ANA BOLA
Ana Paula tinha acabado de se
mudar para a capital. Nascera e crescera em um sítio em uma pequena cidade do interior.
A escola onde estudava ficava
na zona rural. Todos os alunos moravam em sítios ou fazendas. Sabiam apreciar o canto dos pássaros, o sabor do leite tirado na hora, as brincadeiras ao ar livre. Ali, todo mundo era amigo.
Por todos esses motivos, Ana
Paula sofreu ao se mudar para
a capital. Mas como era menina alegre e confiante, chegou
com o firme propósito de encontrar novos amigos, se
acostumar com a nova escola e continuar sendo feliz.
Assim foi. No primeiro dia de aula, Ana Paula entrou
na classe
distribuindo sorrisos. Quando a professora pediu que se apresentasse, ela contou
que tinha vindo do interior
e, quando disse seu nome, ouviu um sussurro vindo das carteiras do fundo da
classe. Apesar do sussurro, deu bem para ela ouvir alguém dizendo: "O nome dela
devia ser Ana
Bola". — Depois disso, alguns alunos começaram a rir.
A professora pareceu não ter ouvido nada a não ser os risos. Pediu silêncio e deu
o assunto por encerrado.
Mas o apelido pegou. Dali em diante, na escola, ela
passou a ser Ana Bola.
Desde pequena, Ana Paula era gordinha. Os doces deliciosos, as carnes frescas,
o leite gorduroso e cheio de espuma e todas as guloseimas do sítio onde morava
eram saboreados
por ela sem preocupação.
Todos os amigos se alimentavam daquele jeito, mas só ela engordava.
No entanto, nenhum deles, em nenhum momento, havia se preocupado ou feito
alguma graça em relação ao peso dela. Conheciam-se desde bem pequenos. Um
aceitava o outro
como era.
Por todos esses motivos, o apelido que os colegas da
nova
escola colocaram em Ana Paula tocara profundamente seu coração.
Os meses se passaram. Ana Paula era boa aluna, mas, por mais que tentasse,
não conseguia ser aceita pelos colegas. A Ana Bola era a diferente da classe.
De menina alegre e confiante passou a ser arredia e desconfiada. Ia para a escola e, ao voltar para casa, trancava-se no quarto. De criança acostumada a brincar
ao ar
livre e cheia de amigos, transformou-se em uma
adolescente que tinha por companheiros só o computador e
o celular.
Os pais começaram a se
preocupar. Conversaram com ela, mas não conseguiram
descobrir o que estava acontecendo de verdade. Ana Paula os
convenceu de que a vida na cidade era diferente e ela estava
tentando acompanhar.
E como tanto o pai quanto a mãe
trabalhavam fora e viam a filha ir bem na escola e
continuar se alimentando, não tocaram mais no assunto. Não
sabiam, porém, que havia festinhas dos colegas de escola
para as quais Ana Paula sempre era convidada, mas
nunca comparecia.
As férias chegaram, e a
família alugou uma pequena casa na praia.
Na primeira manhã, os pais já
estavam prontos para curtir a praia quando Ana Paula
apareceu, usando urna bermuda com uma camiseta larga por
cima.
A mãe achou estranho.
—
Filha, nós vamos à praia, esqueceu?
—
Não.
—
E você vai assim, de bermuda?
—
Vou.
—
Vai morrer de calor, querida.
—
Dane-se!
O pai não gostou da resposta e palpitou
na conversa.
— Corno assim, dane-se? Logo que viemos para a capital,
seu grande sonho era conhecer o mar, curtir a praia.
—
Pois é, papai, era meu grande sonho.
Agora não é mais.
A mãe pareceu compreender o
motivo daquela conversa. Abraçou a filha. Disse que ela nunca se importara em ser gordinha, que era linda, que a amavam muito, que cada um tinha seu jeito de ser e mais um monte de coisas bonitas, mas que não convenceram a menina.
Seu inimigo número um era o
espelho. Quando se via refletida nele, não encontrava
mais a Ana Paula, e sim a Ana Bola.
Outro ano escolar se iniciou,
e um novo aluno entrou na classe de Ana Paula.
João era o nome dele. Também
tinha chegado do interior. Era um garoto tímido e
arredio.
Quando pediram que ele se
apresentasse, a mesma coisa aconteceu: alguém deu risada de
seu sotaque "caipira" e surgiu o apelido de João Pé de Feijão.
Como era tímido, João
tornou-se uma espécie de aluno fantasma — ninguém reparava
nele. Ana Paula foi ficando cada dia mais incomodada com a
situação do colega.
Naquela tarde, ao voltar para
casa, almoçou e fechou-se no quarto, como de costume.
Mas seu pensamento continuava em João. Queria achar um meio de ajudá-lo a se impor, a mostrar aos outros que um sotaque diferente não fazia dele alguém desprezível.
Recostada em sua cama, podia
ver-se no espelho pendurado atrás da porta. Aquele
espelho que se tornara seu inimigo.
Voltou a pensar em João. Ele
era tão fofo! Aquele cabelo encaracolado, com um cacho
teimoso que, de vez em quando, caía nos olhos negros,
grandes e tímidos. E aquele sotaque arrastando o
"erre" que ela tão bem conhecia da
época em que vivera no sítio. Não era justo ele estar sempre
sozinho. João precisava se valorizar, orgulhar-se
de ser quem era, do seu sotaque de gente do interior.
Quantos pés de feijão ele devia ter visto serem
plantados! Era gente da terra, afinal!
"Quero e vou ajudar o
João!", decidiu ela. Mas...
Repentinamente, uma dúvida
surgiu: como podia ajudar o colega a se impor se ela
mesma não se impunha? Como convencê-lo a ter orgulho de si
próprio se ela mesma não tinha?
Recostada à cama, Ana Paula
fechou os olhos e chorou. EIa era, definitivamente, urna
garota infeliz, e pessoas infelizes não tinham capacidade de fazer os outros
felizes. Precisava reagir. Era inteligente, tinha urna
família que a amava, uma casa bacana. Por que jogava tudo isso para o ar só porque era gorda? Ser gorda não a fazia menor do que os outros, nem o sotaque do João fazia o mesmo com ele.
Abriu os olhos, enxugou as
lágrimas e, decidida a mudar de vida para poder ajudar o
amigo, levantou-se da cama.
"Vou ao colégio",
resolveu. Sabia que João ia passar a tarde na biblioteca,
adiantando um trabalho.
E ao se encaminhar para a porta
do quarto, uma coisa inacreditável aconteceu: Ana Bola
olhou para o espelho, mas não se viu mais. Quem estava refletida nele era, de novo, a Ana Paula: urna garota gordinha, linda, inteligente e charmosa.
Feliz da vida, cruzou a porta
rumo à biblioteca da escola.
E, para encurtar a história, a
decidida Ana Paula não só convenceu João a se orgulhar de
ser como era, como se tornou a garota mais requisitada da
classe, que não perdia uma festa sequer.
E os dois juntos foram descobrindo em cada colega uma
coisa: um usava aparelho nos dentes, outro era estrábico,outra roía as unhas,
outra tinha muitas espinhas, outra era magrela... Afinal, todos eram
diferentes!
1. Qual o espaço da narrativa?
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2. Qual o tempo da narrativa?
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3. Quais os personagens da narrativa?
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4. Quais as características de Ana Paula quando morava no sítio?
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5. Porque Ana Paula Se tornou uma pessoa triste?
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6. No início da vida na capital Ana Paula muda como ela passa a ser?
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7.
“A professora pareceu não ter ouvido nada a não ser os risos. Pediu silêncio e deu o
assunto por encerrado.” Você concorda com a atitude da professora? Justifique.
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8. No final da história Ana Paula se transforma novamente? Explique?
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9. O que provocou o início da nova mudança de Ana Paula?
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10. Quem descobriu o problema pelo qual Ana Paula estava passando? Justifique com uma frase do texto.
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11. De acordo com Ana Paula, o que os outros alunos tinham de diferentes?
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12. Qual o assunto do texto?
a) A escola
b) A história de Ana Paula
c) Bullying
d) A história de João.
13. De acordo com o texto podemos INFERIR que Ana Paula era gordinha porque:
a) Comia
doces deliciosos,
as carnes frescas, o leite gorduroso e cheio de espuma.
b)
Comia e todas as guloseimas do sítio onde morava.
c)
Comia mais que os amigos.
d)
o metabolismo do seu corpo era diferente.
14.
“Recostada à cama, Ana Paula fechou os olhos e chorou. EIa era,
definitivamente, urna garota infeliz” O pronome ela se refere a;
a) Ana Paula
b) João
c) A mãe de Ana
d) A professora
15.
Porque joão passou a sofrer Bulling na escola nova?
a) devido ao seu nome
b) devido a sua aparência
c)
por causa do seu sotaque
d)
por causa de sua cor
16.
Correlacione as colunas de acordo com o significado das palavras:
(1)
ARREDIO ( ) QUE VIVE NO INTERIOR
(2)
SOTAQUE ( ) PROCURADA
(3)
CAIPIRA ( ) DOCES
(4)
REQUISITADA ( ) AFASTADO, ISOLADO
(5)
GULOSIMAS ( ) MODO DE FALAR
17.
Acentue as palavras se necessário.
a)
PASSAROS
b)
PASSADOS
c)
TIMIDOS
d)
TEMIDOS
e)
POREM
f)
ALGUEM
18.
Complete os espaços com uma das letras entre parenteses.
a)
EN__UGOU (X, CH)
b)
PROPÓ__ITO ( S, Z)
c)
DESPRE__ÍVEL (S, Z)
d)
GORDURO__O (Z,S)
QUESTÕES USADAS NO TESTE DO PRIMEIRO BIMESTRE 2024 7º ANO.
D1- 1. Nas alternativas abaixo há vária frases retiradas do texto. Marque a alternativa em que há um ERRO.
a) Assim foi. No primeiro dia de aula, Ana Paula entrou na classe distribuindo sorrisos.
b) A professora pareceu não ter ouvido nada a não ser os risos.
c) Todos
os amigos se alimentavam daquele jeito, mas só ela engordava.
d) As férias chegaram, e a família
alugou uma pequena casa no sítio.
D2-
2 “Recostada à cama, Ana Paula fechou os olhos e chorou. EIa era,
definitivamente, uma garota infeliz” O pronome pessoal destacado se refere à
(ao):
a) Ana Paula
b) João
c) mãe de Ana
d) professora
D3- 3. “De menina alegre e
confiante passou a ser ARREDIA e desconfiada.
Ia para a escola e, ao voltar para casa, trancava-se no quarto.” De acordo
com o contexto a palavra destacada significa:
a) assistencial
b)
antipática
c)
antissocial
d)
arrependida
D6- 4. Qual o assunto do texto?
a) A escola
b) A história de Ana Paula
c) Bullying
d) A história de João.
D10- 5. Marque a alternativa ERRADA sobre os elementos da narrativa presente no texto.
a) O espaço onde ocorre a narrativa é uma parte na zona rural e a outra na capital.
b) O tempo da narrativa é um período de aproximadamente dois anos.
c) São personagens da narrativa Ana Paula, a Professora e João.
d) São personagens da narrativa Eliana Martins, Ana Paula e João.
D14- 6. Marque a alternativa que NÃO apresenta uma opinião.
a) A mãe achou estranho.
b) Outro ano se iniciou.
c) Voltou a pensar em João. Ele era tão fofo!
d) João precisava se valorizar.
7.
As palavras abaixo foram retiradas do texto. Acentue as palavras se necessário.
a)
PASSAROS f) TIMIDO
b)
PROPOSITO g) NINGUEM
c)
SILENCIO h) COLEGIO
d)
POREM i) INACREDITAVEL
e)
NUMERO j) HISTORIA
8.
As palavras abaixo foram retiradas do texto. Complete os espaços com uma das
letras entre parenteses.
a)
leite GORDURO__O (S,Z)
b)
todas as GULO__EIMAS (S,Z)
c)
alguém DESPRE__ÍVEL (S,Z)
d)
EN__UGOU as lágrimas (X,CH)
e)
o outro era E__TRABICO (X,S)
9. De acordo com Ana Paula, o que os outros alunos tinham de diferentes?
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10.
“A professora pareceu não ter ouvido nada a não ser os risos. Pediu silêncio e deu o
assunto por encerrado.” Você concorda com a atitude da professora? Justifique.
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