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sábado, 29 de abril de 2017

CRÔNICA O VENDEDOR DE PALAVRAS TELÁRIS 7º ANO P222

(Por: Fábio Reynol)  

Ouviu dizer que o Brasil sofria de uma grave falta de palavras. Em um programa de TV, viu uma escritora lamentando que não se liam livros nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, como qualquer doença grande, "indigência lexical". Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma ideia fantástica. Pegou dicionário, mesa e cartolina e saiu ao mercado cavar espaço entre os camelôs.
Entre uma banca de relógios e outra de lingerie instalou a sua: uma mesa, o dicionário e a cartolina na qual se lia: "Histriônico — apenas R$ 0,50!".
Demorou quase quatro horas para que o primeiro de mais de cinqüenta curiosos parasse e perguntasse.
— O que o senhor está vendendo?
— Palavras, meu senhor. A promoção do dia é histriônico a cinqüenta centavos como diz a placa.
— O senhor não pode vender palavras. Elas não são suas. Palavras são de todos.
— O senhor sabe o significado de histriônico?
— Não.
— Então o senhor não a tem. Não vendo algo que as pessoas já têm ou coisas de que elas não precisem.
— Mas eu posso pegar essa palavra de graça no dicionário.
— O senhor tem dicionário em casa?
— Não. Mas eu poderia muito bem ir à biblioteca pública e consultar um.
— O senhor estava indo à biblioteca?
— Não. Na verdade, eu estou a caminho do supermercado.
— Então veio ao lugar certo. O senhor está para comprar o feijão e a alface, pode muito bem levar para casa uma palavra por apenas cinqüenta centavos de real!
— Eu não vou usar essa palavra. Vou pagar para depois esquecê-la?
— Se o senhor não comer a alface ela acaba apodrecendo na geladeira e terá de jogá-la fora e o feijão caruncha.
— O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?
— O senhor conhece Nélida Piñon?
— Não.
— É uma escritora. Esta manhã, ela disse na televisão que o País sofre com a falta de palavras, pois os livros são muito pouco lidos por aqui.
— E por que o senhor não vende livros?
— Justamente por isso. As pessoas não compram as palavras no atacado, portanto eu as vendo no varejo.
— E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não enchem barriga.
— A escritora também disse que cada palavra corresponde a um pensamento. Se temos poucas palavras, pensamos pouco. Se eu vender uma palavra por dia, trabalhando duzentos dias por ano, serão duzentos novos pensamentos cem por cento brasileiros. Isso sem contar os que furtam o meu produto. São como trombadinhas que saem correndo com os relógios do meu colega aqui do lado. Olhe aquela senhora com o carrinho de feira dobrando a esquina. Com aquela carinha de dona-de-casa ela nunca me enganou. Passou por aqui sorrateira. Olhou minha placa e deu um sorrisinho maroto se mordendo de curiosidade. Mas nem parou para perguntar. Eu tenho certeza de que ela tem um dicionário em casa. Assim que chegar lá, vai abri-lo e me roubar a carga. Suponho que para cada pessoa que se dispõe a comprar uma palavra, pelo menos cinco a roubarão. Então eu provocarei mil pensamentos novos em um ano de trabalho.
— O senhor não acha muita pretensão? Pegar um...
— Jactância.
— Pegar um livro velho...
— Alfarrábio.
— O senhor me interrompe!
— Profaço.
— Está me enrolando, não é?
— Tergiversando.
— Quanta lenga-lenga...
— Ambages.
— Ambages?
— Pode ser também evasivas.
— Eu sou mesmo um banana para dar trela para gente como você!
— Pusilânime.
— O senhor é engraçadinho, não?
— Finalmente chegamos: histriônico!
— Adeus.
— Ei! Vai embora sem pagar?
— Tome seus cinqüenta centavos.
— São três reais e cinqüenta.
— Como é?
— Pelas minhas contas, são oito palavras novas que eu acabei de entregar para o senhor. Só histriônico estava na promoção, mas como o senhor se mostrou interessado, faço todas pelo mesmo preço.
— Mas oito palavras seriam quatro reais, certo?
— É que quem leva ambages ganha uma evasiva, entende?
— Tem troco para cinco?

01-  Logo  no  primeiro  parágrafo,  o  narrador  refere-se  a  um  "mal"  de  que  sofreria  o  Brasil.  Que  "mal"  é esse?  Explique  a partir da leitura desse parágrafo. R.:__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 02- "Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma ideia fantástica." •  Nesse  trecho,  o  narrador  do  texto  refere-se  ao  vendedor,  atribuindo-lhe  uma  qualidade.  Que  qualidade é  essa? Explique.
 R.:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________

03- Retire do trecho:
"[...]  não  se  liam  livros  nesta  terra,  por  isso  as palavras  estavam  em  falta  na  praça.  O  mal  tinha  até  nome  de batismo, como qualquer doença grande, 'indigência lexical'."

A  expressão  destacada  é  referida  no  texto  como  uma doença.  Está  empregada  em linguagem figurada, isto  é, fora de seu sentido literal. • Como poderia ficar esta expressão em linguagem com sentido literal, não figurado?
R.:_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 04- No texto, o vendedor fala sobre uma escritora que afirma que o país sofre com falta de palavras porque os livros são poucos livros.
• Em seguida, o vendedor afirma que as pessoas não compram palavras no atacado.
a) Responda: que relação o vendedor fez entre livros e as palavras no atacado?
 R.:______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ b) Observe a frase "As pessoas não compram as palavras no atacado, portanto eu as vendo no varejo"   Substitua as expressões destacadas por outras que deixam clara a intenção do vendedor.
R.:___________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5- A primeira pessoa atraída para "banca de palavras" fica indignada com o produto que estava sendo vendido: palavras.  • Explique o argumento que esta pessoa empregou para mostrar sua indignação.
R.:_________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________

 06- Qual o argumento que o vendedor empregou como resposta?
R.:_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 07- Leia: "E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não enchem barriga."       Esse é um argumento empregado pelo cliente para não comprar palavras.

 a) Explique o sentido desse argumento.
R.:_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

b)  Que  tipo  de  característica  pessoal  essa  forma  de  pensar  pode  revelar  em  relação  ao  cliente?  Marque a(s) alternativa(s) que caracteriza(m) a personagem que falou isso.
(A) Pessoa sensível, para quem os sentimentos têm mais valor que as coisas práticas.
(B) Pessoa muito objetiva, para quem as coisas têm de ter uma finalidade prática.
(C) Pessoa que valoriza a cultura, principalmente a que é encontrada nos livros.
(D) Pessoa para quem a cultura só terá valor se apresentar resultados concretos visíveis.

08- O cliente pergunta ao vendedor: "O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?". Pelos argumentos que apresenta, esse é o objetivo do vendedor? Explique com argumentos retirados da fala do vendedor.
 R.:_________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________




01- Releia o trecho:
 "Ouviu  dizer  que  o  Brasil  sofria,  de  uma  falta  grave  de  palavras.  Em  um  programa  de  TV,  viu  uma  escritora lamentando que não se liam livros nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, com qualquer doença grave,  ́indigência lexical'."
a) Ao dizer o Brasil sofria, a quem o narrador se refere: ao território ou às pessoas que habitam o país? Explique por quê.
R.:__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

b)  Nesse  parágrafo,  qual  a  outra  palavra  ou  expressão  que  indica  que  o  narrador atribui  característica  de  ser  vivo  ao Brasil? R.: ___________________________________________________________________________
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