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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

PERDEDOR VENCEDOR GABARITO

 

PERDEDOR VENCEDOR

          O perdedor cumprimentou o vencedor. Apertaram-se as mãos por cima da rede. Depois foram ao vestiário. Enquanto tiravam a roupa, o perdedor apontou para a raquete do outro e comentou, sorrindo:

       - Também, com essa raquete...

          Era uma raquete importada, último tipo. Muito melhor do que a do perdedor. O vencedor sorriu, mas não disse nada. Começou a descalçar os tênis. O perdedor comentou, ainda sorrindo:

          - Também, com esses tênis...

          O vencedor quieto. Também sorrindo. Os dois ficaram nus e entraram no chuveiro. O perdedor examinou o vencedor e comentou:

         - Também, com esse físico...

         O vencedor perdeu a paciência.

         - Olha aqui - disse. - Você poderia ter um físico igual ao meu, se se cuidasse. Se perdesse essa barriga. Você tem dinheiro, senão não seria sócio deste clube. Pode comprar uma raquete igual à minha e tênis melhores que os meus. Mas sabe de uma coisa? Não é equipamento que ganha jogo. É a pessoa. É a aplicação, a vontade de vencer, a atitude. E você não tem uma atitude de vencedor. Prefere atribuir a derrota à minha raquete, aos meus tênis, ao meu físico, a tudo menos a você mesmo. Se parasse de admirar tudo que é meu e mudasse de atitude, você também seria um vencedor, apesar dessa barriga.

         O perdedor ficou em silêncio por alguns segundos, depois disse:

         - Também, com essa linha de raciocínio...

Perdedor, vencedor (Luís Fernando Veríssimo)


1. A crônica retrata uma situação comum, cotidiana, na qual dois jogadores, ao final de uma partida de tênis, conversam.

 a) Como é o espaço em que eles estão?

b) Em quanto tempo se passa a história?

c) Como são retratados os personagens: de modo mais ligeiro ou de modo mais aprofundado?

d) Como você caracterizaria cada um dos personagens? O que possibilita chegar a essa conclusão?

 

2. Observe as falas do narrador. Que papel elas têm?

 

3. Observe as falas dos personagens.

a) Como elas são reproduzidas: em discurso direto ou em discurso indireto?

b) Imagine como ficaria a crônica caso as falas dos personagens fossem reproduzidas no outro tipo de discurso. Conclua: Que vantagens, para a narrativa, resultam do tipo de discurso utilizado para reproduzir as falas dos personagens?

 

4. Releia este trecho da crônica

“A pátria de ponteiros”, de Antonio Prata: “Mas e quando o pessoa diz ‘tô saindo!’?” Expliquei que as declarações do brasileiro, no que tange ao atraso, estão sempre uma etapa à frente da realidade — são uma manifestação do seu desejo. Se a pessoa diz que está chegando, é porque tá saindo, e se diz que tá saindo, é porque ainda precisa tomar banho, tirar a roupa da máquina e botar comida pro cachorro.

a) Nesse trecho e em todo o texto, predomina o discurso direto ou o discurso indireto?

b) Levante hipóteses: Considerando a finalidade e o estilo do autor, por que predomina esse tipo de discurso?

c) Que papel desempenha no texto o outro tipo de discurso?

 

5. A passagem de um tipo de discurso para outro exige um conjunto de modificações gramaticais que devem ser observadas. Junte-se a um colega, e, em dupla, passem para o discurso direto o seguinte trecho do parágrafo inicial da crônica de Antonio Prata.

Numa demonstração de abertura e inequívoca coragem, Fritz pediu uma feijoada. Eu comentei que, aparentemente, ele não estava tendo dificuldades de adaptação. O alemão disse que não. Por conta do seu trabalho [...] viajava o mundo todo. A única coisa que lhe incomodava, no Brasil, era nunca saber quando as pessoas chegariam aos encontros.

 

GABARITO

1.

a) Um vestiário de um clube

b) Poucos minutos.

c) São retratados de modo mais ligeiro.

d) d) O perdedor é o tipo de pessoa que não aceita as próprias limitações e sempre procura encontrar desculpas para elas; o ganhador é objetivo e direto. É possível chegar a essas conclusões por meio do diálogo entre os personagens.

2. As falas do narrador são breves e têm o papel de contextualizar a situação inicial do diálogo, de descrever brevemente a raquete e, depois, a reação dos interlocutores. Assim, elas “costuram” as situações, uma vez que a narrativa se desenrola com base no diálogo entre os personagens

3.

a) Em discurso direto.

b) A crônica provavelmente perderia a graça caso o diálogo fosse reproduzido pelo discurso indireto. O discurso direto dá maior dinamismo, vivacidade e veracidade para a cena, proporcionando, assim, mais facilmente o efeito de humor pretendido pelo autor.

4.

a) Predomina o discurso indireto.

b) O humor do texto é construído a partir das reflexões do narrador a respeito dos hábitos do brasileiro diante da lógica do alemão, e não a partir dos diálogos.

c) O discurso direto é utilizado para reproduzir principalmente as falas do alemão. Ele contribui para construir o humor do texto, seja pelas características linguísticas da fala do personagem, seja pelo espanto que este demonstra diante dos comentários do narrador.

5. — Uma feijoada —, pediu Fritz, numa demonstração de abertura e inequívoca coragem. — Você não está tendo dificuldades de adaptação, parece — comentei. — Não, disse Fritz. — Por conta do meu trabalho, viajo o mundo todo. A única coisa que me incomoda, no Brasil, é nunca saber quando as pessoas chegarão aos encontros.

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