ARRIGO BARNABÉ
EU TINHA, TALVEZ, uns cinco anos. Meu irmão mais
velho, Marcos, já tinha um time: era corintiano -na esteira do campeonato do
quarto centenário, quando o Corinthians foi campeão.
Meu pai era Palmeiras, mas o que ele
gostava mesmo era de futebol. Havia jogado quase profissionalmente e era
craque. O pobre coitado só teve filho perna de pau. Mas, curiosamente, incentivava
a criançada a torcer por outro time. Devia ser porque, gostando tanto do
esporte, queria torcer (na carona dos filhos) para outros clubes...
E chegou um momento em que tivemos uma conversa de homem para homem. Já estava mais do que na hora de eu escolher um time. A casa já tinha um corintiano, e eu adorava o distintivo do Corinthians, em que se destacavam a âncora, o timão (na verdade, uma boia) e a cor vermelha. Achava lindo!
Então meu pai me apresentou um brinquedo que consistia em um pequeno disco de plástico transparente. Havia ali dentro uma bolinha prateada solta. No disco, dois jogadores desenhados em posição de chute e, na ponta da chuteira de cada um, uma depressão para a bola se encaixar. O objetivo era encaixar a bola na chuteira.
Um dos jogadores era negro, usava um uniforme vermelho e verde. Adorei. O outro era um jogador branco, mas de uma cor branca enjoada, com uniforme todo branco, muito sem graça.
E chegou um momento em que tivemos uma conversa de homem para homem. Já estava mais do que na hora de eu escolher um time. A casa já tinha um corintiano, e eu adorava o distintivo do Corinthians, em que se destacavam a âncora, o timão (na verdade, uma boia) e a cor vermelha. Achava lindo!
Então meu pai me apresentou um brinquedo que consistia em um pequeno disco de plástico transparente. Havia ali dentro uma bolinha prateada solta. No disco, dois jogadores desenhados em posição de chute e, na ponta da chuteira de cada um, uma depressão para a bola se encaixar. O objetivo era encaixar a bola na chuteira.
Um dos jogadores era negro, usava um uniforme vermelho e verde. Adorei. O outro era um jogador branco, mas de uma cor branca enjoada, com uniforme todo branco, muito sem graça.
É claro que eu ia torcer para o time do
jogador negro de uniforme vermelho e verde. Mas uma fração de segundos antes de
decidir, perguntei a meu pai qual era o nome dos times.
- Este
aqui é Portuguesa, e o outro, Santos.
Gostei muito do nome também, Portuguesa.
Achei legal. Existem nomes que atraem a simpatia das crianças, não sei por quê.
Mas o nome Santos era poderoso. Eu já
conhecia a ideia de santo. Meu pai e meu avô materno já me haviam explicado.
"Um santo é uma pessoa que só faz o bem, que é tão boa que vive junto a
Jesus e Deus lá no céu..." Eu havia ficado muito impressionado que houvesse
pessoas assim, achava alguma coisa além do bonito, além da mera beleza: era
maior, um santo, era uma coisa extra.
Daí perguntei ao meu pai:
-Mas por que o time se chama Santos? É
por que tem muito santo lá?
Meu pai, achando graça, disse:
-É, sim, só tem santo no time...
Então, fiz uma renúncia, um
sacrifício. Sacrifiquei meu gosto, que era a Portuguesa, para torcer por um
time que eu achava sem graça, sem colorido, com um distintivo feio, mas que, no
fim das contas, era um time de santos"¦ E Deus, lá em cima, vendo meu
sacrifício e desprendimento, me abençoou, fazendo com que o time que escolhi se
tornasse o maior de todos os tempos.
Eu sei que foi antes do Pelé virar o "Pelé". Lembro-me de nomes desse período, nomes, esses sim, de que eu gostava, como Urubatão e Pagão. Lembro-me de Vasconcelos, Tite, Del Vecchio, Pepe, Manga.
Eu sei que foi antes do Pelé virar o "Pelé". Lembro-me de nomes desse período, nomes, esses sim, de que eu gostava, como Urubatão e Pagão. Lembro-me de Vasconcelos, Tite, Del Vecchio, Pepe, Manga.
Algum tempo depois, ouvi pela primeira
vez "Assum Preto", com Luiz Gonzaga. Meu pai havia comprado o disco e
o trouxe para casa, à tarde, voltando do trabalho. (Naquele dia, o Santos havia
perdido para o Taubaté por 3 a 2.)
Quando colocaram o disco na radiovitrola e começou o "Assum Preto", aquela coisa de furar os olhos do pássaro, com a voz pungente do Gonzaga, comecei a chorar. Então meu pai perguntou se eu estava chorando por causa da música ou pelo fracasso do Santos diante do Taubaté.
Quando colocaram o disco na radiovitrola e começou o "Assum Preto", aquela coisa de furar os olhos do pássaro, com a voz pungente do Gonzaga, comecei a chorar. Então meu pai perguntou se eu estava chorando por causa da música ou pelo fracasso do Santos diante do Taubaté.
Envergonhado pelo choro provocado por
uma canção, menti. Disse que estava chorando pela derrota do Santos. E dessa
mentira nunca mais me esqueci.
1.
Em seu relato de memória, Arrigo Barnabé conta fatos vividos na infância. Sobre
o texto “Como me tornei santista” Escreva
as referências feitas.
Ao
tempo vivenciado
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Ao
espaço vivenciado
______________________________________________________________________________________________________________________________________
2.
No relato há várias informações sobre o pai de Arrigo. Releia:
“
O que ele gostava mesmo era de futebol”
Copie
do texto uma informação que justifique a afirmação do autor.
______________________________________________________________________________________________________________________________________
3.
Com o pai, o menino teve uma “conversa de homem para homem”
a)
Qual foi o assunto da conversa?
______________________________________________________________________________________________________________________________________
b)
Por que , para Arrigo, aquela foi uma “ conversa de homem para homem”?
______________________________________________________________________________________________________________________________________
4.
Arrigo acabou escolhendo um time que ele “achava sem graça, sem colorido, com
um distintivo feio.
a)
Quais eram os outros times da preferência do menino? Por qual motivo?
______________________________________________________________________________________________________________________________________
b)
Que atitude do pai fez com que o filho se decidisse pelo time pelo qual o pai
não tinha simpatia?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
c)
Na sua opinião o pai agiu certo? Por que?
______________________________________________________________________________________________________________________________________
5.
Copie a alternativa que melhor explica o tema/ assunto desse relato de memória
de Arrigo Barnabé:
a)
fatos vividos na infância;
b)
motivos da escolha dom time de futebol;
c)
mentiras contadas pelo pai;
d)
preferência da família por diferentes times.
6.
No final do relato, Arrigo afirma que mentiu para o pai. Por que ele mentiu?
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