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sexta-feira, 8 de março de 2024

XIXI NA CALÇA CONTO

 XIXI NA CALÇA (WALCYR CARRASCO)

LIVRO: "HISTÓRIAS PARA A SALA DE AULA" (EDITORA MODERNA)

https://arquivos.qconcursos.com/prova/arquivo_prova/74610/exercito-2017-cmc-aluno-do-colegio-militar-ef-portugues-prova.pdf

          Aos 9 anos, eu tinha uma professora muito brava. Não sem motivo. Boa parte dos alunos pedia para ir ao banheiro somente para fugir. Eu era dos mais quietinhos. Certo dia me deu uma vontade tremenda de fazer xixi. Ergui o braço. Era o terceiro querendo sair. Ouvi um sonoro "não". Foi um desespero. Tentava segurar a vontade. O final do período se aproximava. Torcia as pernas e me remexia. Os minutos pareciam mais lentos! De repente, aconteceu!

          Senti um calorzinho nas pernas e uma bruta sensação de alívio. Relaxei. Minhas calças, minhas meias, molhadas! Ainda tive esperança. Minha carteira era ao lado da parede. Talvez ninguém notasse a enorme poça embaixo dos meus pés!

          Que idéia! Dali a pouco um colega gritou:

          – Ih, ele fez xixi na calça!

          – Não fiz, não! – retruquei.

          Os outros olharam. A professora se aproximou. Gritei:

          – Foi o menino da frente!

          – Eu, não! – defendeu-se ele. – Olha, as meias dele estão molhadas!

          Ela abanou a cabeça, incrédula.

          – Por que não pediu para sair?

          – A senhora não deixou!

          – Devia ter insistido!

          Tocou o sinal. Peguei a mochila. Meias pingando, uma enorme roda úmida no bumbum!

          A infância é cruel. Saí da classe com a molecada gritando atrás:

          – Ele fez xixi na calça! Ele fez xixi na calça!

         Na frente do prédio, quis esconder a mancha do traseiro com a mochila. Inútil.

         – Xixi, olha o xixi! – mostravam os alunos.

        Todos riam! Morava a poucas quadras dali. Corri, com a mochila batendo nas coxas. Ah, que vergonha!

        No caminho, encontrei alguns amigos, não informados da tragédia.

        – Ih, você está todo molhado! – comentou um deles.

        – Escorreguei no chão quando a faxineira estava lavando! – menti.

        – É nada, é xixi! – dedou outro.

       Corri ainda mais depressa! Nunca, nunca mais queria voltar às aulas!

       Mamãe tinha um pequeno bazar. Morávamos nos fundos. Entrei pela loja. Ela estava sozinha no balcão. Lamentei-me, angustiado.

       – Fiz xixi na calça!

       – É brincadeira? – espantou-se.

       Mostrei. Preparei-me para a bronca. Minha sensação era de culpa, pavor! Mas mamãe ficou calma.

       – Entra depressa. Toma um banho! Ponha roupa limpa!

       Deu uma fugidinha da loja. Botou a calça de molho. Serviu o almoço. De tanta angústia, eu quase chorava:

       – Nunca, nunca mais vou para a escola! Vou parar de estudar!

       Ela brincou com meus cabelos.

       – Isso não foi nada. Se mexerem com você, não ligue. Só se esforce para nunca mais acontecer.

       – Então vou morar com a vovó, em outra cidade!

       – De jeito nenhum! Não suportaria ficar longe de meu filho! 

        Aos poucos, me acalmou. Transformou o drama em brincadeira. De noite, quando papai chegou, voltou ao assunto. Até consegui dar risada.

        Estava certa. Ninguém continuou me infernizando. Não fui o primeiro, nem o último, a fazer xixi em plena aula!

        Agora, depois de tanto tempo, lembro das vezes em que desabafava com ela. Também era ótimo dividir os grandes momentos. Um novo emprego, por exemplo. No telefone, sua voz animada.

        – Que bom! Você vai ganhar melhor! 

       Às vezes, quando acontece uma coisa importante, meu primeiro impulso é lhe telefonar. Em seguida, meu coração se aperta. Lembro que não está mais do outro lado. Como posso esquecer, até por um instante? Descobri o motivo. Podia contar com mamãe, como os filhos nunca deixam de contar. Ela ficaria do meu lado, como no dia em que fiz xixi na calça! Não é a memória que me trai, mas a saudade. Seu amor deixou uma lacuna que nunca vou preencher. Seja algo bom ou ruim, sempre terei vontade de compartilhar com ela.

 

 

       1. Na oração: “Ela ficaria do meu lado”, (linha 35), o pronome pessoal do caso reto destacado substitui, no parágrafo, a palavra:

(A) diretora

(B) monitora

(C) coordenadora

(D) mamãe

(E) professora

 

2. Na linha 37, último parágrafo, as palavras bom e ruim são usadas como:

(A) parônimas

(B) sinônimas

(C) antônimas

(D) homônimas

(E) homófonas

 

3. A expressão “Ela brincou com meus cabelos” (linha 25), indica que a mãe provavelmente:

(A) zombou do filho.

(B) puxou os cabelos do filho.

(C) cortou o cabelo do filho.

(D) castigou severamente o filho.

(E) fez um carinho na cabeça do filho.

 

4. A ideia predominante que se pode atribuir ao personagem principal ao término do texto é a de um:

(A) homem que perdeu contato com a mãe.

(B) homem que sente saudades da mãe.

(C) homem que sente saudades da escola.

(D) menino que odiava a escola.

(E) menino amedrontado, pois sofria bullying na escola.

 

5. O motivo de a mãe do personagem não estar mais “do outro lado” (linha 33) é:

(A) não ter celular ou telefone em casa.

(B) não querer mais contato com o filho.

(C) ter viajado para outro país.

(D) a mãe do personagem ter falecido.

(E) o filho não confiar tanto nela como antes.

 

6. Nos trechos “— Fiz xixi na calça!” “— É brincadeira?” [...] (linhas 17 e 18). O sinal em destaque, travessão (—), é utilizado para indicar a:

(A) fala de uma única personagem.

(B) mudança de ideia do personagem.

(C) fala do amigo do personagem.

(D) paciência do protagonista ou a mudança de humor do interlocutor nos diálogos. (E) indica a fala do protagonista e da sua mãe.

 

7. Nas linhas 25 e 26, na frase “Aos poucos me acalmou, porque eu estava muito nervoso.”, considerando as diferentes grafias da palavra porque, assinale a alternativa em que seu emprego está de acordo com a norma formal.

(A) Sou feliz porque você está aqui.

(B) Não sei porque!

(C) Porque você chegou tarde?

(D) Você está rindo porque?

(E) Foi explicado o porque você faltou

 

8. No trecho “Estava certa. Ninguém continuou me inferniznndo.” (linha 28), a palavra destacada, no contexto, equivale a:

(A) preconizando

(B) apaziguando

(C) lamentando

(D) reclamando

(E) perturbando

 

9. “Mostrei. Preparei-me para a bronca. Minha sensação era de culpa, pavor! Mas mamãe ficou calma.” (linhas 19 e 20). Qual das alternativas abaixo mantém o mesmo sentido do fragmento acima?

(A) Mostrei. Preparei-me para a bronca. Minha sensação era de culpa, pavor! Portanto mamãe ficou calma.

(B) Mostrei. Preparei-me para a bronca. Minha sensação era de culpa, pavor! Porém mamãe ficou calma.

(C) Mostrei. Preparei-me para a bronca. Minha sensação era de culpa, pavor! Visto que mamãe ficou calma.

(D) Mostrei. Preparei-me para a bronca. Minha sensação era de culpa, pavor! Quando mamãe ficou calma.

(E) Mostrei. Preparei-me para a bronca. Minha sensação era de culpa, pavor! Contanto mamãe ficou calma.

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