CRÔNICA DO AMOR -
ARNALDO JABOR
Ninguém
ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos,
simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
O
amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor
acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém
ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são
só referenciais.
Ama-se
pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que
provoca.
Ama-se
pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se
revela quando menos se espera.
Você
ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu,
você deu flores que ela deixou a seco.
Você
gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol,
você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?
Então,
que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais
viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você.
Isso tem nome.
Você
ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo
que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre
duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e
ainda assim você não consegue despachá-lo.
Quando
a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na
boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?
Não
pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos
filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia
romântica também tem seu valor.
É
bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo
tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco.
Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto
é imbatível.
Você
tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse,
criatura, por que está sem um amor?
Ah,
o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação
matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não
funciona assim.
Amar
não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que
o Amor tem de indefinível.
Honestos
existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de
família, tá assim, ó!
Mas
ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a
maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.
(Arnaldo
Jabor)
1) No primeiro
parágrafo do texto, encontramos os pronomes indefinidos “ninguém” e “outra” e o
pronome pessoal do caso reto “ela”. Classifique-os como pronomes adjetivos ou
substantivos, justificando.
2) No 3º parágrafo,
o pronome demonstrativo “isso” refere-se a quê?
3) Segundo o
narrador, o verdadeiro amor acontece por quais motivos? Sintetize-os.
4) No 8º parágrafo,
na expressão “...um jeito de sorrir que o deixa
imobilizado...”, o pronome destacado é pessoal do caso oblíquo. Por qual
pronome pessoal do caso reto ele poderia ser substituído?
5) No 9º parágrafo,
na frase “...e ainda assim você não consegue despachá-lo...” o
pronome destacado substitui que nome mencionado anteriormente?
6) Substitua os
termos sublinhados por um pronome pessoal reto. “Gosta dos filmes dos irmãos
Coen e do Robert Altman”.
7) O que você
entende a partir da expressão “Ah, o amor, essa raposa”. (14º parágrafo)
8) Por que, afinal
de contas e segundo o autor, amamos?
9) O que o amor não
requer?
10) O que é, segundo
o texto, “a contingência maior de quem precisa”?
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