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quarta-feira, 1 de setembro de 2021

PRODUÇÃO 7º ANO UM APÓLOGO A AGULHA E O NOVELO DE LÁ

 

 

A Agulha e o novelo de linha

Machado de Assis

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?

— Deixe-me, senhora.

— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

— Mas você é orgulhosa.

— Decerto que sou.

— Mas por quê?

— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?

— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...

— Também os batedores vão adiante do imperador.

— Você é imperador?

— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...

Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:

— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...

A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:

— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:

— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:

— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 9 - Contos", Editora Ática - São Paulo, 1984, pág. 59.

Interpretando o texto:

 

1- “Era uma vez” é uma expressão muito encontrada em um gênero textual. Por que outra expressão de semelhante significado ela pode ser substituída? Normalmente que tipo de narrativa inicia-se com essa expressão?

 

2- A expressão “agulha não tem cabeça” na linguagem conotativa pode apresentar outras interpretações. Neste texto, como ela pode ser entendida?

 

3- De acordo com o texto, o que significa: “dar feição aos babados”?

 

4- No gênero textual apresentado, pode-se discutir diversos sentimentos encontrados na atualidade, como orgulho, simplicidade, egoísmo, entre outros. Quais podemos encontrar no texto?

 

5- Depois de reler o texto atentamente, diga:

 

a) Que tipo de narrador o texto apresenta? Atente para possível mudança de foco narrativo. Justifique sua resposta.

b) Espaço temporal (quando):

c) Personagens:

d) Espaço físico (onde):

 

6- De acordo com o texto, quem era orgulhosa e por que o era?

 

7-O que você acha que significa “servir de agulha para muita linha ordinária”?

 

8- Na situação que estamos vivendo atualmente, você acredita que temos servido de agulha para muita linha ? Justifique.

9- No texto que lemos, percebemos claramente a discussão dos personagens em saber qual era o mais importante. Agora, você deverá escolher uma das opções de personagens abaixo, e parafrasear a história lida, onde cada um dá mais valor ao seu trabalho. Seja criativo!

O lápis e a borracha;

 

 

As mãos e os pés;

O garfo e a faca;

Os olhos e a boca;

 

Boa produção!

Parafrasear: Replicar, construir um texto na mesma ideia, sem copiar frases e pensamentos.


DEPOIS DE LER O TEXTO, FAÇA O QUE SE PEDE.

1-O QUE É UM APÓLOGO? CONSULTE O DICIONÁRIO. DE ACORDO COM O SIGNIFICADO DADO À PALAVRA, VOCÊ CONHECE ALGUM OUTRO APÓLOGO? QUAL?

      É uma narrativa alegórica para ocultar uma verdade, em que falam animais ou seres inanimados. A segunda resposta é pessoal.

 

2- RELACIONE AS COLUNAS, USE O DICIONÁRIO, SE NECESSÁRIO.

A- SUBALTERNO    (E) CÃO PERNALTO E ESGUIO PRÓPRIO   PARA A  CAÇA DE LEBRES, É O MAIS RÁPIDO DOS CÃES;

 

B- OBSCURO             (D) COSTURO;

 

C- ÍNFIMO                  (H) AQUELES QUE ABREM CAMINHO;

 

D- COSER                  (I)DE QUALIDADE MÉDIA OU INFERIOR, VULGAR, COMUM

 

E- GALGO                  (C) MUITO PEQUENO,INFERIOR, VULGAR,O MAIS  BAIXO DE TODOS;

 

F- MELANCOLIA        (A) SUBORDINADO, INFERIOR, SECUNDÁRIO;

 

G- ALTIVA                  (G) ORGULHOSO, ARROGANTE, VAIDOSO;

 

H- BATEDORES        (F) ABATIMENTO, DESÂNIMO, TRISTEZA;

 

I- ORDINÁRIA            (B)SOMBRIO, POUCO CONHECIDO, INDECIFRÁVEL.

 

3- “ERA UMA VEZ” PODE SER SUBSTITUÍDA POR QUAL OUTRA EXPRESSÃO DE SEMELHANTE SIGNIFICADO? NORMALMENTE QUE TIPO DE NARRATIVA INICIA-SE COM ESSA EXPRESSÃO?

      Pode ser substituída por “Um dia.”. É um conto.

 

4- A EXPRESSÃO “AGULHA NÃO TEM CABEÇA” NA LINGUAGEM CONOTATIVA PODE SER ENTENDIDA COMO:

      Não tem juízo.

 

5- DE ACORDO COM O TEXTO, O QUE SIGNIFICA: “DAR FEIÇÃO AOS BABADOS”?

      É dar crédito as fofocas.

 

6- QUAL O TEMA DISCUTIDO NO TEXTO? ASSINALE A(S) ALTERNATIVA(S) CORRETA(S).

(X) O ORGULHO; (X) A VAIDADE; (  ) A HUMILDADE;  (   ) A MODÉSTIA; (  ) A BONDADE;  (  ) A SIMPLICIDADE; (X) EGOÍSMO; (X) PREPOTÊNCIA.

 

7-  DEPOIS DE RELER O TEXTO ATENTAMENTE, DIGA:

A-    QUE TIPO DE NARRADOR O TEXTO APRESENTA? ATENTE PARA POSSÍVEL MUDANÇA DE FOCO NARRATIVO. JUSTIFIQUE SUA RESPOSTA.

Narrador-personagem. O mesmo tempo que narra o texto ele é o personagem.

 

B-    ESPAÇO TEMPORAL (QUANDO):

Durante o dia.

 

C-   PERSONAGENS:

A agulha, a linha e o alfinete.

 

D-   ESPAÇO FÍSICO (ONDE):

Na casa da baronesa.

 

E-    FOI UTILIZADO O DISCURSO DIRETO? COMPROVE:

Sim. “Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?”

 

8- DE ACORDO COM O TEXTO, QUEM ERA ORGULHOSA E POR QUE O ERA?

       Era a linha, porque ela é que estava no vestido da baronesa, que iria passear.

 

9- “SILENCIOSA E ALTIVA” SÃO QUALIDADES ATRIBUÍDAS A QUEM?

       A linha.

 

10- HÁ, NO TEXTO, USO DE VOCATIVO? COMPROVE SUA RESPOSTA COM UM TRECHO DO TEXTO, CASO SUA RESPOSTA SEJA POSITIVA.

      Sim. “Anda, aprende, tola. Cansaste em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí fica na caixinha de costura.”

 

11- RETIRE DO TEXTO, A ONOMATOPEIA UTILIZADA PELO AUTOR E DIGA O QUE ELA ESTÁ REPRESENTANDO.

      “Não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano”. Que o serviço de costura tinha terminado aquele dia.

 

12- IDENTIFIQUE:

A-  A PERSONAGEM QUE JULGA O TRABALHO IMPORTANTE, POIS É NELE QUE ESTÁ O SENTIDO DE SUA VIDA:

A agulha.

 

B-  A PERSONAGEM CUJO INTERESSE É O RESULTADO DO TRABALHO, OS ELOGIOS, FESTAS, O GLAMOUR:

É a linha.

 

C-  PERSONAGEM QUE SE AUTO AFIRMA INTELIGENTE:

O alfinete.

 

13- QUEM DE FATO É POSSUIDOR DO FAZER, QUE COMANDA O PROCESSO DE PRODUÇÃO:

      (    ) A AGULHA; (   ) A LINHA; (X) A COSTUREIRA.

 

14- AGULHA, LINHA, BARONESA, COSTUREIRA: ESTABELEÇA TRAÇOS COMUNS ÀS PERSONAGENS MENCIONADAS.

      Resposta pessoal do aluno.

 

15- QUANTO AO “PROFESSOR DE MELANCOLIA”, PODEMOS CONCLUIR QUE ELE:

(X) ESTAVA SEMPRE SE DANDO MAL;

(X) QUE ERA FREQUENTEMENTE PASSADO PARA TRÁS;  

(X) SENTIA-SE INJUSTIÇADO; 

(   ) RECEBIA O RECONHECIMENTO QUE JULGAVA MERECER; 

(   ) ERA FELIZ PORQUE TINHA SEU TRABALHO VALORIZADO.

 

16- LINHA E AGULHA ERAM SEMELHANTES PORQUE:

(   ) AMBAS ERAM HUMILDES;

(X) AMBAS ERAM ORGULHOSAS;

(   ) AMBAS ERAM TRABALHADORAS; 

(X) AMBAS ERAM VAIDOSAS.

 

17- O QUE VOCÊ ACHA QUE SIGNIFICA “SERVIR DE AGULHA PARA MUITA LINHA ORDINÁRIA”?

      Resposta pessoal do aluno.

fonte;https://armazemdetexto.blogspot.com/2017/09/um-apologo-machado-de-assis-com.html


PARA REFLETIR:

1) Qual o título do texto?

2) O que a agulha falou para o novelo de lã?

3) Porque houve discussão entre a linha e a agulha?

4) No texto qual o papel da agulha?

5) No texto qual o papel da linha?

6) O que aconteceu quando a agulha ficou nervosa?

7) O que o novelo falou para a agulha no final da história?

8) Qual a moral da história?

9) Pesquise no dicionário o significado da palavra coso/coser? Significado:

10) O que você achou da história?

fonte: https://www.soescola.com/2018/04/atividades-de-interpretacao-de-texto-a-agulha-e-a-linha.html

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