MAR: RUBEM BRAGA GABARITO P.48
3. Depois o mar
entrou na minha infância e tomou conta de uma adolescência toda, com seu cheiro
bom, os seus ventos, suas chuvas, seus peixes, seu barulho, sua grande e
espantosa beleza. Um menino de calças curtas, pernas queimadas pelo sol,
cabelos cheios de sal, chapéu de palha. Um menino que pescava e que passava
horas e horas dentro da canoa, longe da terra, atrás de uma bobagem qualquer –
como aquela caravela de franjas azuis que boiava e afundava e que, afinal,
queimou a sua mão… Um rapaz de quatorze ou quinze anos que nas noites de lua
cheia, quando ~a maré baixa e descobre tudo e a praia é imensa, ia na praia
sentar numa canoa, entrar numa roda, amar perdidamente, eternamente, alguém que
passava pelo areal branco e dava boa-noite… Que andava longas horas pela praia
infinita para catar conchas e búzios crespos e conversava com os pescadores que
consertavam as redes. Um menino que levava na canoa um pedaço de pão e um
livro, e voltava sem estudar nada, com vontade de dizer uma porção de coisas
que não sabia dizer – que ainda não sabe dizer.
4. Mar maior
que a terra, mar do primeiro amor, mar dos pobres pescadores maratimbas, mar
das cantigas do catambá, mar das festas, mar terrível daquela marte que nos
assustou, mar das tempestades de repente, mar do alto e mar da praia, mar de
pedra e mar do mangue… A primeira vez que sai sozinho numa canoa parecia ter
montado num cavalo bravo e bom, senti força e perigo, senti orgulha de embicar
numa onda um segundo antes da arrebentação. A primeira vez que estive quase
morrendo afogado, quando a água batia na minha cana e a corrente do “arrieiro”
me puxava para fora, não gritei nem fiz gestas de socorro; lutei sozinho,
cresci dentro de mim mesmo. Mar suave e = oleoso, lambendo o batelão. Mar dos
peixes estranhos, mar virando a canoa, mar das pescarias noturnas de camarão
para isca. Mar diário e enorme, ocupando toda a. vida, uma vida de bamboleio de
canoa, de paciência, de força, de sacrifício sem finalidade, de perigo sem
sentido, de lirismo, de energia; grande e perigoso mar fabricando um homem…
5. Este homem
esqueceu, grande mar, muita coisa que aprendeu contigo. Este homem tem andado
por aí, ara aflita, ora chateado, dispersivo, fraco, sem paciência, mais
corajoso que audacioso, incapaz de ficar parado e incapaz de fazer qualquer
coisa, gastando-se como se gasta um cigarro. Este homem esqueceu muita coisa
mas há muita coisa que ele aprendeu contigo e que não esqueceu, que ficou,
obscura e forte, dentro dele, no seu peito. Mar, este homem pode ser um mau
filho, mas ele é teu filho, é um dos teus, e ainda pode comparecer diante de ti
gritando, sem glória, mas sem remorso, como naquela manhã em que ficamos
parados, respirando depressa, perante as grandes ondas que arrebentavam – um
punhado de meninos vendo pela primeira vez o mar…
Julho, 1938
— Rubem Braga, no livro “200 crônicas escolhidas”. Rio de Janeiro:
Record, 1986.
1. Oue imagens e sensações você relacionaria ao texto?
Resposta pessoal.
2. Oue fases da vida do narrador organizam a narrativa de suas experiências de vida junto ao mar? Oue
palavras e expressões você observou para concluir isso?
·
infância ("Estava no meio de um bando enorme de meninos",
"Depois o mar entrou na minha infância ... ", "Um menino de
calças curtas ... ");
·
adolescência: (" ... e tomou conta de uma adolescência toda",
"Um rapaz de quatorze ou quinze anos");
·
vida adulta ("mar fabricando um homem ... ", "Este
homem").
3.Releia o primeiro
e o segundo parágrafos.
a) Com base em que o mar é descrito no primeiro parágrafo?
A descrição foi feita com base na
imaginação do narrador, quando criança, com base no que ouviu do único menino
do bando que conhecia o mar.
b) E no segundo parágrafo?
A descrição foi feita com base na
própria experiência do narrador, quando menino, ao ver o mar pela primeira
vez.
4. Das experiências
de vida do narrador junto ao mar, qual chamou mais sua atenção? Por quê?
Resposta pessoal.
5. Além das
experiências pessoais, que experiências coletivas de trabalho e de manifestação
cultural o narrador associa ao mar?
"mar dos
pobres pescadores maratimbas mar das cantigas do catambá, mar das festas como experiências
coletivas. .
6. O que se pode deduzir sobre o momento presente do
narrador: ele vive experiências semelhantes às que viveu antes? O que você
observou no texto para concluir isso?
De modo geral, permite concluir, e muito especialmente nas passagens: "Este homem esqueceu, grande mar, muita coisa que aprendeu contigo. Este homem tem andado por ai , ora aflito, ora chateado, dispersivo, fraco, sem paciência, mais corajoso que audacioso, incapaz de ficar parado e incapaz de fazer qualquer coisa, gastando-se como se gasta um cigarro.
A crônica na
literatura brasileira é bastante variada, mas, de modo geral, seus textos
são curtos, em comparação a um conto ou a um romance, e trazem um
"olhar artístico" para o cotidiano, isto é, para o nosso dia a
dia, recortando dele temas, acontecimentos, e trabalhando-os no texto de
jeito surpreendente, mobilizando emoções, reflexões e sentimentos na
experiência no leitor. Assim, é um gênero em que o escritor exercita a arte
de tratar de coisas simples, de modo profundo, em textos breves. |
Muito bom 😃😌
ResponderExcluirObrigado
ResponderExcluirObd
ResponderExcluirMuito obrigado 😃
ResponderExcluirMuito obrigada você me ajudou muito ☺️☺️
ResponderExcluirMuito obg
ResponderExcluirNao gostei
ResponderExcluirPuta kid
ExcluirObg
ResponderExcluirObrigado😆
ResponderExcluirDe nada!
Excluirobg!
ResponderExcluirDe nada!
Excluirmuito bom professor gostei de seu trabalho
ResponderExcluirObrigada me ajudou muito
ResponderExcluirmuito obg vc me ajd muito mesmo
ResponderExcluirA resposta da questão 1 é 4 e pessoal mesmo
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