Reportagem: O homem de 6 milhões de anos (Gabriela
Carelli)
Desde
que Charles Darwin estabeleceu que o homem e o macaco tinham um ancestral
comum, os cientistas lançaram-se numa corrida em busca do elo perdido, a
criatura que marca a divisão entre as duas espécies. Na semana passada,
pesquisadores franceses e quenianos chefiados pelo paleontólogo Martin
Pickford, do Collège de France, anunciaram ter chegado bem perto desse ponto ao
descobrir ossos fossilizados de um hominídeo datado de 6 milhões de anos. O
achado ocorreu durante escavações na área de Baringo, no Quênia, em 25 de
outubro de 2000, e tem implicações assombrosas.
Ainda
sem catalogação e apelidado apenas de Homem do Milênio, o fóssil do hominídeo é
1,5 milhão de anos mais antigo que os restos do mais velho ancestral humano
conhecido, encontrado na Etiópia em 1994. A novidade não para por aí: a equipe
afirma que a criatura está num estágio evolutivo mais avançado que o de vários
outros hominídeos que viveram em períodos mais recentes.
Caso
confirmada, a hipótese pode descartar linhagens inteiras de homens-macacos que
se julgava serem ancestrais humanos. “Seis milhões de anos é exatamente a época
em que se acredita ter acontecido a separação entre o homem e os macacos”, diz
o antropólogo Walter Neves, da Universidade de São Paulo. “Se a datação for
confirmada, Pickford fez uma descoberta sem precedentes.”
O
paleontólogo do Collège de France e sua colega Brigitte Senut, do Museu de
História Natural de Paris, encontraram de fato peças importantes. Ao anunciar a
descoberta, eles exibiram em Nairóbi, capital do Quênia, um fêmur esquerdo
perfeitamente conservado. O osso mostra que o Homem do Milênio tinha pernas
fortes. Isso o capacitava a andar ereto. Pelo comprimento dos ossos, calcula-se
que o hominídeo era da altura de um chimpanzé. Mas os dentes e a estrutura da
mandíbula encontrados, segundo Pickford, o remetem diretamente ao homem moderno.
A dentição é bem similar à nossa: pequenos caninos e molares completos. Essa
configuração dentária possibilita uma dieta à base de frutas e vegetais, com
ingestão ocasional de carne. “Tudo parece inédito, mas antes de qualquer
afirmação é necessária uma avaliação precisa, pois os fósseis pertencem a um
período muito incerto”, disse a Veja Chris Stringer, titular da cadeira de
origem humana do departamento de paleontologia do Museu de História Natural de
Londres, ao comentar os detalhes dos fósseis. Tanta cautela faz sentido.
Afinal, leva-se muito tempo para provar se os restos são mesmo de um hominídeo.
A
própria datação em 6 milhões de anos ainda precisa ser comprovada com a análise
dos ossos. O que se sabe até agora é que os fósseis foram localizados numa
camada de terra com essa idade geológica. O Ardipithecus ramidus, atualmente
considerado o ancestral mais antigo do homem, com 4,4 milhões de anos, ainda
está sendo estudado. Apesar de a maioria dos cientistas acreditar que se trata
de um hominídeo, alguns questionam se a criatura não pertence a outro gênero –
um meio termo entre um hominídeo e um macaco, sem vínculos com a evolução
humana. Neves não descarta essa hipótese nos achados de Pickford. “É estranha
uma dentição assim tão próxima da humana. Geralmente, antes dos 2 milhões de
anos, ela é muito mais parecida com a dos chimpanzés.”
A
árvore genealógica do homem está longe de ser uniforme. Os cientistas
conseguiram encadear de forma cronológica algumas das espécies que fazem parte
de nossa cadeia evolucionária, mas há dúvidas sobre como ramos inteiros se
extinguiram. Cada nova descoberta abala os alicerces dessa escala, eliminando
possibilidades e alterando a configuração dos galhos. Também são pouco claros
os motivos da extinção de ramos inteiros, como o do Homo erectus, por muito
tempo considerado um dos degraus da evolução humana e agora visto como uma
espécie à parte. “Entre 2,5 milhões e 1,5 milhão de anos atrás existiram seis
espécies diferentes de hominídeos, tanto na África como na Ásia”, diz o
paleontólogo Donald Johanson, descobridor do mais popular fóssil já encontrado,
a Lucy, uma fêmea Australopithecus aferensis de 3,2 milhões de anos. “Depois de
35.000 anos só haviam sobrado duas, a nossa e a dos neandertais, que conviveram
por cerca de 10.000 anos.” Até hoje não se sabe direito o que aconteceu com os
neandertais, mas o fato é que o homem ficou sozinho.
CARELLI, Gabriela. O homem de 6
milhões de anos. Disponível em: http://www.veja.com.br.
Acesso em: 16 ago. 2002.
Fonte: Português – Língua e
Cultura. Carlos Alberto Faraco. Volume 1. 2. Ed. – Curitiba: Base Editorial,
2010. P. 98-100.
Entendendo a reportagem:
01 – O texto é, de novo,
basicamente informativo. Vamos localizar as informações básicas:
a) Que fato está
sendo noticiado?
A
descoberta de ossos fossilizados de um hominídeo datado de 6 milhões de anos.
b) Qual é a data
presumida do fóssil?
6 milhões
de anos.
c) Quem achou?
Pesquisadores
franceses e quenianos.
d) Onde e
quando?
Baringo,
no Quênia em 25 de outubro de 2.000.
02 – O texto nos diz que o fóssil
pode estar muito próximo do elo perdido.
a) O que designa
a expressão elo perdido?
O ser que
liga os humanos ao ancestral comum a humanos e outros primatas.
b) Por que o
texto faz esta afirmação?
O fóssil
do homem do milênio é 1,5 milhão de anos mais antigo que os restos do mais
velho ancestral humano conhecido, encontrado na Etiópia em 1994.
03 – Ao fim do primeiro
parágrafo, está dito que a descoberta do fóssil tem implicações assombrosas
(detalhadas nos parágrafos seguintes) Quais são elas?
São
os 2° e 3° parágrafos.
04 – A cautela cientifica está,
de novo, bem presente neste texto. Localize exemplos.
4°
parágrafo – citação. 5° parágrafo (hipótese, parece, incerto, dúvidas...).
05 – Que dados interessantes traz
a reportagem sobre a árvore genealógica do homem?
6° parágrafo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário