um lobo.” Então a irmã gritou: — “Por favor, querido irmão, não beba essa água, ou você vai ser tornar um lobo, e irá me devorar.” O irmão não bebeu, e disse: — “Eu vou esperar até quando chegarmos na próxima fonte, mas eu então eu vou beber, diga você o que disser, porque a minha sede é grande demais.”
      E quando eles chegaram na terceira fonte, a irmã ouviu que as águas diziam: — “Quem beber de mim será um cabrito, quem beber de mim será um cabrito.” A irmã disse: — “Oh, eu te imploro, meu irmão, não beba ou você irá se transformar num cabrito e irá fugir para longe.” Mas o irmão se ajoelhou no mesmo instante na margem do rio, e se inclinou e bebeu um pouco de água, e assim que as primeiras gotas tocaram os lábios dele, ele se transformou num filhote de cabrito.
      E a irmãzinha começou a chorar porque o irmãozinho havia sido enfeitiçado, e o pequeno cabrito também chorou, e se sentou amargurado perto dela. Mas, por fim, a garota disse: — “Fique tranquilo, meu querido cabritinho, eu nunca, nunca vou te deixar.”

     Então ela soltou sua liga dourada, e a colocou em volta do pescoço do cabrito, e ela colheu juncos e os trançou transformando-os numa corda macia. Assim ela amarrou o pequeno animal e poderia conduzí-lo, e ela andava e andava cada vez mais para dentro da floresta.
      E quando eles tinham percorrido uma grande parte do caminho, eles chegaram, finalmente, em uma pequena cabana, e a garota olhou dentro, e a cabana estava vazia, então ela pensou: — “Nós poderíamos ficar aqui e morar.” Então ela começou a procurar folhas e musgos para fazer uma cama macia para o cabrito, e todas as manhãs ela saía para colher raízes, frutas e nozes para ela, e trazia grama verde para o cabrito, que comia tudo na mão dela, e estava contente e ficava brincando em volta dela. À noite, quando a irmãzinha estava cansada, e após ter feito as suas orações, ela punha a sua cabeça nas costas do cabritinho, que ficava como travesseiro, e ela dormia suavemente sobre ele. E se o seu irmão adquirisse de volta a sua forma humana, a vida se tornaria maravilhosa.
       Durante algum tempo eles ficaram sozinhos na selva. Mas um dia o rei daquele país realizou uma grande caçada na floresta. Então se ouviram rajadas de buzinas, latidos de cães, e os gritos felizes dos caçadores ecoavam pelas árvores, e o cabrito ouvia tudo, e estava muito curioso para estar lá. — “Oh,” disse ele para a irmã, “eu também quero ir caçar, não aguento de vontade,” e ele insistia tanto que finalmente ela concordou. — “Mas,” disse ela para ele, “volte quando anoitecer, porque eu preciso fechar a porta para que os caçadores não entrem, então bata na porta e diga: “Minha irmãzinha, me deixe entrar!” para que eu possa saber que é você, e se você não disser isso, eu não abro a porta.” Então o pequeno cabritinho saiu dando pulinhos, porque ele estava muito feliz e era livre como um pássaro.
      O rei e o caçador viram a linda criaturinha, e partiram em direção a ele, mas não conseguiram pegá-lo, e quando eles achavam que estavam quase conseguindo, ele fugia para longe pelo meio do mato até que não conseguiam mais vê-lo. Quando ficou escuro ele correu para a choupana, bateu na porta e disse: — “Minha irmãzinha, me deixe entrar.” Então a porta se abriu para ele, e ele entrou dando pulinhos, e descansou a noite inteira em sua cama macia.
       No dia seguinte a caça recomeçou, e quando o cabritinho ouviu novamente o toque da corneta, e o rou! rou! dos caçadores, ele não teve paz, mas disse: “Irmãzinha, me deixe sair, eu preciso sair.” Sua irmã abriu a porta para ele, e disse: “Mas você tem de estar aqui novamente ao anoitecer e dizer a sua senha para entrar.”
      Quando o rei e os caçadores novamente avistaram o cabritinho com um colar de ouro, todos se puseram a caçá-lo, mas ele era muito rápido e ágil para eles. E assim foi o dia todo, mas, finalmente, ao anoitecer, os caçadores o cercaram, e um deles o feriu no pé de leve, de maneira que ele mancava e corria devagar. Então um caçador seguiu escondido atrás dele até a cabana e ouviu quando ele disse: “Minha irmãzinha, me deixe entrar,” e viu que a porta se abriu para ele, e se fechou imediatamente. O caçador tomou nota de tudo, e foi até o rei e contou para ele o que ele tinha visto e ouvido. Então o rei disse: “Amanhã nós voltaremos a caçar.”
      Irmãzinha, todavia, ficou muito assustada quando ela viu que o seu cabritinho estava machucado. Ela lavou a ferida dele, colocou ervas no machucado, e disse: “Vá dormir, querido cabritinho, para que você fique bom logo.” Mas o ferimento era tão superficial que o cabritinho, na manhã seguinte, não sentia mais nada. E quando ele ouviu barulho de caça do lado de fora, ele disse: “Eu não aguento mais, eu preciso sair, eles verão que não é tão fácil me pegar.” A irmã exclamou e disse: “Desta vez eles vão te matar, e aí eu ficarei sozinha na floresta, abandonada por todo mundo. Não vou deixar você sair.” “Aí é que eu vou morrer de tristeza,” respondeu o cabrito, “quando eu ouço o toque da corneta, eu sinto como se fosse pular para fora de mim mesmo.” Então a irmãzinha não poderia fazer outra coisa, mas abriu a porta para ele com uma dor no coração, e o cabritinho, cheio de saúde e alegria, correu para a floresta.
      Quando o rei o viu, ele disse para o caçador: “Agora vamos caçá-lo o dia todo até o cair da noite, mas tomem cuidado para que ninguém o machuque.
      E assim que o sol se pôs, o rei disse para os caçadores: “Agora venham e me mostrem a cabana da floresta,” e quando o rei estava na porta, e bateu e chamou: “Querida irmãzinha, me deixe entrar.” Então a porta se abriu, e o rei entrou, e lá estava a jovem mais adorável que ele já viu. A jovem ficou assustada quando viu não o seu cabritinho, mas um homem que vinha usando uma coroa de ouro na cabeça. Mas o rei olhou gentilmente para ela, estendeu a sua mão, e disse: “Você iria comigo para o meu palácio e seria a minha esposa adorada?” “Sim, majestade,” respondeu a jovem, “mas o pequeno cabritinho deve ir comigo, não posso deixá-lo.” O rei disse: “Ele ficará com você enquanto você viver, e não lhes faltará nada.” Só então o cabritinho veio correndo, e a irmã novamente o amarrou com a corda feita de juncos, o pegou em suas mãos, e foi embora da cabana com o rei.
     O rei levou a linda jovem em seu cavalo e a conduziu ao palácio, onde o casamento foi realizado com grande pompa. Agora ela tinha se tornado rainha, e eles viveram felizes e juntos por muito tempo, o cabritinho era cuidado com muito amor e carinho, e passava o tempo correndo pelos jardins do palácio.
     Mas a madrasta perversa, a qual era a culpada pelas crianças terem saído pelo mundo, achava o tempo todo que a irmãzinha tinha sido reduzida a pedacinhos pelos animais selvagens da floresta, e que o irmão tinha sido morto como cabritinho pelos caçadores. Então quando ela soube que eles estavam tão felizes, e passavam bem, a inveja e o ódio tomaram conta do seu coração e ela não conseguia ter paz, e ela não queria pensar em nada que não fosse infelicitar a vida deles novamente. A sua própria filha, que era tão feia quanto um filhote de cruz credo com Deus me livre, era caolha, e disse resmungando para ela: “Rainha, eu é que devia ser a rainha.” “Pode ficar sossegada,” respondeu a velhinha, e a consolova dizendo: “quando chegar a hora eu estarei preparada.”
     A medida que o tempo passava, a rainha teve um menino lindo, e um dia o rei tinha saído para caçar, então a velha bruxa tomou a forma da camareira, foi para o quarto onde a rainha ficava, e disse a ela: “Venha, o seu banho está pronto, ele lhe fará bem, e vai lhe proporcionar novas forças, apresse-se antes que esfrie!”
     A filha também estava perto, então elas levaram a rainha para o banheiro, e a colocaram na banheira, depois, elas trancaram a porta e saíram correndo. Mas no banheiro, elas tinham aquecido o banho com um calor tão infernal que a bela e jovem rainha se sentiu sufocada.
      Depois de terem feito isso, a velha pegou a sua filha e colocou uma touca de dormir na cabeça dela, e a colocou na cama do rei no lugar da rainha. Ela deu à filha a forma e a aparência da rainha, ela somente não conseguiu melhorar o olho que a sua filha tinha perdido. Mas para que o rei não percebesse isso, ela deveria se deitar do lado onde ela não tinha um olho.
À noite, quando o rei voltou para casa, e soube que ele tinha um filho ele ficou muito feliz, e foi para a cama da sua querida esposa para saber como ela estava. Mas a velha gritou rapido: “Pela tua vida, mantenha as cortinas fechadas, a rainha não pode ver a luz ainda, e precisa descansar.” O rei saiu, e não descobriu que a falsa rainha estava deitada na cama.
      Mas a meia noite, quando todos estavam dormindo, a babá, que estava sentada no quarto do bebê perto do berço, e que era a única pessoa acordada, viu a porta aberta e a verdadeira rainha entrando. A jovem rainha tirou a criança do berço, colocou-a em seus braços, e deu de mamar a ela. Depois ela sacudiu o travesseirinho, deitou novamente a criança, e a cobriu com uma pequena manta. E ela não se esqueceu do cabritinho, mas foi até o cantinho onde ele estava e fez um carinho nas suas costas. Depois ela saiu silenciosamente pela porta novamente. Na manhã seguinte a babá perguntou aos guardas se alguém teria entrado no palácio durante a noite, mas eles responderam: “Não, não vimos ninguém.”
      Ela vinha então durante muitas noites e nunca falava uma palavra: a babá sempre a via, mas ela não ousava dizer nada para ninguém.
     Quando tinha passado algum tempo nesta mesma rotina, a rainha começou a falar a noite e disse: “Como está o meu filho, como anda o meu cabritinho? Vim duas vezes, e depois não virei nunca mais.”
     A babá não respondeu, mas quando a rainha tinha saído novamente, ela foi até o rei e lhe contou tudo. O rei disse: “Oh, céus! o que é isto? Amanhã à noite eu vou ficar vigiando perto da criança.” À noite ele foi até o quarto do bebê, e a meia noite a rainha apareceu novamente e disse: ”Como está o meu filho, como anda o meu cabritinho? Uma vez eu vim, e depois nunca mais.”
      E ela cuidou da criança como ela fazia antes de desaparecer. O rei não ousou falar com ela, mas na noite seguinte ele fez vigília novamente. Então ela disse: “Como está o meu bebê, como vai o meu cabritinho? Desta vez eu vim, mas depois nunca mais.”
     Então o rei não conseguiu se conter, e correu em direção à ela e disse: “Você deve ser ninguém mais que a minha querida esposa,” e no mesmo instante ela viveu novamente, e com a graça de Deus, ela ficou viçosa, rosada e cheia de saúde.
     Então ela contou ao rei a maldade que a bruxa perversa e a sua filha eram culpadas do que tinha acontecido com ela. o rei ordenou que elas fossem apresentadas diante do tribunal, e o julgamento foi decidido em condenação para elas. A filha dela foi levada para a floresta onde ela foi feita em pedacinhos pelos animais selvagens, mas a bruxa foi atirada no fogo e queimada até virar brasa. E quando ela era queimada, o cabritinho mudou o seu aspecto e tomou a forma humana novamente, então a irmãzinha e o irmãozinho viveram felizes juntos até o fim dos seus dias.


CONTO MARAVILHOSO: A PEQUENA VENDEDORA DE FÓSFORO


A Pequena Vendedora de Fósforos | Hans Christian Andersen | 1848



        Era véspera de ano-novo. Já estava escurecendo e fazia um frio intenso com a neve caindo. Mas a despeito de todo o frio, e da neve, e da noite que caía rapidamente, via-se uma menininha descalça e de cabeça descoberta. Bem, é verdade que estava usando chinelos quando saíra de casa, mas os chinelos eram muito grandes, pois eram os que a mãe usava, e escaparam-lhe dos pezinhos gelados quando atravessou correndo pela rua para fugir de duas carruagens que vinham em disparada. Não foi possível achar um deles, pois o outro fora apanhado por um rapazinho que saiu correndo, gritando que aquilo ia servir de berço aos seus filhos quando os tivesse.
        A menina continuou a andar, agora com os pés descalços e gelados. Levava no avental velhinho uma porção de pacotes de fósforos. Tinha na mão uma caixinha: não conseguira vender uma só em todo o dia e ninguém lhe dera sequer um níquel. Assim, esmaecendo de fome e de frio, ia se arrastando penosamente, vencida pelo cansaço e desânimo. Parecia a imagem viva da miséria. Os flocos de neve caíam pesados sobre os lindos cachos dourados que lhe emolduravam graciosamente o rosto, mas para a menina isso nada valia, nem lhe era importante. Pelas janelas das casas, via as luzes que brilhavam lá de dentro. Sentia-se na rua um cheiro bom de ganso assado; ora era a véspera de ano-novo, isso sim, ela não esquecia.
        Achou um canto, formado pela saliência de uma casa, e acocorou-se ali, com os pés encolhidos para abrigá-los ao calor do corpo, mas cada vez sentia mais e mais frio. Não se animava a voltar para casa, porque não tinha vendido uma única caixinha de fósforos e não ganhara sequer um níquel. Era certo que levaria uma sova do pai por nada ter vendido e em sua casa era quase tão frio quanto ali, pois só tinham o teto para proteção e ainda assim o vento entrava uivando, apesar dos trapos e das palhas com que lhe tinham tapado as enormes frestas.
       O frio era tanto que as mãozinhas estavam gélidas, endurecendo de frio. Quem sabe se acendesse um fósforo ajudasse a aquecer. Pelo menos se animava a tirar ao menos um da caixinha e riscá-lo na parede para acendê-lo. Puxou um da caixinha – rrrec! Como estalou e faiscou, antes de pegar fogo! Surgiu uma luz, bem clara, e parecia mesmo uma vela quando abrigou o fogo com a mão. Sim, era uma vela bem esquisita aquela! Pareceu-lhe que estava sentada diante de uma grande estufa, de pés e maçanetas de bronze polido. Ardia nela um fogo magnífico, que espalhava suave calor. E a meninazinha ia estendendo os pés enregelados para aquecê-los, mas apagou-se o clarão! Sumiu-se a estufa, tão quentinha, e ali ficou ela no seu canto gelado, com um fósforo apagado na mão. Só via a parede escura e fria.
       Riscou outro fósforo. Onde a luz batia, a parede se tornava transparente como um véu e ela via tudo dentro da sala da casa. Estava posta a mesa. Sobre a toalha alvíssima como a neve, via-se, fumegando entre toda aquela porcelana tão fina, um belo ganso assado, recheado de maçãs e ameixas. O ganso, porém, saltou da mesa ainda com o garfo e a faca cravados em suas costas e correu em direção à menina. Mas naquele instante, o fósforo apagou e ela tornou a ver somente a parede fria e úmida na noite escura.
      Riscou outro e àquela luz resplandecente viu-se sentada debaixo de uma linda árvore de Natal! Era muito maior e mais decorada do que aquela que vira, no Natal passado, ao espiar pela porta de vidro da casa do negociante rico. Entre os galhos, milhares de velas fulguravam, além dos cartões coloridos como os que via em vitrines e ela contemplava cada detalhe. A menininha estendeu os braços diante de tantos esplendores e, então, o fogo apagou. Todas as luzinhas da árvore de Natal foram subindo, subindo mais alto, cada vez mais alto e, de repente, ela viu que eram estrelas que cintilavam no céu. Mas uma caiu lá de cima, deixando uma risca de fogo reluzente no caminho.
     — Alguém morreu – disse a pequena vendedora de fósforos.
     Sua avó, a única pessoa que a amara no mundo e que já estava morta, lhe dizia sempre que quando vimos uma estrela cadente no céu é um sinal de que uma alma está subindo para Deus.
     Riscou mais um fósforo na parede e desta vez foi a avó quem lhe apareceu, a sua boa avó, sorridente e amorosa, no esplendor da luz.
     — Vovó! – gritou a pobre menina. — Leva-me contigo, sei que quando o fósforo se apagar vais desaparecer, como sumiram a estufa quente, o ganso assado e a linda árvore de Natal!
     E a coitadinha pôs-se a riscar na parede todos os fósforos da caixa, para que a avó não se desvanecesse. Eles ardiam com tamanho brilho que parecia dia e nunca ela vira a vovó tão grandiosa nem tão bela! E ela tomou a neta nos braços e juntas voaram, em um halo de luz e esplendor, mais e mais alto, longe da Terra, para um lugar onde não há mais frio, nem fome, nem sede, nem dor, nem medo, porque elas estavam, agora, com Deus.
     Na madrugada seguinte, a menina jazia sentada no canto entre as casas, com as faces coradas e um sorriso refrigério nos lábios. Morrera de frio, na última noite do ano velho. O novo ano iluminou o pequenino corpo, ainda sentado no canto, com a mãozinha cheia de fósforos queimados.
     — Sem dúvida, ela quis aquecer-se – diziam os passantes.
     Ninguém pudera imaginar que lindas visões ela tivera, nem em que glória e júbilo tinha entrado com a velha avó para a felicidade do ano-novo.



COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

1) A Pequena Vendedora de Fósforos é um conto que narra uma história infantil. Essa história vem sendo contada de pais para filhos há décadas.
a) Há muitas situações em que essa história se instaura na vida real?
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b) Que situações são estas?
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c) O que você pensa a respeito?
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2) Era o último dia do ano, uma noite escura e gelada, a neve caía sobre a cidade.
a) O que a protagonista fazia?
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b) Ela estava vestida adequadamente para a ocasião?
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c) Por que a vendedora de fósforos não quis voltar para casa?
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3) Nos contos maravilhosos sempre aparecem os vilões. Observa-se que na história há um vilão.
a) Quem é esse vilão?
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b) Na sua opinião, esse vilão é mais cruel que os vilões que normalmente aparecem nos contos maravilhosos? Justifique.
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4) Geralmente um conto apresenta poucas personagens.
a) Quem é a personagem principal?
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b) Como é descrita fisicamente.
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c) Como ela se sente ao longo da história?
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5) O conto retrata um único conflito.
a) Qual é esse conflito?
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b) Em que espaço ocorre os fatos narrados?
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6) No conto os fatos narrados ocorrem num curto espaço de tempo.
a) Copie do texto o trecho que indica quando se passa a história.
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b) Quem narra a história?
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7) A cada fósforo que a menina acendia correspondia a uma de suas visões e desejos.
Relacione cada uma das visões de acordo com suas imagens evocadas:
a) ao calor
b) à beleza
c) ao alimento
d) a afeição
( ) Na terceira visão a menina vê a árvore mais linda de natal.
( ) Na última visão a menina vê sua avó.
( ) Na primeira visão ela se sente aquecida diante de um grande fogão.
( ) Na segunda visão ela vê um delicioso frango assado.
8) Muitos contos maravilhosos surgiram na Idade Média, na Europa, numa época em que havia muita miséria.
a) Qual situação social é retratada no conto?
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b) Você conhece outros contos maravilhosos em que crianças têm de enfrentar o abandono, a fome e a injustiça social?
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c) Essas situações sociais de injustiças e miséria acontecem na vida real? Comente.
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9) Releia o texto “A menina dos fósforos” e complete os itens a seguir:
a) Situação inicial
.................................................................................................................
b) Complicação (conflito)
..................................................................................................................
c) Desenvolvimento
......................................................................................................................
d) Clímax
.....................................................................................................................
Desfecho
......................................................................................................................

CONTO: QUEM CONTA UM CONTO 9º ANO COM GABARITO


CONTO: QUEM CONTA UM CONTO

I

        Eu compreendo que um homem goste de ver brigar galos ou de tomar rapé. O rapé dizem os tomistas que alivia o cérebro. A briga de galos é o Jockey Club dos pobres. O que eu não compreendo é o gosto de dar notícias.
       E todavia quantas pessoas não conhecerá o leitor com essa singular vocação? O noveleiro não é tipo muito vulgar, mas também não é muito raro. Há família numerosa deles. Alguns são mais peritos e originais que outros. Não é noveleiro quem quer. É ofício que exige certas qualidades de bom cunho, quero dizer as mesmas que se exigem do homem de Estado. O noveleiro deve saber quando lhe convém dar uma notícia abruptamente, ou quando o efeito lhe pede certos preparativos: deve esperar a ocasião e adaptar-lhe os meios.
       Não compreendo, como disse, o ofício de noveleiro. É coisa muito natural que um homem diga o que sabe a respeito de algum objeto; mas que tire satisfação disso, lá me custa a entender. Mais de uma vez tenho querido fazer indagações a este respeito; mas a certeza de que nenhum noveleiro confessa que o é tem impedido a realização deste meu desejo. Não é só desejo, é também necessidade; ganha-se sempre em conhecer os caprichos do espírito humano.
      O caso de que vou falar aos leitores tem por origem um noveleiro. Lê-se depressa, porque não é grande.

II

        Há coisa de sete anos vivia nesta boa cidade um homem de seus trinta anos, bem apessoado e bem falante, amigo de conversar, extremamente polido, mas extremamente amigo de espalhar novas.
       Era um modelo do gênero.
       Sabia como ninguém escolher o auditório, a ocasião e a maneira de dar a notícia. Não sacava a notícia da algibeira como quem tira uma moeda de vintém para dar a um mendigo.
       Não, senhor.
       Atendia mais que tudo às circunstâncias. Por exemplo: ouvira dizer, ou sabia positivamente que o ministério pedira a demissão ou ia pedi-la. Qualquer noveleiro diria simplesmente a coisa sem rodeios. Luís da Costa, ou dizia a coisa simplesmente, ou adicionava-lhe certo molho para torná-la mais picante.
       Às vezes entrava, cumprimentava as pessoas presentes, e se entre elas alguma havia metida em política, aproveitava o silêncio causado pela sua entrada, para fazer-lhe uma pergunta deste gênero:
      — Então, parece que os homens...
      Os circunstantes perguntavam logo:
      — Que é? que há?
    Luís da Costa, sem perder o seu ar sério, dizia singelamente:
     — É o ministério que pediu demissão.
     — Ah! sim? quando?
     — Hoje.
     — Sabe quem foi chamado?
     — Foi chamado o Zózimo.
     — Mas por que caiu o ministério?
       — Ora, estava podre.
       Etc., etc.
       Ou então:
       — Morreram como viveram.
       — Quem? quem? quem?
      Luís da Costa puxava os punhos e dizia negligentemente:
       — Os ministros.
       Suponhamos agora que se tratava de uma pessoa qualificada que devia vir no paquete: Adolfo Thiers ou o príncipe de Bismarck.
       Luís da Costa entrava, cumprimentava silenciosamente a todos, e em vez de dizer com simplicidade:
      — Veio no paquete de hoje o príncipe de Bismarck.
      Ou então:
      — O Thiers chegou no paquete.
      Voltava-se para um dos circunstantes:
      — Chegaria o paquete?
       — Chegou, dizia o circunstante.
       — O Thiers veio?
       Aqui entrava a admiração dos ouvintes, com que se deliciava Luís da Costa, razão principalmente do seu ofício.
III
      Não se pode negar que este prazer era inocente e quando muito singular.
      Infelizmente não há bonito sem senão, nem prazer sem amargura. Que mel não deixa um travo de veneno? perguntava o poeta da Jovem Cativa, e eu creio que nenhum, nem sequer o de alvissareiro.
      Luís da Costa experimentou um dia as asperezas do seu ofício.
      Eram duas horas da tarde. Havia pouca gente na loja do Paula Brito, cinco pessoas apenas. Luís da Costa entrou com o rosto fechado como homem que vem pejado de alguma notícia.
      Apertou a mão a quatro das pessoas presentes; a quinta apenas recebeu um cumprimento, porque não se conheciam. Houve um rápido instante de silêncio, que Luís da Costa aproveitou para tirar o lenço da algibeira e enxugar o rosto. Depois olhou para todos, e soltou secamente estas palavras:
      — Então fugiu a sobrinha do Gouveia? disse ele rindo.
      — Que Gouveia? disse um dos presentes.
      — O major Gouveia, explicou Luís da Costa.
      Os circunstantes ficaram muito calados e olharam de esguelha para o quinto personagem, que por sua parte olhava para Luís da Costa.
       — O major Gouveia da Cidade Nova? perguntou o desconhecido ao noveleiro.
     — Sim, senhor.
      Novo e mais profundo silêncio.
       Luís da Costa, imaginando que o silêncio era efeito da bomba que acabava de queimar, entrou a referir os pormenores da fuga da moça em questão. Falou de um namoro com um alferes, da oposição do major ao casamento, do desespero dos pobres namorados, cujo coração, mais eloqüente que a honra, adotara o alvitre de saltar por cima dos moinhos.
     O silêncio era sepulcral.
     O desconhecido ouvia atentamente a narrativa de Luís da Costa, meneando com muita placidez uma grossa bengala que tinha na mão.
     Quando o alvissareiro acabou, perguntou-lhe o desconhecido:
     — E quando foi esse rapto?
      — Hoje de manhã.
      — Oh!
     — Das 8 para as 9 horas.
     — Conhece o major Gouveia?
      — De nome.
     — Que idéia forma dele?
    — Não formo idéia nenhuma. Menciono o fato por duas circunstâncias. A primeira é que a rapariga é muito bonita...
      — Conhece-a?
      — Ainda ontem a vi.
      — Ah! A segunda circunstância...
       — A segunda circunstância é a crueldade de certos homens em tolher os movimentos do coração da mocidade. O alferes de que se trata dizem-me que é um moço honesto, e o casamento seria, creio eu, excelente. Por que razão queria o major impedi-lo?
      — O major tinha razões fortes, observou o desconhecido.
      — Ah! conhece-o?
      — Sou eu.
       Luís da Costa ficou petrificado. A cara não se distinguia da de um defunto, tão imóvel e pálida ficou. As outras pessoas olhavam para os dois sem saber o que ira sair dali. Deste modo correram cinco minutos.
IV
      No fim de cinco minutos, o major Gouveia continuou:
     — Ouvi toda a sua narração e diverti-me com ela. Minha sobrinha não podia fugir hoje de minha casa, visto que há quinze dias se acha em Juiz de Fora.
     Luís da Costa ficou amarelo.
      — Por essa razão ouvi tranqüilamente a história que o senhor acaba de contar com todas as suas peripécias. O fato, se fosse verdadeiro, devia causar naturalmente espanto, porque, além do mais, Lúcia é muito bonita, e o senhor o sabe porque a viu ontem...
     Luís da Costa tornou-se verde.
      — A notícia, entretanto, pode ter-se espalhado, continuou o major Gouveia, e eu desejo liquidar o negócio pedindo-lhe que me diga de quem a ouviu...
     Luís da Costa ostentou todas as cores do íris.
      — Então? disse o major passados alguns instantes de silêncio.
       — Sr. major, disse com voz trêmula Luís da Costa, eu não podia inventar semelhante notícia. Nenhum interesse tenho nela. Evidentemente alguém ma contou.
     — É justamente o que eu desejo saber.
     — Não me lembro...
     — Veja se se lembra, disse o major com doçura.
      Luís da Costa consultou sua memória; mas tantas coisas ouvia e tantas repetia, que já não podia atinar com a pessoa que lhe contara a história do rapto.
      As outras pessoas presentes, vendo o caminho desagradável que as coisas podiam ter, trataram de meter o caso à bulha; mas o major, que não era homem de graças, insistiu com o alvissareiro para que o esclarecesse a respeito do inventor da balela.
     — Ah! agora me lembra, disse de repente Luís da Costa, foi o Pires.
     — Que Pires?
     — Um Pires que eu conheço muito superficialmente.
     — Bem, vamos ter com o Pires.
     — Mas, Sr. major...
      O major já estava de pé, apoiado na grossa bengala, e com ar de quem estava pouco disposto a discussões. Esperou que Luís da Costa se levantasse também. O alvissareiro não teve remédio senão imitar o gesto do major, não sem tentar ainda um:
     — Mas, Sr. major...
      — Não há mas, nem meio mas. Venha comigo; porque é necessário deslindar o negócio hoje mesmo. Sabe onde mora esse tal Pires?
      — Mora na Praia Grande, mas tem escritório na Rua dos Pescadores.
      — Vamos ao escritório.
       Luís da Costa cortejou os outros e saiu ao lado do major Gouveia, a quem deu respeitosamente a calçada e ofereceu um charuto. O major recusou o charuto, dobrou o passo e os dois seguiram na direção da Rua dos Pescadores.
V
      — O Sr. Pires?
      — Foi à secretaria da Justiça.
      — Demora-se?
      — Não sei.
      Luís da Costa olhou para o major ao ouvir estas palavras do criado do Sr. Pires. O major disse fleugmaticamente:
       — Vamos à secretaria da Justiça.
      E ambos foram a trote largo na direção da Rua do Passeio. Iam-se aproximando as três horas, e Luís da Costa, que jantava cedo, começava a ouvir do estômago uma lastimosa petição. Era-lhe, porém, impossível fugir às garras do major. Se o Pires tivesse embarcado para Santos, é provável que o major o levasse até lá antes de jantar.
     Tudo estava perdido.
     Chegaram enfim à secretaria, bufando como dois touros.
     Os empregados vinham saindo, e um deles deu notícia certa do esquivo Pires; disse-lhes que saíra dali, dez minutos antes, num tílburi.
     — Voltemos à Rua dos Pescadores, disse pacificamente o major.
     — Mas, senhor...
      A única resposta do major foi dar-lhe o braço e arrastá-lo na direção da Rua dos Pescadores.
        Luís da Costa ia furioso. Começava a compreender a plausibilidade e até a legitimidade de um crime. O desejo de estrangular o major pareceu-lhe um sentimento natural. Lembrou-se de ter condenado, oito dias antes, como jurado, um criminoso de morte, e teve horror de si mesmo.
       O major, porém, continuava a andar com aquele passo rápido dos majores que andam depressa. Luís da Costa ia rebocado. Era-lhe literalmente impossível apostar carreira com ele.
      Eram três e cinco minutos quando chegaram defronte do escritório do Sr. Pires. Tiveram o gosto de dar com o nariz na porta.
     O major Gouveia mostrou-se aborrecido com o fato; como era homem resoluto, depressa se consolou do incidente.
      — Não há dúvida, disse ele, iremos à Praia Grande.
      — Isso é impossível! clamou Luís da Costa.
       — Não é tal, respondeu tranqüilamente o major, temos barca e custa-nos um cruzado a cada um: eu pago a sua passagem.
     — Mas, senhor, a esta hora...
     — Que tem?
     — São horas de jantar, suspirou o estômago de Luís da Costa.
     — Pois jantaremos antes.
      Foram dali a um hotel e jantaram. A companhia do major era extremamente aborrecida para o desastrado alvissareiro. Era impossível livrar-se dela; Luís da Costa portou-se o melhor que pôde. Demais, a sopa e o primeiro prato foi o começo da reconciliação. Quando veio o café e um bom charuto, Luís da Costa estava resolvido a satisfazer o seu anfitrião em tudo o que lhe aprouvesse.
     O major pagou a conta e saíram ambos do hotel. Foram direitos à estação das barcas de Niterói; meteram-se na primeira que saiu e transportaram-se à imperial cidade.
     No trajeto, o major Gouveia conservou-se tão taciturno como até então. Luís da Costa, que já estava mais alegre, cinco ou seis vezes tentou atar conversa com o major; mas foram esforços inúteis. Ardia entretanto por levá-lo até a casa do Sr. Pires, que explicaria as coisas como as soubesse.
VI
      O Sr. Pires morava na Rua da Praia. Foram direitinhos à casa dele. Mas se os viajantes haviam jantado, também o Sr. Pires fizera o mesmo; e como tinha por costume ir jogar o voltarete em casa do Dr. Oliveira, em S. Domingos, para lá seguira vinte minutos antes.
     O major ouviu esta notícia com a resignação filosófica de que estava dando provas desde as duas horas da tarde. Inclinou o chapéu mais à banda e olhando de esguelha para Luís da Costa, disse:
       — Vamos a S. Domingos.
      — Vamos a S. Domingos, suspirou Luís da Costa.
      A viagem foi de carro, o que de algum modo consolou o noveleiro.
     Na casa do Dr. Oliveira passaram pelo dissabor de bater cinco vezes, antes que viessem abrir.
     Enfim vieram.
     — Está cá o Sr. Pires?
     — Está, sim, senhor, disse o moleque.
     Os dois respiraram.
     O moleque abriu-lhes a porta da sala, onde não tardou que aparecesse o famoso Pires, l’introuvable.
     Era um sujeitinho baixinho e alegrinho. Entrou na ponta dos pés, apertou a mão a Luís da Costa e cumprimentou cerimoniosamente ao major Gouveia.
     — Queiram sentar-se.
     — Perdão, disse o major, não é preciso que nos sentemos; desejamos pouca coisa.
    O Sr. Pires curvou a cabeça e esperou.
    O major voltou-se então para Luís da Costa e disse:
    — Fale.
    Luís da Costa fez das tripas coração e exprimiu-se nestes termos:
     — Estando eu hoje na loja do Paula Brito contei a história do rapto de uma sobrinha do Sr. major Gouveia, que o senhor me referiu pouco antes do meio-dia. O major Gouveia é este cavalheiro que me acompanha, e declarou que o fato era uma calúnia, visto sua sobrinha estar em Juiz de Fora, há quinze dias. Intenta contudo chegar à fonte da notícia e perguntou-me quem me havia contado a história; não hesitei em dizer que fora o senhor. Resolveu então procurá-lo, e não temos feito outra coisa desde as duas horas e meia. Enfim, encontramo-lo.
     Durante este discurso, o rosto do Sr. Pires apresentou todas as modificações do espanto e do medo. Um ator, um pintor, ou um estatuário teria ali um livro inteiro para folhear e estudar. Acabado o discurso, era necessário responder-lhe, e o Sr. Pires o faria de boa vontade, se se lembrasse do uso da língua. Mas não; ou não se lembrava, ou não sabia que uso faria dela. Assim correram uns três a quatro minutos.
    — Espero as suas ordens, disse o major, vendo que o homem não falava.
    — Mas, que quer o senhor? balbuciou o Sr. Pires.
     — Quero que me diga de quem ouviu a notícia transmitida a este senhor. Foi o senhor quem lhe disse que minha sobrinha era bonita?
    — Não lhe disse tal, acudiu o Sr. Pires; o que eu disse foi que me constava ser bonita.
     — Vê? disse o major voltando-se para Luís da Costa.
    Luís da Costa começou a contar as tábuas do teto.
    O major dirigiu-se depois ao Sr. Pires:
    — Mas vamos lá, disse; de quem ouviu a notícia?
    — Foi de um empregado do Tesouro.
    — Onde mora?
    — Em Catumbi.
     O major voltou-se para Luís da Costa, cujos olhos, tendo já contado as tábuas do teto, que eram vinte e duas, começavam a examinar detidamente os botões do punho da camisa.
      — Pode retirar-se, disse o major; não é mais preciso aqui.
      Luís da Costa não esperou mais; apertou a mão do Sr. Pires, balbuciou um pedido de desculpa, e saiu. Já estava a trinta passos, e ainda lhe parecia estar colado ao terrível major. Ia justamente a sair uma barca; Luís da Costa deitou a correr, e ainda a alcançou, perdendo apenas o chapéu, cujo herdeiro foi um cocheiro necessitado.
     Estava livre.
VII
     Ficaram sós o major e o Sr. Pires.
     — Agora, disse o primeiro, há de ter a bondade de me acompanhar à casa desse empregado do Tesouro... Como se chama?
    — O bacharel Plácido.
    — Estou às suas ordens; tem passagem e carro pago.
    O Sr. Pires fez um gesto de aborrecimento, e murmurou:
    — Mas eu não sei... se...
    — Se?
    — Não sei se me é possível nesta ocasião...
     — Há de ser. Penso que é um homem honrado. Não tem idade para ter filhas moças, mas pode vir a tê-las, e saberá se é agradável que tais invenções andem na rua.
    — Confesso que as circunstâncias são melindrosas; mas não poderíamos...
     — O quê?
    — Adiar?
    — Impossível.
     O Sr. Pires mordeu o lábio inferior; meditou alguns instantes, e afinal declarou que estava disposto a acompanhá-lo.
    — Acredite, Sr. major, disse ele concluindo, que só as circunstâncias especiais deste caso me obrigariam a ir à cidade.
    O major inclinou-se.
     O Sr. Pires foi despedir-se do dono da casa, e voltou para acompanhar o implacável major, em cujo rosto se lia a mais franca resolução.
    A viagem foi tão silenciosa como a primeira. O major parecia uma estátua; não falava e raras vezes olhava para o seu companheiro.
     A razão foi compreendida pelo Sr. Pires, que matou as saudades do voltarete, fumando sete cigarros por hora.
    Enfim chegaram a Catumbi.
     Desta vez foi o major Gouveia mais feliz que da outra: achou o bacharel Plácido em casa.
     O bacharel Plácido era o seu próprio nome feito homem. Nunca a pachorra tivera mais fervoroso culto. Era gordo, corado, lento e frio. Recebeu os dois visitantes com a benevolência de um Plácido verdadeiramente plácido.
    O Sr. Pires explicou o objeto da visita.
    — É verdade que eu lhe falei de um rapto, disse o bacharel, mas não foi nos termos em que o senhor o repetiu. O que eu disse foi que o namoro da sobrinha do major Gouveia com um alferes era tal que até já se sabia do projeto de rapto.
     — E quem lhe disse isso, Sr. bacharel? perguntou o major.
     — Foi o capitão de artilharia Soares.
     — Onde mora?
     — Ali em Mata-porcos.
     — Bem, disse o major.
     E voltando-se para o Sr. Pires:
     — Agradeço-lhe o incômodo, disse; não lhe agradeço, porém, o acréscimo. Pode ir embora; o carro tem ordem de o acompanhar até à estação das barcas.
     O Sr. Pires não esperou novo discurso; despediu-se e saiu. Apenas entrou no carro deu dois ou três socos em si mesmo e fez um solilóquio extremamente desfavorável à sua pessoa.
    — É bem feito, dizia o Sr. Pires; quem me manda ser abelhudo? Se só me ocupasse com o que me diz respeito, estaria a esta hora muito descansado e não passaria por semelhante dissabor. É bem feito!
VIII
    O bacharel Plácido encarou o major, sem compreender a razão por que ficara ali, quando o outro fora embora. Não tardou que o major o esclarecesse. Logo que o Sr. Pires saiu da sala, disse ele:
    — Queira agora acompanhar-me à casa do capitão Soares.
    — Acompanhá-lo! exclamou o bacharel mais surpreendido do que se lhe caísse o nariz no lenço de tabaco.
    — Sim, senhor.
    — Que pretende fazer?
    — Oh! nada que o deva assustar. Compreende que se trata de uma sobrinha, e que um tio tem necessidade de chegar à origem de semelhante boato. Não crimino os que o repetiram, mas quero haver-me com o que o inventou.
      O bacharel recalcitrou: a sua pachorra dava mil razões para demonstrar que sair de casa às ave-marias para ir a Mata-porcos era um absurdo. A nada atendia o major Gouveia, e com o tom intimador que lhe era peculiar, antes intimava do que persuadia o gordo bacharel.
      — Mas há de confessar que é longe, observou este.
      — Não seja essa a dúvida, acudiu o outro; mande chamar um carro que eu pago.
     O bacharel Plácido coçou a orelha, deu três passos na sala, suspendeu a barriga e sentou-se.
     — Então? disse o major ao cabo de algum tempo de silêncio.
     — Refleti, disse o bacharel; é melhor irmos a pé; eu jantei há pouco e preciso digerir. Vamos a pé...
     — Bem, estou às suas ordens.
      O bacharel arrastou a sua pessoa até a alcova, enquanto o major, com as mãos nas costas, passeava na sala meditando e fazendo, a espaços, um gesto de impaciência.
     Gastou o bacharel cerca de vinte e cinco minutos em preparar a sua pessoa, e saiu enfim à sala, quando o major ia já tocar a campainha para chamar alguém.
     — Pronto?
     — Pronto.
    — Vamos!
    — Deus vá conosco.
    Saíram os dois na direção de Mata-porcos.
     Se uma pipa andasse seria o bacharel Plácido; já porque a gordura não lho consentia, já porque desejara pregar uma peça ao importuno, o bacharel não ia sequer com passo de gente. Não andava... arrastava-se. De quando em quando parava, respirava e bufava; depois seguia vagarosamente o caminho.
     Com este era impossível o major empregar o sistema de reboque que tão bom efeito teve com Luís da Costa. Ainda que o quisesse obrigar a andar era impossível, porque ninguém arrasta oito arrobas com a simples força do braço.
     Tudo isto punha o major em apuros. Se visse passar um carro, tudo estava acabado, porque o bacharel não resistiria ao seu convite intimativo; mas os carros tinham-se apostado para não passar ali, ao menos vazios, e só de longe em longe um tílburi vago convidava, a passo lento, os fregueses.
    O resultado de tudo isto foi que, só às oito horas, chegaram os dois à casa do capitão Soares. O bacharel respirou à larga, enquanto o major batia palmas na escada.
    — Quem é? perguntou uma voz açucarada.
    — O Sr. capitão? disse o major Gouveia.
    — Eu não sei se já saiu, respondeu a voz; vou ver.
    Foi ver, enquanto o major limpava a testa e se preparava para tudo o que pudesse sair de semelhante embrulhada. A voz não voltou senão dali a oito minutos, para perguntar com toda a singeleza:
    — O senhor quem é?
    — Diga que é o bacharel Plácido, acudiu o indivíduo deste nome, que ansiava por arrumar a católica pessoa em cima de algum sofá.
      A voz foi dar a resposta e daí a dois minutos voltou a dizer que o bacharel Plácido podia subir.
    Subiram os dois.
    O capitão estava na sala e veio receber à porta o bacharel e o major. A este conhecia também, mas eram apenas cumprimentos de chapéu.
    — Queiram sentar-se.
      Sentaram-se
IX
    — Que mandam nesta sua casa? perguntou o capitão Soares.
    O bacharel usou da palavra:
     — Capitão, eu tive a infelicidade de repetir aquilo que você me contou a respeito da sobrinha do Sr. major Gouveia.
     — Não me lembra; que foi? disse o capitão com uma cara tão alegre como a de homem a quem estivessem torcendo um pé.
    — Disse-me você, continuou o bacharel Plácido, que o namoro da sobrinha do Sr. major Gouveia era tão sabido que até já se falava de um projeto de rapto...
    — Perdão! interrompeu o capitão. Agora me lembro que alguma coisa lhe disse, mas não foi tanto como você acaba de repetir.
    — Não foi?
    — Não.
    — Então que foi?
     — O que eu disse foi que havia notícia vaga de um namoro da sobrinha de V. S. com um alferes. Nada mais disse. Houve equívoco da parte do meu amigo Plácido.
    — Sim, há alguma diferença, concordou o bacharel.
    — Há, disse o major deitando-lhe os olhos por cima do ombro.
    Seguiu-se um silêncio.
     Foi o major Gouveia o primeiro que falou.
      — Enfim, senhores, disse ele, ando desde as duas horas da tarde na indagação da fonte da notícia que me deram a respeito de minha sobrinha. A notícia tem diminuído muito, mas ainda há aí um namoro de alferes que incomoda. Quer o Sr. capitão dizer-me a quem ouviu isso?
      — Pois não, disse o capitão; ouvi-o ao desembargador Lucas.
      — É meu amigo!
      — Tanto melhor.
     — Acho impossível que ele dissesse isso, disse o major levantando-se.
     — Senhor! exclamou o capitão.
      — Perdoe-me, capitão, disse o major caindo em si. Há de concordar que ouvir a gente o seu nome assim maltratado por culpa de um amigo...
     — Nem ele disse por mal, observou o capitão Soares. Parecia até lamentar o fato, visto que sua sobrinha está para casar com outra pessoa...
     — É verdade, concordou o major. O desembargador não era capaz de injuriar-me; naturalmente ouviu isso a alguém.
     — É provável.
     — Tenho interesse em saber a fonte de semelhante boato. Acompanhe-me à casa dele.
     — Agora!
     — É indispensável.
     — Mas sabe que ele mora no Rio Comprido?
     — Sei; iremos de carro.
     O bacharel Plácido aprovou esta resolução e despediu-se dos dois militares.
     — Não podíamos adiar isso para depois? perguntou o capitão logo que o bacharel saiu.
    — Não, senhor.
      O capitão estava em sua casa; mas o major tinha tal império na voz ou no gesto quando exprimia a sua vontade, que era impossível resistir-lhe. O capitão não teve remédio senão ceder.
      Preparou-se, meteram-se num carro e foram na direção do Rio Comprido, onde morava o desembargador.
     O desembargador era um homem alto e magro, dotado de excelente coração, mas implacável contra quem quer que lhe interrompesse uma partida de gamão.
     Ora, justamente na ocasião em que os dois lhe bateram à porta, jogava ele o gamão com o coadjutor da freguesia, cujo dado era tão feliz que em menos de uma hora lhe dera já cinco gangas. O desembargador fumava... figuradamente falando, e o coadjutor sorria, quando o moleque foi dar parte de que duas pessoas estavam na sala e queriam falar com o desembargador.
     O digno sacerdote da justiça teve ímpetos de atirar o copo à cara do moleque; conteve-se, ou antes traduziu o seu furor num discurso furibundo contra os importunos e maçantes.
     — Há de ver que é algum procurador à procura de autos, ou à cata de autos, ou à cata de informações. Que os leve o diabo a todos eles.
       — Vamos, tenha paciência, dizia-lhe o coadjutor. Vá, vá ver o que é, que eu o espero. Talvez que esta interrupção corrija a sorte dos dados.
     — Tem razão, é possível, concordou o desembargador, levantando-se e dirigindo-se para a sala.
X
    Na sala teve a surpresa de achar dois conhecidos.
     O capitão levantou-se sorrindo e pediu-lhe desculpa do incômodo que lhe vinha dar. O major levantou-se também, mas não sorria.
     Feitos os cumprimentos foi exposta a questão. O capitão Soares apelou para a memória do desembargador a quem dizia ter ouvido a notícia do namoro da sobrinha do major Gouveia.
      — Recordo-me ter-lhe dito, respondeu o desembargador, que a sobrinha de meu amigo Gouveia piscara o olho a um alferes, o que lamentei do fundo d’alma, visto estar para casar. Não lhe disse, porém, que havia namoro...
     O major não pôde disfarçar um sorriso, vendo que o boato ia a diminuir à proporção que se aproximava da fonte. Estava disposto a não dormir sem dar com ela.
     — Muito bem, disse ele; a mim não basta esse dito; desejo saber a quem o ouviu, a fim de chegar ao primeiro culpado de semelhante boato.
     — A quem o ouvi?
    — Sim.
    — Foi ao senhor.
    — A mim!
    — Sim, senhor; sábado passado.
    — Não é possível!
     — Não se lembra que me disse na Rua do Ouvidor, quando falávamos das proezas da...
      — Ah! mas não foi isso! exclamou o major. O que eu lhe disse foi outra coisa. Disse-lhe que era capaz de castigar minha sobrinha se ela, estando agora para casar, deitasse os olhos a algum alferes que passasse.
    — Nada mais? perguntou o capitão.
    — Mais nada.
    — Realmente é curioso.
    O major despediu-se do desembargador, levou o capitão até Mata-porcos e foi direito para casa praguejando contra si e todo o mundo.
    Ao entrar em casa estava já mais aplacado. O que o consolou foi a idéia de que o boato podia ser mais prejudicial do que fora. Na cama ainda pensou no acontecimento, mas já se ria da maçada que dera aos noveleiros. Suas últimas palavras antes de dormir foram:
     — Quem conta um conto...

1 – O autor mostra que há coisas no ser humano que ele não compreende,
mas gostaria de compreender. Que exemplo ele dá daquilo que ele não
compreende?
O autor diz não compreender o gosto que muitas pessoas têm de dar notícias, ou seja, o ofício
de noveleiro.
2 – O autor dialoga com o leitor, ou seja, procura fazer um contato direto com
seu interlocutor. Aliás, essa é uma marca machadiana. Que recurso Machado
utiliza para realizar esta tarefa?
Durante o texto, Machado chama a atenção do leitor para que este interaja com ele; por
exemplo, faz uma indagação “E todavia quantas pessoas não conhecerá o leitor com essa
singular vocação?”, o leitor certamente refletirá sobre pessoas que conhece que costumam
fazer uso desta prática.
3 – No quarto parágrafo do texto o autor avisa: “O caso... Lê-se depressa,
porque não é grande.” Que efeito ele pretende alcançar com esse recurso?
O autor tem a intenção de não perder o leitor, de prendê-lo à leitura, de conquistá-lo pela
notícia de ser a história pequena e não tomar-lhe muito tempo.
4 – Quais são as características de um bom noveleiro, segundo Machado de
Assis?
Para Machado, um bom noveleiro deve saber o momento e o modo exatos de se dar uma
notícia, bem como escolher o auditório. É preciso ter certo glamour para exercer bem o ofício,
por isso não é noveleiro quem quer.
5 – Machado de Assis não apresenta logo o noveleiro em questão; antes,
mostra-o aos poucos, falando de suas qualidades. Quem é o noveleiro e quais
são seus predicados?
O noveleiro em questão é Luís da Costa, homem de seus trinta anos, bem-apessoado e bem
falante, gostava de conversar e espalhar notícias. Não dava a notícia de qualquer jeito,
valorizava; sabia como ninguém escolher o auditório, a ocasião e a maneira de fazê-lo.
6 – Ao contar aos presentes na loja do Paula Brito a notícia de que a sobrinha
do Major Gouveia havia fugido, houve olhares de soslaio e pesado silêncio. O
que levava os ouvintes da notícia a agirem desta forma?
As pessoas que ouviam a notícia dada por Luís da Costa sabiam que o major de quem ele
falava era um dos presentes, mas não sabiam como avisá-lo.
7 – Após o primeiro momento de tensão, no qual Luís da Costa descobre estar
diante daquele a quem expunha e até criticava, há novo embaraço. O major
desfia as peripécias proferidas pelo noveleiro e comprova-lhe os absurdos. Que
prova o major dá de que a notícia alvissareira é mentirosa?
O major diz ao noveleiro que sua sobrinha não poderia ter fugido da casa dele naquela manhã,
visto que a moça se achava há quinze dias em Juiz de Fora.
8 – Qual a reação do nosso desastrado noveleiro ao se defrontar com o
homem de quem falava há pouco?
O noveleiro ficou sem ação, petrificado; empalideceu tanto que parecia um defunto.
9 – Ao ouvir o Major, além do estado de choque em que se encontra, Luís da
Costa passa a ostentar novos adereços: fica amarelo, verde e, por último, de
todas as cores do arco-íris. É possível que aconteça a algum ser humano essa
mudança de cores? Usando estas imagens, o autor quer levar o leitor a
visualizar a cena. O que essa mudança de cores significa?
Resposta pessoal. (Lembrar aos alunos que a linguagem pode ser usada em sentido figurado).
A mudança de cores mostra a mudança de estado do noveleiro, várias reações em pouco
tempo (mudança de humor, confusão de sentimentos, vexação).
10 – Luís da Costa se defende. Que argumento ele usa para convencer o Major
de que não está mentindo?
O noveleiro, diante da situação, argumenta que não poderia ter inventado a notícia, que
alguém lhe contara.
11 – O major aceita seu argumento, mas exige saber o nome de quem lhe
contara tal notícia. Após saber de quem se trata, que decisão toma o homem
ferido em sua honra?
O major decide ir ter com o Pires, autor da notícia segundo o noveleiro, para tomar
esclarecimentos.
12 – Luís da Costa procura dissuadir o Major da tarefa de procurar o autor da
notícia, mas fracassa e se vê obrigado a acompanhá-lo até o escritório do
Pires. Resumidamente, recorde (escreva) o que sucedeu aos dois homens
desde que deixaram a loja do Paula Brito até o momento de encontrar o
“inencontrável” Pires.
O major e Luís da Costa seguiram a passos largos até o escritório do Sr. Pires, na Rua dos
Pescadores; não o encontrando foram a trote à sua procura na Secretaria da Justiça, na Rua
do Passeio; o procurado já havia saído de lá dez minutos antes, voltaram à Rua dos
Pescadores. Agora Luís da Costa ia arrastado pelo braço do major. Ao chegarem ao escritório,
deram com o nariz na porta; o major decidiu então que iriam à Praia Grande, apesar da
resistência do noveleiro. Antes, porém, a pedido do alvissareiro, jantaram. Depois tomaram
uma barca de Niterói para a cidade imperial (Rio). O Sr. Pires não se encontrava em casa,
tinha ido jogar voltarete na casa do Dr. Oliveira. Partiram então para S. Domingos. Aí,
finalmente puderam encontrar o homem.
13 – Qual foi a reação do Pires diante do exposto por Luís da Costa?
O Sr. Pires apresentou modificações de espanto e medo, não conseguindo pronunciar palavra
ao término da exposição feita por Luís da Costa.
14 – Luís da Costa, ao se ver liberado da presença do Major, tomou uma barca
e rumou de volta. O Major, então, faz duas exigências a Pires. Quais?
Pediu-lhe que tivesse a bondade de o acompanhar à casa do empregado do Tesouro e quis
saber o nome do tal empregado.
15 – O Major faz uma peregrinação: de Luís da Costa a Pires; de Pires ao
Bacharel Plácido; do Bacharel ao Capitão Soares; do Capitão ao
Desembargador Lucas; do Desembargador a ele mesmo, o próprio Major, que
se surpreende com sua descoberta. Qual é a descoberta feita pelo major?
Descobriu que a desastrosa notícia diminuía à proporção que chegava a um novo suspeito. E,
de suspeito em suspeito, o major descobre que a fonte do boato era ele mesmo.
16 – O autor termina o texto com um dito popular. Complete-o:
“Quem conta um conto, aumenta um ponto.”
17 – Dê sua interpretação a este dito popular:
Resposta pessoal.
18 – Por que o Major tinha necessidade de encontrar o autor da notícia sobre
sua sobrinha?
Queria chegar à fonte da notícia para provar que esta era mentirosa e salvar a honra de sua
sobrinha, tanto quanto do seu nome.
19 – Havia uma notícia? Justifique sua resposta, baseando-se nos fatos
apresentados ao longo do texto:
Havia o fato do major ter dito que era capaz de castigar sua sobrinha, se esta deitasse os olhos
a algum alferes que passasse, estando ela para casar. No entanto, esta notícia foi aumentada
e modificada conforme foi passando de boca em boca.