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sábado, 29 de abril de 2017

CRÔNICA O VENDEDOR DE PALAVRAS TELÁRIS 7º ANO P222

(Por: Fábio Reynol)  

Ouviu dizer que o Brasil sofria de uma grave falta de palavras. Em um programa de TV, viu uma escritora lamentando que não se liam livros nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, como qualquer doença grande, "indigência lexical". Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma ideia fantástica. Pegou dicionário, mesa e cartolina e saiu ao mercado cavar espaço entre os camelôs.
Entre uma banca de relógios e outra de lingerie instalou a sua: uma mesa, o dicionário e a cartolina na qual se lia: "Histriônico — apenas R$ 0,50!".
Demorou quase quatro horas para que o primeiro de mais de cinqüenta curiosos parasse e perguntasse.
— O que o senhor está vendendo?
— Palavras, meu senhor. A promoção do dia é histriônico a cinqüenta centavos como diz a placa.
— O senhor não pode vender palavras. Elas não são suas. Palavras são de todos.
— O senhor sabe o significado de histriônico?
— Não.
— Então o senhor não a tem. Não vendo algo que as pessoas já têm ou coisas de que elas não precisem.
— Mas eu posso pegar essa palavra de graça no dicionário.
— O senhor tem dicionário em casa?
— Não. Mas eu poderia muito bem ir à biblioteca pública e consultar um.
— O senhor estava indo à biblioteca?
— Não. Na verdade, eu estou a caminho do supermercado.
— Então veio ao lugar certo. O senhor está para comprar o feijão e a alface, pode muito bem levar para casa uma palavra por apenas cinqüenta centavos de real!
— Eu não vou usar essa palavra. Vou pagar para depois esquecê-la?
— Se o senhor não comer a alface ela acaba apodrecendo na geladeira e terá de jogá-la fora e o feijão caruncha.
— O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?
— O senhor conhece Nélida Piñon?
— Não.
— É uma escritora. Esta manhã, ela disse na televisão que o País sofre com a falta de palavras, pois os livros são muito pouco lidos por aqui.
— E por que o senhor não vende livros?
— Justamente por isso. As pessoas não compram as palavras no atacado, portanto eu as vendo no varejo.
— E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não enchem barriga.
— A escritora também disse que cada palavra corresponde a um pensamento. Se temos poucas palavras, pensamos pouco. Se eu vender uma palavra por dia, trabalhando duzentos dias por ano, serão duzentos novos pensamentos cem por cento brasileiros. Isso sem contar os que furtam o meu produto. São como trombadinhas que saem correndo com os relógios do meu colega aqui do lado. Olhe aquela senhora com o carrinho de feira dobrando a esquina. Com aquela carinha de dona-de-casa ela nunca me enganou. Passou por aqui sorrateira. Olhou minha placa e deu um sorrisinho maroto se mordendo de curiosidade. Mas nem parou para perguntar. Eu tenho certeza de que ela tem um dicionário em casa. Assim que chegar lá, vai abri-lo e me roubar a carga. Suponho que para cada pessoa que se dispõe a comprar uma palavra, pelo menos cinco a roubarão. Então eu provocarei mil pensamentos novos em um ano de trabalho.
— O senhor não acha muita pretensão? Pegar um...
— Jactância.
— Pegar um livro velho...
— Alfarrábio.
— O senhor me interrompe!
— Profaço.
— Está me enrolando, não é?
— Tergiversando.
— Quanta lenga-lenga...
— Ambages.
— Ambages?
— Pode ser também evasivas.
— Eu sou mesmo um banana para dar trela para gente como você!
— Pusilânime.
— O senhor é engraçadinho, não?
— Finalmente chegamos: histriônico!
— Adeus.
— Ei! Vai embora sem pagar?
— Tome seus cinqüenta centavos.
— São três reais e cinqüenta.
— Como é?
— Pelas minhas contas, são oito palavras novas que eu acabei de entregar para o senhor. Só histriônico estava na promoção, mas como o senhor se mostrou interessado, faço todas pelo mesmo preço.
— Mas oito palavras seriam quatro reais, certo?
— É que quem leva ambages ganha uma evasiva, entende?
— Tem troco para cinco?

01-  Logo  no  primeiro  parágrafo,  o  narrador  refere-se  a  um  "mal"  de  que  sofreria  o  Brasil.  Que  "mal"  é esse?  Explique  a partir da leitura desse parágrafo. R.:__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 02- "Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma ideia fantástica." •  Nesse  trecho,  o  narrador  do  texto  refere-se  ao  vendedor,  atribuindo-lhe  uma  qualidade.  Que  qualidade é  essa? Explique.
 R.:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________

03- Retire do trecho:
"[...]  não  se  liam  livros  nesta  terra,  por  isso  as palavras  estavam  em  falta  na  praça.  O  mal  tinha  até  nome  de batismo, como qualquer doença grande, 'indigência lexical'."

A  expressão  destacada  é  referida  no  texto  como  uma doença.  Está  empregada  em linguagem figurada, isto  é, fora de seu sentido literal. • Como poderia ficar esta expressão em linguagem com sentido literal, não figurado?
R.:_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 04- No texto, o vendedor fala sobre uma escritora que afirma que o país sofre com falta de palavras porque os livros são poucos livros.
• Em seguida, o vendedor afirma que as pessoas não compram palavras no atacado.
a) Responda: que relação o vendedor fez entre livros e as palavras no atacado?
 R.:______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ b) Observe a frase "As pessoas não compram as palavras no atacado, portanto eu as vendo no varejo"   Substitua as expressões destacadas por outras que deixam clara a intenção do vendedor.
R.:___________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5- A primeira pessoa atraída para "banca de palavras" fica indignada com o produto que estava sendo vendido: palavras.  • Explique o argumento que esta pessoa empregou para mostrar sua indignação.
R.:_________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________

 06- Qual o argumento que o vendedor empregou como resposta?
R.:_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 07- Leia: "E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não enchem barriga."       Esse é um argumento empregado pelo cliente para não comprar palavras.

 a) Explique o sentido desse argumento.
R.:_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

b)  Que  tipo  de  característica  pessoal  essa  forma  de  pensar  pode  revelar  em  relação  ao  cliente?  Marque a(s) alternativa(s) que caracteriza(m) a personagem que falou isso.
(A) Pessoa sensível, para quem os sentimentos têm mais valor que as coisas práticas.
(B) Pessoa muito objetiva, para quem as coisas têm de ter uma finalidade prática.
(C) Pessoa que valoriza a cultura, principalmente a que é encontrada nos livros.
(D) Pessoa para quem a cultura só terá valor se apresentar resultados concretos visíveis.

08- O cliente pergunta ao vendedor: "O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?". Pelos argumentos que apresenta, esse é o objetivo do vendedor? Explique com argumentos retirados da fala do vendedor.
 R.:_________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________




01- Releia o trecho:
 "Ouviu  dizer  que  o  Brasil  sofria,  de  uma  falta  grave  de  palavras.  Em  um  programa  de  TV,  viu  uma  escritora lamentando que não se liam livros nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, com qualquer doença grave,  ́indigência lexical'."
a) Ao dizer o Brasil sofria, a quem o narrador se refere: ao território ou às pessoas que habitam o país? Explique por quê.
R.:__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

b)  Nesse  parágrafo,  qual  a  outra  palavra  ou  expressão  que  indica  que  o  narrador atribui  característica  de  ser  vivo  ao Brasil? R.: ___________________________________________________________________________
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RELATO DE COSTAS PARA O ANO NOVO PROJETO TELÁRIS 7º ANO P.112

DE COSTAS PARA O ANO-NOVO AMYR KLINK

   Resignado,  como  se  o  mau  tempo  fosse  o  único  tempo  possível,  recolhi  o  que  restava  da  buja  e  deixei  apenas  a  velinha  de  tempestade  solteira.  Talvez  viúva.  Disparou  então  de  uma  vez  a  fúria  do  Southern  Ocean.  Foi-se  a  graça  e  o  resto  de  bom  humor.  Foram-se  as  últimas  gotas  de  paciência para tentar entender o que se passava. Caos completo. Uma desordem contínua de água e espuma. O mar estava desmoronando ao redor. A escota da velinha, único motor puxando o Paratii a  uma  velocidade  completamente  ilegal,  encostou,  sem  que  notasse,  numa  roldana  da  vela  grande,  puiu e ameaçava estourar. Se um pedaço de pano se soltasse ou se o cabo se partisse, decolaríamos para um desastre espetacular.
        Criei  coragem,  cortei  um  pedaço  de  cabo,  saí  e,  arrastando-me  como  um  polvo  até  a  ponta  da retranca, fiz uma escota de reserva rezando para não ser arrancado dali por uma onda. Que falta faziam  os  outros  quatro  membros...  O  cabo  de  dezesseis  milímetros  voava  no  vento  como  um  fiozinho de lã. Fazer as voltas e os nós pendurado sobre a espuma não foi nem um pouco divertido. Em vez de falar em voz alta, eu gritava. Gritava para mim mesmo o que deveria fazer, que o nó não estava firme. Gritava para ouvir minha própria voz no meio daquela turbina eólica infernal, que não parava. Gritava para não parar de fazer força, para não desistir dos nós que era preciso dar.
        Voltei  para  dentro,  miraculosamente  pouco  ensopado.  Com  uma  toalha  preta  e  felpuda  me  enxuguei de roupa e tudo: casaco, macacão, botas. Minutos depois, uma cachoeira lateral vinda do norte  bateu  na  popa,  no  meio  de  uma  descida  de  onda,  de  oeste.  O  Paratii atravessou.  A  cozinha  subia  e  a  mesa  de  navegação  foi  para  baixo.  De  toalha  em  punho,  escorreguei  até  bater  na  parede  oposta.  Do  lado  de  fora,  a  retranca,  onde  eu  me  encontrava  minutos  antes,  mergulhou  inteira  na  onda, com a vela pane-jando desesperadamente, até que o piloto retomasse o rumo. "Muito tempo, muito  tempo",  gritei.  Desliguei  o  piloto  e  assumi  o  leme  interno.  Meu  Deus,  pior  ainda,  o  barco  endireitou mas eu não conseguia manter o rumo certo por falta de referência. Olhando para a frente, não havia meio de saber por quais ondas estava descendo, as de norte ou as de oeste. Comandar pela bússola  também  não  resolvia  o  problema.  Virei  de  costas  para  a  proa  e,  olhando  para  as  ondas,  segurando o leme por trás, descobri um jeito de pilotar ao contrário, apenas controlando as paredes de  água  e  a  birutinha  de  vento  da  targa  traseira.  Surfando  de  costas!  Quem  diria!  Não  era  exatamente o modo como planejei virar o ano e começar vida nova. As deliberações de Ano-Novo se resumiram a uma só: escapar vivo.


Texto de viagem
Eu estava apreensiva, sem notícias do Amyr desde o dia 27. Não ter ouvido sua voz na virada de ano foi motivo de muita preocupação. Procurava um quase impossível acesso à internet em Paraty quando, depois de uma semana de silêncio, o telefone tocou. Era o Amyr (UFA!). Fui ficando cada vez mais impressionada conforme ele ia descrevendo a situação que enfrentou no mar na passagem de ano:
"Foi impressionante. Os ventos chegavam a 120 quilômetros horários e as ondas de vinte metros vinham de todos os lados, me obrigando a ficar de plantão no convés opr cinquenta horas. Ventava tanto que o mar estava branco(...)."
"(...) Estou exausto, com dores por todo o corpo. Mal consigo me mexer. O vento estava forte demais e as ondas deram muito trabalho. O leme de vento segura o barco quase em qualquer situação, mas dessa vez ficou de folga.
Não deu para usar o leme de vento nem o piloto automático. Foi impressionante(...)."
(...)
No momento o Amyr acaba de reparar os danos decorrentes da tempestade que o "abraçou" no sul da Austrália. Aproveita a calmaria e o tempo bom para amarrar as velas e para "secar suas meias".
Marina Bandeira Klink

1. Logo no início de seu relato, Amyr klink afirma que estava” resignado, como se o mau tempo fosse o único tempo possível” O que ele quis dizer com essa afirmação?
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2. Escreva duas das ações realizadas para vencer a tempestade.
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3. No segundo parágrafo do relato, Amyr escreve;” Que falta faziam os outros quatros membros ”O que ele quis dizer com isso?
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4. Depois de ter conseguido vencer o desafio de dar os nós e segurar a vela do barco em meio a uma tempestade, o navegador teve de enfrentar problemas que aconteciam dentro do barco. Escreva com suas palavras o que estava acontecendo.
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5.Amyr relata assim um problema depois de ter conseguido o controle interno do barco
“ o barco endireitou, mas eu não consegui manter o rumo certo por falta de referência “
O que ele quis dizer com “ falta de referência “
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6. O que Amyr quis dizer com a exclamação “Surfando de costas! Quem diria!”?
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7. Depois de falar com o marido por telefone, a esposa de Amyr relata:
No momento o Amyr acaba de reparar os danos decorrentes da tempestade que o “abraçou” no sul da Austrália. Aproveita a calmaria e o tempo bom para marrar as velas e para “secar suas meias”.
a) no texto qual o sentido de abraçou?
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b) Qual foi a intenção de marina ao empregar aspas na expressão “abraçou” e “secar as meias”?
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8. Conhecendo melhor o relato agora, que sentido o título “De costas para o ano novo “ assume?

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RELATO ARRIGO BARNABÉ PROJETO TELÁRIS 7º ANO

ARRIGO BARNABÉ

       EU TINHA, TALVEZ, uns cinco anos. Meu irmão mais velho, Marcos, já tinha um time: era corintiano -na esteira do campeonato do quarto centenário, quando o Corinthians foi campeão.
       Meu pai era Palmeiras, mas o que ele gostava mesmo era de futebol. Havia jogado quase profissionalmente e era craque. O pobre coitado só teve filho perna de pau. Mas, curiosamente, incentivava a criançada a torcer por outro time. Devia ser porque, gostando tanto do esporte, queria torcer (na carona dos filhos) para outros clubes...
       E chegou um momento em que tivemos uma conversa de homem para homem. Já estava mais do que na hora de eu escolher um time. A casa já tinha um corintiano, e eu adorava o distintivo do Corinthians, em que se destacavam a âncora, o timão (na verdade, uma boia) e a cor vermelha. Achava lindo!
       Então meu pai me apresentou um brinquedo que consistia em um pequeno disco de plástico transparente. Havia ali dentro uma bolinha prateada solta. No disco, dois jogadores desenhados em posição de chute e, na ponta da chuteira de cada um, uma depressão para a bola se encaixar. O objetivo era encaixar a bola na chuteira.
       Um dos jogadores era negro, usava um uniforme vermelho e verde. Adorei. O outro era um jogador branco, mas de uma cor branca enjoada, com uniforme todo branco, muito sem graça.
        É claro que eu ia torcer para o time do jogador negro de uniforme vermelho e verde. Mas uma fração de segundos antes de decidir, perguntei a meu pai qual era o nome dos times.
       - Este aqui é Portuguesa, e o outro, Santos.
       Gostei muito do nome também, Portuguesa. Achei legal. Existem nomes que atraem a simpatia das crianças, não sei por quê.
        Mas o nome Santos era poderoso. Eu já conhecia a ideia de santo. Meu pai e meu avô materno já me haviam explicado. "Um santo é uma pessoa que só faz o bem, que é tão boa que vive junto a Jesus e Deus lá no céu..." Eu havia ficado muito impressionado que houvesse pessoas assim, achava alguma coisa além do bonito, além da mera beleza: era maior, um santo, era uma coisa extra.
     Daí perguntei ao meu pai:
       -Mas por que o time se chama Santos? É por que tem muito santo lá?
        Meu pai, achando graça, disse:
        -É, sim, só tem santo no time...
         Então, fiz uma renúncia, um sacrifício. Sacrifiquei meu gosto, que era a Portuguesa, para torcer por um time que eu achava sem graça, sem colorido, com um distintivo feio, mas que, no fim das contas, era um time de santos"¦ E Deus, lá em cima, vendo meu sacrifício e desprendimento, me abençoou, fazendo com que o time que escolhi se tornasse o maior de todos os tempos.
      Eu sei que foi antes do Pelé virar o "Pelé". Lembro-me de nomes desse período, nomes, esses sim, de que eu gostava, como Urubatão e Pagão. Lembro-me de Vasconcelos, Tite, Del Vecchio, Pepe, Manga.
       Algum tempo depois, ouvi pela primeira vez "Assum Preto", com Luiz Gonzaga. Meu pai havia comprado o disco e o trouxe para casa, à tarde, voltando do trabalho. (Naquele dia, o Santos havia perdido para o Taubaté por 3 a 2.)
Quando colocaram o disco na radiovitrola e começou o "Assum Preto", aquela coisa de furar os olhos do pássaro, com a voz pungente do Gonzaga, comecei a chorar. Então meu pai perguntou se eu estava chorando por causa da música ou pelo fracasso do Santos diante do Taubaté.
       Envergonhado pelo choro provocado por uma canção, menti. Disse que estava chorando pela derrota do Santos. E dessa mentira nunca mais me esqueci.

1. Em seu relato de memória, Arrigo Barnabé conta fatos vividos na infância. Sobre o texto “Como me tornei santista” Escreva  as referências feitas.
Ao tempo vivenciado
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Ao espaço vivenciado
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2. No relato há várias informações sobre o pai de Arrigo. Releia:
“ O que ele gostava mesmo era de futebol”
Copie do texto uma informação que justifique a afirmação do autor.
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3. Com o pai, o menino teve uma “conversa de homem para homem”
a) Qual foi o assunto da conversa?
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b) Por que , para Arrigo, aquela foi uma “ conversa de homem para homem”?
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4. Arrigo acabou escolhendo um time que ele “achava sem graça, sem colorido, com um distintivo feio.
a) Quais eram os outros times da preferência do menino? Por qual motivo?
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b) Que atitude do pai fez com que o filho se decidisse pelo time pelo qual o pai não tinha simpatia?
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c) Na sua opinião o pai agiu certo? Por que?
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5. Copie a alternativa que melhor explica o tema/ assunto desse relato de memória de Arrigo Barnabé:
a) fatos vividos na infância;
b) motivos da escolha dom time de futebol;
c) mentiras contadas pelo pai;
d) preferência da família por diferentes times.

6. No final do relato, Arrigo afirma que mentiu para o pai. Por que ele mentiu?

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CONTO A MENINA E OS FÓSFOROS ED. DIMENSÃO

A menina dos fósforos 
Lídia Rosenberg Aratangy 

Era véspera de Ano-Novo, e a menina (tão pequena, coitadinha!) que vendia fósforos estava com muito frio e com muita fome. Seu estoque de fósforos coloridos estava intacto, ninguém tinha comprado nada. Ainda por cima, ela tinha perdido seus chinelos na neve e seus pezinhos estavam enregelados. 
Ela sabia que não podia voltar para casa, pois tinha certeza de que iria levar a maior surra do pai, com quem vivia sozinha, desde a morte da mãe. Ele batia nela constantemente e contava com o dinheiro da venda dos fósforos para comprar comida e bebida. A menina não podia chegar de mãos vazias. 
O frio aumentou e ela resolveu acender um só dos fósforos coloridos, para se aquecer um pouco. 
A pequena chama azulada trouxe mais do que um pouco de calor. Na luz bruxuleante do fósforo, seus olhinhos chorosos vislumbraram um fogareiro de ferro, onde a lenha crepitava e esquentava tanto, tanto, que ela estendeu também os seus pezinhos, para que se aquecessem. 
Mas, muito depressa, a chama se extinguiu, o fogareiro desapareceu, e a menina se viu sentada no mesmo lugar, no chão gelado, tendo nas mãos o resto apagado do fósforo. 
A noite, no entanto, parecia agora mais escura, mais fria, mais assustadora do que antes, quando ela ainda não tinha visto a luz mágica da pequena chama colorida. 
Riscou rapidamente um segundo fósforo. Desta vez, seus olhos se depararam com a visão de uma sala de jantar, com a mesa posta, tendo ao centro uma enorme travessa com um peru assado, rodeado de ameixas, uvas e maçãs. 
Apagou-se o fósforo. De novo, a menina se viu no frio da noite, enregelada e faminta, diante de uma parede escura e triste, que agora lhe parecia ainda mais escura, ainda mais triste. 
Mais que depressa, a menina acendeu um terceiro fósforo. Desta vez, ela se viu diante da figura carinhosa de sua mãezinha, morta há tanto tempo. 
Com medo de que a imagem querida também se desvanecesse no ar, como o fogareiro, como a comida, ela se põe apressadamente a acender um fósforo atrás de outro, até queimar todo o pacote. A luz assim produzida tinha uma claridade mais brilhante do que o dia, seu calor parecia mais quente do que o Sol. 
E a um aceno sorridente de sua mãe, a menina deixou-se conduzir, segurando com suas mãozinhas frias as mãos quentes e macias que sua mãezinha lhe estendia. Seguiu-a, em direção às mais brilhantes estrelas do firmamento. 
Quando clareou a fria manhã do Ano-Novo, os passantes encontraram a menina sentada no chão, cercada pelos restos de fósforos queimados. Com as faces arroxeadas, ainda com um sorriso nos lábios. Morta de frio. 
 Quis aquecer-se, coitadinha! Disse alguém, ao passar. 


1. A autora reconta uma história infantil sobre uma vendedora de fósforos. Podem-se delimitar os seguintes elementos da narrativa: 

(1º) situação inicial ou orientação: apresentação da personagem, do lugar e da época da história. Quais parágrafos do texto correspondem a cada um destes elementos?
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(2º) complicação ou ações e fatos que acontecem e que realmente compõem a história. 
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(3º) resolução
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(4º) resultado ou estado final
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2.
a) Faça uma pequena descrição da menina dos fósforos; depois indique expressões do texto que comprovem sua descrição. 
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b) Em que época do ano este conto ocorre? Como você sabe? 
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c) Esta história se passa aqui no Brasil? Por quê? 
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3.
a) Neste conto, narrado por Lídia Rosenberg Aratangy, a menina acende inicialmente três fósforos. O que ela vê após acender cada um destes fósforos? Qual a relação destas visões com o que ela está sentindo naquele momento? 
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b) Por que ela resolve continuar acendendo fósforos, antes que o terceiro se apague? 
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c) O que a garotinha vê, ao acender os fósforos, é real? Por que ela continua a acender fósforos? 
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4. Em que trecho da história está registrado o momento da morte da menina? 
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5. A história da menina dos fósforos é a primeira parte de um capítulo do livro "Doces venenos: conversas e desconversas sobre drogas". Leia a seguir a segunda parte do capítulo e veja como a autora relaciona este conto com o uso de drogas
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Texto 3 - continuação 

Muitas vezes, a realidade em que a gente vive é tão ruim, tão feia e tão triste, que dá vontade de escapar dela, mesmo a qualquer preço. 
O problema é que, em geral, as drogas fazem com que as pessoas acabem se esquecendo de que havia uma realidade da qual queriam fugir - e as pessoas passam a acreditar que não foram elas que fugiram, mas que foi a realidade que mudou. Isto é, acabam acreditando que conseguiram provocar alguma mudança no mundo e resolver algum problema, quando o que conseguiram foi apenas colocar uma espécie de lente para mudar o seu jeito de ver um mundo que continua tão ruim, tão feito e tão triste como antes. Só que mais perigoso. 
Essa espécie de sinal de realidade, essa capacidade de distinguir entre o real e o imaginário - que se perde com a droga - é um dos mecanismos responsáveis pela sobrevivência humana. 
Quando um bebê recém-nascido está com fome, é provável que ele crie, em sua fantasia, visões do seio da mãe, farto de leite. Esse fenômeno ajuda o bebê a tolerar a privação por algum tempo: permite que ele se acalme e não caia no maior desespero, enquanto a mãe não vem atendê-lo. 
No entanto, se não houvesse algum sinal que identificasse aquilo como irreal, se o bebê acreditasse mesmo que estava sendo alimentado por aquele seio fantasma e se sentisse saciado com isso, acabaria por morrer de fome. 
Como a Pequena Vendedora de Fósforos. 

ARATANGY, Lídia Rosenberg. Doces venenos: conversas e desconversas sobre drogas. 
São Paulo: Editora Olho d'Água, 1991, p. 173-175. 


6. Procure relacionar este último trecho do texto de Lídia Aratangy com a história da vendedora de fósforos. 
a) Qual era a realidade da vendedora de fósforos da qual ela procurou fugir? 
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b) Ao acender os fósforos, a garota conseguiu mudar sua realidade? Por que ela continuou acendendo fósforos? 
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c) Como este comportamento retrata também o comportamento de uma pessoa que se envolve com drogas? Como você justifica isso? 
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d) De acordo com os textos lidos, quem poderia ter ajudado a vendedora de fósforos? 
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7. O texto" A menina dos fósforos" é formado por duas partes: primeiro, a autora apresenta um conto; depois, uma exposição sobre o uso de drogas. 
a) Qual a função do conto de fadas neste texto? 
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b) Qual a função da segunda parte do texto? 
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Gabarito:

1.
(1º) parágrafos 1 e 2
(2º) parágrafos 3 a 10
(3º) parágrafo 11
(4º) parágrafo 12 e 13

2. 
a) Resposta pessoal.  A descrição do aluno  deve ser comprovada com fatos da história, mesmo que não estejam explicitados. Por exemplo: "a garotinha sofria muito" pode ser comprovado por: estava com fome e  frio, o pai batia nela constantemente, a mãe havia morrido.  
b) No fim do ano, pois o texto começa dizendo que "era véspera de Ano-Novo" e, no final, fala da "fria manhã do Ano-Novo".  
c) Não, pois no fim do ano não costuma fazer frio aqui no Brasil, embora em algumas regiões chova. A história deve se passar em lugares em  que o inverno ocorre  nesta época, como na Europa ou na América do Norte.  

3. 
a) Após acender o primeiro fósforo, ela viu um fogareiro que a esquentava do frio que sentia; após acender o segundo, ela viu uma mesa cheia de comida, pois estava com muita fome, e após acender o terceiro fósforo, ela viu sua mãe, que já morrera, de quem sentia falta. 
b) Para que a imagem de sua mãe não desapareça, como as outras aparições. 
c) Não, o que ela via eram miragens, coisas que ela queria muito, que a deixariam feliz, sem sofrimentos. Ela continuou acendendo fósforos, na esperança de que as miragens se tornassem realidade. 

4. Seguiu-a, em direção às mais brilhantes estrelas do firmamento.

5. Professor(a): sugerimos que esta questão seja discutida oralmente, no grande grupo, após a leitura individual da segunda parte do texto. Discuta com os alunos as diferentes interpretações que deverão surgir, mas assegure-se sempre de que estas diferentes respostas sejam autorizadas pelo texto. 

6. 
a)  Ela sentia fome, frio e falta de amor. Ela não podia contar com seu pai, que queria apenas o dinheiro que arrecadava com a venda dos fósforos, nem com outras pessoas, pois ninguém comprou fósforos ou se interessou por ela. 
b) Não; nas chamas dos fósforos, ela só via miragens que mostravam tudo aquilo de que ela precisava, mas não tinha.  Ela continuou acendendo os fósforos, porque cada vez que um fósforo se apagava a miragem desaparecia, e ela voltava para seu mundo ruim: então ela tentou manter a chama acesa para que a ilusão não desaparecesse. 
c) A droga dá a ela a ilusão de uma realidade diferente daquela ruim, feia e triste em que vive. Assim, cada vez que o efeito da droga passa, ela volta a procurar a droga, na ilusão de estar provocando uma mudança em sua própria realidade. 
d) Poderiam ter ajudado a vendedora de fósforos: as pessoas que comprassem seus fósforos para que ela pudesse voltar para casa e, principalmente, seu pai, dando-lhe carinho, atenção e cuidando dela. 

7.
a) Apresentar uma história que serve para mostrar de forma mais clara o modo como as drogas fazem as pessoas fugirem da realidade. 
b) Apresentar as ideias da autora sobre a incapacidade de o usuário de drogas distinguir realidade de imaginação. 





Referência: A aventura da linguagem (Editora Dimensão)
Imagem: Google


CONTO A MENINA E AS BALAS PROJETO TELARIS

A menina e as balas 
Georgina Martins 

Todos os dias a menininha estava lá: vendia doces na porta de uma lanchonete, perto de uma pracinha, onde brincam quase todas as crianças da redondeza. Mas ela não brincava, só vendia doces. Mesmo porque ela não era moradora do bairro. Sempre chegava por volta das quatro da tarde e ficava até os doces acabarem. Nos finais de semana ela chegava mais tarde, mas nunca faltava. Devia ter uns oito anos e, às vezes, distraia-se olhando as crianças brincarem. 
Quando eu era menina, queria ter uma fábrica de doces só para poder comer todos os doces que eu quisesse; naquela época eu era muito pobre, e quase nunca sobrava dinheiro lá em casa para comprar doces. A menininha não comia nenhum. Ficava lá até vender todos. Será que algum dia ela já desejou ter uma fábrica de doces só pra ela? 
Todas as vezes que eu passava por ela pensava nessas coisas. Eu também desejava ter uma fábrica de leite condensado, só para poder furar todas as latinhas que quisesse. Eu sempre gostei de furar latinhas de leite condensado, e quando sobrava algum dinheiro lá em casa, minha mãe dava um jeito de comprar uma latinha de leite condensado. Mas, como ela não sabia cozinhar, nunca preparava nada com as latinhas, e eu furava todas, sempre escondido dela, que fingia não saber. 
Eu nunca pensava em vender os doces das fábricas dos meus sonhos, só pensava em comê-los. Acho que os doces não foram feitos para serem vendidos por crianças, foram feitos para serem comidos por elas. Mas aquela garotinha não comia nenhum, mesmo quando não conseguia vendê-los. 
Um dia, resolvi perguntar se ela não tinha vontade de comê-los, e ela me respondeu que seu irmão menor trabalhava em uma mercearia e que também não podia comer nada sem pagar. Ela me disse que os doces não eram dela: ela os pegava em uma lojinha em Japeri, perto de sua casa; no final do dia, acertava as contas com o seu Alberto, o dono da loja. Adorava chupar balas e queria muito ter bastante dinheiro para poder comprar um monte de uma vez. Mas não tinha. Nem tinha pracinha perto da casa dela, mas achava ótimo poder brincar com as amigas na rua mesmo. 
Uma noite, quando eu voltava do cinema, passei pela menina e percebi que ela estava com muito sono, quase cochilando; a lanchonete já ia fechar e ela ainda tinha alguns doces na caixa. Eu tinha acabado de assistir a um filme sobre crianças, um filme iraniano que eu adoro e que foi um dos filmes mais bonitos que eu já vi: chama-se Filhos do paraíso, e conta a história de dois irmãos, um menino e uma menina; o menino perde o único par de sapatos que a irmã possuía e os pais deles não têm como comprar outro. Acho que todas as crianças do mundo deveriam assistir a esse filme. 
Contei o dinheiro que eu tinha na bolsa e cheguei à conclusão de que dava para pagar todos os doces que ainda restavam. Depois de ver um filme como aquele, eu achava impossível deixar uma menininha daquelas cochilando no meio da rua, numa noite fria. 
 Olhe só, vou lhe dar esse dinheiro. Dá pra comprar todos os doces que você tem aí, e você não precisa nem me dar os doces, pode ficar com eles e vendê-los amanhã. 
Ela me olhou sem entender direito e disse que eu tinha que levar os doces. 
 Mas, menina, é a mesma coisa: você ganha o dinheiro e ainda fica com os doces; é muito melhor pra você... 
 Melhor nada, minha mãe diz que eu não posso voltar pra casa enquanto não vender tudo. 
 Mas você vai vender, vai levar o dinheiro que levaria se tivesse vendido tudo. 
 Tia, você não entendeu, eu não posso voltar com doce pra casa, senão eu apanho da minha mãe e do meu padrasto. Preciso ajudar em casa, minha mãe trabalha muito, lá em casa tem muita gente pra comer, tenho seis irmãos... é por isso que eu vendo doces. 
 Já entendi, mas eu só estou querendo lhe ajudar, você leva o dinheiro e ainda sobra doce pra amanhã. 
 Mas não pode sobrar nada, minha mãe falou. Por que a senhora não quer levar os doces? 
 Pra ajudar você! Amanhã, quando você for lá na loja do seu Alberto, você vai precisar comprar menos doces e vai ter mais dinheiro. 
 Não, tia, não é assim. Eu não estou pedindo o seu dinheiro, estou vendendo doces e tenho que vender tudo, minha mãe falou. Por favor, leva os doces. 
 Minha querida, vou lhe explicar direitinho: eu vou lhe pagar por todos os doces que tem aí, mas não vou levá-los, assim você vai poder vendê-los pra outras pessoas. 
— Tia, você não entende mesmo, hein? Minha mãe vai brigar comigo, ela fica muito braba quando eu faço alguma besteira. Já falei que ela disse que eu não posso voltar com nada pra casa. O meu padrasto, quando eu chego em casa, faz as contas e quando sobra doce ele me bate. Ele sempre conta quanto dinheiro tem e tem que ter tudo certinho. 
Percebi que não adiantava nada tentar convencê-la, ela já estava ficando nervosa de tentar me explicar o seu problema. Dei -lhe o dinheiro e tive que levar todos aqueles doces, que ela, rapidamente, enfiou em minha bolsa. 
Ao ver-se livre deles, seus olhinhos brilharam de contentamento e ainda pude ouvi-la falando sozinha, muito indignada com a minha pouca compreensão a respeito do seu problema: 
 Que tia burra, não entende nada de vender doces. Vai ver que ela nunca trabalhou, porque nem sabe fazer conta! 

MARTINS. Georgina. No olho da rua: historinhas quase tristes. São Paulo: Ática, 2003. p. 36-43. 


Georgina Martins nasceu em 1960 no Rio de Janeiro (RJ). 
Professora e escritora, participa de projetos comunitários que estimulam crianças e jovens da periferia do Rio de Janeiro a ler e a escrever. No olho da rua: historinhas quase tristes reúne narrativas curtas sobre o cotidiano das personagens, crianças que vivem nas ruas dos grandes centros urbanos. 


Interpretação do texto 

1. O conto lido começa assim: Todos os dias a menininha estava lá. 

Aos poucos, o texto fornece ao leitor mais informações sobre a menininha. Identifique e copie em seu caderno os seguintes dados dessa personagem: 

a) idade; 
_________________________________________________________________
b) parentes; 
________________________________________________________________
c) obrigação; 
________________________________________________________________
d) receio; 
_________________________________________________________________
e) desejos. 
______________________________________________________________

2. Além da menininha, no conto há outra personagem, a que conta os fatos. Essa narradora-personagem diz que também foi pobre quando criança. Responda: qual era o sonho dela quando menina? 
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3. Releia os parágrafos 7 e 8 do texto, discuta com os colegas e escreva no caderno quais das alternativas a seguir mostram o que a narradora-personagem pretendia: 

a) Proteger a menina. 
b) Aumentar a venda de doces. 
c) Ajudar a garotinha a ganhar mais dinheiro. 
d) Despertar o interesse dos pais da menina. 

4. Por que o mais importante para a menina era vender todos os doces? 
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5. O texto informa que a menina vendia doces, mas o título da história é "A menina e as balas". Qual seria uma explicação para esse título?
_______________________________________________________________

6. Releia: 

[...] os doces não foram feitos para serem vendidos por crianças, foram feitos para serem comidos por elas. 

Você concorda com essa opinião? Justifique sua resposta. 
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7. Quase triste? 

Depois de ler o conto, qual é sua impressão: a historinha é quase triste, é triste ou não é triste? Por quê? Exponha sua opinião para os colegas e ouça a deles para que possam comparar os diferentes modos de entender uma história. 



Gabarito:

1.
a) Uns 8 anos. 
b) Mãe. padrasto e seis irmãos. 
c) Vender doces para ajudar em casa. 
d) Não vender todos os doces e apanhar da mãe e do padrasto. 
e) Ter bastante dinheiro para comprar um monte de balas: brincar na rua com as amigas.

2. Ter uma fabrica de doces, não para vender, mas para comer. 

3. Alternativas a e c. Discutir os valores que estão por trás da atitude da narradora: compaixão, respeito pela infância, desejo de proteger a menina, indignação pela situação de fragilidade da criança diante dos perigos da rua...

4. Porque só depois de vendê-los todos e que ela podia voltar para casa. Comentar que,em sua inocência de criança, não ocorre à menina pegar o dinheiro e guardar os doces para vender no dia seguinte, ou comê-los, ou mesmo joga-los fora. 

5. Sugestão: o título se refere provavelmente ao sonho da menina: ter bastante dinheiro para comprar muitas balas. 

6. Resposta pessoal. 

7. Professor: É fundamental estimular a troca de opiniões e. principalmente a troca de argumentos que as justifiquem. 




Referência: Projeto Teláris (Editora Ática)