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sábado, 23 de março de 2024

CHEFIA E PELANCA - CONTO - ELIANA MARTINS

CHEFIA E PELANCA

As festas de fim de ano da família eram demais! Tinham um sítio, herança de avó para pai e de pai para filho. Lugar delicioso. Casa cheia de quartos e varandas, onde sempre cabia mais um.

Leila adolescia. Mais ou menos uns treze anos. Ado­rava levar os amigos para o sítio, para curtirem o salão de jogos, a piscina e o pomar, repleto de frutas variadas.

A maior alegria da garota, no entanto, era o cachorro Chefia, que ela havia ganhado do avô quando era bem pe­quena. Mas morava em apartamento...

  Cachorro em apartamento, nem pensar! — disse o pai.

    Eu que não tenho tempo de cuidar! — disse a mãe. E lá se foi o Chefia morar no sítio, quando Leila ia para lá, era uma festa. O cachorro lambia, balançava o rabo, chegava a se urinar de tanta fe­licidade. Quando ela ia embora, Chefia ficava pelo menos uns quatro dias amuado e sem apetite. Só se distraía corren­do atrás do Pelanca, o peru de estimação do vó Leocádio.

O cachorro odiava o peru, porque o velhote cuidava dele como se fosse um filho. Nas tardes frescas do sítio.
quando o vô se sentava na varanda para apreciar o fim do dia, Pelanca subia a escadinha, ficava de pé, ao lado da cadeira de balanço, e vô Leocádio alisava aquela pelanca vermelha que pendia do pescoço dele. Por isso tinha lhe dado esse nome.

          Glu-glu-glu...

          Pelanca, Pelanquinha... — dizia o avô, enquanto o peru repetia sua cantilena. Chefia chegava a rosnar de ciúme.

Aquela seria a primeira reunião de ano-novo sem a presença do vô Leocádio, falecido havia coisa de uns seis meses.

Leila, o pai e a mãe eram sempre os primeiros a che­gar ao sítio. Naquele ano, porém, o casal de tios já estava lá.

          O sítio está muito triste sem o vô Leocádio — co­mentou Leila.

          Mas o papai era homem alegre e, de onde estiver, vai ficar feliz em ver o sítio cheio de gente, na noite da vira­da do ano — disse a mãe da menina.

          E quem foi que convidou alguém? — perguntou o tio, irmão da mãe.

          Papai sempre convidava — ela respondeu.

          Papai está morto e temos que respeitar o luto. Este ano, ninguém foi convidado.

E a tia, agregada à família pelo casamento com o fi­lho do falecido, meteu-se na conversa:

          Onde já se viu encher a pança de estranhos com castanhas, figos, passas... Empanturrar de nozes...

          Mas não são estranhos, cunhada. — dessa vez in­trometeu-se o pai de Leila. — São todos amigos, vizinhos do sítio, parentes distantes.

Não houve, no entanto, o que convencesse os cunha­dos. A ceia seria só entre eles e ponto-final.

          Nem a família do Abelzinho, tio? — perguntou Leila, a ponto de chorar.

Abel era filho dos caseiros do sítio. Amigos de todas as horas, desde que o vô Leocádio e a finada vó Nice ti­nham ido morar lá.

Leila e ele eram da mesma idade, compartilhavam as mesmas ideias.

          O Abelzinho passa na casa dele com a família dele, Leila. Aqui, este ano, só nós — o tio encerrou o assunto.

Chefia rosnou para Leila. A menina saiu, aborrecida, e foi se sentar na cadeira do avô, na varanda.

          Que falta o vovô faz, Chefia. Meu tio se acha o dono da casa, mas não é. Isso tá errado. Nunca passei final de ano sem o Abel.

          Grrrrrrrrrr... — Chefia rosnou como se dissesse: "Compreendo, Leila".

De longe, Pelanca observava a cena que um dia foi sua: no lugar da garota, vô Leocádio. No lugar de Chefia, ele. Indignado, o peru subiu os degraus da varanda e co­meçou a reclamar, beliscando o pelo do cachorro.

          Glu-glu-glu... Glu-glu-glu...

Chefia não gostou e revidou, dando uma patada no

peru.

-            Grrrrr... Grrrr... (se manda, peru safado!)

          Glu-glu-glu... glu-glu-glu...

          Grrrrrrrr... (eu te odeio).

E os dois continuaram brigando. Chefia dando pata­da no peru e ele mordiscando o cachorro. Até que o último deu uma dentada no pobre do Pelanca, que saiu batendo as asas de dor.

O tio veio ver o que acontecia.

          Que barulhada é essa, Leila?

          Nada. Já passou.

          O tio fez menção de entrar, mas, de repente, lhe ocor­reu uma ideia:

          Não precisamos nem pensar na ceia. Assamos o Pelanca. Somos cinco pessoas, dá e sobra.

          Posso fazer urna deliciosa farofa fria pra acompa­nhar — ofereceu-se a tia, apoiando a ideia do marido. Leila se rebelou.

          O Pelanca não, tio! O vovô adorava ele.

          O tio deu um sorriso irônico.

          Querida, o vovô está morto, e dizem que carne de peru velho é muito dura.

          Então, tio, o Pelanca é velho, ruim de comer.

          Que eu saiba, o caseiro trouxe o peru há coisa de uns sete meses. Portanto, é uma ótima hora para saborear­mos o Pelanca, em honra do vovô. Amanhã cedo, peço pro caseiro matar o peru. Vai dar urna ceia e tanto!

          Leila ficou indignada. Falou com o pai e a mãe, mas os dois estavam tão desanimados com aquele final de ano desastroso, que nem ligaram para o assunto.

          Pelanca, ainda dolorido da briga, aquietara-se no terreiro quando a noite caiu. Só despertou quando o galo cantou. Então viu Chefia entrando, de mansinho, indo em sua direção. Achando que o cachorro ia mordê-lo de novo, levantou e saiu rabeando e batendo as asas.

          Glu-glu-glu...

          Mas o cachorro foi mais rápido; abocanhou uma das patas do Pelanca e saiu arrastando o peru. Por mais que ele gritasse "glu-glu-glu", por mais que o peru tentasse se livrar, Chefia correu o quanto pode, arrastando-o.

           Na manhã seguinte, o tio não conseguiu encontrar a ave para o caseiro matar. As horas se passaram, e ele aca­bou indo para a cidade comprar uma ceia pronta.

           Leila nem comeu. Estava angustiada. Chefia havia desaparecido também. O que teria acontecido com ele?

           O ano-novo rompeu triste. Os pais de Leila enfiaram as coisas no carro, despediram-se, e os três voltaram para a cidade. Os tios fizeram o mesmo.

          Dias depois, Abelzinho ligou para a amiga.

           — O Chefia apareceu. E o Pelanca também. Não sei, não, Leila, mas meu pai acha que o cachorro escondeu o peru pra ele não acabar assado em cima da mesa.

 

1. Qual o espaço da narrativa?

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2. Qual o tempo da narrativa?

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3. Quais as cinco pessoas que iriam passar a ceia no sítio?

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4. Qual o nome das personagens abaixo?

a) Filho do caseiro_________________

b) O Vô falecido ___________________

c) A Vó falecida ___________________

d) O peru _________________________

e) O cachorro __________________________________

 

5. Grrrrrrrrrr... — Chefia rosnou como se dissesse: "Compreendo, Leila".  Por que o a narrador utilizou aspas no fragmento sublinhado?

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6. Para indicar a fala da mãe e do pai que verbo e qual pontuação o narrador utilizou?

__Cachorro em apartamento, nem pensar! — disse o pai.

­­­­__Eu que não tenho tempo de cuidar! — disse a mãe.

a) verbo:________________

b) pontuação:____________

 

7. Porque o cachorro odiava o peru?

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8. “Chefia dando pata­da no peru e ele mordiscando o cachorro. Até que o último deu uma dentada no pobre do Pelanca” A palavra último se refere;

a) ao peru

b) ao cachorro

c) ao caseiro

d) ao avô

 

9. O Avô chamava o peru de PELANQUINHA o uso do diminutivo nesse caso indica que:

a) o animal era pequeno

b) o animal era da família

c) o avô tinha carinho pelo animal

d) o avô achava feio dizer pelanca.

 

10. A alternativa que NÃO apresenta opinião é:

a) Papai está morto e temos que respeitar o luto.

b) papai era homem alegre e, de onde estiver, vai ficar feliz em ver o sítio cheio de gente

c) Onde já se viu encher a pança de estranhos com castanhas, figos, passas...

d) Aquela seria a primeira reunião de ano-novo sem a presença do vô Leocádio

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