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quinta-feira, 9 de março de 2017

PARA MARIA DA GRAÇA INTERPRETAÇÃO CEREJA 9º ANO PAG. 177,178 e 179.

Para Maria da Graça - Paulo Mendes Campos

         Agora, que chegaste à idade avançada de quinze anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas.
         Este livro é doido, Maria. Isto é, o sentido dele está em ti.
         Escuta: se não descobrires um sentido na loucura, acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.
        Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. “Quem sou eu no mundo?” Essa indagação perplexa é o lugar comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrastes essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
       A sozinhez (esquece essa palavra feia que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: “Estou tão cansada de estar aqui sozinha!” O importante é que conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada, e vice versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
       Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial e temos a presunção petulante de esperar dela grandes consequências. Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.
       Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave.
       A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes ao dia: “Oh, I beg your pardon!”. Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: “Gostarias de gatos se fosse eu?”.
       Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: “A corrida terminou! Mas quem ganhou?” É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não sabe quem venceu. Se tiveres que ir a algum lugar, não te preocupes com a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde quiseres, ganhaste.
       Os milagres acontecem sempre na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrario do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: “Devo estar diminuindo de novo”. Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
        E escuta essa parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo como hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma maquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar em disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom humor.
       Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado Maria, com as grandes ocasiões.
       Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: “Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas”.
        Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: é feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira da nossa dor, Maria da Graça.

COMPREESÃO E INTERPRETAÇÃO
1. O narrador dá como presente  a Maria da Graça, que completa 15 anos, o livro de Alice no País das Maravilhas, de Lewwis Carroll.
a) De modo geral, o que fazer 15 anos representa na vida das pessoas?
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c) O que o narrador espera que o livro possa ser para Maria da Graça? Justifique sua resposta com palavras ou frases do 3º parágrafo.
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2. Experiente, o narrador alerta que, no decorrer da vida, surgem muitas dificuldades e, as vezes, ficamos sozinhos ou temos de responder à pergunta “ Quem sou eu no mundo?”
a) O que essa pergunta representa na vida de cada um de nós?
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b) O que significa conseguir, como Alice, “abrir a porta do fundo do poço?”
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3. Segundo o narrador, nem toda sabedoria é grave. Há também uma sabedoria “social ou de bolso”.
a) De acordo com essa classificação, o que seria uma sabedoria grave? E uma “sabedoria de bolso”?
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b) Explique: Que sabedoria existe em, mesmo gostando de gatos, experimentar o ponto de vista do rato?
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4. No 9º parágrafo, o narrador reflete sobre a “corrida” social.
a) Nessa corrida, o que mais interessa as pessoas em geral?
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b) Que conselho o narrador dá a Maria da Graça sobre essa corrida?
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5. No mundo encantado em que Alice adentra, ora cresce, ora encolhe, ora fica em seu tamanho normal. Diz o narrador, no 10º parágrafo: “Não se desespera ao triste pensamento de Alice: ‘Devo estar diminuindo de novo’ Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente”.
a) Interprete: O que representa essas mudanças de tamanho na vida de cada um de nós?
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b) O que representam os cogumelos que nos fazem crescer?
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6. Ao analisar o modo de lidar com os problemas, o narrador diz: “ A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos.”
a) Por que, de acordo com ele, “O jeito é rir” no primeiro caso?
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b) por que, no segundo caso é mais preocupante?
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7. O narrador defende que todas as pessoas devem ter três caixas de humor.
a) Por que, segundo o texto, a caixa média é muito importante?
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b) Por que a caixa pequena é especial?
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c) Levante hipóteses: Por que o narrador recomenda cuidado com as “grandes ocasiões”?
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8. Modificando um dito popular, o narrador afirma: “ A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado”.
a) Qual é o dito popular?
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b) Qual a filosofia do narrador a respeito da dor?
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9. Dê uma explicação coerente para o título do texto: “Para Maria da Graça”
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41 comentários:

  1. por favor poderia me passar o gabarito?
    obrigada desde ja.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Poderia me passa o gabarito. Por favor

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  4. Gente alguém tem o gabarito? Se tiver vcs poderiam me passar por favor eu agradeço se alguém passar

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  5. Respostas
    1. Oi vc conseguiu o gabarito?? Se sim poderia me enviar???

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  6. Alguem pode me enviar o gabarito?? Pfv preciso mtooo

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  7. Por favor alguem me envie o gabarito preciso muito obrigada

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  8. Alguém tem o gabarito me passa pfv estou precisando urgente

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  9. Me envia o gabarito por favor , urgente

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  10. Amei o texto e as questões. Obrigada por compartilhar.

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  11. Por gentileza, envie o gabarito.
    Agradeço.

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  12. Preciso do gabarito, é possível vc me enviar?.
    Grato!

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