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sábado, 29 de abril de 2017

RELATO ARRIGO BARNABÉ PROJETO TELÁRIS 7º ANO

ARRIGO BARNABÉ

       EU TINHA, TALVEZ, uns cinco anos. Meu irmão mais velho, Marcos, já tinha um time: era corintiano -na esteira do campeonato do quarto centenário, quando o Corinthians foi campeão.
       Meu pai era Palmeiras, mas o que ele gostava mesmo era de futebol. Havia jogado quase profissionalmente e era craque. O pobre coitado só teve filho perna de pau. Mas, curiosamente, incentivava a criançada a torcer por outro time. Devia ser porque, gostando tanto do esporte, queria torcer (na carona dos filhos) para outros clubes...
       E chegou um momento em que tivemos uma conversa de homem para homem. Já estava mais do que na hora de eu escolher um time. A casa já tinha um corintiano, e eu adorava o distintivo do Corinthians, em que se destacavam a âncora, o timão (na verdade, uma boia) e a cor vermelha. Achava lindo!
       Então meu pai me apresentou um brinquedo que consistia em um pequeno disco de plástico transparente. Havia ali dentro uma bolinha prateada solta. No disco, dois jogadores desenhados em posição de chute e, na ponta da chuteira de cada um, uma depressão para a bola se encaixar. O objetivo era encaixar a bola na chuteira.
       Um dos jogadores era negro, usava um uniforme vermelho e verde. Adorei. O outro era um jogador branco, mas de uma cor branca enjoada, com uniforme todo branco, muito sem graça.
        É claro que eu ia torcer para o time do jogador negro de uniforme vermelho e verde. Mas uma fração de segundos antes de decidir, perguntei a meu pai qual era o nome dos times.
       - Este aqui é Portuguesa, e o outro, Santos.
       Gostei muito do nome também, Portuguesa. Achei legal. Existem nomes que atraem a simpatia das crianças, não sei por quê.
        Mas o nome Santos era poderoso. Eu já conhecia a ideia de santo. Meu pai e meu avô materno já me haviam explicado. "Um santo é uma pessoa que só faz o bem, que é tão boa que vive junto a Jesus e Deus lá no céu..." Eu havia ficado muito impressionado que houvesse pessoas assim, achava alguma coisa além do bonito, além da mera beleza: era maior, um santo, era uma coisa extra.
     Daí perguntei ao meu pai:
       -Mas por que o time se chama Santos? É por que tem muito santo lá?
        Meu pai, achando graça, disse:
        -É, sim, só tem santo no time...
         Então, fiz uma renúncia, um sacrifício. Sacrifiquei meu gosto, que era a Portuguesa, para torcer por um time que eu achava sem graça, sem colorido, com um distintivo feio, mas que, no fim das contas, era um time de santos"¦ E Deus, lá em cima, vendo meu sacrifício e desprendimento, me abençoou, fazendo com que o time que escolhi se tornasse o maior de todos os tempos.
      Eu sei que foi antes do Pelé virar o "Pelé". Lembro-me de nomes desse período, nomes, esses sim, de que eu gostava, como Urubatão e Pagão. Lembro-me de Vasconcelos, Tite, Del Vecchio, Pepe, Manga.
       Algum tempo depois, ouvi pela primeira vez "Assum Preto", com Luiz Gonzaga. Meu pai havia comprado o disco e o trouxe para casa, à tarde, voltando do trabalho. (Naquele dia, o Santos havia perdido para o Taubaté por 3 a 2.)
Quando colocaram o disco na radiovitrola e começou o "Assum Preto", aquela coisa de furar os olhos do pássaro, com a voz pungente do Gonzaga, comecei a chorar. Então meu pai perguntou se eu estava chorando por causa da música ou pelo fracasso do Santos diante do Taubaté.
       Envergonhado pelo choro provocado por uma canção, menti. Disse que estava chorando pela derrota do Santos. E dessa mentira nunca mais me esqueci.

1. Em seu relato de memória, Arrigo Barnabé conta fatos vividos na infância. Sobre o texto “Como me tornei santista” Escreva  as referências feitas.
Ao tempo vivenciado
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Ao espaço vivenciado
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2. No relato há várias informações sobre o pai de Arrigo. Releia:
“ O que ele gostava mesmo era de futebol”
Copie do texto uma informação que justifique a afirmação do autor.
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3. Com o pai, o menino teve uma “conversa de homem para homem”
a) Qual foi o assunto da conversa?
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b) Por que , para Arrigo, aquela foi uma “ conversa de homem para homem”?
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4. Arrigo acabou escolhendo um time que ele “achava sem graça, sem colorido, com um distintivo feio.
a) Quais eram os outros times da preferência do menino? Por qual motivo?
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b) Que atitude do pai fez com que o filho se decidisse pelo time pelo qual o pai não tinha simpatia?
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c) Na sua opinião o pai agiu certo? Por que?
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5. Copie a alternativa que melhor explica o tema/ assunto desse relato de memória de Arrigo Barnabé:
a) fatos vividos na infância;
b) motivos da escolha dom time de futebol;
c) mentiras contadas pelo pai;
d) preferência da família por diferentes times.

6. No final do relato, Arrigo afirma que mentiu para o pai. Por que ele mentiu?

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