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domingo, 24 de março de 2024

ANA BOLA - CONTO - ELIANA MARTINS

 ANA BOLA

Ana Paula tinha acabado de se mudar para a capital. Nascera e crescera em um sítio em uma pequena cidade do interior.

A escola onde estudava ficava na zona rural. Todos os alunos moravam em sítios ou fazendas. Sabiam apre­ciar o canto dos pássaros, o sabor do leite tirado na hora, as brincadeiras ao ar livre. Ali, todo mundo era amigo.

Por todos esses motivos, Ana Paula sofreu ao se mu­dar para a capital. Mas como era menina alegre e confiante, chegou com o firme propósito de encontrar novos amigos, se acostumar com a nova escola e continuar sendo feliz.

Assim foi. No primeiro dia de aula, Ana Paula entrou na classe distribuindo sorrisos. Quando a professora pe­diu que se apresentasse, ela contou que tinha vindo do in­terior e, quando disse seu nome, ouviu um sussurro vindo das carteiras do fundo da classe. Apesar do sussurro, deu bem para ela ouvir alguém dizendo: "O nome dela devia ser Ana Bola". — Depois disso, alguns alunos começaram a rir.

A professora pareceu não ter ouvido nada a não ser os risos. Pediu silêncio e deu o assunto por encerrado.

Mas o apelido pegou. Dali em diante, na escola, ela passou a ser Ana Bola.

Desde pequena, Ana Paula era gordinha. Os doces deliciosos, as carnes frescas, o leite gorduroso e cheio de espuma e todas as guloseimas do sítio onde morava eram saboreados por ela sem preocupação.

Todos os amigos se alimentavam daquele jeito, mas só ela engordava.

No entanto, nenhum deles, em nenhum momento, havia se preocupado ou feito alguma graça em relação ao peso dela. Conheciam-se desde bem pequenos. Um aceita­va o outro como era.

Por todos esses motivos, o apelido que os colegas da nova escola colocaram em Ana Paula tocara profunda­mente seu coração.

Os meses se passaram. Ana Paula era boa aluna, mas, por mais que tentasse, não conseguia ser aceita pelos colegas. A Ana Bola era a diferente da classe.

De menina alegre e confiante passou a ser arredia e desconfiada. Ia para a escola e, ao voltar para casa, tran­cava-se no quarto. De criança acostumada a brincar ao ar

livre e cheia de amigos, transformou-se em uma adoles­cente que tinha por companheiros só o computador e o celular.

Os pais começaram a se preocupar. Conversaram com ela, mas não conseguiram descobrir o que estava aconte­cendo de verdade. Ana Paula os convenceu de que a vida na cidade era diferente e ela estava tentando acompanhar.

E como tanto o pai quanto a mãe trabalhavam fora e viam a filha ir bem na escola e continuar se alimentan­do, não tocaram mais no assunto. Não sabiam, porém, que havia festinhas dos colegas de escola para as quais Ana Paula sempre era convidada, mas nunca comparecia.

As férias chegaram, e a família alugou uma pequena casa na praia.

Na primeira manhã, os pais já estavam prontos para curtir a praia quando Ana Paula apareceu, usando urna bermuda com uma camiseta larga por cima.

A mãe achou estranho.

   Filha, nós vamos à praia, esqueceu?

   Não.

   E você vai assim, de bermuda?

   Vou.

   Vai morrer de calor, querida.

   Dane-se!

       O pai não gostou da resposta e palpitou na conversa.

   Corno assim, dane-se? Logo que viemos para a ca­pital, seu grande sonho era conhecer o mar, curtir a praia.

   Pois é, papai, era meu grande sonho. Agora não é mais.

A mãe pareceu compreender o motivo daquela con­versa. Abraçou a filha. Disse que ela nunca se importara em ser gordinha, que era linda, que a amavam muito, que cada um tinha seu jeito de ser e mais um monte de coisas bonitas, mas que não convenceram a menina.

Seu inimigo número um era o espelho. Quando se via refletida nele, não encontrava mais a Ana Paula, e sim a Ana Bola.

Outro ano escolar se iniciou, e um novo aluno entrou na classe de Ana Paula.

João era o nome dele. Também tinha chegado do in­terior. Era um garoto tímido e arredio.

Quando pediram que ele se apresentasse, a mesma coisa aconteceu: alguém deu risada de seu sotaque "caipi­ra" e surgiu o apelido de João Pé de Feijão.

Como era tímido, João tornou-se uma espécie de alu­no fantasma — ninguém reparava nele. Ana Paula foi fi­cando cada dia mais incomodada com a situação do colega.

Naquela tarde, ao voltar para casa, almoçou e fe­chou-se no quarto, como de costume. Mas seu pensamen­to continuava em João. Queria achar um meio de ajudá-lo a se impor, a mostrar aos outros que um sotaque diferente não fazia dele alguém desprezível.

Recostada em sua cama, podia ver-se no espelho pendurado atrás da porta. Aquele espelho que se tornara seu inimigo.

Voltou a pensar em João. Ele era tão fofo! Aquele ca­belo encaracolado, com um cacho teimoso que, de vez em quando, caía nos olhos negros, grandes e tímidos. E aque­le sotaque arrastando o "erre" que ela tão bem conhecia da época em que vivera no sítio. Não era justo ele estar sempre sozinho. João precisava se valorizar, orgulhar­-se de ser quem era, do seu sotaque de gente do interior.

Quantos pés de feijão ele devia ter visto serem plantados! Era gente da terra, afinal!

"Quero e vou ajudar o João!", decidiu ela. Mas...

Repentinamente, uma dúvida surgiu: como podia ajudar o colega a se impor se ela mesma não se impunha? Como convencê-lo a ter orgulho de si próprio se ela mes­ma não tinha?

Recostada à cama, Ana Paula fechou os olhos e cho­rou. EIa era, definitivamente, urna garota infeliz, e pessoas infelizes não tinham capacidade de fazer os outros felizes. Precisava reagir. Era inteligente, tinha urna família que a amava, uma casa bacana. Por que jogava tudo isso para o ar só porque era gorda? Ser gorda não a fazia menor do que os outros, nem o sotaque do João fazia o mesmo com ele.

Abriu os olhos, enxugou as lágrimas e, decidida a mudar de vida para poder ajudar o amigo, levantou-se da cama.

"Vou ao colégio", resolveu. Sabia que João ia passar a tarde na biblioteca, adiantando um trabalho.

E ao se encaminhar para a porta do quarto, uma coi­sa inacreditável aconteceu: Ana Bola olhou para o espe­lho, mas não se viu mais. Quem estava refletida nele era, de novo, a Ana Paula: urna garota gordinha, linda, inteli­gente e charmosa.

Feliz da vida, cruzou a porta rumo à biblioteca da escola.

E, para encurtar a história, a decidida Ana Paula não só convenceu João a se orgulhar de ser como era, como se tornou a garota mais requisitada da classe, que não perdia uma festa sequer.

E os dois juntos foram descobrindo em cada colega uma coisa: um usava aparelho nos dentes, outro era estrábico,outra roía as unhas, outra tinha muitas espinhas, outra era magrela... Afinal, todos eram diferentes!

 

1. Qual o espaço da narrativa?

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2. Qual o tempo da narrativa?

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3. Quais os personagens da narrativa?

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4. Quais as características de Ana Paula quando morava no sítio?

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5. Porque Ana Paula Se tornou uma pessoa triste?

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6. No início da vida na capital Ana Paula muda como ela passa a ser?

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7. “A professora pareceu não ter ouvido nada a não ser os risos. Pediu silêncio e deu o assunto por encerrado.” Você concorda com a atitude da professora? Justifique.

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8. No final da história Ana Paula se transforma novamente? Explique?

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9. O que provocou o início da nova mudança de Ana Paula?

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10. Quem descobriu o problema pelo qual Ana Paula estava passando? Justifique com uma frase do texto.

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11. De acordo com Ana Paula, o que os outros alunos tinham de diferentes?

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12. Qual o assunto do texto?

a) A escola

b) A história de Ana Paula

c)  Bullying

d) A história de João.

 

13. De acordo com o texto podemos INFERIR que Ana Paula era gordinha porque:

a) Comia doces deliciosos, as carnes frescas, o leite gorduroso e cheio de espuma.

b) Comia e todas as guloseimas do sítio onde morava.

c) Comia mais que os amigos.

d) o metabolismo do seu corpo era diferente.

 

14. “Recostada à cama, Ana Paula fechou os olhos e cho­rou. EIa era, definitivamente, urna garota infeliz” O pronome ela se refere a;

a) Ana Paula

b) João

c) A mãe de Ana

d) A professora

 

15. Porque joão passou a sofrer Bulling na escola nova?

a)  devido ao seu nome

b)  devido a sua aparência

c) por causa do seu sotaque

d) por causa de sua cor

 

16. Correlacione as colunas de acordo com o significado das palavras:

(1) ARREDIO             (  ) QUE VIVE NO INTERIOR

(2) SOTAQUE            (  ) PROCURADA

(3) CAIPIRA               (  ) DOCES

(4) REQUISITADA      (  ) AFASTADO, ISOLADO

(5) GULOSIMAS         (  ) MODO DE FALAR

 

17. Acentue as palavras se necessário.

a) PASSAROS

b) PASSADOS

c) TIMIDOS

d) TEMIDOS

e) POREM

f) ALGUEM

 

18. Complete os espaços com uma das letras entre parenteses.

a) EN__UGOU (X, CH)

b) PROPÓ__ITO ( S, Z)

c) DESPRE__ÍVEL (S, Z)

d) GORDURO__O (Z,S)


QUESTÕES USADAS NO TESTE DO PRIMEIRO BIMESTRE 2024  7º ANO.

D1- 1. Nas alternativas abaixo há vária frases retiradas do texto. Marque a alternativa em que há um ERRO.

a) Assim foi. No primeiro dia de aula, Ana Paula entrou na classe distribuindo sorrisos.

b) A professora pareceu não ter ouvido nada a não ser os risos.

c) Todos os amigos se alimentavam daquele jeito, mas só ela engordava.

d) As férias chegaram, e a família alugou uma pequena casa no sítio.

 

D2- 2 “Recostada à cama, Ana Paula fechou os olhos e cho­rou. EIa era, definitivamente, uma garota infeliz” O pronome pessoal destacado se refere à (ao):

a) Ana Paula

b) João

c) mãe de Ana

d) professora

 

D3- 3. “De menina alegre e confiante passou a ser ARREDIA e desconfiada. Ia para a escola e, ao voltar para casa, tran­cava-se no quarto.” De acordo com o contexto a palavra destacada significa:

a) assistencial

b) antipática

c) antissocial

d) arrependida

 

D6- 4. Qual o assunto do texto?

a) A escola

b) A história de Ana Paula

c) Bullying

d) A história de João.

 

D10- 5. Marque a alternativa ERRADA sobre os elementos da narrativa presente no texto.

a) O espaço onde ocorre a narrativa é uma parte na zona rural e a outra na capital.

b) O tempo da narrativa é um período de aproximadamente dois anos.

c) São personagens da narrativa Ana Paula, a Professora e João.

d) São personagens da narrativa Eliana Martins, Ana Paula e João.

 

D14- 6. Marque a alternativa que NÃO apresenta uma opinião.

a) A mãe achou estranho.

b) Outro ano se iniciou.

c) Voltou a pensar em João. Ele era tão fofo!

d) João precisava se valorizar.

 

7. As palavras abaixo foram retiradas do texto. Acentue as palavras se necessário.

a) PASSAROS        f) TIMIDO

b) PROPOSITO      g) NINGUEM

c) SILENCIO          h) COLEGIO

d) POREM                i) INACREDITAVEL

e) NUMERO           j) HISTORIA

 

 

8. As palavras abaixo foram retiradas do texto. Complete os espaços com uma das letras entre parenteses.

a) leite GORDURO__O (S,Z)

b) todas as GULO__EIMAS (S,Z)

c) alguém DESPRE__ÍVEL (S,Z)

d) EN__UGOU as lágrimas (X,CH)

e) o outro era E__TRABICO (X,S)


 

9. De acordo com Ana Paula, o que os outros alunos tinham de diferentes?

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10. “A professora pareceu não ter ouvido nada a não ser os risos. Pediu silêncio e deu o assunto por encerrado.” Você concorda com a atitude da professora? Justifique.

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