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quinta-feira, 8 de outubro de 2020

CONTO: OLHOS D'ÁGUA GABARITO CONEXÃO

 

Leia apenas o título do conto reproduzido a seguir.

1. Qual poderia ser o enredo de um conto com esse título

Resposta pessoal.

2. Em quais situações é possível ter "Olhos d'água"?

Resposta pessoal.

3. Você se recorda de algum momento em que teve "Olhos d'água"? Descreva seus sentimentos e as sensações de seu Corpo.

Resposta pessoal.

O conto que você vai ler aborda a relação entre mãe e filha. A narradora nos conduz por suas memórias e, à medida que nos aproximamos de sua infância, vamos tomando consciência da realidade de uma família brasileira.

Durante a leitura, procure descobrir o sentido das palavras desconhecidas pelo contexto ern que elas aparecem. Se for preciso, consulte o dicionário.

 

 

Olhos d'água

       Uma noite, há anos, acordei bruscamente e uma estranha pergunta explodiu de minha boca. De que cor eram os olhos de minha mãe? Atordoada custei reconhecer o quarto da nova casa em que eu estava morando e não conseguia me lembrar como havia chegado até ali. E a insistente pergunta martelando, martelando. De que cor eram os olhos de minha mãe? Aquela indagação havia surgido há dias, há meses, posso dizer. Entre um afazer e outro, eu me pegava pensando de que cor seriam os olhos de minha mãe. E o que a princípio tinha sido um mero pensamento interrogativo, naquela noite se transformou em uma dolorosa pergunta carregada de um tom acusativo. Então eu não sabia de que cor eram os olhos de minha mãe?

      Sendo a primeira de sete filhas, desde cedo busquei dar conta de minhas próprias dificuldades, cresci rápido, passando por uma breve adolescência. Sempre ao lado de minha mãe, aprendi a conhecê-la. Decifrava o seu silêncio nas horas de dificuldades, como também sabia reconhecer, em seus gestos, prenúncios de possíveis alegrias. Naquele momento, entretanto, me descobria cheia de culpa, por não recordar de que cor seriam os seus olhos. Eu achava tudo muito estranho, pois me lembrava nitidamente de vários detalhes do corpo dela. Da unha encravada do dedo mindinho do pé esquerdo ... da verruga que se perdia no meio da cabeleira crespa e bela ... Um dia, brincando de pentear boneca, alegria que a mãe nos dava quando, deixando por uns momentos o lava-lava, o passa-passa das roupagens alheias e se tornava uma grande boneca negra para as filhas, descobrimos uma bolinha escondida bem no couro cabeludo dela. Pensamos que fosse carrapato. A mãe cochilava e uma de minhas irmãs, aflita, querendo livrar a boneca-mãe daquele padecer, puxou rápido o bichinho. A mãe e nós rimos e rimos e rimos de nosso engano. A mãe riu tanto das lágrimas escorrerem. Mas de que cor eram os olhos dela?

      Eu me lembrava também de algumas histórias da infância de minha mâe. Ela havia nascido em um lugar perdido no interior de Minas. Ali, as crianças andavam nuas até bem grandinhas. As meninas, assim que os seios começavam a brotar, ganhavam roupas antes dos meninos. Às vezes, as histórias da infância de minha mãe confundiam-se com as de minha própria infância. Lembro-me de que muitas vezes, quando a mãe cozinhava, da panela subia cheiro algum. Era como se cozinhasse, ali, apenas o nosso desesperado desejo de alimento. As labaredas, sob a água solitária que fervia na panela cheia de fome, pareciam debochar do vazio do nosso estômago, ignorando nossas bocas infantis em que as línguas brincavam a salivar sonho de comida. E era justamente nos dias de parco ou nenhum alimento que ela mais brincava com as filhas. Nessas ocasiões a brincadeira preferida era aquela em que a mãe era a Senhora, a Rainha. Ela se assentava em seu trono, um pequeno banquinho de madeira. Felizes, colhíamos flores cultivadas em um pequeno pedaço de terra que circundava o nosso barraco. As flores eram depois solenemente distribuídas por seus cabelos, braços e colo. E diante dela fazíamos reverências à Senhora. Postávamos deitadas no chão e batíamos cabeça para a Rainha. Nós, princesas, em volta dela, cantávamos, dançávamos, sorríamos. A mãe só ria de uma maneira triste e com um sorriso molhado ... Mas de que cor eram os olhos de minha mãe? Eu sabia, desde aquela época, que a mãe inventava esse e outros jogos para distrair a nossa fome. E a nossa fome se distraía.

     Às vezes, no final da tarde, antes que a noite tomasse conta do tempo, ela se sentava na soleira da porta e, juntas, ficávamos contemplando as artes das nuvens no céu. Umas viravam cameirinhos; outras, cachorrinhos; algumas, gigantes adormecidos, e havia aquelas que eram só nuvens, algodão-doce. A mãe, então, espichava o braço que ia até o céu, colhia aquela nuvem, repartia em pedacinhos e enfiava rápido na boca de cada uma de nós. Tudo tinha de ser muito rápido, antes que a nuvem derretesse e com ela os nossos sonhos se esvaecessem também. Mas de que cor eram os olhos de minha mãe?

     Lembro-me ainda do temor de minha mãe nos dias de fortes chuvas. Em cima da cama, agarrada a nós, ela nos protegia com seu abraço. E com os olhos alagados de prantos balbuciava rezas a Santa Bárbara, temendo  que o nosso frágil barraco desabasse sobre nós. E eu não sei se o lamento-pranto de minha mãe, se o barulho da chuva ... Sei que tudo me causava a sensação de que a nossa casa balançava ao vento. Nesses momentos os olhos de minha mãe se confundiam com os olhos da natureza. Chovia, chorava! Chorava, chovia! Então, porque eu não conseguia lembrar a cor dos olhos dela?

      E naquela noite a pergunta continuava me atormentando. Havia anos que eu estava fora de minha cidade natal. Saíra de minha casa em busca de melhor condição de vida para mim e para minha família: ela e minhas irmãs tinham ficado para trás. Mas eu nunca esquecera a minha mãe. Reconhecia a importância dela na minha vida, não só dela, mas de minhas tias e todas as mulheres de minha família. E também, já naquela época, eu entoava cantos de louvor a todas nossas ancestrais, que desde a África vinham arando a terra da vida com as suas próprias mãos, palavras e sangue. Não, eu não esqueço essas Senhoras, nossas Yabás, donas de tantas sabedorias. Mas de que cor eram os olhos de minha mãe?

     E foi então que, tomada pelo desespero por não me lembrar de que cor seriam os olhos de minha mãe, naquele momento, resolvi deixar tudo e, no dia seguinte, voltar à cidade em que nasci. Eu precisava buscar o rosto de minha mãe, fixar o meu olhar no dela, para nunca mais esquecer a cor de seus olhos.

     Assim fiz. Voltei, aflita, mas satisfeita. Vivia a sensação de estar cumprindo um ritual, em que a oferenda aos Orixás deveria ser descoberta da cor dos olhos de minha mãe.

 

     E quando, após longos dias de viagem para chegar à minha terra, pude contemplar extasiada os olhos de minha mãe, sabem o que vi? Sabem o que vi?

     Vi só lágrimas e lágrimas. Entretanto, ela sorria feliz. Mas eram tantas lágrimas, que eu me perguntei se minha mãe tinha olhos ou rios caudalosos sobre a face. E só então compreendi. Minha mãe trazia, serenamente em si, águas correntezas. Por isso, prantos e prantos a enfeitar o seu rosto. A cor dos olhos de minha mãe era cor de olhos d'água. Águas de Mamãe Oxum! Rios calmos, mas profundos e enganosos para quem contempla a vida apenas pela superfície. Sim, águas de Mamãe Oxum.

     Abracei a mãe, encostei meu rosto no dela e pedi proteção. Senti as lágrimas delas se misturarem às minhas. Hoje, quando já alcancei a cor dos olhos de minha mãe, tento descobrir a cor dos olhos de minha filha.

     Faço a brincadeira em que os olhos de uma se tomam o espelho para os olhos da outra. E um dia desses me surpreendi com um gesto de minha menina. Quando nós duas estávamos nesse doce jogo, ela tocou suavemente no meu rosto, me contemplando intensamente. E, enquanto jogava o olhar dela no meu, perguntou baixinho, mas tão baixinho como se fosse uma pergunta para ela mesma, ou como estivesse buscando e encontrando a revelação de um mistério ou de um grande segredo. Eu escutei, quando, sussurrando, minha filha falou:

     - Mãe, qual é a cor tão úmida de seus olhos?

EVARJSTO. Conceição Olhos dilgua Rio de Janeiro Palias Atenas. 2014. p. 15-19.

 

1. Um conto é breve, ligado a uma única situação ou evento.

a) Qual é o conflito vivido pela narradora em "Olhos d' água" ?

O conflito que gera o conto é a narradora não saber ou não lembrar da cor dos olhos de sua mãe.

b) Chamamos de clímax o momento de maior tensão do enredo, em que os fatos caminham para um final. Qual cena da narrativa pode ser associada ao clímax?

O reencontro entre a narradora e sua mãe, no qual aquela constata que os olhos de sua mãe tem cor de olhos d’água.

2. A narrativa é feita em 1ª pessoa por um narrador, que é também personagem.

a) Como o narrador-personagem se apresenta? Justifique sua resposta com trechos do conto.

Pelo que conta de si mesmo: uma das sete filhas, saiu cedo de casa, autônoma, responsável, sente-se em dívida com a mãe porque não se lembra da cor se sus olhos. “ Sendo a primeira  de sete filhas , desde cedo, busquei dar conta de minhas próprias dificuldades, cresci rápido, passando por uma breve adolescência.”

b) De que modo a narradora vê a própria mãe?

Como uma mulher criativa, sensível, amorosa, dedicada aos filhos, que conta histórias, que mantém a família unida.

c) Em relação à descrição dos personagens no conto, o que predomina: as características físicas ou as psicológicas?

Predomina o perfil psicológico dos personagens.

3. Ao longo do texto, uma pergunta se repete: "Mas de que cor eram os olhos de minha mãe?"

a) Com quem a narradora dialoga? Explique sua resposta.

Consigo mesma , como se ela estivesse pensando em voz alta.

b) O que a repetição da pergunta revela sobre o estado emocional da narradora?

Indica a angustia da narradora por não saber ou não se lembrar da cor dos olhos da mãe.

4. No conto, o espaço é sempre delimitado. Nessa narrativa, podemos perceber que há dois espaços: um no qual a narradora passou a infância e outro atual no qual ela vive.

a) Quais informações a narradora revela sobre esses espaços?

Espaço da infância: trata-se de um lugar pobre, no qual a narradora e sua família vivem em uma habitação mal construída, um barraco. Espaço atual: longe de sua cidade natal , afirmado nos trechos, “longos dias de viagem para chegar á minha terra” e “resolvi deixar tudo e, no outro dia, voltar a cidade em que nasci”

b) Ao descrever a viagem, a narradora afirma: "Voltei aflita, mas satisfeita." Em sua opinião, quais foram os motivos da aflição e da satisfação?

Resposta pessoal.

5. O tempo, em um conto, pode ser classificado como cronológico ou psicológico.

Para narrar acontecimentos de forma não linear em narrativas, é possível lançar mão de dois recursos:

·flashback (em inglês, "olhar para trás"): recurso literário ou Cinematográfico utilizado para contar algo que aconteceu antes do momento em que se narra. Por exemplo, quando um narra­dor rememora algo que lhe aconteceu na infância.

·flashforward (em inglês, "olhar para frente") ou antecipação: recurso utilizado para ante­cipar algo que ainda não aconteceu no momento em que se narra. Por exemplo, quando há re­ferência a um fato ainda não relatado, mas conhecido do narrador.

Qual dos recursos não lineares predomina no conto? Justifique sua resposta com exemplos do próprio texto.

Predomina o flashback. Há varias possibilidades de exemplos como: “lembro-me ainda do temor de minha mãe nos dias de fortes chuvas. Em cima da cama, agarrada a nós, ela nos protegia com seu abraço.”

 

6 Releia o trecho seguinte.

     [ ... ] E era justamente nos dias de parco ou nenhum alimento que ela mais brincava com as filhas.

Nessas ocasiões a brincadeira preferida era aquela em que a mãe era a Senhora, a Rainha. Ela se as­sentava em seu trono, um pequeno banquinho de madeira. Felizes, colhíamos flores cultivadas em um pequeno pedaço de terra que circundava o nosso barraco. As flores eram depois solenemente distri­buídas por seus cabelos, braços e colo. E diante dela fazíamos reverências à Senhora. Postávamos deitadas no chão e batíamos cabeça para a Rainha. Nós, princesas, em volta dela, cantávamos, dançá­vamos, sorríamos. A mãe só ria de uma maneira triste e com um sorriso molhado...

 

a) A narradora contrasta, nesse trecho, pobreza e felicidade. Que outras oposições podem ser percebidas nesse trecho?

Pobreza x riqueza/ tristeza x felicidade/ sorriso x lágrimas.

b) Que efeito essas oposições causam na narrativa?

Espera-se que os alunos reflitam que elas amenizam a atmosfera e de tristeza, identificando também aspectos alegres e positivos.

c) O que a memória e a descrição desses momentos pela narradora revela sobre a imagem da mãe?

Revelam que a mãe enfrentava com coragem as dificuldades que encontrava, procurando compensar com sua ternura a aflição causada pelos sérios problemas que tinha.

7.No conto "Olhos d'água", a narradora menciona brevemente a importância das mulheres em sua família. No caderno, anote um trecho do conto que confirma isso.

Reconhecia a importância dela na minha vida, não só dela, massa de minhas tias e todas as mulheres de minha família.

8. Releia o título.    

a) Depois da leitura, como você entende a relação entre os "Olhos d' água" e o contexto do conto?

Infância e os momentos difíceis, mas felizes que viveu com a mãe.

b) Coloque-se na posição da narradora que foi questionada pela filha. Como você responderia à pergunta "- Mãe, qual é a cor tão úmida de seus olhos?" ou daria continuação ao conto? No cader­no, elabore um parágrafo a respeito desse momento entre mãe e filha. Você pode, por exemplo, contar como ela se sentiu: Fechei os olhos e me vi ao lado de minha mãe com seus olhos d'água ..

Resposta pessoal: espera-se que os alunos percebam a circularidade da narrativa.

DELMANTO. Dileta; CARVALHO. Laiz B. de. Português: conexão e uso. 9º ano; ensino fundamental, anos finais. 1ed. São Paulo: Saraiva, 2018.p12-16..

46 comentários:

  1. Obrigada! Sei que a tarefa de organizar e digitar é difícil. Muito bom ! Tudo praticamente pronto.

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  2. Ameiii Muito Bem Elaborado I Bom De Entender

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    1. É vrdd parabéns pelo trabalho, mesmo umas perguntas serem difíceis de copiar mais tudo ótimo 👍🏻 😘

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  3. Muito bom obrigado me ajudou muito...

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  4. Muito bom, super fácil para entender, eu sei que e difícil escrever e organisar tudo, reconheço seu trabalho e recomendo

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  5. Obrigado me ajudou bastante😎👊

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  6. Obrigado, me ajudou bastante ❤️😘

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  7. Me ajudou bastante tambem agora não tenho problemas apar responder as atividades

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  8. Muito obrigada mesmo mi ajudou bastante😊❤

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  9. Muito obrigado, me ajudou bastante🥰🥰

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  10. Muito obrigada por me ajudar ✌️��

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  11. Muito obrigada por me ajudar ✌️👍

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  12. salvou na cola 🙅🏿‍♂️🍑✋😏

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  13. Obrigada pela ajuda valeu muito obrigado mesmo

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