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sábado, 29 de abril de 2017

RELATO DE COSTAS PARA O ANO NOVO PROJETO TELÁRIS 7º ANO P.112

DE COSTAS PARA O ANO-NOVO AMYR KLINK

   Resignado,  como  se  o  mau  tempo  fosse  o  único  tempo  possível,  recolhi  o  que  restava  da  buja  e  deixei  apenas  a  velinha  de  tempestade  solteira.  Talvez  viúva.  Disparou  então  de  uma  vez  a  fúria  do  Southern  Ocean.  Foi-se  a  graça  e  o  resto  de  bom  humor.  Foram-se  as  últimas  gotas  de  paciência para tentar entender o que se passava. Caos completo. Uma desordem contínua de água e espuma. O mar estava desmoronando ao redor. A escota da velinha, único motor puxando o Paratii a  uma  velocidade  completamente  ilegal,  encostou,  sem  que  notasse,  numa  roldana  da  vela  grande,  puiu e ameaçava estourar. Se um pedaço de pano se soltasse ou se o cabo se partisse, decolaríamos para um desastre espetacular.
        Criei  coragem,  cortei  um  pedaço  de  cabo,  saí  e,  arrastando-me  como  um  polvo  até  a  ponta  da retranca, fiz uma escota de reserva rezando para não ser arrancado dali por uma onda. Que falta faziam  os  outros  quatro  membros...  O  cabo  de  dezesseis  milímetros  voava  no  vento  como  um  fiozinho de lã. Fazer as voltas e os nós pendurado sobre a espuma não foi nem um pouco divertido. Em vez de falar em voz alta, eu gritava. Gritava para mim mesmo o que deveria fazer, que o nó não estava firme. Gritava para ouvir minha própria voz no meio daquela turbina eólica infernal, que não parava. Gritava para não parar de fazer força, para não desistir dos nós que era preciso dar.
        Voltei  para  dentro,  miraculosamente  pouco  ensopado.  Com  uma  toalha  preta  e  felpuda  me  enxuguei de roupa e tudo: casaco, macacão, botas. Minutos depois, uma cachoeira lateral vinda do norte  bateu  na  popa,  no  meio  de  uma  descida  de  onda,  de  oeste.  O  Paratii atravessou.  A  cozinha  subia  e  a  mesa  de  navegação  foi  para  baixo.  De  toalha  em  punho,  escorreguei  até  bater  na  parede  oposta.  Do  lado  de  fora,  a  retranca,  onde  eu  me  encontrava  minutos  antes,  mergulhou  inteira  na  onda, com a vela pane-jando desesperadamente, até que o piloto retomasse o rumo. "Muito tempo, muito  tempo",  gritei.  Desliguei  o  piloto  e  assumi  o  leme  interno.  Meu  Deus,  pior  ainda,  o  barco  endireitou mas eu não conseguia manter o rumo certo por falta de referência. Olhando para a frente, não havia meio de saber por quais ondas estava descendo, as de norte ou as de oeste. Comandar pela bússola  também  não  resolvia  o  problema.  Virei  de  costas  para  a  proa  e,  olhando  para  as  ondas,  segurando o leme por trás, descobri um jeito de pilotar ao contrário, apenas controlando as paredes de  água  e  a  birutinha  de  vento  da  targa  traseira.  Surfando  de  costas!  Quem  diria!  Não  era  exatamente o modo como planejei virar o ano e começar vida nova. As deliberações de Ano-Novo se resumiram a uma só: escapar vivo.


Texto de viagem
Eu estava apreensiva, sem notícias do Amyr desde o dia 27. Não ter ouvido sua voz na virada de ano foi motivo de muita preocupação. Procurava um quase impossível acesso à internet em Paraty quando, depois de uma semana de silêncio, o telefone tocou. Era o Amyr (UFA!). Fui ficando cada vez mais impressionada conforme ele ia descrevendo a situação que enfrentou no mar na passagem de ano:
"Foi impressionante. Os ventos chegavam a 120 quilômetros horários e as ondas de vinte metros vinham de todos os lados, me obrigando a ficar de plantão no convés opr cinquenta horas. Ventava tanto que o mar estava branco(...)."
"(...) Estou exausto, com dores por todo o corpo. Mal consigo me mexer. O vento estava forte demais e as ondas deram muito trabalho. O leme de vento segura o barco quase em qualquer situação, mas dessa vez ficou de folga.
Não deu para usar o leme de vento nem o piloto automático. Foi impressionante(...)."
(...)
No momento o Amyr acaba de reparar os danos decorrentes da tempestade que o "abraçou" no sul da Austrália. Aproveita a calmaria e o tempo bom para amarrar as velas e para "secar suas meias".
Marina Bandeira Klink

1. Logo no início de seu relato, Amyr klink afirma que estava” resignado, como se o mau tempo fosse o único tempo possível” O que ele quis dizer com essa afirmação?
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2. Escreva duas das ações realizadas para vencer a tempestade.
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3. No segundo parágrafo do relato, Amyr escreve;” Que falta faziam os outros quatros membros ”O que ele quis dizer com isso?
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4. Depois de ter conseguido vencer o desafio de dar os nós e segurar a vela do barco em meio a uma tempestade, o navegador teve de enfrentar problemas que aconteciam dentro do barco. Escreva com suas palavras o que estava acontecendo.
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5.Amyr relata assim um problema depois de ter conseguido o controle interno do barco
“ o barco endireitou, mas eu não consegui manter o rumo certo por falta de referência “
O que ele quis dizer com “ falta de referência “
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6. O que Amyr quis dizer com a exclamação “Surfando de costas! Quem diria!”?
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7. Depois de falar com o marido por telefone, a esposa de Amyr relata:
No momento o Amyr acaba de reparar os danos decorrentes da tempestade que o “abraçou” no sul da Austrália. Aproveita a calmaria e o tempo bom para marrar as velas e para “secar suas meias”.
a) no texto qual o sentido de abraçou?
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b) Qual foi a intenção de marina ao empregar aspas na expressão “abraçou” e “secar as meias”?
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8. Conhecendo melhor o relato agora, que sentido o título “De costas para o ano novo “ assume?

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