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sábado, 23 de março de 2024

CHEFIA E PELANCA - CONTO - ELIANA MARTINS

CHEFIA E PELANCA

As festas de fim de ano da família eram demais! Tinham um sítio, herança de avó para pai e de pai para filho. Lugar delicioso. Casa cheia de quartos e varandas, onde sempre cabia mais um.

Leila adolescia. Mais ou menos uns treze anos. Ado­rava levar os amigos para o sítio, para curtirem o salão de jogos, a piscina e o pomar, repleto de frutas variadas.

A maior alegria da garota, no entanto, era o cachorro Chefia, que ela havia ganhado do avô quando era bem pe­quena. Mas morava em apartamento...

  Cachorro em apartamento, nem pensar! — disse o pai.

    Eu que não tenho tempo de cuidar! — disse a mãe. E lá se foi o Chefia morar no sítio, quando Leila ia para lá, era uma festa. O cachorro lambia, balançava o rabo, chegava a se urinar de tanta fe­licidade. Quando ela ia embora, Chefia ficava pelo menos uns quatro dias amuado e sem apetite. Só se distraía corren­do atrás do Pelanca, o peru de estimação do vó Leocádio.

O cachorro odiava o peru, porque o velhote cuidava dele como se fosse um filho. Nas tardes frescas do sítio.
quando o vô se sentava na varanda para apreciar o fim do dia, Pelanca subia a escadinha, ficava de pé, ao lado da cadeira de balanço, e vô Leocádio alisava aquela pelanca vermelha que pendia do pescoço dele. Por isso tinha lhe dado esse nome.

          Glu-glu-glu...

          Pelanca, Pelanquinha... — dizia o avô, enquanto o peru repetia sua cantilena. Chefia chegava a rosnar de ciúme.

Aquela seria a primeira reunião de ano-novo sem a presença do vô Leocádio, falecido havia coisa de uns seis meses.

Leila, o pai e a mãe eram sempre os primeiros a che­gar ao sítio. Naquele ano, porém, o casal de tios já estava lá.

          O sítio está muito triste sem o vô Leocádio — co­mentou Leila.

          Mas o papai era homem alegre e, de onde estiver, vai ficar feliz em ver o sítio cheio de gente, na noite da vira­da do ano — disse a mãe da menina.

          E quem foi que convidou alguém? — perguntou o tio, irmão da mãe.

          Papai sempre convidava — ela respondeu.

          Papai está morto e temos que respeitar o luto. Este ano, ninguém foi convidado.

E a tia, agregada à família pelo casamento com o fi­lho do falecido, meteu-se na conversa:

          Onde já se viu encher a pança de estranhos com castanhas, figos, passas... Empanturrar de nozes...

          Mas não são estranhos, cunhada. — dessa vez in­trometeu-se o pai de Leila. — São todos amigos, vizinhos do sítio, parentes distantes.

Não houve, no entanto, o que convencesse os cunha­dos. A ceia seria só entre eles e ponto-final.

          Nem a família do Abelzinho, tio? — perguntou Leila, a ponto de chorar.

Abel era filho dos caseiros do sítio. Amigos de todas as horas, desde que o vô Leocádio e a finada vó Nice ti­nham ido morar lá.

Leila e ele eram da mesma idade, compartilhavam as mesmas ideias.

          O Abelzinho passa na casa dele com a família dele, Leila. Aqui, este ano, só nós — o tio encerrou o assunto.

Chefia rosnou para Leila. A menina saiu, aborrecida, e foi se sentar na cadeira do avô, na varanda.

          Que falta o vovô faz, Chefia. Meu tio se acha o dono da casa, mas não é. Isso tá errado. Nunca passei final de ano sem o Abel.

          Grrrrrrrrrr... — Chefia rosnou como se dissesse: "Compreendo, Leila".

De longe, Pelanca observava a cena que um dia foi sua: no lugar da garota, vô Leocádio. No lugar de Chefia, ele. Indignado, o peru subiu os degraus da varanda e co­meçou a reclamar, beliscando o pelo do cachorro.

          Glu-glu-glu... Glu-glu-glu...

Chefia não gostou e revidou, dando uma patada no

peru.

-            Grrrrr... Grrrr... (se manda, peru safado!)

          Glu-glu-glu... glu-glu-glu...

          Grrrrrrrr... (eu te odeio).

E os dois continuaram brigando. Chefia dando pata­da no peru e ele mordiscando o cachorro. Até que o último deu uma dentada no pobre do Pelanca, que saiu batendo as asas de dor.

O tio veio ver o que acontecia.

          Que barulhada é essa, Leila?

          Nada. Já passou.

          O tio fez menção de entrar, mas, de repente, lhe ocor­reu uma ideia:

          Não precisamos nem pensar na ceia. Assamos o Pelanca. Somos cinco pessoas, dá e sobra.

          Posso fazer urna deliciosa farofa fria pra acompa­nhar — ofereceu-se a tia, apoiando a ideia do marido. Leila se rebelou.

          O Pelanca não, tio! O vovô adorava ele.

          O tio deu um sorriso irônico.

          Querida, o vovô está morto, e dizem que carne de peru velho é muito dura.

          Então, tio, o Pelanca é velho, ruim de comer.

          Que eu saiba, o caseiro trouxe o peru há coisa de uns sete meses. Portanto, é uma ótima hora para saborear­mos o Pelanca, em honra do vovô. Amanhã cedo, peço pro caseiro matar o peru. Vai dar urna ceia e tanto!

          Leila ficou indignada. Falou com o pai e a mãe, mas os dois estavam tão desanimados com aquele final de ano desastroso, que nem ligaram para o assunto.

          Pelanca, ainda dolorido da briga, aquietara-se no terreiro quando a noite caiu. Só despertou quando o galo cantou. Então viu Chefia entrando, de mansinho, indo em sua direção. Achando que o cachorro ia mordê-lo de novo, levantou e saiu rabeando e batendo as asas.

          Glu-glu-glu...

          Mas o cachorro foi mais rápido; abocanhou uma das patas do Pelanca e saiu arrastando o peru. Por mais que ele gritasse "glu-glu-glu", por mais que o peru tentasse se livrar, Chefia correu o quanto pode, arrastando-o.

           Na manhã seguinte, o tio não conseguiu encontrar a ave para o caseiro matar. As horas se passaram, e ele aca­bou indo para a cidade comprar uma ceia pronta.

           Leila nem comeu. Estava angustiada. Chefia havia desaparecido também. O que teria acontecido com ele?

           O ano-novo rompeu triste. Os pais de Leila enfiaram as coisas no carro, despediram-se, e os três voltaram para a cidade. Os tios fizeram o mesmo.

          Dias depois, Abelzinho ligou para a amiga.

           — O Chefia apareceu. E o Pelanca também. Não sei, não, Leila, mas meu pai acha que o cachorro escondeu o peru pra ele não acabar assado em cima da mesa.

 

1. Qual o espaço da narrativa?

________________________________________________

2. Qual o tempo da narrativa?

________________________________________________

 

3. Quais as cinco pessoas que iriam passar a ceia no sítio?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. Qual o nome das personagens abaixo?

a) Filho do caseiro_________________

b) O Vô falecido ___________________

c) A Vó falecida ___________________

d) O peru _________________________

e) O cachorro __________________________________

 

5. Grrrrrrrrrr... — Chefia rosnou como se dissesse: "Compreendo, Leila".  Por que o a narrador utilizou aspas no fragmento sublinhado?

________________________________________________________________________

 

6. Para indicar a fala da mãe e do pai que verbo e qual pontuação o narrador utilizou?

__Cachorro em apartamento, nem pensar! — disse o pai.

­­­­__Eu que não tenho tempo de cuidar! — disse a mãe.

a) verbo:________________

b) pontuação:____________

 

7. Porque o cachorro odiava o peru?

________________________________________________________________

 

8. “Chefia dando pata­da no peru e ele mordiscando o cachorro. Até que o último deu uma dentada no pobre do Pelanca” A palavra último se refere;

a) ao peru

b) ao cachorro

c) ao caseiro

d) ao avô

 

9. O Avô chamava o peru de PELANQUINHA o uso do diminutivo nesse caso indica que:

a) o animal era pequeno

b) o animal era da família

c) o avô tinha carinho pelo animal

d) o avô achava feio dizer pelanca.

 

10. A alternativa que NÃO apresenta opinião é:

a) Papai está morto e temos que respeitar o luto.

b) papai era homem alegre e, de onde estiver, vai ficar feliz em ver o sítio cheio de gente

c) Onde já se viu encher a pança de estranhos com castanhas, figos, passas...

d) Aquela seria a primeira reunião de ano-novo sem a presença do vô Leocádio

segunda-feira, 18 de março de 2024

PEGA LADRÃO – CONTO - ELIANA MARTINS

 PEGA LADRÃO – ELIANA MARTINS

          Neinha estava tão linda naquela noite que fez o coração de Jurandir bater mais forte que de costume.

          Já era bem tarde quando a deixou na porta do bar­raco duplex onde ela morava e seguiu para o seu.

          Tinha nascido ali, na comunidade do Babado Novo. Conhecia todo mundo. Era benquisto. Garoto sangue bom, diziam.

          Quinze anos tinha aquele menino cheio de sonhos e paixão por Neinha, que tinha catorze.

          Jurandir entrou em casa. A mãe e os dois irmãos me­nores dormiam a sono solto, em um colchão de casal, esti­cado no chão do único cômodo do barraco.

          Dentro de um armário, dois ovos fritos. A mãe sem­pre deixava alguma coisa para ele quando sabia que ia chegar tarde. Jurandir comeu, escovou os dentes, trocou a bermuda jeans por uma calça de moletom surrada e se jogou em outro colchão de solteiro, ao lado do da mãe.

          Viver na comunidade era bom, ele gostava. Mas acontecia de tudo. De repente, no silêncio da noite, um tiro, um pedido de socorro. Ninguém abria as portas, pe­rigando ser atingido por uma bala perdida. Mas não na­quela noite. Ela era especial.

          Jura, como todo mundo o conhecia, fechou os olhos e recordou os momentos com Neinha. Tinham os mesmos sonhos, amavam-se. Ele queria ser dentista. Ela, professo­ra. Gostava de crianças, ensinava toda a garotada da co­munidade que ia mal na escola.

          — Matemática não é difícil, não. Vem cá que eu te ensino. — Ele parecia ouvir a voz dela, macia, repetindo isso para alguma criança babado-novense.

Iam virar adultos e sair dali. Estudar, trabalhar, com­prar uma casa espaçosa em que coubesse todo mundo: a família dele e a dela.

          A mãe roncava, coitada! Às quatro da manhã tinha que levantar para deixar comida pronta para os filhos e descer o morro, rumo ao ponto do ônibus.

         O sono foi batendo nos olhos de Jura.

          — Jura, cê jura que nunca vai me deixar? — Pareceu, de novo, ouvir a voz de Neinha.

          _ Juro!

          _ Então pega bem forte na minha mão.

          _ Pega! Pega! Pega!

          Jurandir abriu os olhos. Aquele "pega" não fazia parte do seu devaneio.

          _ Pega ladrão! — alguém gritou lá fora, perturban­do o sono da comunidade. A mãe acordou, mas os dois pequenos continuaram dormindo.

          Que que tu tá fazendo de pé, Jura?

          _ Acordei com o grito. Vou ver o que é.

          _ Vai nada! — Agarrou o braço do filho, que, mes­mo assim, disparou para a ruela, ainda a tempo de ver um homem correndo e outros dois perseguindo.

          _ Pega! Pega!

          _ Ajuda aí, cara! — pediram pra ele.

          Uma janela de barraco foi aberta, de soslaio, e uma pessoa disse:

          _ Ele foi por ali. — E apontou uma esquina.

          Depois de umas três ruas, Jurandir percebeu que já havia muita gente correndo atrás deles, que nem bloco de carnaval.

          _ O que que foi, hein? — perguntava um.

          _ Sei lá! Ouvi o pega-pega e entrei na dança. Apareceu um policial.

          _ PRRRRRRRRRR... — apitou para se identificar. — O que foi?

          _ Um ladrão, seu guarda — alguém disse.

          _ Ladrão? Mas roubou o quê?

          Ninguém sabia.

          _ Parece que entrou naquele barraco duplex. Jurandir se arrepiou. Era a casa de Neinha. O pai era pedreiro fino, jeitoso. Tinha construído dois andares

Escada de alvenaria e tudo.

          A luz da casa foi acesa. O pai de Neinha apareceu na janela.

          _ Que que foi?

           Aquela não era a janela em que Jurandir sonhava es­tar com Neinha no futuro. Iriam ter janelas com floreiras, e, caso ele acordasse de madrugada, não seria por causa de um ladrão, e sim para dizer que a amava.

          Mas a realidade, agora, era aquela.

          _ Que é que foi que houve, meu Deus? — o pai de Neinha voltou a perguntar.

            Ninguém sabe ao certo, mas parece que um ladrão se escondeu aí na sua casa — explicou o policial.

          _ Ai, minha Nossa Senhora! — berrou a mãe, apa­recendo na janela, toda desgrenhada. O policial pediu li­cença e, sem mais nem menos, deu um pontapé na porta do barraco.

           _ Não podemos perder tempo — disse, já embara­fustando dentro da casa.

         A irmãzinha menor de Neinha, garota de uns seis anos, agarrou-se à mãe e começou a dar gritos histéricos, como porco em dia de matança.

         O pessoal que se manteve na rua, assustado com os berros da menina e supondo que o ladrão estava mesmo lá dentro, se enfiou no barraco feito sardinha em lata, en­tupindo o pequeno cômodo que servia de sala.

          _ Ói lá! Na laje — alguém gritou.

          O policial subiu a escada de dois em dois degraus.

          Cadê o excomungado?

          Mas só Neinha dormia lá em cima.

          Jurandir também subiu correndo, encontrando a na­morada pálida e tremendo de medo.

          Abraçou-a.

                    Calma, Neinha, que isso um dia acaba.

                    Não pode ter pulado da laje, que é alta pra chuchu — gritou um, lá pelos degraus de baixo.

                    Tão procurando o quê, Jura? — Neinha perguntou. A irmãzinha recomeçou seu grunhido de porco.

                    Cala a boca, Gildileia! — berrou a mãe, tentando abaixar o cabelo com uma escova. — Vê se pegam logo o ladrão e deixem a gente dormir em paz.

                    Quem contou que é ladrão? — perguntou uma velhinha que chegava, sem nenhum dente na boca.

                    Vamos varar todas as casas vizinhas — decidiu o policial.

          Não encontraram nada nas casas e todos foram saindo para a calçada outra vez.

          Com toda aquela balbúrdia, seu Tonico da venda, é claro, também tinha perdido o sono. Pegou no cavaquinho e mandou bala: "Ói que foi só pegar no cavaquinho...".

         A turma de menos de vinte anos não gostou da música e pediu pagode, funk, reggae. E lá foi seu Tonico, que amarrava o burro onde o freguês queria.

         Lá pelas quatro da manhã, a turma se dispersou. Afinal, tinham perseguido quem? Era o que todos se perguntavam.

          A comunidade do Babado Novo ficou morta de novo. Jurandir, tendo deixado Neinha bem mais calma, subiu a ruela de casa. A mãe o esperava à porta.

                    Ai, graças a Deus que tu tá vivo, filho!

                    Não tinha motivo pra morrer, não, mãe. Ninguém sabia nem quem tava procurando. Tudo maluco.

          _           Jurandir se espichou de novo em seu colchão.

          A casa ampla com floreiras. Um quarto para cada família. Ele, dentista; Neinha, professora. A casa ampla...A casa... A Ca...

           O sono chegou, o sonho voltou. Nem sombra da realidade.

 

Fonte: Ana Bola e Outras Histórias Corajosas

 

RESPONDA

1. Qual o título do conto?

_________________________________________________________

 

2. Qual a autora do conto?

__________________________________________________________

 

3. Quais são os personagens?

___________________________________________________________

 

4. Qual o espaço da narrativa, ou seja, onde acontece a história?

____________________________________________________________

 

5. Quanto tempo aproximadamente dura a história?

____________________________________________________________

 

6. Qual a situação social de Jurandir? Justifique sua resposta com uma frase do texto.

_______________________________________________________________________

 

7. Qual era o sonho de Jurandir?

_______________________________________________________________

 

8. Qual o significado das expressões presentes no texto:

a) sardinha em lata

________________________________________________________________

b) amarrava o burro onde o freguês queria

______________________________________________________________

c) grunhido de porco

______________________________________________________________

 

9. Qual o significado das palavras abaixo de acordo com o texto?

a) desgrenhada

___________________________________________________________

b) balburdia

____________________________________________________________

c) soslaio

___________________________________________________________

 

10. Acentue as palavras abaixo se necessário.

a) ARMARIO

b) ALGUEM

c) ARMARINHO

d) NINGUEM

e) MATEMATICA

f) DIFICIL

g) HISTERICO

h) PONTAPE

i) PALIDA

j) POLIDO

 

11. Complete os espaços em branco com uma das letras entre parênteses.

a) ___U___U    (X, CH)

b) ESPI____OU (X,CH)

c) VI____INHA (S,Z)

d) ____EITOSO (J,G)

e) E____COMUNGADO (S,X)

f) DEI___ADO  (X, CH)

g) MATAN____A (SS, Ç)

h) A____USTADO (S,SS)

i) A___GUÉM (U,L)

j) JEITO___O (S,Z)

domingo, 17 de março de 2024

AS CONCHAS DA SORTE - CONTO - ELIANA MARTINS

 AS CONCHAS DA SORTE

 

        Guardo a fotografia porque me faz lembrar de uma história que ocorreu há muito tempo, na

minha infância. Mas até hoje, se eu quiser, fecho os olhos e parece que tudo acontece de novo, tal a importância que teve para mim.

           Era verão. Eu tinha seis anos e meu irmão, Cadu, oito. Ele era um menino bonito e forte. Cabelos escuros e lisos, pele morena e olhos bem verdes.

Nessa época, eu me lembro de ficar um tempão em frente ao espelho, passando a escova no cabelo repetidas vezes para ver se meus cachinhos ficavam lisos, corno o cabelo do Cadu. Também não tinha olhos verdes. Os meus eram castanhos como os de outros milhões de crianças brasileiras.

           Mas o dono dos olhos verdes e dos cabelos lisos so­fria de bronquite alérgica. Porém, até aquele momento da nossa vida, nenhum médico havia descoberto qual alergia ele tinha. Podia ser a poeira, a poluição, pois a gente mo­rava na maior capital do país. Também podia ser alergia a pólen, a perfume... Enfim, o garoto era o maior alérgico de todos os tempos.

          O fato é que, de vez em quando, Cadu, do nada, co­meçava a espirrar, a tossir, e a casa virava um pandemônio. Lá iam meu pai e minha mãe com ele para o hospital.

         Um dia, no verão, o médico do meu irmão sugeriu que umas férias na praia fariam bem a sua saúde. Sol, banhos de mar e ar puro.

         Meu pai, que nunca descansava, porque achava que a empresa afundaria sem ele, decidiu tirar férias. Procu­rou uma imobiliária e alugou por um mês uma super casa legal, numa rua tranquila de uma cidade praiana.

         Minha mãe, animada com a novidade da companhia do marido e a perspectiva da melhora da bronquite do Cadu, preparou a viagem sem esquecer nenhum detalhe.

E lá fomos nós.

        A casa era gigante, pelo menos para mim, que a via com meus olhos de menino de seis anos.

         O Cadu estava ansioso para pegar uma onda. Ado­rava o mar. Mas eu tinha verdadeiro horror. O mar me metia medo. Me dava arrepios só de olhar.

          No primeiro dia de praia amanheci de mau humor.

          _ Vai, Maneco, não tenha medo! O mar não vai te engolir — meu pai disse, segurando meus braços e me pu­xando para dentro da água. — Faz que nem o Cadu. Olha só como ele pega onda!

          _ Não queroooooo!

         Que me importava se o queridinho da casa pegava onda?

Quer sim! Não viemos passar férias na praia pra você ficar na areia! — meu pai prosseguiu na sua ladainha.

          Mas eu, apavorado, continuei gritando... Até que mi­nha mãe deu um basta:

Deixe o menino! Um dia ele perde o medo do mar e pronto.

         Meu pai se convenceu, esquecendo o assunto.

         Em frente à casa que havíamos alugado estavam construindo um edifício. De tanto eu observar a constru­ção, acabei descobrindo que um dos pedreiros tinha um fi­lho quase da minha idade. Chamava-se Marcos e ia todos os dias para a obra com o pai. Fiquei amigo dele.

        Como em toda obra, havia um monte gigante de areia e outro de pedras. Fiquei encantado. Todas as manhãs, na hora de ir para a praia, eu dava um escândalo, pois queria ir brincar no monte de areia da obra.

          — Mas de que barro fizemos esse menino?! — dizia meu pai. — Onde já se viu?! Com uma praia imensa, cheia de areia, o Maneco prefere a areia da obra...

         Eu pensava, às vezes, que criança era mesmo feita de barro, tal era o jeito sério com que meu pai falava. Só tive certeza de que não quando minha mãe ficou grávida da minha irmãzinha.

Mas voltando ao caso da obra, e como eu morria de medo do mar, meus pais acabaram concordando em me deixar ficar em casa, com nossa babá. Iam à praia só com o Cadu. Quando eles viravam as costas, lá ia eu brincar com o Marcos na obra.

          Aprendi com ele a fingir que pedaços de pau eram barcos. Que o monte de areia era o mar. Os barcos subiam até ao topo, depois desciam escorregando, até atingir o monte de pedras, que era a terra firme. Brincávamos até nos fartar.

          Numa bela manhã de sol, depois que minha família foi para a praia, como sempre, fui brincar com Marcos. Encontrei ele levando umas conchas enormes

          — Bonitas, né? — disse ele.

         Eu só fiz que sim com a cabeça, sem tirar os olhos das conchas.


          _ Ouve só o som! — e encostou uma das conchas no meu ouvido.

          Incrível, mas parecia que o mar estava dentro dela. Aquele mar sim era legal. Não me metia medo.

         _ Como que o mar tá aí dentro? — perguntei. O Marcos pensou antes de responder e soltou:

         _ Porque estas são as conchas da sorte.

         _ Conchas da sorte?!

         _ Isso. Quem tiver estas conchas terá sorte pra resto da vida.

         Não sei se porque eu olhava fixo para as conchas, se porque o Marcos teve pena de ter tanta sorte nas mãos e eu não ter nenhuma, que acabou me dando duas das conchas.

         _ Toma, leva pra você. Pra sorte te acompanhar, que nem faz comigo.

Fiquei muito tempo ouvindo o som do mar com a concha no ouvido. Naquele dia, até ignorei nossos navios de toco de pau.

Na hora do almoço, pensei em mostrar meu presente para a família. Mas meus pais estavam ocupados em re­cordar as cambalhotas que o Cadu tinha dado na areia e as ondas que ele pegara. Fiquei na minha. Nada daquilo me importava mais. Eu é que tinha as conchas da sorte. Eu era o maior sortudo da casa.

Depois do almoço, arranjei uma caixa para guardar meu tesouro.

Fiz menção de sair para brincar na obra, mas minha mãe pediu para eu ficar brincando um pouco com o Cadu. Então, tive vontade de contar tudo pra ele, sobre as con­chas, sobre a sorte. Que o Cadu, agora, era irmão do maior sortudo da face da terra. Mas virei, mexi e não contei nada.

A tarde passou e quando a noite chegou, meu ir­mão começou a tossir. Tossiu tanto que perdeu o fôlego. E a cena que eu tinha visto tantas vezes se repetiu: papai e mamãe enfiando o Cadu no carro e indo procurar um pronto-socorro.

Me deixaram com a ajudante da casa. Sozinho no quarto, fiquei pensando que eu nunca iria parar em um hospital. Agora, como se não bastasse uma, era proprietá­rio de duas conchas da sorte. Teria saúde para a vida toda. Escondi a caixa das conchas debaixo da cama e tentei dor­mir. Mas não consegui.

Será que era justo um irmão ter tanta sorte e outro tanto azar? Era justo eu ter duas conchas e o Cadu nenhu­ma? Tudo bem que ele tinha olhos verdes, cabelos lisos, não tinha medo do mar e meus pais se orgulhavam tanto dele. Só que, coitado, era alérgico. Estava, sabia-se lá onde, no hospital da cidade, em plenas férias. Mas, se o filho do pedreiro tinha dado as conchas da sorte para mim, é porque eu é que merecia. Ponto-final. Virei pro outro lado e... não dormi. Aquilo ficou remoendo na minha cabeça.

Comecei a chorar. Sabia que o certo era eu dar uma concha pro meu irmão ter sorte também e não ficar mais doente. Por outro lado, não queria dar.

Tarde da noite, meus pais voltaram com o Cadu. Estava tudo bem. Minha mãe percebeu meus olhos ver­melhos.

— O que foi, Manequinho? Estava preocupado com seu irmão? Ele já melhorou. — e me pegou no colo.

Fiquei abraçado com minha mãe. E minha cabeça ainda martelava: dou ou não dou?

Aquele perfume de flor que exalava da minha mãe me fez decidir. Pulei do colo dela, peguei a caixa e tirei a concha maior e mais bonita. Fui até a cama do meu irmão e a dei para ele. Meu coração batia disparado, de tristeza e de felicidade juntas.

Meus pais e meu irmão me olharam sem entender. Então contei a história das conchas da sorte.

— Não é justo eu ter tanta sorte e você nenhuma, Cadu. Não me custa repartir.

Aquela foi a noite em que ganhei mais beijos em toda minha vida. E meu pai tirou uma foto, minha e do Cadu, abraçados e segurando cada um a sua concha da sorte.

RESPONDA 

  1.Antes de ler o texto leia o título AS CONCHAS DA SORTE. Sobre o que você acha que o texto ira falar?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Quais são as personagens da história?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. Quem está contando a história?

__________________________________________________________________________

4. Que idade o Cadu tinha?

_____________________________________________________________

5. Qual idade o narrador tinha na época?

_____________________________________________________________

6. Quais as características físicas de Cadu?

____________________________________________________________________________

7. Que objeto aparece no início da história e no final como comprovação do acontecido?

____________________________________________________________________________

8. Qual era o problema de saúde da Cadu?

________________________________________________________________

9. Qual a profissão do pai de Marcos

___________________________________________________________________

10. Quando aconteceu a história?

___________________________________________________________________

11. Em que lugar aconteceu a história?

__________________________________________________________________________

12. Qual era o apelido do narrador?

__________________________________________________________________________

13. Por que o narrador preferia brincar no monte de areia?

__________________________________________________________________________

14. Que sentimento o narrator tinha em relaçao ao irmão? Justifique sua resposta.

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

15. As conchas da sorte trouxe algum tipo de sorte para o narrador? Justifique.

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

16. Complete os espaços com uma das letra entre parenteses.

a) E___ALAVA (z,x)

b) ME___I  (x, ch)

c) CAI___A (x, ch)

d) PU___ANDO (x,ch)

e) DEBAI___O (x, ch)

f) A VIA___EM  (g, j)

g) PRO___EGUIR (s, ss)

h) IMEN___A  (ç, ss, s)

i) SU___ERIU  (g,j)

j) CERTE__A (s,z)

17. Acentue as palavras se necessário.

a) ESCANDALO

b) SORTE

c) INFANCIA

d) HOSPITAL

e) HISTORIA

f) HORROR

g) ALERGICO

h) HUMOR

I) FAMILIA

J) FOLEGO


sexta-feira, 8 de março de 2024

XIXI NA CALÇA CONTO

 XIXI NA CALÇA (WALCYR CARRASCO)

LIVRO: "HISTÓRIAS PARA A SALA DE AULA" (EDITORA MODERNA)

https://arquivos.qconcursos.com/prova/arquivo_prova/74610/exercito-2017-cmc-aluno-do-colegio-militar-ef-portugues-prova.pdf

          Aos 9 anos, eu tinha uma professora muito brava. Não sem motivo. Boa parte dos alunos pedia para ir ao banheiro somente para fugir. Eu era dos mais quietinhos. Certo dia me deu uma vontade tremenda de fazer xixi. Ergui o braço. Era o terceiro querendo sair. Ouvi um sonoro "não". Foi um desespero. Tentava segurar a vontade. O final do período se aproximava. Torcia as pernas e me remexia. Os minutos pareciam mais lentos! De repente, aconteceu!

          Senti um calorzinho nas pernas e uma bruta sensação de alívio. Relaxei. Minhas calças, minhas meias, molhadas! Ainda tive esperança. Minha carteira era ao lado da parede. Talvez ninguém notasse a enorme poça embaixo dos meus pés!

          Que idéia! Dali a pouco um colega gritou:

          – Ih, ele fez xixi na calça!

          – Não fiz, não! – retruquei.

          Os outros olharam. A professora se aproximou. Gritei:

          – Foi o menino da frente!

          – Eu, não! – defendeu-se ele. – Olha, as meias dele estão molhadas!

          Ela abanou a cabeça, incrédula.

          – Por que não pediu para sair?

          – A senhora não deixou!

          – Devia ter insistido!

          Tocou o sinal. Peguei a mochila. Meias pingando, uma enorme roda úmida no bumbum!

          A infância é cruel. Saí da classe com a molecada gritando atrás:

          – Ele fez xixi na calça! Ele fez xixi na calça!

         Na frente do prédio, quis esconder a mancha do traseiro com a mochila. Inútil.

         – Xixi, olha o xixi! – mostravam os alunos.

        Todos riam! Morava a poucas quadras dali. Corri, com a mochila batendo nas coxas. Ah, que vergonha!

        No caminho, encontrei alguns amigos, não informados da tragédia.

        – Ih, você está todo molhado! – comentou um deles.

        – Escorreguei no chão quando a faxineira estava lavando! – menti.

        – É nada, é xixi! – dedou outro.

       Corri ainda mais depressa! Nunca, nunca mais queria voltar às aulas!

       Mamãe tinha um pequeno bazar. Morávamos nos fundos. Entrei pela loja. Ela estava sozinha no balcão. Lamentei-me, angustiado.

       – Fiz xixi na calça!

       – É brincadeira? – espantou-se.

       Mostrei. Preparei-me para a bronca. Minha sensação era de culpa, pavor! Mas mamãe ficou calma.

       – Entra depressa. Toma um banho! Ponha roupa limpa!

       Deu uma fugidinha da loja. Botou a calça de molho. Serviu o almoço. De tanta angústia, eu quase chorava:

       – Nunca, nunca mais vou para a escola! Vou parar de estudar!

       Ela brincou com meus cabelos.

       – Isso não foi nada. Se mexerem com você, não ligue. Só se esforce para nunca mais acontecer.

       – Então vou morar com a vovó, em outra cidade!

       – De jeito nenhum! Não suportaria ficar longe de meu filho! 

        Aos poucos, me acalmou. Transformou o drama em brincadeira. De noite, quando papai chegou, voltou ao assunto. Até consegui dar risada.

        Estava certa. Ninguém continuou me infernizando. Não fui o primeiro, nem o último, a fazer xixi em plena aula!

        Agora, depois de tanto tempo, lembro das vezes em que desabafava com ela. Também era ótimo dividir os grandes momentos. Um novo emprego, por exemplo. No telefone, sua voz animada.

        – Que bom! Você vai ganhar melhor! 

       Às vezes, quando acontece uma coisa importante, meu primeiro impulso é lhe telefonar. Em seguida, meu coração se aperta. Lembro que não está mais do outro lado. Como posso esquecer, até por um instante? Descobri o motivo. Podia contar com mamãe, como os filhos nunca deixam de contar. Ela ficaria do meu lado, como no dia em que fiz xixi na calça! Não é a memória que me trai, mas a saudade. Seu amor deixou uma lacuna que nunca vou preencher. Seja algo bom ou ruim, sempre terei vontade de compartilhar com ela.

 

 

       1. Na oração: “Ela ficaria do meu lado”, (linha 35), o pronome pessoal do caso reto destacado substitui, no parágrafo, a palavra:

(A) diretora

(B) monitora

(C) coordenadora

(D) mamãe

(E) professora

 

2. Na linha 37, último parágrafo, as palavras bom e ruim são usadas como:

(A) parônimas

(B) sinônimas

(C) antônimas

(D) homônimas

(E) homófonas

 

3. A expressão “Ela brincou com meus cabelos” (linha 25), indica que a mãe provavelmente:

(A) zombou do filho.

(B) puxou os cabelos do filho.

(C) cortou o cabelo do filho.

(D) castigou severamente o filho.

(E) fez um carinho na cabeça do filho.

 

4. A ideia predominante que se pode atribuir ao personagem principal ao término do texto é a de um:

(A) homem que perdeu contato com a mãe.

(B) homem que sente saudades da mãe.

(C) homem que sente saudades da escola.

(D) menino que odiava a escola.

(E) menino amedrontado, pois sofria bullying na escola.

 

5. O motivo de a mãe do personagem não estar mais “do outro lado” (linha 33) é:

(A) não ter celular ou telefone em casa.

(B) não querer mais contato com o filho.

(C) ter viajado para outro país.

(D) a mãe do personagem ter falecido.

(E) o filho não confiar tanto nela como antes.

 

6. Nos trechos “— Fiz xixi na calça!” “— É brincadeira?” [...] (linhas 17 e 18). O sinal em destaque, travessão (—), é utilizado para indicar a:

(A) fala de uma única personagem.

(B) mudança de ideia do personagem.

(C) fala do amigo do personagem.

(D) paciência do protagonista ou a mudança de humor do interlocutor nos diálogos. (E) indica a fala do protagonista e da sua mãe.

 

7. Nas linhas 25 e 26, na frase “Aos poucos me acalmou, porque eu estava muito nervoso.”, considerando as diferentes grafias da palavra porque, assinale a alternativa em que seu emprego está de acordo com a norma formal.

(A) Sou feliz porque você está aqui.

(B) Não sei porque!

(C) Porque você chegou tarde?

(D) Você está rindo porque?

(E) Foi explicado o porque você faltou

 

8. No trecho “Estava certa. Ninguém continuou me inferniznndo.” (linha 28), a palavra destacada, no contexto, equivale a:

(A) preconizando

(B) apaziguando

(C) lamentando

(D) reclamando

(E) perturbando

 

9. “Mostrei. Preparei-me para a bronca. Minha sensação era de culpa, pavor! Mas mamãe ficou calma.” (linhas 19 e 20). Qual das alternativas abaixo mantém o mesmo sentido do fragmento acima?

(A) Mostrei. Preparei-me para a bronca. Minha sensação era de culpa, pavor! Portanto mamãe ficou calma.

(B) Mostrei. Preparei-me para a bronca. Minha sensação era de culpa, pavor! Porém mamãe ficou calma.

(C) Mostrei. Preparei-me para a bronca. Minha sensação era de culpa, pavor! Visto que mamãe ficou calma.

(D) Mostrei. Preparei-me para a bronca. Minha sensação era de culpa, pavor! Quando mamãe ficou calma.

(E) Mostrei. Preparei-me para a bronca. Minha sensação era de culpa, pavor! Contanto mamãe ficou calma.

sexta-feira, 1 de março de 2024

O MENINO PROVA BRASIL DESCRITORES PARTE I

 Aluno:....................................................................................................turma............data.............Nº.....

 O menino

      Vou fazer um apelo. É o caso de um menino desaparecido. 

       Ele tem 11 anos, mas parece menos; pesa 30 quilos, mas parece menos; é brasileiro, mas parece menos. 

       É um menino normal, ou seja: subnutrido, desses milhares de meninos que não pediram pra nascer; ao contrário: nasceram pra pedir. 

       Calado demais pra sua idade, sofrido demais pra sua idade, com idade demais pra sua idade. É, como a maioria, um desses meninos de 11 anos que ainda não tiveram infância. 

       Parece ser menor carente, mas, se é, não sabe disso. Nunca esteve na Febem, portanto, não teve tempo de aprender a ser criança-problema. Anda descalço por amor à bola. 

       Suas roupas são de segunda mão, seus livros são de segunda mão e tem a desconfiança de que a sua própria história alguém já viveu antes. 

       Do amor não correspondido pela professora, descobriu que viver dói. Viveu cada verso de "Romeu e Julieta", sem nunca ter lido a história. 

       Foi Dom Quixote sem precisar de Cervantes e sabe, por intuição, que o mundo pode ser um inferno ou uma badalação, dependendo se ele é visto pelo Nelson Rodrigues ou pelo Gilberto Braga. 

       De seu, tinha uma árvore, um estilingue zero quilômetro e um pássaro preto que cantava no dedo e dormia em seu quarto. 

       Tímido até a ousadia, seus silêncios gritavam nos cantos da casa e seus prantos eram goteiras no telhado de sua alma. 

       Trajava, na ocasião em que desapareceu, uns olhos pretos muito assustados e eu não digo isso pra ser original: é que a primeira coisa que chama a atenção no menino são os grandes olhos, desproporcionais ao tamanho do rosto. 

       Mas usava calças curtas de caroá, suspensórios de elástico, camisa branca e um estranho boné que, embora seguro pelas orelhas, teimava em tombar pro nariz. 

       Foi visto pela última vez com uma pipa na mão, mas é de todo improvável que a pipa o tenha empinado. Se bem que, sonhador do jeito que ele é, não duvido nada.

       Sequestrado, não foi, porque é um menino que nasceu sem resgate. 

        Como vocês veem, é um menino comum, desses que desaparecem às dezenas todos os dias. 

       Mas se alguém souber de alguma notícia, me procure, por favor, porque... ou eu encontro de novo esse menino que um dia eu fui, ou eu não sei o que vai ser de mim. 

 

(Chico Anysio. Disponível em: http://oglobo.globo.com/cultura/um-autorretrato-inedito-de-chico-anysio-4428439. Acesso em: 27/6/2014.)

 

(D6) - 1. O texto O MENINO é um autorretrato em forma de anúncio. Marque a alternativa que indica qual o TEMA do texto.

a) o desaparecimento de um menino.

b)as aventuras e peripécias do menino

c) a pouca atenção dada infância no Brasil

d) A infância difícil desse menino.

(D1) - 2. De acordo com o texto a única afirmação correta é:

a) os pais do menino fazem um apelo para encontra-lo

a) ele foi visto por Nelson Rodrigues.

c) esteve na Febem

d) sentia amor pela professora.

(D16) - 3. há presença de HUMOR na alternativa:

a) é de todo improvável que a pipa o tenha empinado.

b) é um menino normal

c) é o caso de um menino desaparecido

d) é como a maioria

(D2) - 4. No fragmento " o mundo pode ser um inferno ou uma badalação, dependendo se ele é visto pelo Nelson Rodrigues ou pelo Gilberto Braga" o pronome pessoal destacado se refere a:

a) menino

b) mundo

c) Cervantes

d) Nelson Rodrigues

(D3) - 5. "Vou fazer um apelo" A palavra em destaque nesse fragmento só NÃO pode ser trocada por:

a) uma súplica

b) um pedido

c) um rogo

d) uma reflexão

(D4) - 6. Podemos inferir que o menino:

a) havia sofrido muito

b) andava descalço, mas tinha calçado

c) era muito calado

d) andava descalço, por amor a bola

(D14) - 7. O fragmento do texto em que NÃO há opinião é;

a) "Calado demais para sua idade"

b) "um desses meninos de onze anos"

c) "sofrido demais pra sua idade"

d) "Parece ser menor carente"

(D17) - 8. Viveu cada verso de "Romeu e Julieta"   o emprego de aspas nesse fragmento se justifica por:

a) Ser o nome de uma obra literária

b) ser uma gíria ou expressão popular

c) ser um estrangeirismo, ou seja, palavra de outro idioma

d) ser um neologismo, ou seja, palavra nova

(D12) - 9. A alternativa que indica uma finalidade desse texto é:

a) encontrar o menino, que até hoje não apareceu

b) refletir sobre como algumas crianças são tratadas no país

c) criticar a falta de educação das crianças hoje em dia

d) criticar o abandono de crianças pelos pais

(D19) - 10. " Calado demais pra sua idade, sofrido demais pra sua idade, com idade demais pra sua idade" A repetição da palavra demais foi empregada para:

a) dar ênfase

b) mostrar monotonia

c) demonstrar preocupação.

d) indicar repetição de ideias.


 GABARITO

1.C

2.D

3.A

4.B

5.D

6.B

7.B

8.A

9.B

10.A

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