1. EU
Meu nome é Clara. Tenho quase 14 anos. Tenho muitas dúvidas e algumas certezas. Minha maior certeza é: vou morrer algum dia.
Minha maior dúvida é: será que sou normal?
2. JORGE
Você pode estar achando minha dúvida esquisita, mas não é, e vou explicar por quê.
Minha dúvida tem um nome: Jorge.
Jorge é meu primo. Ele é um menino muito legal e eu gosto muito dele. Quando Jorge nasceu, aconteceu alguma coisa que eu nunca entendi direito, apesar de minha mãe já ter me explicado mais de mil vezes.
Ele nasceu com algum negócio no coração, os médicos fizeram sei lá o quê e o cérebro dele ficou um tempo sem oxigênio.
O coração ficou perfeito, mas o cérebro não...
Meu primo parece um menino igual aos outros, faz coisas que os outros também fazem, mas ele é diferente.
Nunca consegui descobrir se ele sabe disso. Se sabe que é diferente.
Ele vai vivendo a vida e nunca ninguém toca nesse assunto.
É por isso que me pergunto: será que eu também sou diferente?
E se quando eu nasci aconteceu alguma coisa que deixou o meu cérebro diferente? Ninguém iria me contar, certo? Nem falar sobre isso, como fazem com o Jorge. Como vou saber?
3. CONFISSÕES
Ás vezes, meu primo faz algumas coisas esquisitas.
Outro dia, ele ficou repetindo uma história várias vezes, sem parar.
Todos ouviam com atenção e acho que ele nem percebeu que aquilo estava ficando estranho.
Mas a vovó também faz isso, conta as mesmas histórias várias vezes, e ela me parece bem normal.
Eu não fico repetindo as coisas, pelo menos acho que não. De qualquer maneira, já decidi o que vou fazer.
Vou contar algumas passagens da minha vida, prometo que vou tentar ser o mais sincera possível e, depois você vai me dizer se sou normal ou não.
Conto com sua sinceridade também.
4. CATÁSTROFE
Vou começar com uma catástrofe que é para você já ir sentindo o drama de ter uma ideia bem clara de alguns absurdos que eu faço.
Era o dia do meu aniversário, eu ia fazer 13 anos e dar uma festa para comemorar.
Estava apavorada, com medo de que não viesse ninguém. Eu realmente não queria passar pelo mesmo sufoco que a Denise. A festa dela foi um desastre. Até apareceram alguns gatos pingados, mas nem chegaram a esquentar o sofá. Mal entraram, logo saíram. Não adiantou nem mesmo a Denise ficar oferecendo coisas. Ela tinha preparado umas comidas deliciosas. Nem quiseram esperar chegar mais gente. Sei porque eu estava lá. E ela fez questão de colocar um milhão de fotos minhas no instagram, Em várias posições, para parecer que tinha mais gente. Claro que a Ana Paula não foi. Se ela tivesse ido, aposto que a festa bombaria e tenho certeza de que a Denise não ia se dar ao trabalho de colocar nenhuma foto minha no insta.
Depois de muito investigar na escola, descobri que bastante gente viria a minha festa, o que me deixou um pouco mais tranqüila, mas não muito, porque as pessoas sempre podem mudar de ideia.
Fui até o salão de beleza fazer as unhas e escova no cabelo. Chegando lá, não tinha nenhuma manicure disponível, então me sentei no sofá, peguei uma revista e esperei minha vez.
Qual não foi minha surpresa quando, após vinte minutos de espera, vejo a Ana Paula entrar no salão, conversar com a recepcionista e ser atendida na mesma hora.
Ela nem sentou no sofá.
Só para ajudar a entender a situação, preciso contar que a Ana Paula é a menina mai bonita da escola. Mentira, ela é a menina mais bonita do mundo.
Fiquei sentada ali, revoltada, indignada, vendo aquela magrela estonteante passar reto por mim e se sentar na cadeira da manicure que eu estava esperando vagar.
Pensei em fazer um escândalo, mas me segurei.
Depois, pensei em reclamar educadamente, mas também desisti, pois achei que, se eu falasse alguma coisa, ela poderia mudar de ideia e decidir não ir a minha festa.
Nenhuma festa é sucesso se a Ana Paula não for, então achei melhor ficar quieta...
Eu até poderia faltar na minha festa e provavelmente ninguém iria perceber, mas ela tinha que ir.
Então, fiquei ali, esperando feito uma panaca, roendo as minhas pobres unhas.
O pior de tudo é que depois que a Ana Paula foi embora, sem nem olhar para mim, eu me sentei na cadeira da manicure e pedi para passar o mesmo esmalte que ela, no restinho de unha que sobrou!
1. Faça uma descrição curta de quem é você semelhante a que a personagem fez.
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2. Assinale a alternativa ERRADA sobre Jorge.:
a) Jorge é igual aos outros meninos.
b) faz coisa que os outros meninos fazem
c) é primo da narradora.
d) nasceu com um problema no coração.
3. Qual das frases abaixo NÃO indica uma dúvida da narradora?
a) Ele vai vivendo a vida e nunca ninguém toca nesse assunto.
b) será que eu também sou diferente?
c) E se quando eu nasci aconteceu alguma coisa que deixou o meu cérebro diferente?
d) Ninguém iria me contar, certo?
4. No texto a palavra confissões se refere:
a) Ao primo fazer algumas coisas esquisitas.
b) À vovó contar uma história várias vezes.
c) Às passagens sobre a vida da menina que ela irá contar.
d) Ao fato do menino não perceber que estava estranho ele ficar contando a mesma história.
5. A catástrofe a que a menina se refere é o fato de :
a) O fracasso da festa da Denise, pois não foi quase ninguém.
b) A Ana Paula ter sido atendida primeiro na manicure.
c) A Ana Paula não ter falado com ela.
d) A Denise ter colocado um milhão de fotos dela no instagram.
6. “Então, fiquei ali, esperando feito uma panaca, roendo as minhas pobres unhas.” O adjetivo pobres nesse fragmento significa:
a) sem recursos
b) sem dinheiro
c) coitado
d) pequeno
7. Marque a alternativa que não apresenta um EXAGERO.
a) ele ficou repetindo uma história várias vezes
b) apesar de minha mãe já ter me explicado mais de mil vezes.
c) Vou começar com uma catástrofe que é para você já ir sentindo o drama
d) Mentira, ela é a menina mais bonita do mundo.
8. “Até apareceram alguns gatos pingados, mas nem chegaram a esquentar o sofá.” De acordo com o fragmento:
a) vieram poucas pessoas, mas demoraram.
b) vieram muitas pessoas e foram embora rápido.
c) vieram poucas pessoas e foram, embora rápido
d) vieram muitas pessoas e demoraram a ir embora.
9. “O coração ficou perfeito, mas o cérebro não...” Os três pontos nessa frase indicam a omissão da palavra:
a) ficou
b) mudou
c) pensou
d) bateu
10. Em qual das alternativas abaixo NÃO há palavra que indique a conversa da narradora com o leitor?
a) Você pode estar achando minha dúvida esquisita
b) Conto com sua sinceridade também.
c) Vou começar com uma catástrofe que é para você já ir sentindo o drama
d) Ele é um menino muito legal e eu gosto muito dele.