O MISTÉRIO DA ILHA
1. Dia claro e com mistério
O dia era lindo, tão lindo quanto se puder imaginar. E Carlos estava de férias. Quer dizer, não precisava acordar cedo. Mas, mesmo assim, acordou. Talvez por causa da luz que entrava tão clara pela janela. Talvez por causa do hábito do horário da escola. Talvez por causa de um sonho esquisito que agora fugia da cabeça sem que ele conseguisse lembrar, apesar de fazer força. Tudo se desmanchando, sumindo para longe, por mais que a curiosidade fizesse com que ele tentasse agarrar as imagens na memória. Como se a luz do dia e o ato de abrir os olhos derretessem tudo o que ele tinha visto e vivido naquela misteriosa região do sono. Nem mesmo sabia se era um sonho bom ou um pesadelo. Só tinha certeza de que era muito nítido, como uma coisa vivida de verdade. E agora estava esquecendo, que droga!
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Mas já sabia que, quando acontece isso, o melhor é a gente não ficar forçando. Mais tarde, a lembrança do sonho volta. Na hora que ela quiser, porque não dá para comandar muito esses assuntos. Pelo menos, ele, Carlos, não conseguia.
De qualquer jeito, o que importava agora é que tinha acordado. Por isso, o melhor era levantar.
Foi até a janela e olhou o dia que começava.
Lá embaixo, do outro lado da rua e da calçada, dos coqueiros e da areia, o mar de água clara se espreguiçava.
Como se também estivesse acabando de acordar. Mas, também, como se estivesse chamando o menino para perto dele. Não do jeito manso que o mar sabe chamar quando a gente encosta um búzio no ouvido, uma voz que vem de longe. Mas do jeito urgente que a água verde usa para atrair quem nasceu e vive na beira do seu movimento salgado. Aquele jeito cheiroso e, de repente, o jeito que faz a gente largar tudo o que tem para fazer e sair correndo para junto do mar.
Foi o que Carlos fez. Nem teve dúvidas. Abriu a gaveta, pegou um calção, vestiu uma camisa colorida, apanhou um impermeável para o caso de alguma emergência e num instante estava na sala. Engoliu o café às pressas, reclamando da demora:
- Puxa, Maria, que lesma... Anda logo com isso, que eu não posso perder tempo... E prepare um lanche para eu levar. Depressa, que eu vou passar o dia no mar.
Quando Carlos queria uma coisa, era sempre assim. Queria porque queria porque queria. Feito uma criancinha teimosa. Pouco estava ligando para os problemas dos outros. Estava mesmo acostumado a que fizessem tudo para ele. Já de saída, avisou à mãe:
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- Vou sair de barco.
A resposta veio um tanto preocupada:
- Sozinho, meu filho? Você sabe que eu não gosto...
- Bobagem, mãe, já estou grande, sei velejar direito. Afinal de contas, desde pequeno que não faço outra coisa com papai todo domingo. E depois, não vou sozinho. Vou chamar o Chico. Ele vai comigo e me dá uma mão. O mar está calmo, o vento está ótimo, não tem nem uma nuvem no céu...
A mãe insistiu:
- Mas Chico é da sua idade, meu filho... Não é a mesma coisa que sair com um adulto.
- Fique descansada, mãe. A gente não vai longe. Vamos só ficar dentro da baía, não tem nem onda... Como das outras vezes. Não se preocupe. Tchau.
Desceu as escadas apressado, acabando de fechar a sacola onde tinha jogado de qualquer maneira as frutas e os sanduíches que a empregada lhe entregara. Ainda se preocupou um pouco: e se não encontrasse Chico? O chato de só resolver sair de barco em cima da hora é que podia ser que o companheiro tivesse ido fazer outra coisa. E sozinho, Carlos não podia ir. Não sabia nem manobrar a embarcação direito.
Mas Chico estava no cais. Com um bando de amigos, preparando-se para soltar pipa. Pipa que ele mesmo tinha feito. Chico era danado de jeitoso. Fazia cada coisa linda - pipa, balão, espingardinha de cabo de guarda-chuva, atiradeira. Consertava tudo. Dava jeito em tudo. Fazia milagres com seu inseparável canivete. Era um bamba na bola de gude. Um craque no futebol. E ainda soltava pipa como ninguém.
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Chico, vamos sair de barco - avisou Carlos, em tom de mando.
Dava para ver que Chico não tinha gostado da idéia. Em volta, os amigos todos olhavam, esperando, de pipa na mão. Ele ainda tentou reclamar:
- Mas, Carlos, você não tinha avisado nada... Eu já tinha combinado outra coisa. Está uma brisa ótima, a gente ia soltar pipa.
- Não avisei nada porque não sabia, não podia adivinhar. Só hoje de manhã é que me deu vontade. Essa tal brisa ótima de que você falou... Anda logo. Estou te esperando lá dentro.
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E enquanto Chico suspirava, ainda veio outra ordem:
- Ah, vê se arruma também qualquer coisa para matar a sede. Eu só trouxe comida...
Com suspiro ou sem suspiro, que jeito? Chico tinha mesmo que perder seu programa. Afinal de contas, assim é que eram as coisas, desde que ele se entendia por gente. O pai de Carlos pagava. O pai de Chico recebia. O pai de Carlos mandava. O pai de Chico cumpria. E, se Carlos ordenava, a pipa de Chico ficava mesmo para outro dia.
Providenciou tudo. E num instante estavam saindo. Bom filho de marinheiro, ajudando o pai desde pequeno, Chico era um mestre nas coisas do mar. Gostava de domar a brisa, cavalgar as 8 ondas, empinar na arrebentação, deslizar no sol. Soltar as velas ao vento era com ele mesmo. Só tinha se aborrecido porque nesse dia seu encontro com o vento devia ser outro, em terra, de pipa na linha, na companhia dos amigos... Pelo menos, era o que tinha planejado. Mas Carlos até que podia ser bom companheiro - às vezes. E o passeio, afinal, era bom. Dava gosto sentir o calor do sol e os respingos da água, ouvir o cabo da vela gemer de vez em quando, ver passar uma gaivota, descobrir o brilho de um peixe pulando ao longe.
Por sua vez, Carlos estava feliz. Tinha sido boa a idéia de aproveitar o barco que o pai só usava no fim de semana. Um passeio lindo. O mar azul, encontrando o céu claro lá longe, um dia limpo, sem nuvem nenhuma... Sem nuvem? E aquela ali na frente, tão perto? Seria capaz de jurar que ela tinha se formado de repente, justamente naquele instante, não estava ali ainda há pouco, tinha certeza. Tinha olhado naquela direção há pouquinho, não havia nada. Ia exatamente comentar alguma coisa, quando ouviu a voz de Chico reclamar:
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- Mas que neblina mais esquisita aí na frente...
- Também achei - concordou Carlos. - E se formou de repente, ainda agora não tinha nada.
- Nunca vi uma neblina desse jeito, assim tão esquisita...
- repetiu Chico, e sua voz mostrava que ele estava meio assustado.
Carlos também estava, mas tentou dar um palpite fingindo calma. Afinal de contas, ele era uma espécie de capitão daquele barco e não podia dar a impressão de que estava com medo.
- Vamos desviar dela, Chico.
- Se a gente pudesse, bem que eu desviava. Mas é que ela não está desviando da gente, veja só. A gente muda o rumo do barco e ela também muda. Está vindo para cá, na direção da gente, e bem depressa.
Estava mesmo.
Num instante estavam inteiramente cercados.
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1. Qual o título do livro?
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2. A partir da leitura do título do livro o que você imagina que irá acontecer?
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3. Qual o nome da autora?
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4. Quais são os personagens principais dom primeiro capítulo?
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5. O Que o pai de Chico era do pai de Carlos?
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6. Qual era o nome da empregada?
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7. O que cercou o barco?
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8. Como era a personalidade de Carlos?
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