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segunda-feira, 25 de março de 2024

MARIA VAI E VOLTA – CONTO - EDY LIMA

 MARIA VAI E VOLTA  ( EDY LIMA )

           Maria vivia muito isolada e resolveu ir à feira para encontrar pessoas. No caminho, viu uma vaca mugindo triste. Em linguagem de vaca, ela pedia:

          — Por favor, tire o meu leite. Estou precisando que alguém faça isso e todos os viajantes fingem que não escutam.

          Maria achou que aquilo era coisa de encantado.

          O melhor era atender a vaca.

          Pegou o balde que estava ali perto e tirou o leite.

          A vaca agradeceu em linguagem de mugido:

          — Venda esse leite e seja feliz!

          Maria não teve dúvida, em histórias de encanto é sempre assim: a gente faz um favor e ganha um reino em troca.

          Pegou o balde de leite e tomou o rumo da feira.

          Teve muita sorte, encontrou uma velha vendendo pintinhos recém-nascidos e trocou pelo leite. A velha disse:

          — Quando crescerem e se transformarem em frangos, traga que eu compro.

          Maria voltou para casa muito contente com algumas dúzias de pintinhos.

          Nem todos viraram frangos, alguns viraram frangas e puseram ovos.

          Chegou o momento de voltar à feira. Levou aquele galinhame para vender.

          Trouxe novos pintinhos e leitões e criou todos até chegarem a ponto de serem vendidos na feira.

          Lá foi ela outra vez e trocou por mais pintinhos, leitões, cabritos e ovelhas.

          Quando todos ficaram grandes e fortes, Maria voltou à feira com uma bicharada que lotava a estrada. la andando e pensando:

          Vou ficar muito rica, ganhar muito dinheiro, não vou mais precisar trabalhar. Já estou cansada de criar bichos para vender na feira. Eu gostaria de correr mundo.

          As galinhas cacarejavam, os galos cantavam, os porcos grunhiam, as ovelhas baliam, as cabritas berravam.

          Maria continuava com seus planos:

          Desta vez vou à feira da cidade e com o dinheiro que vou ganhar posso comprar alguma coisa moderna. Estou muito antiga.

Um bicho corria para um lado, outro bicho corria para outro lado, e Maria se cansava de persegui-los e colocá-los na estrada novamente.

Levou um dia inteiro para chegar à cidade, onde havia uma feira grande.

Ali todos eram estranhos, e Maria quase se arrependeu de ter ido.

Depois pensou:

Que é isso, menina, vá em frente! Você começou com um balde de leite e conseguiu toda esta bicharada. Hoje é seu dia de sorte. Daqui você vai correr mundo.

Encontrou um homem que perguntou:

        Esses bichos são seus?

        Estou querendo vender.

O homem era um negociante muito esperto e resolveu enganar Maria. Insistiu na pergunta:

        Você é dona de tudo isso?

        Sou sozinha e sou doninha de todos eles.

O homem esfregou as mãos de contentamento. Então aquela mocinha caipira não tinha ninguém por ela. Ninguém melhor para ser logrado do que uma menina sozinha. O negociante quis saber:

        O que você vai fazer com o dinheiro?

Maria não desconfiou da maldade do outro e informou:

        Vou correr mundo.

O homem concluiu: Ela é mais boba do que pensei, vou enganá-la rapidinho. Em voz alta, disse:

        Para correr mundo, é melhor não ir a pé.

        Por quê?

        O mundo é grande e você vai se cansar.

Maria pensou que só de vir de casa até ali tinha ficado cansada. O fim do mundo devia ser muito longe e para chegar até lá ia precisar de algum meio de transporte, por isso concordou:

        O senhor tem razão, acho que seria bom ter uma bicicleta. Bicicleta não era o negócio dele e o homem resolveu tirar aquela ideia da cabeça dela:

        Bicicleta fura pneu, você precisa fazer força pra pedalar.

        E o que posso fazer?

        Arranjo um cavalo para você.

Maria fez cara de desconfiança:

        Será que vou gostar?

O homem trouxe um pangaré velho e desdentado com uma sela surrada no lombo e disse:

        Veja que beleza de cavalo! Montada nele você chega ao fim do mundo com todo o conforto, feito uma princesa.

Maria não sabia nada de cavalos, achou o bicho bonito e perguntou:

        Quanto custa um bicho desses?

        Você me dá em troca esses bichinhos que trouxe para vender na feira.

        Todos?

        Um cavalo é um animal caro, ainda mais o meu, que tem sela tão bonita.

Maria pensou: Comecei com um balde de leite e comprei toda essa bicharada, posso trocá-la por um cavalo, que com certeza vai me trazer mais sorte ainda. Respondeu:

        Aceito, mas o senhor me ajuda a montar, porque não sei.

        Não tem dúvida, vamos lá.

O homem ajudou Maria a montar e ela saiu trotando em direção à estrada principal.

la feliz da vida olhando tudo do alto do cavalão e pensava: Sorte a minha que não preciso caminhar para correr mundo e posso ir aqui bem descansada.

Mais adiante vinha vindo, pela estrada, um grupo de um circo mambembe. O cavalo era velho e manso, mas se assustou com o barulho que fazia aquela gente e jogou Maria no chão.

Os palhaços correram para ajudá-la e ela ficou mais assustada ainda:

        Que querem comigo?

        Nada, menina. Você se machucou?

Ela passou a mão no traseiro doido e disse:

        Um pouco. Não sei montar a cavalo. Esse bicho é muito perigoso.

O dono do circo compreendeu que podia fazer um bom negócio e aconselhou:

        O cavalo é muito alto para você. O melhor seria montar um burrinho como o Dr. Sabe-Tudo.

Maria olhou o burrinho que o outro segurava pelas rédeas e perguntou:

        Por que ele tem esse nome?

        Ele sabe tudo, responde a qualquer coisa que você perguntar. Maria ficou entusiasmada:

        Posso fazer uma pergunta?

        Claro.

        Não sei o que perguntar.

        Pergunte quanto é um mais um.

Antes mesmo que Maria abrisse a boca, o burrinho bateu duas vezes com a pata no chão. A moça ficou muito admirada:

        Que burrinho sabido!

O dono do circo propôs:

        Troco pelo seu cavalo.

        Meu cavalo não sabe nada.

        Gostei da menina, faço esse negócio por amizade, pode levar o burrinho e eu fico com o cavalo.

        Muito obrigada, mas acho que o senhor está sendo logrado.

        Não se preocupe, monte no Dr. Sabe-Tudo e boa viagem.

Maria seguiu o caminho no burrinho e o pessoal do circo rapidamente tomou outro rumo, sumindo da sua frente.

Mais à frente a moça descobriu que o burro estava velhinho e não podia mais carregá-la. Ela desceu e o puxou pelas rédeas. Ia pensando: O importante é que ele é muito inteligente.

Depois de caminhar o resto do dia, chegou a um vilarejo. Estava louca de fome, mas não tinha dinheiro. Quis fazer uma demonstração de perguntas com o burrinho na praça em troca de algumas moedas, mas o Dr. Sabe-Tudo não atendia a nada. Nem mesmo um mais um agora sabia quanto era.

Maria foi vaiada pelas pessoas e se sentiu muito triste.

Estava ali chorando quando a dona da estalagem falou com ela:

— Venha comigo e pode jantar se lavar a louça.

Maria enxugou as lágrimas e seguiu para a estalagem. Nunca tinha pensado que houvesse tanto prato assim no mundo, mas conseguiu lavar todos. Jantou e dormiu ao lado do fogão. No outro dia de manhã, falou:

        Muito obrigada, já vou embora.

A dona da estalagem propôs:

        Quer trocar o burro por um cachorro?

Maria ficou indecisa, a outra insistiu:

        O burro é manco, não pode caminhar muito. O cachorro é uma boa companhia, serve de guarda, impede que você seja assaltada.

Maria continuava indecisa, a dona da estalagem lembrou que havia sobras do jantar da véspera e ofereceu:

        Dou a você pão e frango para a viagem.

Maria ia aceitar, mas a outra pensou que ela ia recusar e    acrescentou:

        Pode levar também um pedaço de queijo e um osso para o cachorro roer.

Maria disse:

        Aceito, muito obrigada.

Deixou o vilarejo com o cachorro e o farnel.

Tinha perdido a vontade de correr mundo e achava que as coisas nem sempre eram como a gente sonha. Parecia que desse jeito nunca ia virar princesa. Melhor voltar para casa.

No caminho, o cachorro latia para toda a gente que encontrava, e isso trazia problemas. Mais adiante Maria foi quem propôs a troca com uma velha que carregava um gato:

        Quer trocar pelo cachorro?

        Gato persegue ratos; cachorro o que faz?

        Persegue ladrões.

A velha resmungou:

        Não sei se vale a pena.

        Vale sim, há muitos assaltantes nesta estrada.

Foi assim que Maria conseguiu um gato e achou que já estava começando a saber negociar. Depois se arrependeu, o gato era preguiçoso e ela tinha de carregá-lo, senão ele ficava dormindo pelo caminho.

No outro dia, viu um homem que devia ser um pirata, porque trazia um papagaio no ombro.  

Falou com ele e disse:

— Quer trocar o papagaio pelo gato?

O homem achou que o gato podia ser um bom caçador de ratos e aceitou:

— Feito.

Foi assim que Maria, que tinha saído de casa com um rebanho de cabras e ovelhas, além de porcos e frangos,voltou com um papagaio no ombro. Verdade que o bicho sabia falar, e isso era bom.

la pensando que talvez não tivesse sido muito esperta, mas o jeito era começar de novo. De repente, viu a vaca com o úbere inchado de tanto leite. Logo encontrou um balde ali por perto. Chegou junto da vaca e disse:

— Aqui estou de novo, vou tirar o leite e vender na feira.

À vaca mugiu amiga e Maria achou que desta vez ia ter mais juízo.

 

 

 

 

Enquanto tirava o leite, ia fazendo planos:

— Levo este balde de leite à feira e troco por pintinhos. Eles crescem, viram frangas que botam ovos e frangos que vendo na feira. Compro leitõezinhos que crescem e troco por cabras e ovelhas. Levo todos à feira da cidade, mas desta vez não troco por cavalo que me derrube nem por burro que me carregue.

Agora eu sei das coisas, vou trocar a bicharada por uma bicicleta e vou correr mundo.

O balde estava cheio de leite e ela disse para a vaca: Obrigada, na próxima vez eu vou lhe contar se cheguei ao fim do mundo e se bicicleta é melhor do que cavalo.

Maria seguiu bem alegre para a feira.

Será que desta vez deu certo?

 

 

1. Quantas vezes Maria foi a feira?

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2. Quais foram as trocas que Maria fez?

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3. Quais pessoas enganaram Maria?

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4. Quem na história ajudou Maria?

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5. Que argumento o negociante usou para que Maria ficasse com o cavalo e não com a bicicleta?

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6. Escreva um argumento usado pelo dono do circo para que Maria ficasse com o burrinho.

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7. Qual argumento a dona da estalagem utilizou para que Maria ficasse com o cachorro.

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8. Qual era o sonho de Maria?

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9. “Será que desta vez deu certo?” Você acha que desta vez deu certo ou Maria foi enganada de novo? Justifique.

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