MARIA VAI E VOLTA ( EDY LIMA )
Maria vivia
muito isolada e resolveu ir à feira para encontrar pessoas. No caminho, viu uma
vaca mugindo triste. Em linguagem de vaca, ela pedia:
— Por favor,
tire o meu leite. Estou precisando que alguém faça isso e todos os viajantes
fingem que não escutam.
Maria achou
que aquilo era coisa de encantado.
O melhor era
atender a vaca.
Pegou o
balde que estava ali perto e tirou o leite.
A vaca
agradeceu em linguagem de mugido:
— Venda esse
leite e seja feliz!
Maria não
teve dúvida, em histórias de encanto é sempre assim: a gente faz um favor e
ganha um reino em troca.
Pegou o
balde de leite e tomou o rumo da feira.
Teve muita
sorte, encontrou uma velha vendendo pintinhos recém-nascidos e trocou pelo
leite. A velha disse:
— Quando
crescerem e se transformarem em frangos, traga que eu compro.
Maria voltou
para casa muito contente com algumas dúzias de pintinhos.
Nem todos
viraram frangos, alguns viraram frangas e puseram ovos.
Chegou o
momento de voltar à feira. Levou aquele galinhame para vender.
Trouxe novos pintinhos e leitões e criou todos
até chegarem a ponto de serem vendidos na feira.
Lá foi ela
outra vez e trocou por mais pintinhos, leitões, cabritos e ovelhas.
Quando todos
ficaram grandes e fortes, Maria voltou à feira com uma bicharada que lotava a
estrada. la andando e pensando:
Vou ficar
muito rica, ganhar muito dinheiro, não vou mais precisar trabalhar. Já estou
cansada de criar bichos para vender na feira. Eu gostaria de correr mundo.
As galinhas
cacarejavam, os galos cantavam, os porcos grunhiam, as ovelhas baliam, as cabritas
berravam.
Maria
continuava com seus planos:
Desta vez
vou à feira da cidade e com o dinheiro que vou ganhar posso comprar alguma
coisa moderna. Estou muito antiga.
Um bicho corria para um lado,
outro bicho corria para outro lado, e Maria se cansava de persegui-los e
colocá-los na estrada novamente.
Levou um dia inteiro para chegar
à cidade, onde havia uma feira grande.
Ali todos eram estranhos, e Maria
quase se arrependeu de ter ido.
Depois pensou:
Que é isso, menina, vá em frente!
Você começou com um balde de leite e conseguiu toda esta bicharada. Hoje é seu
dia de sorte. Daqui você vai correr mundo.
Encontrou um homem que perguntou:
— Esses
bichos são seus?
— Estou
querendo vender.
O homem era um negociante muito
esperto e resolveu enganar Maria. Insistiu na pergunta:
— Você
é dona de tudo isso?
— Sou
sozinha e sou doninha de todos eles.
O homem esfregou as mãos de
contentamento. Então aquela mocinha caipira não tinha ninguém por ela. Ninguém
melhor para ser logrado do que uma menina sozinha. O negociante quis saber:
— O
que você vai fazer com o dinheiro?
Maria não desconfiou da maldade
do outro e informou:
— Vou
correr mundo.
O homem concluiu: Ela é mais boba
do que pensei, vou enganá-la rapidinho. Em voz alta, disse:
— Para
correr mundo, é melhor não ir a pé.
— Por
quê?
— O
mundo é grande e você vai se cansar.
Maria pensou que só de vir de
casa até ali tinha ficado cansada. O fim do mundo devia ser muito longe e para
chegar até lá ia precisar de algum meio de transporte, por isso concordou:
— O
senhor tem razão, acho que seria bom ter uma bicicleta. Bicicleta não era o
negócio dele e o homem resolveu tirar aquela ideia da cabeça dela:
— Bicicleta
fura pneu, você precisa fazer força pra pedalar.
— E
o que posso fazer?
— Arranjo
um cavalo para você.
Maria fez cara de desconfiança:
— Será
que vou gostar?
O homem trouxe um pangaré velho e
desdentado com uma sela surrada no lombo e disse:
— Veja
que beleza de cavalo! Montada nele você chega ao fim do mundo com todo o
conforto, feito uma princesa.
Maria não sabia nada de cavalos,
achou o bicho bonito e perguntou:
— Quanto
custa um bicho desses?
— Você
me dá em troca esses bichinhos que trouxe para vender na feira.
— Todos?
— Um
cavalo é um animal caro, ainda mais o meu, que tem sela tão bonita.
Maria pensou: Comecei com um
balde de leite e comprei toda essa bicharada, posso trocá-la por um cavalo, que
com certeza vai me trazer mais sorte ainda. Respondeu:
— Aceito,
mas o senhor me ajuda a montar, porque não sei.
— Não
tem dúvida, vamos lá.
O homem ajudou Maria a montar e
ela saiu trotando em direção à estrada principal.
la feliz da vida olhando tudo do
alto do cavalão e pensava: Sorte a minha que não preciso caminhar para correr
mundo e posso ir aqui bem descansada.
Mais adiante vinha vindo, pela
estrada, um grupo de um circo mambembe. O cavalo era velho e manso, mas se
assustou com o barulho que fazia aquela gente e jogou Maria no chão.
Os palhaços correram para
ajudá-la e ela ficou mais assustada ainda:
— Que
querem comigo?
— Nada,
menina. Você se machucou?
Ela passou a mão no traseiro
doido e disse:
— Um
pouco. Não sei montar a cavalo. Esse bicho é muito perigoso.
O dono do circo compreendeu que
podia fazer um bom negócio e aconselhou:
— O
cavalo é muito alto para você. O melhor seria montar um burrinho como o Dr.
Sabe-Tudo.
Maria olhou o burrinho que o
outro segurava pelas rédeas e perguntou:
— Por
que ele tem esse nome?
— Ele
sabe tudo, responde a qualquer coisa que você perguntar. Maria ficou
entusiasmada:
— Posso
fazer uma pergunta?
— Claro.
— Não
sei o que perguntar.
— Pergunte
quanto é um mais um.
Antes mesmo que Maria abrisse a
boca, o burrinho bateu duas vezes com a pata no chão. A moça ficou muito
admirada:
— Que
burrinho sabido!
O dono do circo propôs:
— Troco
pelo seu cavalo.
— Meu
cavalo não sabe nada.
— Gostei
da menina, faço esse negócio por amizade, pode levar o burrinho e eu fico com o
cavalo.
— Muito
obrigada, mas acho que o senhor está sendo logrado.
— Não
se preocupe, monte no Dr. Sabe-Tudo e boa viagem.
Maria seguiu o caminho no
burrinho e o pessoal do circo rapidamente tomou outro rumo, sumindo da sua
frente.
Mais à frente a moça descobriu
que o burro estava velhinho e não podia mais carregá-la. Ela desceu e o puxou
pelas rédeas. Ia pensando: O importante é que ele é muito inteligente.
Depois de caminhar o resto do
dia, chegou a um vilarejo. Estava louca de fome, mas não tinha dinheiro. Quis
fazer uma demonstração de perguntas com o burrinho na praça em troca de algumas
moedas, mas o Dr. Sabe-Tudo não atendia a nada. Nem mesmo um mais um agora
sabia quanto era.
Maria foi vaiada pelas pessoas e
se sentiu muito triste.
Estava ali chorando quando a dona
da estalagem falou com ela:
— Venha comigo e pode jantar se
lavar a louça.
Maria enxugou as lágrimas e
seguiu para a estalagem. Nunca tinha pensado que houvesse tanto prato assim no
mundo, mas conseguiu lavar todos. Jantou e dormiu ao lado do fogão. No outro
dia de manhã, falou:
— Muito
obrigada, já vou embora.
A dona da estalagem propôs:
— Quer
trocar o burro por um cachorro?
Maria ficou indecisa, a outra
insistiu:
— O
burro é manco, não pode caminhar muito. O cachorro é uma boa companhia, serve
de guarda, impede que você seja assaltada.
Maria continuava indecisa, a dona
da estalagem lembrou que havia sobras do jantar da véspera e ofereceu:
— Dou
a você pão e frango para a viagem.
Maria ia aceitar, mas a outra
pensou que ela ia recusar e acrescentou:
— Pode
levar também um pedaço de queijo e um osso para o cachorro roer.
Maria disse:
— Aceito,
muito obrigada.
Deixou o vilarejo com o cachorro
e o farnel.
Tinha perdido a vontade de correr
mundo e achava que as coisas nem sempre eram como a gente sonha. Parecia que
desse jeito nunca ia virar princesa. Melhor voltar para casa.
No caminho, o cachorro latia para
toda a gente que encontrava, e isso trazia problemas. Mais adiante Maria foi
quem propôs a troca com uma velha que carregava um gato:
— Quer
trocar pelo cachorro?
— Gato
persegue ratos; cachorro o que faz?
— Persegue
ladrões.
A velha resmungou:
— Não
sei se vale a pena.
— Vale
sim, há muitos assaltantes nesta estrada.
Foi assim que Maria conseguiu um
gato e achou que já estava começando a saber negociar. Depois se arrependeu, o
gato era preguiçoso e ela tinha de carregá-lo, senão ele ficava dormindo pelo
caminho.
No outro dia, viu um homem que
devia ser um pirata, porque trazia um papagaio no ombro.
Falou com ele e disse:
— Quer trocar o papagaio pelo
gato?
O homem achou que o gato podia
ser um bom caçador de ratos e aceitou:
— Feito.
Foi assim que Maria, que tinha
saído de casa com um rebanho de cabras e ovelhas, além de porcos e frangos,voltou
com um papagaio no ombro. Verdade que o bicho sabia falar, e isso era bom.
la pensando que talvez não
tivesse sido muito esperta, mas o jeito era começar de novo. De repente, viu a
vaca com o úbere inchado de tanto leite. Logo encontrou um balde ali por perto.
Chegou junto da vaca e disse:
— Aqui estou de novo, vou tirar o
leite e vender na feira.
À vaca mugiu amiga e Maria achou
que desta vez ia ter mais juízo.
Enquanto tirava o leite, ia
fazendo planos:
— Levo este balde de leite à
feira e troco por pintinhos. Eles crescem, viram frangas que botam ovos e
frangos que vendo na feira. Compro leitõezinhos que crescem e troco por cabras
e ovelhas. Levo todos à feira da cidade, mas desta vez não troco por cavalo que
me derrube nem por burro que me carregue.
Agora eu sei das coisas, vou
trocar a bicharada por uma bicicleta e vou correr mundo.
O balde estava cheio de leite e
ela disse para a vaca: Obrigada, na próxima vez eu vou lhe contar se cheguei ao
fim do mundo e se bicicleta é melhor do que cavalo.
Maria seguiu bem alegre para a
feira.
Será que desta vez deu certo?
1. Quantas vezes Maria foi a feira?
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2. Quais foram as trocas que Maria fez?
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3. Quais pessoas enganaram Maria?
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4. Quem na história ajudou Maria?
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5. Que argumento o negociante usou para que Maria ficasse
com o cavalo e não com a bicicleta?
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6. Escreva um argumento usado pelo dono do circo para que
Maria ficasse com o burrinho.
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7. Qual argumento a dona da estalagem utilizou para que
Maria ficasse com o cachorro.
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8. Qual era o sonho de Maria?
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9. “Será que desta vez deu certo?” Você acha que desta vez
deu certo ou Maria foi enganada de novo? Justifique.
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