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sábado, 29 de abril de 2017

CONTO A MENINA E OS FÓSFOROS ED. DIMENSÃO

A menina dos fósforos 
Lídia Rosenberg Aratangy 

Era véspera de Ano-Novo, e a menina (tão pequena, coitadinha!) que vendia fósforos estava com muito frio e com muita fome. Seu estoque de fósforos coloridos estava intacto, ninguém tinha comprado nada. Ainda por cima, ela tinha perdido seus chinelos na neve e seus pezinhos estavam enregelados. 
Ela sabia que não podia voltar para casa, pois tinha certeza de que iria levar a maior surra do pai, com quem vivia sozinha, desde a morte da mãe. Ele batia nela constantemente e contava com o dinheiro da venda dos fósforos para comprar comida e bebida. A menina não podia chegar de mãos vazias. 
O frio aumentou e ela resolveu acender um só dos fósforos coloridos, para se aquecer um pouco. 
A pequena chama azulada trouxe mais do que um pouco de calor. Na luz bruxuleante do fósforo, seus olhinhos chorosos vislumbraram um fogareiro de ferro, onde a lenha crepitava e esquentava tanto, tanto, que ela estendeu também os seus pezinhos, para que se aquecessem. 
Mas, muito depressa, a chama se extinguiu, o fogareiro desapareceu, e a menina se viu sentada no mesmo lugar, no chão gelado, tendo nas mãos o resto apagado do fósforo. 
A noite, no entanto, parecia agora mais escura, mais fria, mais assustadora do que antes, quando ela ainda não tinha visto a luz mágica da pequena chama colorida. 
Riscou rapidamente um segundo fósforo. Desta vez, seus olhos se depararam com a visão de uma sala de jantar, com a mesa posta, tendo ao centro uma enorme travessa com um peru assado, rodeado de ameixas, uvas e maçãs. 
Apagou-se o fósforo. De novo, a menina se viu no frio da noite, enregelada e faminta, diante de uma parede escura e triste, que agora lhe parecia ainda mais escura, ainda mais triste. 
Mais que depressa, a menina acendeu um terceiro fósforo. Desta vez, ela se viu diante da figura carinhosa de sua mãezinha, morta há tanto tempo. 
Com medo de que a imagem querida também se desvanecesse no ar, como o fogareiro, como a comida, ela se põe apressadamente a acender um fósforo atrás de outro, até queimar todo o pacote. A luz assim produzida tinha uma claridade mais brilhante do que o dia, seu calor parecia mais quente do que o Sol. 
E a um aceno sorridente de sua mãe, a menina deixou-se conduzir, segurando com suas mãozinhas frias as mãos quentes e macias que sua mãezinha lhe estendia. Seguiu-a, em direção às mais brilhantes estrelas do firmamento. 
Quando clareou a fria manhã do Ano-Novo, os passantes encontraram a menina sentada no chão, cercada pelos restos de fósforos queimados. Com as faces arroxeadas, ainda com um sorriso nos lábios. Morta de frio. 
 Quis aquecer-se, coitadinha! Disse alguém, ao passar. 


1. A autora reconta uma história infantil sobre uma vendedora de fósforos. Podem-se delimitar os seguintes elementos da narrativa: 

(1º) situação inicial ou orientação: apresentação da personagem, do lugar e da época da história. Quais parágrafos do texto correspondem a cada um destes elementos?
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(2º) complicação ou ações e fatos que acontecem e que realmente compõem a história. 
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(3º) resolução
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(4º) resultado ou estado final
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2.
a) Faça uma pequena descrição da menina dos fósforos; depois indique expressões do texto que comprovem sua descrição. 
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b) Em que época do ano este conto ocorre? Como você sabe? 
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c) Esta história se passa aqui no Brasil? Por quê? 
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3.
a) Neste conto, narrado por Lídia Rosenberg Aratangy, a menina acende inicialmente três fósforos. O que ela vê após acender cada um destes fósforos? Qual a relação destas visões com o que ela está sentindo naquele momento? 
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b) Por que ela resolve continuar acendendo fósforos, antes que o terceiro se apague? 
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c) O que a garotinha vê, ao acender os fósforos, é real? Por que ela continua a acender fósforos? 
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4. Em que trecho da história está registrado o momento da morte da menina? 
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5. A história da menina dos fósforos é a primeira parte de um capítulo do livro "Doces venenos: conversas e desconversas sobre drogas". Leia a seguir a segunda parte do capítulo e veja como a autora relaciona este conto com o uso de drogas
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Texto 3 - continuação 

Muitas vezes, a realidade em que a gente vive é tão ruim, tão feia e tão triste, que dá vontade de escapar dela, mesmo a qualquer preço. 
O problema é que, em geral, as drogas fazem com que as pessoas acabem se esquecendo de que havia uma realidade da qual queriam fugir - e as pessoas passam a acreditar que não foram elas que fugiram, mas que foi a realidade que mudou. Isto é, acabam acreditando que conseguiram provocar alguma mudança no mundo e resolver algum problema, quando o que conseguiram foi apenas colocar uma espécie de lente para mudar o seu jeito de ver um mundo que continua tão ruim, tão feito e tão triste como antes. Só que mais perigoso. 
Essa espécie de sinal de realidade, essa capacidade de distinguir entre o real e o imaginário - que se perde com a droga - é um dos mecanismos responsáveis pela sobrevivência humana. 
Quando um bebê recém-nascido está com fome, é provável que ele crie, em sua fantasia, visões do seio da mãe, farto de leite. Esse fenômeno ajuda o bebê a tolerar a privação por algum tempo: permite que ele se acalme e não caia no maior desespero, enquanto a mãe não vem atendê-lo. 
No entanto, se não houvesse algum sinal que identificasse aquilo como irreal, se o bebê acreditasse mesmo que estava sendo alimentado por aquele seio fantasma e se sentisse saciado com isso, acabaria por morrer de fome. 
Como a Pequena Vendedora de Fósforos. 

ARATANGY, Lídia Rosenberg. Doces venenos: conversas e desconversas sobre drogas. 
São Paulo: Editora Olho d'Água, 1991, p. 173-175. 


6. Procure relacionar este último trecho do texto de Lídia Aratangy com a história da vendedora de fósforos. 
a) Qual era a realidade da vendedora de fósforos da qual ela procurou fugir? 
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b) Ao acender os fósforos, a garota conseguiu mudar sua realidade? Por que ela continuou acendendo fósforos? 
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c) Como este comportamento retrata também o comportamento de uma pessoa que se envolve com drogas? Como você justifica isso? 
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d) De acordo com os textos lidos, quem poderia ter ajudado a vendedora de fósforos? 
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7. O texto" A menina dos fósforos" é formado por duas partes: primeiro, a autora apresenta um conto; depois, uma exposição sobre o uso de drogas. 
a) Qual a função do conto de fadas neste texto? 
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b) Qual a função da segunda parte do texto? 
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Gabarito:

1.
(1º) parágrafos 1 e 2
(2º) parágrafos 3 a 10
(3º) parágrafo 11
(4º) parágrafo 12 e 13

2. 
a) Resposta pessoal.  A descrição do aluno  deve ser comprovada com fatos da história, mesmo que não estejam explicitados. Por exemplo: "a garotinha sofria muito" pode ser comprovado por: estava com fome e  frio, o pai batia nela constantemente, a mãe havia morrido.  
b) No fim do ano, pois o texto começa dizendo que "era véspera de Ano-Novo" e, no final, fala da "fria manhã do Ano-Novo".  
c) Não, pois no fim do ano não costuma fazer frio aqui no Brasil, embora em algumas regiões chova. A história deve se passar em lugares em  que o inverno ocorre  nesta época, como na Europa ou na América do Norte.  

3. 
a) Após acender o primeiro fósforo, ela viu um fogareiro que a esquentava do frio que sentia; após acender o segundo, ela viu uma mesa cheia de comida, pois estava com muita fome, e após acender o terceiro fósforo, ela viu sua mãe, que já morrera, de quem sentia falta. 
b) Para que a imagem de sua mãe não desapareça, como as outras aparições. 
c) Não, o que ela via eram miragens, coisas que ela queria muito, que a deixariam feliz, sem sofrimentos. Ela continuou acendendo fósforos, na esperança de que as miragens se tornassem realidade. 

4. Seguiu-a, em direção às mais brilhantes estrelas do firmamento.

5. Professor(a): sugerimos que esta questão seja discutida oralmente, no grande grupo, após a leitura individual da segunda parte do texto. Discuta com os alunos as diferentes interpretações que deverão surgir, mas assegure-se sempre de que estas diferentes respostas sejam autorizadas pelo texto. 

6. 
a)  Ela sentia fome, frio e falta de amor. Ela não podia contar com seu pai, que queria apenas o dinheiro que arrecadava com a venda dos fósforos, nem com outras pessoas, pois ninguém comprou fósforos ou se interessou por ela. 
b) Não; nas chamas dos fósforos, ela só via miragens que mostravam tudo aquilo de que ela precisava, mas não tinha.  Ela continuou acendendo os fósforos, porque cada vez que um fósforo se apagava a miragem desaparecia, e ela voltava para seu mundo ruim: então ela tentou manter a chama acesa para que a ilusão não desaparecesse. 
c) A droga dá a ela a ilusão de uma realidade diferente daquela ruim, feia e triste em que vive. Assim, cada vez que o efeito da droga passa, ela volta a procurar a droga, na ilusão de estar provocando uma mudança em sua própria realidade. 
d) Poderiam ter ajudado a vendedora de fósforos: as pessoas que comprassem seus fósforos para que ela pudesse voltar para casa e, principalmente, seu pai, dando-lhe carinho, atenção e cuidando dela. 

7.
a) Apresentar uma história que serve para mostrar de forma mais clara o modo como as drogas fazem as pessoas fugirem da realidade. 
b) Apresentar as ideias da autora sobre a incapacidade de o usuário de drogas distinguir realidade de imaginação. 





Referência: A aventura da linguagem (Editora Dimensão)
Imagem: Google


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