CHEFIA E PELANCA
As festas de fim de ano da família eram demais! Tinham um sítio, herança de avó para pai e de pai para filho. Lugar delicioso. Casa cheia de
quartos e varandas, onde sempre cabia mais um.
Leila adolescia. Mais ou menos uns
treze anos. Adorava levar os amigos para o sítio, para curtirem o salão de jogos, a piscina e o pomar,
repleto de frutas variadas.
A maior alegria da garota, no
entanto, era o cachorro Chefia, que ela havia ganhado do avô quando era bem pequena. Mas morava em apartamento...
—
Cachorro em apartamento, nem pensar! — disse o pai.
—
Eu que
não tenho tempo de cuidar! — disse a mãe. E lá se foi o Chefia morar no sítio, quando Leila ia para lá, era uma festa. O cachorro lambia, balançava o rabo, chegava a se urinar de
tanta felicidade. Quando ela ia embora, Chefia ficava pelo menos uns quatro dias amuado e sem apetite. Só se
distraía correndo atrás
do Pelanca, o peru de estimação do vó Leocádio.
—
Glu-glu-glu...
—
Pelanca, Pelanquinha... —
dizia o avô, enquanto o peru repetia sua cantilena. Chefia chegava a rosnar de
ciúme.
Aquela seria a primeira reunião de ano-novo sem a
presença do vô Leocádio, falecido havia coisa de uns seis meses.
Leila, o pai e a mãe eram sempre os primeiros a chegar
ao sítio. Naquele ano, porém, o casal de tios já estava lá.
—
O sítio está muito triste sem
o vô Leocádio — comentou Leila.
—
Mas o papai era homem alegre
e, de onde estiver, vai ficar feliz em ver o sítio cheio de gente, na noite da
virada do ano — disse a mãe da menina.
—
E quem foi que convidou
alguém? — perguntou o tio, irmão da mãe.
—
Papai sempre convidava — ela
respondeu.
—
Papai está morto e temos que
respeitar o luto. Este ano, ninguém foi convidado.
E a tia, agregada à família pelo casamento com o filho
do falecido, meteu-se na conversa:
—
Onde já se viu encher a pança
de estranhos com castanhas, figos, passas... Empanturrar de nozes...
—
Mas não são estranhos,
cunhada. — dessa vez intrometeu-se o pai de Leila. — São todos amigos,
vizinhos do sítio, parentes distantes.
Não houve, no entanto, o que convencesse os cunhados.
A ceia seria só entre eles e ponto-final.
—
Nem a família do Abelzinho,
tio? — perguntou Leila, a ponto de chorar.
Abel era filho dos caseiros do sítio. Amigos de
todas as horas, desde que o vô Leocádio e a finada vó Nice tinham ido morar
lá.
Leila e ele eram da mesma idade, compartilhavam as
mesmas ideias.
—
O Abelzinho passa na casa dele
com a família dele, Leila. Aqui, este ano, só nós — o tio encerrou o assunto.
Chefia rosnou para Leila. A menina saiu,
aborrecida, e foi se sentar na cadeira do avô, na varanda.
—
Que falta o vovô faz, Chefia.
Meu tio se acha o dono da casa, mas não é. Isso tá errado. Nunca passei final
de ano sem o Abel.
—
Grrrrrrrrrr... — Chefia rosnou
como se dissesse: "Compreendo, Leila".
De longe, Pelanca observava a cena que um dia foi
sua: no lugar da garota, vô Leocádio. No lugar de Chefia, ele. Indignado, o
peru subiu os degraus da varanda e começou a reclamar, beliscando o pelo do
cachorro.
—
Glu-glu-glu... Glu-glu-glu...
Chefia não gostou e revidou, dando uma patada no
peru.
-
Grrrrr... Grrrr... (se manda,
peru safado!)
—
Glu-glu-glu... glu-glu-glu...
—
Grrrrrrrr... (eu te odeio).
E os dois continuaram brigando. Chefia dando patada
no peru e ele mordiscando o cachorro. Até que o último deu uma dentada no pobre
do Pelanca, que saiu batendo as asas de dor.
O tio veio ver o que acontecia.
—
Que barulhada é essa, Leila?
—
Nada. Já passou.
—
O tio fez menção de entrar,
mas, de repente, lhe ocorreu uma ideia:
—
Não precisamos nem pensar na
ceia. Assamos o Pelanca. Somos cinco pessoas, dá e sobra.
—
Posso fazer urna deliciosa
farofa fria pra acompanhar — ofereceu-se a tia, apoiando a ideia do marido.
Leila se rebelou.
—
O Pelanca não, tio! O vovô
adorava ele.
—
O tio deu um sorriso irônico.
—
Querida, o vovô está morto, e
dizem que carne de peru velho é muito dura.
—
Então, tio, o Pelanca é velho,
ruim de comer.
—
Que eu saiba, o caseiro trouxe
o peru há coisa de uns sete meses. Portanto, é uma ótima hora para saborearmos
o Pelanca, em honra do vovô. Amanhã cedo, peço pro caseiro matar o peru. Vai
dar urna ceia e tanto!
—
Leila ficou indignada. Falou
com o pai e a mãe, mas os dois estavam tão desanimados com aquele final de ano
desastroso, que nem ligaram para o assunto.
—
Pelanca, ainda dolorido da
briga, aquietara-se no terreiro quando a noite caiu. Só despertou quando o galo
cantou. Então viu Chefia entrando, de mansinho, indo em sua direção. Achando
que o cachorro ia mordê-lo de novo, levantou e saiu rabeando e batendo as asas.
—
Glu-glu-glu...
—
Mas o cachorro foi mais
rápido; abocanhou uma das patas do Pelanca e saiu arrastando o peru. Por mais
que ele gritasse "glu-glu-glu", por mais que o peru tentasse se
livrar, Chefia correu o quanto pode, arrastando-o.
Na manhã seguinte, o tio não conseguiu encontrar a ave para o caseiro matar. As horas se passaram, e ele acabou indo para a cidade comprar uma ceia pronta.
Leila nem comeu. Estava angustiada. Chefia havia desaparecido também. O que teria acontecido com ele?
O ano-novo rompeu triste. Os pais de Leila enfiaram as coisas no carro, despediram-se, e os três voltaram para a cidade. Os tios fizeram o mesmo.
Dias depois, Abelzinho ligou para a amiga.
— O Chefia apareceu. E o Pelanca também. Não sei, não, Leila, mas meu pai acha que o cachorro escondeu o peru pra ele não acabar assado em cima da mesa.
1. Qual o espaço da narrativa?
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2. Qual o tempo da narrativa?
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3. Quais as cinco pessoas que iriam passar a ceia no sítio?
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4. Qual o nome das personagens abaixo?
a) Filho do caseiro_________________
b) O Vô falecido ___________________
c) A Vó falecida ___________________
d) O peru _________________________
e) O cachorro __________________________________
5. Grrrrrrrrrr...
— Chefia rosnou como se dissesse: "Compreendo,
Leila". Por que o a
narrador utilizou aspas no fragmento sublinhado?
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6. Para indicar a fala da mãe e do pai que verbo e qual pontuação o narrador utilizou?
__Cachorro em
apartamento, nem pensar! — disse o pai.
__Eu que não tenho tempo de cuidar! — disse a mãe.
a) verbo:________________
b) pontuação:____________
7. Porque o cachorro odiava o peru?
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8. “Chefia dando patada no peru e ele mordiscando
o cachorro. Até que o último deu uma dentada no pobre do Pelanca” A palavra
último se refere;
a) ao peru
b) ao cachorro
c) ao caseiro
d) ao avô
9. O Avô chamava o peru de PELANQUINHA o uso do diminutivo nesse caso indica que:
a) o animal era pequeno
b) o animal era da família
c) o avô tinha carinho pelo animal
d) o avô achava feio dizer pelanca.
10. A alternativa que NÃO apresenta opinião é:
a) Papai está morto e temos que respeitar o luto.
b) papai era homem alegre e, de onde estiver, vai ficar feliz em ver o sítio cheio de gente
c) Onde já se viu encher a pança de estranhos com castanhas, figos, passas...
d) Aquela seria a primeira reunião de ano-novo sem a presença do vô Leocádio