A HISTÓRIA DE NALA – CONTO – ELIANA MARTINS
Nala havia nascido escrava. A mais nova de oito filhos, vivia na senzala de uma fazenda com seus pais e irmãos.
Esperta e risonha, passava os dias se divertindo no
terreiro da fazenda,com
brinquedos que ela mesma criava. Um
galho de árvore era cobra, uma lata vazia era vaso de planta, uma folha de bananeira era saia comprida.
Também gostava de inventar histórias.
As crianças da casa-grande, filhos dos donos da fazenda, adoravam brincar com Nala, divertindo-se com
suas invenções.
Mas,
para os escravos, a infância durava muito pouco. Ao completar sete anos, Nala foi para a
casa-grande tornar conta de Luisinho, de dois anos, filho caçula dos patrões.
De
pronto, o pequeno se afeiçoou à escrava, e ela a ele. Era o dia todo os dois brincando e correndo
pela enorme casa da fazenda.
Nala
era feliz. Comia a mesma refeição dos donos e podia brincar com os brinquedos do menino.
Chegava
bem cedo à casa-grande, enquanto ele ainda dormia.
A
hora em que Nala chegava era a mesma que a professora dos irmãos mais velhos de Luisinho vinha
para as aulas do dia.
Ela
entrava na casa cheia de pastas e livros. Acomodava-se à mesa da sala, espalhava os materiais e
aguardava a chegada dos alunos.
Enquanto
Luisinho ainda dormia, Nala observava a aula.
Ouvia, encantada, as crianças lendo os livros.
Quando
fosse maior, também ia aprender a ler com aquela professora, pensava ela.
O
tempo foi passando, Luisinho e Nala crescendo. Ela já estava com nove anos.
Achava que era hora de participar das
aulas da professora.
Uma noite, na senzala, conversou com os pais a esse respeito.
__Escravo não aprende a ler, não, Nala — disse a mãe.
__Mas eu como a mesma comida do Luís, brinco com os brinquedos dele, acho que também devia aprender a ler, que nem os irmãos dele.
__Não fala mais nisso, menina! — alertou o pai. —Você é escrava. Não é igual a eles! Esquece isso!
Mas Nala não esqueceu.
Um dia, entrou no escritório do dono. Seus olhos de criança criativa brilharam ao ver enormes estantes cheias de livros. Mas a alegria durou pouco. Ao chamado da dona, ela voltou ao serviço, não sem tomar uma repreensão por ter entrado, sem licença, no escritório.
Eu quero aprender a ler que nem seus filhos, sinhá — disse, na ânsia de uma resposta carinhosa.
__Você é escrava, Nala. Não precisa ler nada. Continue inventando suas histórias, que está ótimo.
De menina
alegre, Nala foi se tornando tristonha. Por que escravo não precisava ler nada? Antes de ser escrava,
ela era
uma pessoa, e pessoas tinham vontades. E a vontade dela era aprender a ler.
No
aniversário de cinco anos de Luisinho, os padrinhos dele chegaram à festa com um presente
diferente: cubos de brinquedo. Mas o que
tornava os cubos interessantes é
que em cada face de cada um deles havia uma letra.
O
presente era para Luís, mas quem ficou encantada foi Nala.
Dali em diante,
quando a pequena escrava chegava na casa-grande, pegava os cubos com letras e
brincava com o menino.
Certo dia, ao voltar para a senzala, viu um folheto jogado
no lixo. Interessada, pegou-o.
À noite, sob
a luz das lamparinas de azeite de peixe, Nala observou o folheto. Notou que as
letras que via ali eram as mesmas dos cubos de Luís. Decidiu que, na manhã
seguinte, tentaria juntar os cubos e ver se conseguia formar uma palavra como
aquelas do folheto.
Então,
rasgou uma folha dele com várias palavras e guardou-a no bolso do vestido.
No dia
seguinte, enquanto brincava com os cubos, pegou a folha, juntou algumas letras
do brinquedo e escreveu a palavra "lata".
Ao ver
aquilo, os olhos da pequena escrava brilharam. Podia aprender a ler alguma
coisa com aqueles cubos, afinal!
E Nala
aprendeu a escrever seu nome.
— Que bom!
Que bom! Olha, sinhá, escrevi meu nome com os cubos! — gritou ela, feliz.
Mas a mãe de
Luís, percebendo que a esperta escrava aprenderia a ler, ainda que pouco, com
os cubos de brinquedo, proibiu aquela brincadeira.
Nala ficou
triste. Porém a semente da leitura já brotara dentro dela. Lembrou-se do
folheto e começou a recortar letras, juntando com outras, como fazia com os
cubos.
Em poucos
meses, aprendeu a formar frases e a ler as placas espalhadas pela fazenda. Uma
felicidade, um mundo novo se abria para ela.
Mas Nala não
queria ser feliz sozinha. Então, durante as noites, quando só as lamparinas de
azeite de peixe iluminavam a senzala, começou a ensinar os escravos a ler.
Coragem era o que não faltava para Nala. Algo lhe dizia que, um dia, seria livre. E quando esse dia chegasse, estaria pronta para ler todos os livros do mundo
1. Qual é o espaço da narrativa?
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2. Qual o tempo da narrativa?
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3. Quais as características de Nala?
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4. Qual era o sonho de Nala?
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5. Por que a mãe de Luís proibiu Nala de brincar com os cubos de letras?
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6. Levante hipóteses sobre o motivo de a mãe de Luís não querer que Nala aprendesse a ler?
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7. A opinião dos pais de Nala era igual a dos patrões sobre a leitura? Justifique com uma frase dos patões e uma dos pais de Nala.
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8. O que Nala fez depois que aprendeu a ler?
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