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quarta-feira, 25 de agosto de 2021

CONTO 6º E 7º ANO CONTO OU NÃO CONTO

 

CONTO OU NÃO CONTO?

Abel Sidney

      – ...eu nem te conto!

      – Conta, vai, conta!

      – Está bem! Mas você promete não contar para mais ninguém?

      – Prometo. Juro que não conto! Se eu contar quero morrer sequinha na mesma hora...

      – Não precisa exagerar! O que vou contar não é nada assim tão sério. Não precisa jurar.

      – Está bem...

    

       Depois de muitos anos, ainda me lembro em detalhes sobre o que eu e minha prima conversamos. Éramos muito pequenas e eu passava as férias em sua casa. Nunca brincamos tanto, quanto naqueles dias!

      Lembro-me do segredo que ela prometeu me contar.

      – Olha, eu vou contar, mas é segredo! Não conte para ninguém. Se você contar eu vou ficar de mal.

       – Eu não vou contar, já disse!

      O segredo não era nada sério, coisa mesmo de criança naquela idade. E ela acabou contando...

      – Minha mãe saiu para fazer compras e eu fiz um bolo. Eu quebrei dois ovos, misturei com a

farinha de trigo e o açúcar. Não deu nada certo. Com medo, eu arrumei tudo, joguei o bolo fora e até hoje minha mãe não sabe de nada...

      – Meu Deus, sua doida! Você teve coragem de fazer uma coisa dessas?!

      – Tive. Se a minha mãe descobrir, eu não quero nem imaginar o que ela fará comigo!! Posso ficar uma semana de castigo. Ou até mais...

     A minha língua coçou. Um segredo daqueles não poderia ficar guardado. Na primeira    oportunidade em que eu fiquei sozinha, procurei minha tia, que estava preparando o almoço.

      – Tia, preciso contar uma coisa pra senhora.

      – Pois conte, que estou ouvindo. Não posso te dar mais atenção, senão o almoço não sai...

     – É que eu tenho um segredo pra te contar e não sei se devo...

      – O segredo é seu ou dos outros?

     – Dos outros... Quer dizer, da prima!

     – E por que você quer contar os segredos alheios?

     – Bem, eu pensei que a senhora quisesse saber o que aconteceu...

     – Ah, minha filha, deixa eu te fazer apenas uma pergunta: a dona do segredo te autorizou a contá-lo?

    – Na verdade, não!

    – E por qual motivo você me contaria, então?

    – É que... Bem, o que ela fez não é muito certo...

     – E você vai dedurar a sua prima? Se for alguma coisa muito grave ela ficará de castigo. E você não terá com quem brincar. Você já pensou nisso?

     – Não...

     – Pois pense. E depois volte aqui para conversarmos...

     Eu não sabia onde enfiar a cara, de tanta vergonha. E para que ninguém descobrisse os meus pensamentos, me escondi na casinha do fundo do quintal. Na hora do almoço, saí de lá, pois a fome, nessas horas, é uma sensata conselheira. E minha tia, com muito cuidado, voltou a tratar do assunto.

       – Eu preciso contar uma coisa pra vocês... Minha avó, quando eu era pequena, me ensinou uma coisa que nunca mais me esqueci. E hoje, ouvindo uma notícia no rádio, lembrei-me dela. Ela dizia que nós temos uma boca e dois ouvidos; por isso, nós temos que mais ouvir do que falar. E mais: nem tudo o que ouvimos, devemos passar adiante, pois quem conta um conto, aumenta um ponto. E se o que

se conta é um segredo, pior ainda. Por isso, nessas horas em que a nossa língua coça, o melhor é lembrar que em boca fechada não entra mosquito...

     E contou também histórias de outras gentes: mexeriqueiros, dedos-duros, fofoqueiros, enfim, a turma do leva e traz...

      Naquela tarde, ainda preocupada que lessem os meus pensamentos, fiquei murchinha, daqui para ali, inventando o que fazer...

      Só no dia seguinte, quando minha prima decidiu contar para mim outro dos seus segredos, foi que eu tomei coragem de me sentar ao seu lado, bem quietinha. Disse ela:

     – Sabe, o outro segredo é mais sério que o primeiro...

     E fez suspense – disse, repentinamente que estava com sede e foi buscar água na cozinha...

     Depois de retornar, bebeu a água bem devagarinho, até recomeçar:

     – Olha, eu tenho um grande defeito. Às vezes eu me escondo na cozinha, para ouvir a conversa de minha mãe com as outras pessoas. E por acaso, eu estava ontem, tranquilamente sentada no meu cantinho secreto, quando alguém chegou para conversar com ela. Como esta pessoa é minha conhecida (e eu gosto muito dela), não posso contar o que aconteceu por lá... É uma pena! Eu só posso dizer que essa pessoa é uma língua de trapo, uma linguaruda...

     Nunca rimos tanto!

     Eu, na verdade, não sabia se me sentia agradecida ou envergonhada...

     E passados tantos anos, ainda hoje nós fazemos questão de relembrar este episódio.

     Nossos filhos compreendem, então, porque somos tão amigas e cúmplices. E olha que eles nem imaginam o que ocorreu anos depois, quando éramos jovens e começamos a paquerar, sem saber, o mesmo cara...

     Bem, mas isto é segredo e eu não posso contar!

SIDNEY, Abel. Conto ou não conto?. Ilustrações de Rosana Almendares. Disponível em: http://www.dominiopublico.

gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=105130. Acesso em: 20 ago. 2020. (adaptado)

 

 

1. O conto lido (Conto ou não conto?, de Abel Sidney), inicia-se com um diálogo entre duas personagens.

a) Quem são essas personagens?

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b) O narrador se manifesta em primeira ou em terceira pessoa? Transcreva um trecho que ilustre sua resposta.

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Teoria 1

      No foco narrativo em primeira pessoa, predominam palavras e expressões da língua, como pronomes e verbos que marcam a presença do narrador personagem, isto é, aquele que participa da história e se manifesta como “eu” /” nós”.

        No foco narrativo em terceira pessoa, o narrador é observador; não participa da história como personagem. Ele narra os acontecimentos a partir da observação (“de fora” da história). Nesse caso, predominam marcas linguísticas de terceira pessoa, por exemplo “ele” / “eles

 

2. Releia o trecho a seguir e identifique a fala de cada personagem. Utilize a seguinte legenda, para destacar passagens do texto.  Personagem 1 Personagem 2.

(      ) – ...eu nem te conto!

(      ) – Conta, vai, conta!

(      ) – Está bem! Mas você promete não contar para mais ninguém?

(      ) – Prometo. Juro que não conto! Se eu contar quero morrer sequinha na mesma hora...

(    ) – Não precisa exagerar! O que vou contar não é nada assim tão sério. Não precisa jurar.

(      ) – Está bem...

 

3. Que recursos expressivos do texto (pontuação e outros) possibilitaram a identificação de cada

personagem.

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4. Observe as características de fala das personagens. No diálogo, predomina a linguagem mais

formal ou a linguagem coloquial (informal, do dia a dia)? Justifique sua resposta.

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5. A partir do que você observou no exercício 2 no trecho reproduzido, ocorre discurso direto ou discurso indireto? Justifique sua resposta.

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Teoria 2

     No discurso direto, o narrador procura reproduzir a fala das personagens, com marcas específicas de pontuação (travessão, aspas...)

 

Teoria 3.

      Linguagem formal, comum em palestras, discursos e outras situações que exigem maior grau de formalidade...

      Linguagem coloquial, mais informal, presente nas conversas cotidianas e em situações menos formais, é comum a presença de gírias, abreviações...

 

6. Você já ouviu a expressão “morrer sequinha”? Que sentidos essa expressão pode ter no

contexto do conto lido?

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7.. Releia o excerto a seguir:

     “- Eu preciso contar uma coisa pra vocês... Minha avó, quando eu era pequena, me ensinou uma coisa que nunca mais me esqueci. E hoje, ouvindo uma notícia no rádio, lembrei-me dela. Ela dizia que nós temos uma boca e dois ouvidos; por isso, nós temos que mais ouvir do que falar. E mais: nem tudo o que ouvimos, devemos passar adiante, pois quem conta um conto, aumenta um ponto. E se o que se conta é um segredo, pior ainda. Por isso, nessas horas em que a nossa língua coça, o melhor é lembrar que em boca fechada não entra mosquito...”

 

a) No trecho, predomina o foco narrativo em primeira pessoa ou o foco narrativo em terceira pessoa? Destaque no texto as marcas linguísticas que indicam o foco narrativo como pronomes e verbos.

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b) No trecho acima, a quem se referem as palavras “dela” e “ela”, em destaque? Logo, qual é a

função dessas palavras no texto?

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Teoria 3

        Os pronomes “dela” e “ela” substituem e referenciam/retomam o substantivo “avó”, no texto.

São, portanto, recursos linguísticos essenciais na construção da coesão e da coerência textual.

 

8. Para contar uma história, o narrador, em geral, situa as ações e os acontecimentos no tempo e no espaço. No conto lido, onde se passa a história? Quando os fatos ocorreram? Releia o texto, identifique e transcreva, no quadro abaixo, os marcadores temporais (palavras que indicam tempo) e os marcadores espaciais (palavras que indicam lugar).

 

Marcadores temporais

Marcadores espaciais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

9. Durante o desenvolvimento da história, ocorreram várias ações das personagens.  Ao narrar essas ações, o enunciador as situa no presente, pretérito ou futuro. Marque o tempo verbal predominante e justifique com alguns exemplos de verbos.

a) no presente.

b) no pretérito.

c) no futuro.

 

10. Por que no conto e em outros gêneros narrativos  predominam os tempos verbais do pretérito?

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GABARITO

1.

a) A narradora e a prima.

b) sugestão: “ainda me lembro em detalhes sobre o que eu e minha prima conversamos.”

 

2. 1-2-1-2-1-2

 

3. Travessão e a coerência entre as trocas de turno nas falas.

4. Coloquial.

5. Ocorre discurso direto, com marcas de pontuação próprias (travessão, exclamação, interrogação direta), troca alternada dos turnos de fala.

 

6. No texto, ela pode produzir o sentido de punição, consequência dos atos: a personagem pode ficar sozinha, isolada, aborrecida, deprimida; pode “definhar”, “pagar” pelo que fez.

7.

a) 1ª pessoa

pronomes: eu, minha, me...

verbos; preciso, esqueci, lembrei...

b) A avó. Construção da coesão.

8. Marcadores temporais: Depois de muitos anos.  Naqueles dias.            Quando eu era pequena. Naquela tarde.  Só no dia seguinte.  Hoje.

Marcadores espaciais: Em sua casa. Na casinha do fundo do quintal. Na cozinha da casa da tia.

9. B

10. Coçou, fiquei, procurei...

Adaptado de: https://efape.educacao.sp.gov.br/curriculopaulista/educacao-infantil-e-ensino-fundamental/materiais-de-apoio-2/


 

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